sábado, 29 de março de 2014

Cheios de Poder




Logo após a ascensão de Jesus, os discípulos reuniram-se em Jerusalém conforme nos informa o texto de Lucas 24: 49-53 “ E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.  E levou-os fora, até Betânia; e, levantando as suas mãos, os abençoou.  E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu. E, adorando-o eles, tornaram com grande júbilo para Jerusalém. E estavam sempre no templo, louvando e bendizendo a Deus. Amém”. 

Em Atos 2: 1-4 lemos: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.   

O texto de Atos informa que, em obedecendo a ordem de Jesus, os discípulos “concordemente” permaneceram no mesmo lugar e desceu alí o Espírito Santo e todos foram cheios dele. Primeiramente, é evidente que exista uma condição sob a qual o Espirito Santo entrará em ação: quando houver concórdia. Ellen White escreve em seu livro Atos dos Apóstolos (p.88) sobre esta condição dizendo: “O coração daqueles que se converteram mediante o trabalho dos apóstolos, abrandou-se e uniu-se pelo amor cristão. A despeito de preconceitos anteriores, todos estavam em harmonia uns com os outros. Satanás sabia que, enquanto esta união continuasse a existir, ele seria impotente para deter o progresso da verdade evangélica; e procurou tirar vantagem de anteriores hábitos de pensar, na esperança de que por este meio pudesse introduzir na igreja elementos de desunião”. 

O que percebemos é que união precede a ação no reino de Deus e, sem esta união não há como prosseguir e concluir o aperfeiçoamento. Assim, vem a pergunta: o que devemos fazer para conseguir união?

Os governos das nações, através dos tempos, têm usado uma estratégia para manter unido o seu território e sua coerência política; uma só língua é adotada e um só princípio de doutrina filosófico-político é ensinado. Assim, os cidadãos tornam-se um corpo quando apreendem a mesma doutrina política e falam a mesma linguagem. 

É curiosos que quando os homens se uniram para desafiar os céus durante os primeiros anos pós-diluvianos, resolveram realizar a construção de uma torre. Tal construção significava a mais insolente demonstração de independência humana do poder dos céus. Naquela ocasião, Deus interveio de forma singular, mas intensa, coagindo para que a incompreensão fosse o elemento desagregador; confundindo as línguas e, deste modo, interrompendo a construção. Se prestarmos bem atenção, foi utilizada a mesma estratégia que Ellen White assinalou no texto que lemos acima sobre o impedimento da ação do Santo Espírito através da desunião.

Quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos no Pentecostes, o texto bíblico informa que eles foram cheios do Espírito. Para o futuro, há a promessa de que o Espírito descerá sobre a igreja remanescente e consequentemente sobre o mundo, no final dos tempos (Joel 2:28). Mas, de que maneira devemos aguardar esse acontecimento?

O mundo cristão não compreende bem a ação do Espírito Santo confundindo-o, geralmente, com manifestações místicas. Usam a emoção e o entusiasmo religioso como medida da autenticidade espiritual. Porém, a própria escritura contraria esse fascínio irracional pela emoção. No livro Atos dos Apóstolos, página 28, Ellen White diz o seguinte: “Manifestar êxtases espirituais sob circunstâncias extraordinárias não é prova conclusiva de que uma pessoa é cristã. Santidade não é arrebatamento: é inteira entrega da vontade a Deus; é viver por toda a palavra que sai da boca de Deus; é fazer a vontade de nosso Pai celestial; é confiar em Deus na provação, tanto nas trevas como na luz; é andar pela fé e não pela vista; é apoiar-se em Deus com indiscutível confiança, descansando em seu amor”.
Como podemos ver, encher-se com o poder do Espírito Santo não corresponde a ter poder para fazer milagres e outras demonstrações de misticismo. O que é então?

Esta pergunta não pode ser respondida utilizando-se o conhecimento humano, considerando que o Santo Espírito não é parte integrante do universo próprio antropológico; Ele é Deus. Assim, devemos buscar explicações na fonte indicada por Jesus: a lei e os profetas. Então vamos consulta-los.
Apocalipse 19:10 “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”.  

O texto informa que o testemunho de Jesus é o espírito de profecia. Ora, testemunho quer significar declaração, então, quem declara sobre Jesus é o espírito de profecia. Neste caso, os profetas são os que declaram sobre Jesus.   Em II Pedro 1:21 a Bíblia explica “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”.  Ora, se os profetas são inspirados pelo Espírito Santo e são eles os que dão o testemunho, então, o poder do Espírito está nos textos escritos pelos profetas. Em Atos 1:8 lemos “Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.

Vamos entender outra coisa: Momentos antes da sua morte Jesus consolou os discípulos informando-os que enviaria o outro consolador (João 14:16-18). Jesus explicou quem era o outro consolador, o parákletos , aquele que ficará ao lado para exortar, ensinar e fazer lembrar tudo o que Jesus ensinara. O outro consolador significa outro da mesma classe. Jesus mesmo era um Consolador (ver 1 João 2: 1) e, neste sentido, o Espírito Santo, semelhante a Jesus, é o outro consolador ou o outro poder, uma vez que ele é também Deus.

Para os Adventistas do 7º Dia, a escritora Ellen White recebeu o dom de profecia e seus escritos são entendidos como proféticos para a igreja remanescente. Entre os livros escritos por ela encontra-se um cujo título é “O Outro Poder”. Uma vez que o outro poder foi definido como sendo o Espírito Santo, então esperar-se-ia encontrar nas páginas da referida obra explicações sobre a ação do Espirito Santo relativa à igreja remanescente. No entanto, examinando-se o conteúdo do livro depara-se com a seguinte realidade: a explicação das razões para que se dê ênfase à obra das publicações.
Observemos que a profetisa chama a obra de publicar livros, revistas, folhetos, folders, etc., como sendo o outro poder. 

Conforme vimos acima, há a promessa de que nos últimos dias o Santo Espírito seria derramado novamente (Isaías 44:3; Ezequiel 39:29; Joel 2:28,29). Compreenderemos o que significa essa ação se formos consultar informações sobre o primeiro derramamento ocorrido no pentecostes. No livro Testemunhos para Igreja, volume 9, p.267 lemos: “Quando, no dia de pentecostes, o Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos, compreenderam eles as verdades proclamadas por Cristo em parábolas. Os ensinos que lhe haviam sido mistérios foram esclarecidos. A compreensão que lhes adveio com o derramamento do Espírito fê-los envergonharem-se de suas teorias fantasiosas. Suas suposições e interpretações eram loucura quando comparadas com o conhecimento das coisas celestiais que então receberam. Foram guiados pelo Espírito; e raiou luz no seu entendimento anteriormente obscurecido”.

O trabalho realizado pelas editoras de livros no âmbito da igreja, espalhando literatura que esclarece o que outrora era mistério é o poder do Santo Espírito. A esta literatura chama-se o espírito de profecia. A finalidade dos livros é fazer compreender as verdades proclamadas por Cristo e, neste sentido, quando alguém se debruça sobre esta literatura com o propósito de aprender, está recebendo o poder do Espírito.

Resta ainda uma pergunta: como será então o derramamento final do Espírito Santo?
Se a literatura é o poder do Espírito para a igreja, pois esclarece o que ainda não se desvelou, então haverá um esforço ainda mais intenso, patrocinado pelo céu, para que tal literatura chegue a todos os homens. Certamente haverá, por parte da humanidade, um forte desejo de buscar por esclarecimentos (Daniel 12:4). Vejamos o que Ellen White escreve sobre o assunto: “A noite da prova está quase no fim. Satanás está exercendo seu impressionante poder, pois sabe que seu tempo é pouco. Os castigos de Deus se acham sobre o mundo, a fim de chamar a todos quantos conhecem a verdade a ocultar-se na fenda da rocha, e contemplar a glória de Deus. A verdade não pode ser oculta agora. Devem ser feitas declarações positivas. A verdade deve ser expressa com clareza, em folhetos e pequenos livros, e esses espalhados como folhas do outono”. 

Para a igreja remanescente, o poder do Espírito está disponível na literatura que está nas estantes dos lares, mas, o misticismo que envolveu o culto a Deus está produzindo a expectativa de que, quando for derramado o Espírito, os crentes terão poder para realizar grandes milagres. No entanto, o que o céu espera é o extraordinário trabalho de esclarecimento das verdades ensinadas por Cristo através da literatura. A definição do trabalho do Espírito está no evangelho de João: ensinará" e "recordará tudo" (João 14: 26). Atestará de Cristo (João 15:26).  "Convencerá ao mundo do pecado, da justiça e do juízo " (João 16: 8).  "Guiará a toda a verdade" e fará "saber as coisas" vindouras (João 16: 13).  Glorificará a Cristo e receberá dele para repartir aos discípulos (João16: 14).

Reiteramos que o poder do Espírito está na literatura denominacional (às vezes empoeirada nas estantes dos lares) que se fora lida, traria o esclarecimento para formar no povo remanescente a base teórica para a obediência inteligente e à assimilação do caráter de Cristo. E então virá o fim. A leitura e a distribuição de literatura deverá ser considerado um grande privilégio para aqueles que estão recebendo o derramamento do Espírito!

Oh! Bendito o que semeia
Livros, livros à mão cheia...
E manda o povo pensar...
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar. (Castro Alves: O livro e a América))