quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Ensinando e demonstrando a justiça


Olhando o modo como Deus lidou inicialmente com o pecado pode-se ter uma ideia sobre como fazer para salvar pessoas.

A primeira atitude de Deus após a queda do homem não foi criar uma igreja e incentivar adesão religiosa, mas constituir exemplos morais essenciais para serem imitados. Assim, os patriarcas fizeram um papel importante na formação moral do mundo antigo. A Bíblia sempre se refere a eles com muito respeito, ainda que tenham cometido erros. Não há registros de que qualquer patriarca tenha pensado em criar algum movimento religioso, apenas figuravam com exemplos morais dignos. Todos foram unânimes em entender o sistema de Deus e viveram o mais próximo possível do ideal divino. Alguns deles, como é o caso de Enoque, não experimentaram a morte, por não pertencerem absolutamente ao sistema desenvolvido após o pecado.

Depois dos patriarcas, Deus pede a Abraão que faça uma viagem, saia da sua terra, e vá para onde Ele indicaria. Nesse caminho até a chamada terra prometida Abraão faz uma extensa demonstração do sistema divino a muitos por onde passava e, até mesmo nas situações de conflito familiar Abraão demonstrou ser altruísta cedendo sempre, como o fez no caso com o sobrinho Lot. A razão é que o sistema de Deus e o sistema do pecado são diametralmente opostos. Deus reina em absoluta justiça que, por sua vez, gera a paz; este sistema Ele implantou quando criou a Terra e todo conjunto de fatos que estão unidos à criação. Em tudo, conforme diz o salmista, pode-se ver a justiça (Sl. 35:5) como o motor da cooperação que passou a existir. Tudo como decorrência do Lei que é a lei do céu.

Por Abraão veio Isaac depois Jacó e seu descendentes, a raiz dos israelitas. Israel foi a nação escolhida para demonstrar o sistema divino de justiça. Em Deuteronômio capítulo 4 encontramos o modo como Deus gostaria que fosse demonstrado processo de salvação daqueles envolvidos no sistema pecaminoso, ou seja, a injustiça: “[...] os povos dirão: em verdade esta grande nação é constituída de um povo sábio e inteligente [...]”(Dt.4:6). Isto seria verdadeiro se Israel observasse a Lei da justiça dada por intermédio de Moisés. Deus não pensou numa religião. Porém, por causa da ambiguidade observada nos israelitas, ora no sistema de Deus ora fora dele, foi necessário estabelecer um protocolo para o perdão e o restabelecimento do sistema divino, o qual é chamado no Antigo Testamento de processo da expiação. A utilização desse protocolo ensejou, por parte dos sábios de Israel, incrustações de percepções humanas que desfiguraram a base conceitual dada por Deus e, uma série de ritos foram tomados como meios suficientes de alcançar favores de Deus, transformando o protocolo primário em religião repleta de tradições humanas, derivando para um sistema de exclusividade para Israel. Com isso, mesmo que os povos observassem sabedoria na sociedade israelita, não lhes era permitida adesão simples ao sistema de Deus através da observação, somente se cumprissem rituais impostos pelos homens. Por causa desse sistema religioso hebraico foram necessários profetas – estes não eram palradores religiosos, mas porta vozes de Deus – para orientação à norma celeste. Salomão referiu-se à orientação da profecia dizendo: “Onde não há profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei esse é bem-aventurado” (Prov. 29:18).

Com a chegada do Messias, embora Jesus Cristo fosse judeu e pregasse nas sinagogas, a principal preocupação do Messias era o ensinamento dos princípios de justiça, os quais o mundo não tinha mais conhecimento, portanto não os praticava. Apesar da Torá (cinco primeiros livros do Antigo Testamento) esclarecer o sistema de justiça nas leis que demarcavam a sociedade israelita, os judeus da época de Jesus haviam perdido todas as noções do sistema cooperativo de Deus. Há exemplos tais como o de Zaqueu que sendo judeu, era corrupto e que ao compreender os ensinos de Jesus, fez uma conversão de 180 graus, devolvendo, de acordo com Levítico, quatro vezes mais o que havia usurpado, ao que Jesus exclamou: “Hoje entrou a salvação nesta casa...”(Lc.19:9), no entanto, não referiu-se a um retorno religioso, mas a resposta de Zaqueu ao sistema da justiça. Outro exemplo foi o do moço rico que ao ser instado ao sistema de cooperação e justiça, entristeceu-se porque era dono de muitos bens, neste caso não ocorreu resposta positiva à justiça. Na realidade, Jesus não estabeleceu nenhuma igreja enquanto esteve conosco, mas utilizou todo o Seu tempo ensinando e demonstrando a justiça, ou seja, o sistema divino, para qualquer que quisesse ouvir e crer.

Com o transcorrer do tempo, após a ascensão, o sistema de justiça ensinado por Jesus foi se transformando em cristianismo e logo em igreja cristã. Do mesmo modo como no antigo Israel, os protocolos para expiar os erros foram sendo transformados em ritos, e a esses foram sendo incrustadas filosofias humanas, desembocando num mar de religiões cristãs, até com derivações não cristãs (ex. muçulmanos), cuja principal preocupação é fazer prosélitos. A premissa que embasa tal ação é a salvação dos homens à qual, somente terão acesso se a buscarem através dos ritos de cada religião. O reino dos céus é, no conceito cristão atual, um lugar geográfico mítico onde os salvos que praticaram os ritos (o bem) viverão eternamente em êxtase, onde não terão mais as aflições sofridas na Terra, gozando de inúmeros privilégios. Tal concepção é equivocada por carregar enorme julgamento de injustiça. O reino dos céus é um conceito. Onde quer que se estabeleçam princípios de justiça, ali estará o reino dos céus. Aliás, um poeta já falou que o céu é Jesus, ou seja, onde os princípios ensinados por Ele estiverem prevalecendo ali será o céu.

Neste sentido, as igrejas erram por desviarem as mentes dos seus membros do conceito de justiça de Deus. A começar pelo raciocínio exclusivista que cada religião apregoa, dizendo-se, cada qual, mais detentora da verdade. Exclusividade significa injustiça. Se alguma religião for a detentora da verdade deverá necessariamente ensinar a justiça, consumirá investimento de tempo e dinheiro construindo pessoas moralmente justas. No entanto, o que mais se promove no ambiente cristão são eventos ritualísticos que agenciam a sensação de exclusividade, envolvendo os fiéis numa atmosfera mística profundamente enganadora, de inaplicabilidade prática, mas muito divertida. Qualquer movimento religioso que esteja mesmo preocupado com o reino dos céus tratará de cultivar melhorias morais através de processos para construção de um mundo social justo. Isto não permite a exclusividade. Essa era a preocupação de Deus a partir do Éden. Foi a preocupação do Messias. Igrejas são centros cognitivos onde são ensinados e praticados os princípios de justiça imitáveis por quem quer ser salvo.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Algoritmos parecem ditadores


Mudanças comportamentais são muito difíceis por demandarem novos hábitos. Quase ninguém tem facilidade para alterações de algoritmos aos quais estão afeitos e que têm funcionado no automático. Todos nós estamos submetidos a inúmeros algoritmos (sequência finita de raciocínios) que tornam o cotidiano ameno ou facilitado. Ter que aprender novos significa reprogramação comportamental e, consequentemente, esforço para automação de novos modos de realizar tarefas.

Em nossas casas, fazemos sempre as mesmas coisas. Acordamos do mesmo jeito, realizamos todas as tarefas pessoais que nos permitem encarar o mundo sempre do mesmo jeito. Saímos e utilizaremos o mesmo caminho até o trabalho. Se temos transporte pessoal, repetimos o mesmo roteiro dia após dia. Repetimos nosso comportamento em frente ao computador: lemos e-mails, respondemos mensagens urgentes, lemos notícias, redigimos textos, preenchemos planilhas; sempre usando os mesmos algoritmos. Mesmo alterações prosaicas, tais como, mudar o mouse do computador para a mão esquerda, com intenções de treinar o cérebro e evitar lesão por esforço repetitivo - LER   custa coragem que, na maioria dos casos não progride. Nossos algoritmos parecem ditadores que não toleram liberdades.

Num mundo tão competitivo, as mudanças são inovações que nos permitem vantagens e aumentam a chance para ocupar um lugar na rede de interações. Mas, hábitos há muito exercitados são como barreiras que comparecem com ares de intransponibilidade e, como consequência, não queremos enfrenta-los com as novidades. Depois de uma certa idade, tudo fica mais difícil por causa das exigências que acariciamos, levando sempre ao temor que manieta. Quer nos parecer que para formar um idoso virtuoso, é na fase da vida onde a energia é mais abundante que o exercício da mudança constante deve ser incorporado ao comportamento e, nesse caso, será mais fácil consentir em mudanças até o final da vida. Idosos que não podem acompanhar as mudanças sociais e tecnológicas, geralmente têm pouco respeito das gerações jovens. Talvez, a falta de honorabilidade na terceira idade ocorra pela cristalização comportamental dos idosos. Os jovens não podem aproveitar a sabedoria do idoso por estarem estes distantes das formas de comunicação mais recentes, além de falarem de uma anti-realidade imutável que já não esclarece o presente.

O apóstolo Paulo refere-se a essa questão em Romanos 12:2 quando adverte: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento...”. Assim, ele demonstra que mudanças algorítmicas são o drive do aperfeiçoamento. Nas religiões cristãs, as tradições têm performado um ambiente estagnado que matam novos conhecimentos e desprezam quaisquer esclarecimentos sobre verdades antigas. Não é muito bem-vinda qualquer interpretação que proponha reflexão sobre o establishment, pois causa instabilidade aos algoritmos existentes. Todavia, mudanças são requeridas para o aperfeiçoamento.

A redação da Bíblia foi permitida como principal meio para provocar modificações. Ela é como espada, no sentido de quebrar algoritmos; “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4:12). Assim, cristãos que abraçam a fé em Jesus – o modelo que difere do algoritmo do mundo – e que não apresentam modificações relativas a compreensão do seu papel na sociedade, da sua tarefa de influenciador para o que é direito e justo, mas perpetua ou mantem os algoritmos anteriores, procurando oportunidade para moldar o cristianismo aos velhos algoritmos, não abarcaram o significado da escolha.

A maior revolução alcançada pela humanidade foi a escrita. Quando lemos um livro entramos em contato com a mente daquele que o escreveu. Porém, ao autor é dada também oportunidade para entrar em contato com nossa mais profunda intimidade, a mente. Neste contexto, através da Bíblia, Deus habitará nas mentes humanas, alcançando um nível de intimidade e ligação com os humanos que somente a leitura permite. Nosso corpo se transforma na habitação de Deus, e nosso comportamento será modificado aos padrões celestes. Nossos antigos algoritmos serão substituídos pelos algoritmos do céu, num processo que será indolor porque a informação neuronal cambiará as respostas que, por influência celeste, serão diferentes das que estávamos acostumados por causa dos antigos algoritmos.

Vale salientar que a leitura bíblica deverá ser realizada com a percepção dos novos algoritmos que estão expostos nas histórias relatadas, mas especialmente através do comportamento de Jesus Cristo, o justo. Nossa inteligência nos permite observar padrões e estes, nos conferem habilidades para mudar o mundo.