sexta-feira, 11 de julho de 2014

Uma nova e distinta ordem de seres criados

O edifício portátil que fora construído por Moisés para que o Altíssimo pudesse habitar entre os homens é mais do que um simples tabernáculo ou tenda. É a real arquitetura preparada pelos céus para negociar e resolver o problema do pecado. Tal arquitetura fora pensada para ensinar o processo expiatório e, todos os seus utensílios, em ambos compartimentos, representam etapas do processo expiatório, as quais deveriam ser bem entendidas na atualidade, por tratar-se da forma como Deus se relaciona com os homens. Na verdade, a forma estética do tabernáculo representa a Lei de Deus com suas duas dimensões: amor e justiça.

No segundo compartimento do tabernáculo estava a arca da aliança, um móvel que continha, no seu interior, a Lei dos dez mandamentos, a vara de Arão que florescera e uma porção do maná. Estes três itens representam intensamente a justiça e a misericórdia de Deus. Cobrindo a arca, estava o chamado propiciatório ou cobertura da clemência, onde, entre os dois querubins representando o exército dos anjos, aparecia o Sheknah, a presença física de Deus, o qual já havia sido mostrado a Moisés quando da aparição da sarça ardente no deserto. Verdadeiramente, o tabernáculo era o lugar do trono de Deus na Terra; o Reino celeste entre os homens.

Do tabernáculo emanavam as instruções sobre como os israelitas deveriam proceder para alcançar relacionamento correto com Deus. Tal relacionamento se efetivava pela compreensão e observância da Lei de Deus. Aliás, relacionamentos com quaisquer tipos de governos ocorrem através do cumprimento de leis. Assim, deve ser nosso relacionamento com Deus.

O Deus da Bíblia (Jeová) é um soberano cujo território de ação é o universo. No caso do nosso planeta, palco da luta entre o bem e o mal, o sistema religioso que mantém alta a observância da lei de Jeová é a embaixada desse reino. No entanto, existe pluralidade de sistemas religiosos, mas, a maneira de reconhecer qual sistema religioso é a legítima embaixada é através da maneira como a Bíblia é manejada, uma vez que ela é a vontade explícita de Deus. Então, o sistema que considera a Bíblia na sua integridade sem selecionar ou esconder nenhuma de suas partes, mas que a mantém completamente aberta e, além disso, ensina como pode ser usada e adonada pelos seguidores, este deve ser considerado.

Aos sistemas religiosos chamamos igrejas, mas, o conceito de igreja no Novo Testamento é o conceito grego que denota “Assembleia aberta a todos os cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos que tivessem prestado, pelo menos, dois anos de serviço militar e que fossem filhos de um pai natural da polis. Atuava no âmbito da política externa e detinha poderes de governança relativos à legislação, judiciais e executivos”, ou ainda, mais simplesmente, reunião dos que foram chamados. Tal conceito aparece na história do povo de Deus através das eras, pois este tem sido chamado para refletir a vontade de Deus por meio de uma vida de fidelidade, confiança, obediência e amor. Fidelidade é a semelhança entre o original e a cópia; exatidão. A igreja de Deus busca semelhança, em caráter, com o modelo Jesus. Confiança quer dizer crédito, boa fé; os céus depositam certeza ou fidúcia na igreja. Obediência é a submissão à autoridade legítima; aquiescência; docilidade. Assim, na Bíblia quando aparece a expressão a paciência dos santos, e identifica os santos como os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus, está-se falando daqueles que copiam o modelo que é Cristo (Apoc. 14:12).

Considerando que após a queda do homem a conformidade com a Lei de Deus não mais pode ser alcançada, o céu prometeu que faria uma aliança com os homens: “...porei a minha Lei no íntimo deles e as escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o Meu povo” (Jer.31:33). A Lei de Deus não devia ser somente uma norma externa de justiça: devia ser o motor determinante que guiasse e contivesse a conduta humana. Em II Coríntios 3:3-6 Paulo expressa o cumprimento da aliança referida: Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.  E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”.

O Reino de Deus existe desde antes da criação do mundo e, quando este surgiu, passou a integra-lo. Quando Deus criou os primeiros seres humanos, deu-lhes domínio sobre todas as coisas. Adão devia governar o mundo. Porém, pela transgressão da Lei de Deus, ele perdeu o direito à soberania terrena, e o domínio passou para o arqui-inimigo, Satanás. Quando os representantes de outros mundos se reuniram diante de Deus durante o tempo dos patriarcas, foi Satanás quem apareceu como delegado da Terra (Jó 1:6). Esta situação define uma condição diferente do original, fato que levou o governo de Deus a tomar providências para resolver a governabilidade de planeta. Paulo descreve como está atualmente a situação em Efésios 2:1-2 “E Vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”. De outra forma ele demonstra em II Coríntios 4:4 “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”.

Embora tenhamos, em realidade, a presença de dois reinos no âmbito do grande conflito, não existe algo parecido com dupla cidadania. Estamos de um lado ou do outro. O reino do mal tem lutado contra o reino da justiça durante milênios. É impossível que uma pessoa seja fiel aos dois lados ao mesmo tempo. Temos que escolher qual reino terá a nossa lealdade. Em Colossenses 1:12-13 lemos “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”. Nestas circunstâncias, somos instados a agir em conformidade com as regras estabelecidas em I Coríntios 6:9-11 “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”.

Se o que temos é uma luta moral entre dois reinos e, ao mesmo tempo temos vários sistemas religiosos que não satisfazem os vazios da alma humana e, que não esclarecem os limites de cada reino, deveríamos tentar entender melhor o significado destas “igrejas” buscando identificar o papel da verdadeira igreja no contexto celeste, bem como, da luta entre o bem e o mal.

A escritora Ellen White descreveu em sua obra alguns indicadores que lançamos mão, neste momento, para que esclareçamos o papel da verdadeira igreja. Chamo sua atenção para a descrição da criação em dois momentos. Peço-lhes que leiam com acurado cuidado os seguintes parágrafos:

Os anjos leais lamentaram a sorte daqueles que haviam sido seus companheiros de felicidade e bênçãos. Sua falta foi sentida no Céu. O Pai consultou a Jesus quanto à possibilidade de executar imediatamente o propósito de fazer o homem para habitar a Terra (Signs of the Times, 9 de janeiro de 1879). 

Neste parágrafo temos o emprego de duas idéias. A primeira trata da falta sentida no céu relacionada aos anjos expulsos. A segunda, aparentemente desconectada da anterior, diz-nos da alteração no cronograma de Deus para a criação da Terra. Duas perguntas surgem: Por que os anjos sentiram falta dos outros que caíram? Qual a ligação entre o sentir a falta e o apressamento da criação do homem? Vejamos com muito cuidado, os parágrafos seguintes:

As mais brilhantes e exaltadas estrelas da alva louvaram... a glória [de Cristo] na criação, e anunciaram Seu nascimento com cânticos de alegria (Signs of the Times, 4 de janeiro de 1883).  Por que os as estrelas da alva louvaram e anunciaram com alegria a criação? Não nos parece algo semelhante ao nascimento de Jesus? Leiamos o próximo parágrafo:

Quando Deus formou a Terra, havia montanhas, colinas e planícies, e serpenteando entre estas existiam rios e fontes de água. A Terra não era constituída de uma extensa planície, mas a monotonia do cenário foi quebrada por outeiros e montanhas, não elevadas e ásperas como são agora, mas regulares e belas em sua forma. ... Os anjos contemplavam e se regozijavam diante das maravilhosas e belas obras de Deus (Spiritual Gifts, vol. 3, pág. 33). Novamente, os anjos nunca tinham visto obras belas antes? Seria o universo já existente inferior ou será que estamos diante de algo muito admirável?

Todo o Céu tomou profundo e alegre interesse na criação do mundo e do homem. Os seres humanos constituíam uma nova e distinta ordem (Review and Herald, 11 de fevereiro de 1902). Vejamos bem, o céu tomou interesse profundo no surgimento de um novo planeta e de uma nova ordem de seres. Estamos lendo sobre algo incomum. Sigamos a leitura:

Depois dos seres angélicos, a família humana, formada à imagem de Deus, constitui a mais nobre de Suas obras criadas (Review and Herald, 3 de dezembro de 1908)Chamamos a atenção para a descrição: a mais nobre de suas obras.

O Senhor... havia dotado Adão com poderes mentais superiores a qualquer outra criatura vivente que houvesse feito. Suas faculdades mentais eram apenas um pouco menor do que as dos anjos (Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874). 

 Tão logo Deus, através de Jesus Cristo, criou nosso mundo e colocou Adão e Eva no jardim do Éden, Satanás anunciou seu propósito de conformar à sua própria natureza o pai e a mãe da humanidade. Review and Herald, 14 de abril de 1896. Por qual razão Satanás anunciou sua intenção de conformar a sua natureza no homem? Há algo de especial na criação do mundo e do homem que irrita o inimigo, sigamos lendo os parágrafos abaixo e vejamos novas informações.

 Quando o Senhor apresentou Eva a Adão, anjos de Deus testemunharam a cerimônia (Nos Lugares Celestiais, pág. 203). 

Este casal imaculado não usava roupas artificiais. Achavam-se vestidos com uma cobertura de luz e glória, tais como os anjos (Signs of the Times, 9 de janeiro de 1879).  O casamento de Adão e Eva fora assistido por toda hoste angélica e, por outro lado, os humanos usavam as vestes dos anjos. Os homens eram como os anjos. O que significa a criação de uma classe especial de seres parecidos com os anjos e semelhantes a Deus?

Deus criou o homem para Sua própria glória, para que depois de testada e provada, a família humana pudesse tornar-se uma com a família celestial. Era o propósito de Deus repovoar o Céu com a família humana (SDA Bible Commentary, vol. 1, pág. 1.082). Há neste parágrafo duas importantíssimas informações: criado para a sua própria glória, ou seja, criado para ser semelhante a Deus; o caráter do homem era o mesmo caráter de Deus. A outra informação mostra o propósito de Deus em repovoar o céu. Bem, agora, chamamos atenção para outra criação. Leia com muita atenção os parágrafos que estão abaixo.

 Deus o fez [a Lúcifer] bom e formoso, tão semelhante quanto possível a Si próprio (Review and Herald, 24 de setembro de 1901). Verifiquemos as semelhanças entre a criação do homem e a de Lucifer.

Deus o havia feito [a Lúcifer] nobre, havendo-lhe outorgado ricos dotes. Concedeu-lhe elevada posição de responsabilidade. Nada lhe pediu que não fosse razoável. Deveria ele administrar o cargo que Deus lhe atribuíra, num espírito de mansidão e devoção, buscando promover a exaltação de Deus, o qual lhe dera glória, beleza e encanto (The Sabbath School Worker, 1º de março de 1893). 

Lúcifer, no Céu, antes de sua rebelião foi um elevado e exaltado anjo, o primeiro em honra depois do amado Filho de Deus. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. A testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, o porte nobre e majestoso. Uma luz especial resplandecia de seu semblante e brilhava ao seu redor, mais viva do que ao redor dos outros anjos; todavia, Cristo, o amado Filho de Deus, tinha preeminência sobre todo o exército angelical. Ele era um com o Pai, antes que os anjos fossem criados (História da Redenção, pág. 13). 

Lúcifer era o querubim cobridor, o mais exaltado dentre os seres criados. Sua posição era a mais próxima do trono de Deus, e ele se achava intimamente vinculado e identificado com a administração do governo de Deus, havendo sido ricamente dotado com a glória de Sua majestade e poder (Signs of the Times, 28 de abril de 1890). 

Lúcifer, "filho da alva", era o primeiro dos querubins cobridores, santo e puro. Permanecia na presença do grande Criador, e os incessantes raios de glória que cercavam o eterno Deus, repousavam sobre ele ( Patriarcas e Profetas, pág. 35).

 [Lúcifer] fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos (O Desejado de Todas as Nações, pág. 758). 

Houve um tempo em que Satanás se encontrava em harmonia com Deus, quando era sua alegria executar os divinos mandamentos. Seu coração encontrava-se cheio de amor e regozijo em servir ao Criador, até que começou a imaginar que sua sabedoria não derivava de Deus, sendo antes inerente a ele próprio, e que ele era tão digno quanto Deus de receber honra e poder (Signs of the Times, 18 de setembro de 1893). 

O que lemos acima mostra que os atributos dados a Lúcifer são os mesmos dados a Adão. À Lúcifer também fora dada a semelhança com Deus em caráter e uma atribuição honrosa: a criatura na qual se viam demonstrados os atributos de Deus e à qual o universo mirava quando queria estudar sobre Deus. Era um anjo exaltado mais que os outros e, no seu nome estava inscrita a sua missão: demonstrar ao universo a luz, isto é, a Lei de Jeová. Lúcifer era o modelo no qual as criaturas todas copiavam a Deus.

Com a queda de Lúcifer, o modelo estabelecido desaparece, por essa razão os anjos sentem falta. Neste contexto, Deus pede a Jesus que apresse a criação do homem, e este seria criado com os mesmos atributos de Lúcifer; seria o novo modelo para o universo. Por essa razão, o céu acompanhou com profundo interesse a criação do homem e toda a corte angélica veio ao casamento, uma vez que os filhos de Adão e Eva seriam também modelos. Vejamos, era intenção de Deus multiplicar modelos. Por que Deus queria assim?

Voltemos ao cenário da batalha no céu. Lúcifer semeou dúvidas sobre o caráter de Deus por todo universo criado. O poder de persuasão deste anjo era enorme por ser ele o modelo criado para demonstração do caráter e da Lei de Jeová. Assim, suas idéias e argumentos viajaram pelo universo e contaminaram, por assim dizer, toda criação de Deus.

A Terra teve seu surgimento antecipado para que o governo celeste tivesse um espaço novo e sem contaminação onde pudesse ser demonstrada a excelência da Lei e do caráter divino. Em atmosfera limpa e asséptica fora colocado o homem, criado com as mesmas características de um modelo ao universo. Tivesse o homem permanecido em seu estado original, o problema criado por Lúcifer teria sido demonstrado e resolvido. No entanto, não aconteceu assim, o homem assentiu às ideias de Satanás e o plano de Deus foi frustrado, pelo menos inicialmente. O que aconteceu então para resolver a situação?

Deus enviou a Jesus como o segundo Adão, o segundo modelo, vindo na forma de homem e permanecendo assim para sempre, para que fosse demonstração para os homens e para o universo. É necessário que façamos um correto raciocínio agora sobre os fatos atuais. À igreja de Deus, cuja cabeça é Cristo, foi dada a missão de demonstrar o caráter de Deus e servir como modelo ao mundo. “Vindo habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. ... Mas não somente a Seus filhos nascidos na Terra era feita essa revelação. Nosso pequenino mundo é o livro de estudo do Universo. O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o mistério do amor que redime, é o tema para que "os anjos desejam bem atentar" (I Ped. 1:12), e será seu estudo através dos séculos sem fim”. (O Desejado de Todas as Nações, pág. 19). A obra do cristão nesta vida é representar Cristo perante o mundo, revelando, na vida e no caráter, o bendito Jesus. Se Deus nos tem dado luz, é para que a revelemos aos outros” (Testemunhos Seletos v.2 p.340).

Caros leitores, a dimensão humana no contexto da igreja é muito maior e muito mais importante do que imaginamos. A incompreensão da missão eclesial leva aos homens a utilizar a igreja para seus próprios propósitos, muitas vezes confundindo-a com agremiações sociais para consecuções humanas, servindo a interesses políticos temporais e mundanos. Todavia, seu papel é servir de modelo ao universo na demonstração do caráter de Deus e da sua Lei, assim como fora o papel de Lúcifer quando em estado de pureza. Este será o papel dos salvos por toda eternidade.



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