domingo, 16 de janeiro de 2022

Um inimigo com quase 6000 anos de experiência

 Muitos cristãos não têm a menor ideia de como são controlados moralmente, deixando-os longe de Deus. Todos almejam ser servos fiéis, mas, por falta de entendimento e de conhecimento, vivem sem prestar atenção nas leis bíblicas e nos comandos de Deus, construindo uma experiência miserável. O desconhecimento daquilo que é a verdade produz prejuízos fatais, mas, a grande maioria não se dá conta da realidade.

O inimigo, com quase seis mil anos de experiência, não pode ser subestimado. As lendas sobre o modo como somos tentados moralmente fazem um belo estrago; muitos acham mesmo que Satanás tem pés de bode, cheira a enxofre, tem chifres e carrega um tridente. Porém, o inimigo é muito diferente. Ele foi dotado de inteligência superior e desenvolveu estratégias para envolver toda a humanidade no sistema da concupiscência, conforme a Bíblia explica (Rom.7:8). Então, a maneira inconsciente como a humanidade está envolvida na concupiscência é o que deve preocupar os cristãos.

Há somente dois sistemas morais para a sociedade humana. Na criação do universo, Deus implantou o sistema moral da cooperação, onde todas as coisas físicas e as criaturas com inteligência colaboram entre si, numa rede formidável de interações reais e perceptíveis, onde todos têm direito a tudo, fato que a escrituras sagradas chamam de vida. Neste contexto, os que são mais fracos são necessariamente fortalecidos por todos os outros, um sistema que pressupõe o crescimento constante dos elementos, portanto quanto mais fortes os elementos, mais forte será todo o sistema. Depois que Lúcifer desenvolveu a cobiça, em tempos imemoriais, ele concebeu o sistema moral da competição. Neste, cada indivíduo ou mesmo os seres inanimados, estão submetidos a toda sorte de conflitos alimentados pela cobiça, com o propósito de promover evolução. Assim, pela luta, tendo como motor a ganância, todos podem melhorar suas características e, supostamente, podem alcançar níveis evolutivos físicos e morais superiores. Todavia, ao invés de levar à desenvoltura verdadeira, a cobiça cultivou um ambiente de degradação, pois se para alcançar evolução é necessário competir, então a degradação do outro é o favorecimento daquele que quer evoluir. Portanto, a tendência final de todo o sistema é a morte. Com razão a Bíblia diz que Satanás tem na morte o seu propósito, sendo que seu sistema é o contrário do sistema da vida.

Neste mundo, a comunidade de humanos está submetida ao sistema da competição. Todos entendem que esta situação é a normalidade. A competição é o motor de todas as atividades, e todos são educados assim. A competição impõe que o resultado da vitória é a sensação, portanto, o sensualismo sempre acompanha a pretendida evolução por competição. O triunfo neste tipo de ambiente é tateado por impressões. O sensualismo é, em todas as acepções a entrega dos sentidos aos prazeres. Essa é a estratégia completamente bem-sucedida do inimigo. O significado da felicidade em todas as concepções humanas deve necessariamente permitir o sensualismo. Os gregos chamavam esta circunstância de hedonismo, definindo o prazer como o bem supremo, finalidade e fundamento da vida moral. Enquanto no sistema de Deus a felicidade está em esquecer-se a si mesmo e promover o fortalecimento do semelhante, no sistema mundano a felicidade está no ego, na sensação, no desfrutar do prazer que é sempre individualista. É criando um ambiente de sensações que Satanás enreda e escraviza a humanidade.

Nossa civilização está totalmente construída no hedonismo. Como está definido um país evoluído? Aquele que possui comércio intenso, economia densa permitindo que haja poder aquisitivo alto, no qual seus cidadãos podem usufruir do prazer das compras, da diversão disfarçada de arte ou através do entretenimento. Nas cidades modernas, centros de compras são imprescindíveis, então, toda sorte de negócios são oferecidos porque a sensação de vitória vem com a satisfação pessoal por ter cobiçado e adquirido. Uma pessoa bem-sucedida é entendida como aquela que pode comprar. Logo, todos lutam para alcançar a evolução egoísta porque o prazer é, segundo os sábios, o bem supremo.

A estratégia de Satanás não é o corpo a corpo com os humanos, mas, a montagem de um ambiente que impõe a sensação e o prazer. Se as crianças aprendem imediatamente essa noção, logo todos os humanos estarão totalmente no sistema satânico.

Esta questão do ambiente hedônico está nas casas e nos lares, logo, vai estar nas igrejas também e nos demais sítios da sociedade. Isto permite há disputas de todas as ordens. Usando os talentos que Deus outorga, os cristãos disputam posições e, apesar de acharem que servem e louvam a Deus, os serviços estão contaminados pela competição e, consequentemente, a sensualidade é muito alta nas dinâmicas eclesiais. Os crentes percebem pelo prazer se a adoração está produzindo enlevo ou não. Quanto mais sensação, mais espiritualidade. É assim que sentem as congregações. Quando as reuniões produzem prazer os membros imaginam que Deus esteve ali. Então, a música é um dos itens mais afetado pelo raciocínio hedônico. Os crentes levam para o interior do culto a Deus, onde o coletivo é o importante, a sua preferência musical individual. Em muitas comunidades os músicos obrigam cânticos hedônicos; canções que ao invés de ensinarem e fixarem partes da mensagem bíblica, possuem letras de autoajuda que funcionam como mantras para produzir prazer. Tais letras usam repetições de frases que trazem sensações ditas espirituais. A maioria não percebe e nem analisa por dois motivos principalmente: 1) estão muito envolvidos no sistema hedônico e aprovarão tudo que estiver em consonância com aquilo; 2) consideram também que a música vem de autores classificados como líderes ocupando posições de destaque, logo é bem-feita e sem defeitos.

O ambiente hedônico não permite quase nenhum desenvolvimento crítico mental. Os prazeres atuam diretamente no corpo, na carga hormonal humana, dando crescimento à ética do instinto. Isto quer significar que o corpo é quem comanda a mente. As sensações pedidas pelo corpo determinam que a mente promova ações para permitir o prazer. O instinto fica tão exacerbado que a pessoa não raciocina na lógica da modéstia social. Tudo que o corpo pede é satisfeito, não importa o que pensem os demais. É um ciclo vicioso quase inquebrantável.

É importante que se demonstre que o inimigo constrói sem desfaçatez o ambiente próprio para os seus propósitos. A música é um dos itens. Dos três elementos que compõem a música, o ritmo é o que favorece o prazer. A melodia e a harmonia (outros dois elementos da música) atuam principalmente no desenvolvimento intelectual, permitindo o surgimento do interesse pelo belo, pelas altas abstrações. O ritmo, favorece a excitação dos instintos, das paixões e dos pensamentos baixos, anulando o senso crítico e o uso das faculdades superiores da mente. Dizem alguns musicólogos que quanto mais ritmo, mais sensualidade, ao contrário, mais enlevo mental. Logo, o tambor como instrumento cultual é próprio para o paganismo, onde a sensualidade é oferecida aos deuses. No entanto o culto, segundo a Bíblia, deve ser racional (Rom. 12:1), logo, a melodia e a harmonia devem prevalecer e não o ritmo.

Há nos cristãos falta de cultura e de esclarecimento para lidar com a realidade divina, mas, nem sabem que não sabem. Muitos, ainda que em posições relevantes e mesmo líderes religiosos, não possuem erudição para lidar bem com o sagrado, dando mais importância à sabedoria humana, quando deveriam estar apegados ao assim diz o Senhor, dominando as leis bíblicas que regem nosso mundo. Neste contexto, não sabem discernir os limites dos dois sistemas morais, permitindo sincretismos sacrílegos. Portanto, o conselho de Paulo a Timóteo – manejar bem as escrituras – ainda é contemporâneo (II Tim. 2:15).