sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Colocando lembretes

Vamos começar lendo o livro de Números: (capítulo 15:37-40) “E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Que nas bordas das suas vestes façam franjas pelas suas gerações; e nas franjas das bordas ponham um cordão de azul. E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Deus.

Muitos de nós já vivemos situações nas quais agimos abaixo das normas, somente porque ninguém nos está observando. Este parece ser nosso comportamento natural. Fazer o que não está totalmente correto porque estamos sós. Porém, se há a possibilidade de sermos descobertos, agimos de modo diferente e nosso comportamento torna-se moralmente correto.

O Rabino Jonathan Sacks, em seu livro “Ensaios sobre ética” apresenta alguns experimentos realizados para verificar se o anonimato fazia alguma diferença no comportamento social de jovens. Por exemplo, foram distribuídos aleatoriamente a um grupo de estudantes óculos de sol e óculos claros, informando-os que estavam testando uma nova linha de produtos. Também, em uma tarefa aparentemente não relacionada, foram dados seis dólares e a chance de compartilhar a quantia com um estranho. Os jovens que usavam óculos claros deram em média 2,71 dólares, enquanto que os que usavam óculos escuros deram em média 1,81 dólares. O simples fato de estar usando óculos de sol, e assim, sentido que não eram reconhecidos, reduziu a generosidade. Em outro experimento estimularam aos estudantes colarem em provas, colocando um grupo numa sala mal iluminada e outro grupo em sala com iluminação adequada. Os que estavam na sala mal iluminada tinham mais propensão para colar do que os da sala mais iluminada. Isto parece indicar que quanto mais nos sentimos observados, melhores nos tornamos em generosidade e moralmente. Pessoas observadas são pessoas melhores.

Parece paradoxal que não vivamos à altura daquilo que cremos. O apostolo Paulo levantou essa questão quando exclamou “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” Romanos 7:14-24.

O Dr. Deepak Malhotra da Harvard Business School, fez um experimento para ver a disponibilidade de cristãos atenderem apelos de caridade. A resposta era 300% maior quando o apelo ocorria nos domingos e não em outro dia da semana. Claramente os participantes não mudavam de idéia sobre a crença religiosa ou a importância das doações entre dias úteis e domingos. Mas eles estavam mais propensos à generosidade nos domingos porque pensavam mais em Deus do que nos outros dias. Isto parece indicar que o que faz a diferença em nosso comportamento é menos o que cremos e mais o que somos lembrados, ainda que inconscientemente, daquilo que cremos.

Eis a razão para Deus recomendar aos israelitas o uso de franjas na roupa para lembrar os mandamentos. Nós temos um senso moral. Nós sabemos que certas coisas são erradas, mas nós temos desejos conflitantes. Somos tentados a fazer o que sabemos que não deveríamos, e frequentemente nos rendemos à tentação. No domínio moral, isto é o que a Bíblia quer significar quando diz: “E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo” (Números 15:39). Assim, montar lembretes é uma tarefa importante, pois já advertia o Profeta Jeremias quando disse: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9).

Se estar sendo lembrado faz a diferença no campo moral, então faz todo sentido a recomendação para não estarmos expostos aos lembretes morais que são enviados pelo cinema, teatro e a ópera. Nos locais onde são exibidos filmes e peças de teatro (ópera é uma peça de teatro musicada) são enviados lembretes sobre aspectos morais que, em muitos casos, não estão em acordo com os ensinamentos bíblicos.

As tramas sociais que são discutidas nas salas dos cinemas e dos teatros mostram comportamentos humanos não orientados pela moral dada por Deus no Sinai. Porém, mesmo que não frequentemos as salas de espetáculos, estamos expostos diariamente aos mesmos lembretes, por força da influências das mídias modernas. Ter em casa uma TV é estar exposto brutalmente a lembretes que são do comportamento humano tal qual é, mas o Profeta advertiu que o coração humano é enganoso. Quanto mais assistirmos a filmes ou ficar expostos aos folhetins diários, às séries hollywoodianas, às peças teatrais, mais seremos lembrados do comportamento do homem no mundo e não das coisas do céu. Portanto, estaremos envolvidos em ambiente cognitivo adverso e, consequentemente, sendo lembrados sobre a moral mundana.

Estamos falando dos dois sistemas morais neste planeta. No sistema de Deus a preocupação com terceiros é a tônica. No sistema mundano, o egoísmo é a tônica. Se queremos estar no sistema de Deus, então os lembretes deverão estar em consonância com os mandamentos. Por essa razão, Deus ordenou a Moisés que avisasse ao povo sobre os lembretes: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas” (Deuteronômio 6:6-9).


Igrejas são uma grande oportunidade para entrarmos em contato com os lembretes divinos. Hoje, no entanto, as igrejas estão se enchendo dos lembretes mundanos, copiando formas de adoração (adorar é consentir sobre a moral que a divindade exige) que não estão em acordo com a Bíblia, tudo no afã de atrair aqueles que estão constantemente em contato com lembretes do sistema satânico. A situação é um contrassenso, uma vez que querem salvar pessoas do sistema mundano lembrando-as constantemente das circunstâncias mundanas. Os lembretes deverão ser outros.