A Bíblia
apresenta um Deus que ensina não apenas por palavras, mas também por símbolos
visíveis, concretos e estruturados no espaço. Desde o Éden até a Nova
Jerusalém, a revelação divina se expressa tanto em conteúdos quanto em formas e
ambientes. Ignorar essa dimensão é empobrecer a pedagogia divina e abrir mão de
um recurso poderoso para formar discípulos.
1. O modelo
bíblico: arquitetura como revelação
Quando Deus
ordenou: “E me farão um santuário, para que Eu habite no meio deles” (Êx
25:8), não deu apenas uma autorização para construção, mas apresentou um
modelo detalhado: “Conforme tudo o que eu te mostrar... assim fareis”
(Êx 25:9). O autor de Hebreus confirma que os sacerdotes “servem de exemplo
e sombra das coisas celestiais” (Hb 8:5), mostrando que o arranjo do
santuário era pedagógico e profético.
Ezequiel
recebeu esta ordem: “Mostra a casa a Israel... e lhes mostrarás a forma da
casa... para que guardem todas as suas formas” (Ez 43:10-11). Aqui,
contemplar a estrutura do templo era parte do ensino moral e espiritual.
📌 A
progressão do pátio ao santíssimo comunicava, em linguagem visual, a jornada
espiritual: sacrifício → purificação → vida consagrada → comunhão plena.
2. A
continuidade histórica: paredes que pregam
A igreja,
ao longo dos séculos, preservou essa lógica. As basílicas conduziam o fiel do
átrio (símbolo do mundo exterior) ao altar (símbolo da presença divina). A
arquitetura gótica, com suas torres e vitrais, elevava os olhos e o espírito.
Até mesmo os reformadores mantiveram disposição simbólica: púlpito central,
mesa da ceia visível, batistério em destaque.
“As paredes pregam, e as pedras clamam, quando
são postas para lembrar as coisas divinas.” — Agostinho,
Sermão 336
“A disposição exterior do culto serve para instruir os fiéis e excitar a
devoção.” — Tomás de Aquino, Suma Teológica II-II, q. 81, a.
7
“O olho é um mestre mais fiel do que o ouvido... pois o que entra pelo
ouvido passa; o que entra pelo olho fixa-se na memória.” — Martinho
Lutero, Carta sobre o uso de imagens
3. A realidade adventista atual: de templos catequéticos a auditórios neutros
Historicamente,
os pioneiros adventistas, mesmo sem reproduzir o santuário bíblico
literalmente, projetavam seus templos para transmitir verdades centrais:
- Batistério visível → a
entrada na vida cristã é pública e simbólica.
- Mesa da Ceia em posição de destaque → Cristo como centro da adoração.
- Púlpito central → a
Palavra como autoridade máxima.
No entanto,
em muitas congregações contemporâneas, esses elementos têm perdido visibilidade
ou foram eliminados. O espaço é projetado para funções múltiplas, assumindo a
forma de um auditório genérico. O resultado é que:
- O visitante não percebe imediatamente o que é mais sagrado
ou central na fé.
- O templo deixa de contar a história da salvação de forma visual.
- O espaço de culto se assemelha a um centro de convenções ou sala de
conferências.
📌 Quando a
arquitetura perde intencionalidade teológica, ela deixa de ser um professor
silencioso e passa a depender quase exclusivamente da mensagem verbal.
4. O valor
pastoral: o templo que discipula
Nicholas Wolterstorff, teólogo reformado,
afirma:
“A
arquitetura do culto não é neutra: ela molda como imaginamos Deus e como
entendemos nosso relacionamento com Ele.”
Ellen G. White aconselhou:
“Tudo no
lugar de culto deve ser arranjado de maneira a atrair e elevar o espírito. Deve
haver ordem, limpeza e decoro, pois o templo é o lugar onde Deus se encontra
com o Seu povo.” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p.
491).
Um espaço
bem projetado reforça o sermão sem palavras, ensina crianças e novos conversos
sobre o progresso espiritual e mantém viva a identidade da igreja. Quando o
espaço se torna um auditório neutro, ele não distingue o culto de um evento
comum, e o discipulado perde um aliado fundamental.
5. O
argumento prático: investimento que ensina sempre
Projetar um
templo com simbolismo é investir num pregador permanente, que fala todos os
dias, a todas as idades, sem custo adicional. É garantir que cada entrada no
templo seja um reencontro com a narrativa da salvação. É também comunicar à
comunidade que este é um espaço diferente, voltado ao encontro com Deus.
📌 Retirar o simbolismo é confiar apenas na palavra falada.
📌 Preservar ou restaurar o simbolismo é garantir que o espaço físico
coopere com a missão.
6. A
questão da intencionalidade: acaso ou estratégia espiritual?
Historicamente,
a perda de simbolismo nas igrejas pode ser explicada por fatores práticos:
redução de custos, influência do minimalismo arquitetônico, busca por espaços
“multiuso” e a tendência de copiar modelos de megaigrejas. Muitas vezes, a
decisão não é motivada por hostilidade à teologia, mas por questões funcionais
ou culturais.
No entanto,
a perspectiva espiritual e profética nos alerta para algo mais profundo:
Satanás sempre buscou substituir ou diluir os símbolos dados por
Deus (Dn 3; Êx 32), e Ellen G. White adverte:
“O inimigo
de Deus e do homem tem procurado introduzir suposições que obscurecem a luz e
tornam de nenhum efeito a verdade de Deus.” (Evangelismo,
p. 363)
“Tudo que possa desviar a mente da verdade presente, Satanás procura
promover.” (O Grande Conflito, p. 488)
Se o espaço
sagrado é um meio que Deus usa para manter viva a consciência da redenção, sua
descaracterização pode ser aproveitada pelo inimigo para enfraquecer a
compreensão espiritual da congregação — mesmo que a decisão inicial não tenha
sido propositalmente maligna.
📌 O efeito é
funcionalmente o mesmo: obliterar das mentes a narrativa visual do plano de
salvação.
Conclusão:
restaurar a pedagogia do espaço
Restaurar a
dimensão simbólica da arquitetura não é luxo; é fidelidade ao padrão divino,
continuidade histórica e estratégia pastoral inteligente. Como disse Agostinho,
“as paredes pregam” — cabe a nós decidirmos se as deixaremos mudas ou repletas
de significado.
“Se
retirarmos os símbolos, dependeremos exclusivamente da palavra falada para
transmitir toda a teologia. Se mantivermos os símbolos, a própria casa de Deus
continuará pregando mesmo quando o púlpito estiver vazio.”
Um comentário:
As citações de EGW não existem na forma como foram apresentadas no artigo. As citações de Agostinho e Lutero, idem. Aconselho que o mestre tenha mais cuidado ao utilizar IA, pois é comum ela referendar bibliografia inexistente.
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