terça-feira, 24 de março de 2020

Deus e a hostilidade humana




Os esboços proféticos do livro de Daniel alertam com muita clareza sobre as altas estratégias usadas, especialmente pelos homens insuflados por Lúcifer, para disseminar a ideia de que não precisamos de Deus para a solução dos nossos problemas e dilemas, aqueles que ameaçam nossa paz e sobrevivência.

Durante todas as eras, em muitas ocasiões, imensas ameaças mortais foram enfrentadas pela humanidade. Nestas ocasiões, a tecnologia humana foi evocada com razoável sucesso, dando a ilusão de que nossa desenvolvida ciência sempre dará fim aos perigos que enfrentamos e não necessitamos de ajuda externa ou mística originada nas religiões, porque estas são também produtos da imaginação humana. Evidentemente, há nas religiões fatias imensas de filosofia humana, tradições que acabam por cristalizarem-se em dogmas, os quais são pura imaginação, nada tendo a ver com a realidade.

Qual é a realidade?

Como cidadãos da parte ocidental do nosso planeta, fomos instruídos nos cânones do modelo filosófico judaico-cristão. É muito importante ter ciência dessa dimensão construtiva do nosso pensamento e da nossa ética. Por esse motivo, acreditamos num Deus supremo e aceitamos a Bíblia como sendo Sua revelação sobre a realidade, a espinha dorsal da nossa lógica existencial. Através da Bíblia, é-nos desvelada a cortina do universo e, um fato histórico importante nos conta de uma guerra no céu (Apoc.12:7-9). A partir dessa informação, nos damos conta de uma realidade beligerante entre a divindade e o seu arqui inimigo, a chamada luta entre o bem e mal. Essa realidade não está muito clara para a esmagadora maioria das religiões. Porém, para judeus e parte dos cristãos sim.

A Bíblia nos informa que Deus permitiu ao inimigo desenvolver suas ideias, de modo que este pudesse ser avaliado e julgado com justiça por Deus e pelo universo. A Terra é, neste momento, um teatro onde são expostos os princípios do governo de Deus e os pressupostos dos argumentos do inimigo. Não vamos explicar agora por que a Terra, considerando que isso é, por si só, assunto para um compêndio. Mas, a Terra e seus habitantes são protagonistas que ensinarão ao universo sobre Deus e seu inimigo e, segundo a Bíblia, Deus sairá vencedor com reconhecimento de todo universo. Com esse pano de fundo vamos olhar um pouco a geopolítica durantes as várias eras da civilização humana.

No processo civilizatório há sempre um poder humano que, em determinado período, exerce comando sobre as nações, influenciando-as, educando os jovens, comandando a ética sócio-política, ditando comportamento socioeconômico, impondo sua cultura especialmente através de sua língua. Quando observamos a geopolítica através das lentes bíblicas, é-nos oferecida oportunidade de ver aspectos do grande conflito entre o bem e o mal.

Há quase três mil anos atrás, Deus desvelou ao profeta Daniel o panorama geopolítico desde os seus dias até o final da história terrestre. Importante dizer que a referida revelação se deu 600 anos antes de Cristo, portanto, as informações que foram reveladas ainda estavam no futuro. Nos capítulos 2, 7, 8, 9, 11, do livro de Daniel, são dadas sequências históricas explicativas do modo como Satanás operaria através dos homens a sua guerra contra Deus. Mostra-se nos referidos textos a superioridade divina por sua onisciência, ao descortinar o que ainda estava encoberto e no futuro. Para quem está atentamente observando a narrativa e se depara com a onisciência de Deus, vem inevitavelmente a pergunta: por que Deus, sendo onisciente, deixou seu inimigo agir? A resposta é inequívoca. Era necessário que o inimigo revelasse cabalmente sua estratégia e suas intenções, de modo que o julgamento final fosse justo. Afinal de contas, o universo está também observando quem está com a razão. Estamos partindo da premissa de que os leitores conhecem os motivos da guerra no céu.

Os reinos universais, são uma estratégia para levar os homens para dentro das ideias de Satanás. Tais reinos são a máxima hostilidade humana contra o governo divino. A essa altura de nossa conversa, é importante lembrar algumas promessas de Satanás. No Éden, ele ofereceu a Eva a oportunidade de ser igual a Deus (Gên.3:5). Tal promessa envolve muita coisa, mas é notável que Eva acreditou que iria ter um aperfeiçoamento mental (Gên.3:6-7) e, dizem os profetas que ela se sentiu mentalmente superior. Desde então, os homens, sempre estimulados por Satanás, buscam descobrir os segredos do universo, na tentativa de controlá-lo e, consequentemente, tornarem-se deuses. Essa perspectiva é que deve ser focada quando se estuda a história humana. Os reinos que conquistaram o mundo são a arrogância humana, de acordo com o plano de Satanás.

O Primeiro grande momento narrado na Bíblia sobre a arrogância humana está em Gênesis 11, quando os pós-diluvianos resolveram fazer uma torre que sobressaísse a lâmina de água resultante das chuvas e assim estariam a salvo. Além disso, propuseram elevar a torre até as nuvens, onde se formaram as chuvas, deste modo poderiam estudar como se produz chuva e poderiam interferir no fenômeno impedindo-o. Tal soberba desafiava a Deus, sendo que houve uma drástica intervenção que os tornou incapazes de coesões futuras. Nunca mais a humanidade seria capaz de produzir integrações. As nações atuais resultam dessa incapacidade de coesão.

os reino universais foram construídos na impossibilidade harmônica. Em cada momento histórico, um poder esteve protagonizando a arrogância humana contra Deus. Os governos humanos sempre estiveram em guerras, e tal espírito beligerante é exarcerbado porque transgridem as leis, mudam os estatutos e quebram as alianças eternas. Porém, “Bem-aventurados os que guardam os Seus mandamentos” (Apoc. 22:14). Todos os reis, todos os governadores, todas as nações, são Seus e estão sob o domínio e autoridade do Senhor Deus onipotente. (Comentários de Ellen G. White, no Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6 p. 1081). Ainda que sejam os homens arrogantes, o planeta pertence ao Deus do céu (Salm.24:1).

O primeiro reino universal foi Babilônia de Nabucodonosor. Foi definido por Deus como “cabeça de ouro”. Sua influência perdura até os dias atuais, uma vez que a matemática dos caldeus foi a base para a matemática ocidental. Os estudos em astronomia foram muitíssimos importantes para ciências aplicadas tais como, agronomia, navegação, entre outras. Todavia, sua arrogância contra Deus foi fatal. O neto de Nabucodonosor foi julgado e sentenciado por Deus, sendo substituído em seu domínio pelos persas e os medos.

O segundo reino foi uma coalisão entre a Média e a Pérsia. Neste período Daniel com 80 anos foi lançado na cova dos leões, como consequência de ter desafiado um decreto que colocava o soberano acima de Deus. Daniel era o responsável por um sistema de auditoria que desbaratou desvios de recursos no reinado de Dario. Logo, os que foram prejudicados buscaram apanhá-lo em alguma falta, sem lograrem êxito. Assim, propuseram um decreto dando ao rei status divino e, espionaram a vida de Daniel porque sabiam que este orava ao Deus Altíssimo. Conforme vimos acima, tudo está sob o domínio e autoridade do Senhor dos céus. Numa fantástica demonstração de onipotência e onipresença, Deus livra Daniel e julga seus acusadores, mortos na mesma armadilha montada para Daniel. Os medos e persas fizeram grandes contribuições à ciência ajudando a formar a ideia da arrogância humana. Eram grandes na medicina, na engenharia, astronomia, matemática. Sua ciência alcançou o apogeu muito depois no chamado império Bizantino, quando grandes contribuições em todos os ramos do conhecimentos foram aportados e registrados na história. Por força do intelecto bizantino, as ciências contemporâneas alcançaram novas compreensões transformadas em tecnologias em uso atual.

O terceiro reino foi a Grécia, à qual se dispensa muitos comentários sobre a sua capacidade influenciadora e formatadora do pensamento ocidental hodierno. A arrogância grega é enorme por conta da sua influente filosofia. No ocidente são mais conhecidos autores como Sócrates, Platão e Aristóteles, este último com marcante incursão no pensamento cristão. Todavia, há importantes nomes de filósofos pré-socráticos que formaram toda a base lógica da ciência atual. Todo o raciocínio lógico ocidental moderno ainda é grego, tal a força dessa civilização. Do ponto de vista do conflito entre o bem e o mal, buscaram destruir a influência judaica criando um conjunto de crenças na evolução natural, reencarnação, imortalidade da alma, entre outras questões, numa demonstração de independência cultural distanciada da Torá judaica. Foram sofisticadamente arrogantes diante dos céus, criando um raciocínio que torna a filosofia e a ciência suficientes para explicar todas as causas, dando ao homem uma dimensão de absoluta dominância sobre a natureza. Tal arrogância determinou seu desaparecimento do cenário da liderança mundial, sendo a Grécia atual apenas um endereço turístico.

O quarto reino é Roma. Estamos colocando no presente porque este império está em andamento. Roma antiga dominou um vasto território que englobava muitas nações. Governava com uma característica ímpar: não destruía as culturas conquistadas. Todos poderiam consolidar sua cultura, desde que pagassem impostos ao rei de Roma. Por esse motivo o povo judeu, conquistado por Roma, manteve seu templo, seu sistema religioso e político. Roma atual não é a capital do mundo, posto que esta é a cidade de Washington nos Estados Unidos da América. Mas, em Roma está o Vaticano, uma espécie de reserva moral para o orbi. Todavia, são os Estados Unidos da América os que detém a liderança política e econômica no mundo. Ora, se o quarto reino ainda está vivo, como se explica a liderança americana?

Os símbolos americanos são os mesmos de Roma. A águia, por exemplo, era também o símbolo de Roma. O latim originou muitas expressões inglesas; a diplomacia utilizada por Roma na vivência com os conquistados é a mesma empregada pelos americanos no processo civilizatório atual, sendo que os países sob seu domínio diplomático usam a língua inglesa como idioma comercial, tal qual Roma utilizava o latim. Atualmente, a arrogância contra Deus se dá na confiança mundial nas tecnologias geradas nos Estados Unidos, uma sensação de que qualquer problema humano poderá ser resolvido pelos cientistas americanos. Porém, o sistema religioso criado por Roma é a referência ética para o mundo. O Papa é igual a Deus, sendo essa arrogância discutida pelo profeta Daniel. Toda essa construção humana está destinada à destruição final. Irá prevalecer o reino do Altíssimo Deus, conforme está demonstrado na Bíblia.

A escritora Ellen White diz que "Na história das nações o estudante da Palavra de Deus pode contemplar o cumprimento literal da profecia divina. Babilônia, fragmentada e por fim quebrantada, passou porque em sua prosperidade seus governantes tinham-se considerado independentes de Deus, atribuindo a glória do seu reino a realizações humanas. O domínio medo-persa foi visitado pela ira do Céu porque nele a lei de Deus tinha sido calcada a pés. O temor do Senhor não encontrou lugar no coração da grande maioria do povo. Prevaleciam a impiedade, a blasfêmia e a corrupção. Os reinos que se seguiram foram ainda mais vis e corruptos; e desceram cada vez mais na escala da dignidade moral. O poder exercido por todos os governantes da Terra é concedido pelo Céu; e seu sucesso depende do uso que fizerem dessa concessão". (Profetas e Reis, p.254)

O livro do profeta Daniel apresenta o grande conflito entre o bem e o mal em dimensões amplas, demonstrando também as estratégias de Deus ao lidar com o referido conflito. Os homens estão em franca adesão à proposta de Satanás. Se articulam a despeito da não unidade imposta por Deus. Porém, as coalisões humanas são frágeis e dependem de lideranças impostas pela força, uma forma de impor unidade improvável. O modelo de liderança humana é inspirado no sistema de competição pensado por Satanás, como sendo a alternativa ao conceito de governo celeste. A competição é a base da filosofia humana, ou seja, as explicações sobre as causas dos fenômenos captados pelo consciente humano. Assim, prevalece o mais forte e o mais apto. Essa ideia é a que move o comércio, é a base do sistema educacional humano, é a meta de vida de todos sendo aceita também pelas religiões. Essa ideia do mais forte fornece a percepção do homo deus aos habitantes da Terra. Tal ideia ofende o Deus Altíssimo que julgará os homens e tornará prevalecente o homem justo. O injusto, ou seja, o que é arrogante será aniquilado. Aqui vimos que Deus tolera a arrogância humana para poder esclarecer ao universo inteiro sobre a sua justiça e a excelência do seu sistema de governo. É absolutamente esclarecedor ter essa compreensão a respeito do meio que nos cerca. A leitura bíblica assume um colorido deslumbrante, pois elucida sobre as posições assumidas pelos políticos contemporâneos. Os homens estão envolvidos num conflito inteligentíssimo e serão obrigados a um posicionamento que dependerá de usarem os óculos corretos que permitirão discernir de que lado ficarão. O livro de Daniel é uma narrativa da odisseia humana. Os filhos de Deus capturados pelo inimigo e submetidos a situações de humilhação e desespero serão finalmente resgatados por Miguel; era necessária certa demora para que ficasse cabalmente demonstrado o mal; todo universo se regozijará porque a justiça de Deus será finalmente demonstrada.



quinta-feira, 5 de março de 2020

O grande conflito possui formatos que podem não estar perceptíveis



O grande conflito que se desenvolve em toda orbe possui formatos que podem não estar perceptíveis a todos os envolvidos. A questão religiosa está formatada em de dois sistemas contemplativos, os quais são os portais utilizados, pelos humanos, para interação com elementos considerados transcendentais. Há o sistema proposto por Deus, com dispensações que abrangeram os chamados patriarcas bíblicos, depois o judaísmo e por fim o cristianismo. Também há o sistema que faz a contrafação ao sistema de Deus, dissimulado e de difícil demarcação. Para as duas últimas dispensações, o conflito aparece em nuances que, quando analisadas cuidadosamente, permitem ver estratégias semelhantes a ambas dispensações para descaracterizações das ordens de Deus.

A principal estratégia do segundo sistema é a introdução de confusão na interpretação bíblica, causando a simplificação para introdução de tradições humanas no sistema de Deus, tirando a pureza das ordens divinas, descentralizando Deus e colocando homens como mediadores, dando às tradições humanas como que força divina, tornando o sistema religioso centrado na Terra e não no céu. E nem poderia ser diferente, uma vez que o inimigo está restrito ao planeta desde a sua precipitação, conforme Apocalipse 12:9.
É também muito importante verificar como esse conflito ocorreu em tempos anteriores ao judaísmo. Uma das maneiras de analisar é buscando ver os acontecimentos da torre de Babel. Depois que as águas do dilúvio secaram, algum tempo após, os homens planejaram superar qualquer futura ameaça de inundação construindo uma torre, cuja altura deveria ultrapassar a altitude à qual as águas alcançaram no dilúvio (Gênesis 11). Porém, resolveram que isso não era suficiente, e propuseram alcançar as nuvens, uma vez que a chuva veio das nuvens, logo, poderiam estudar como conter as chuvas e, consequentemente, surpreender Deus impedindo outro dilúvio. Aliás, essa é a razão por que as nações investem em pesquisas científicas. Sabendo das causas, poderão administrar a natureza, ou seja, poderão antever desvantagens, mas também, aproveitar fenômenos benéficos provocando as suas causas. Essa arrogância humana é uma das consequências do pecado, pois a inobservância da Lei de Deus significa independência Dele. E assim caminha a humanidade. O sistema científico mundial busca dar à humanidade capacidade para transgredir as ordens divinas. Porém, a concepção da filosofia científica inebria a humanidade quando quer garantir que os humanos devem e podem, por si mesmos, buscar as soluções para suas mazelas. Em muitos casos, a ciência tem se mostrado, em sua altivez, ser capaz de resolver muitas questões, sendo que está até mesmo propondo a imortalidade para 2050 (https://canaltech.com.br/saude/imortalidade-sera-alcancada-em-2050-dizem-cientistas-108478/).

Porém, no caso da torre de Babel, a arrogância humana foi abatida pela onipotência divina. Os sábios da época foram tolhidos na sua mais importante ferramenta, a fala ou a capacidade de comunicação. É importante lembrar que a fala é uma das características próprias de Deus, com a qual Ele abençoou a coroa da criação, mas foi na fala que Deus interferiu para mostrar que os homens não possuem nada de si mesmos e que estão sob controle divino. Desde esse episódio em diante, não mais a humanidade obteve unanimidade. Tal fato, conteve a arrogância, em muitos aspectos.

Durante a dispensação judaica, mesmo que a Torá estivesse em domínio de Israel, a chamada consciência coletiva, ou seja, as tradições próprias somadas às tradições dos povos vizinhos, atuaram como óculos que vedaram uma visão pura das ordens divinas. As tradições acabaram por colimar interpretações da Torá eivadas de egoísmo (a principal “virtude” do sistema do inimigo), transformando os ritos em obrigações que objetivavam aplacar a ira de Deus e conceder méritos aos usuários. Os ritos são interfaces de ensino sobre como transpor o impedimento (devido ao pecado) entre Deus e a humanidade, além de demonstrações humanas de fé e humildade no trato com os céus, nada concedendo em relação ao mérito humano e consequente salvação.

Assim, os judeus criaram um sistema religioso com abundância de regras, as quais eram ensinadas pelos sábios, mas que somente eles as entendiam. O povo ficava aturdido e errava, por exemplo, em achar que o sistema sacrifical, o próprio templo com suas cerimônias e ritos eram suficientes para expiar seu pecaminoso procedimento. Foi exatamente contra essa situação que Jesus se colocou, ofendendo aos sábios que buscaram matá-lo. Todo o sistema judaico estava contaminado com as tradições humanas, um resultado da sutil introdução dos princípios egoístas do sistema religioso criado pelo inimigo, dando a este desafortunada supremacia. 

Jesus ensinava e demonstrava, através do seu comportamento, os princípios altruístas da Torá e, como consequência, a partir dos doze discípulos, surgiu a igreja cristã. Porém, na medida em que o tempo avançou, novamente as tradições humanas se impuseram. No capítulo 8 do livro de Daniel aparece um chifre pequeno que falava como homem e que tinha como meta mudar os tempos e a lei. Se Deus é o Senhor do tempo e a Sua lei é a base do Seu governo, quando o homem tenta ostentar tais responsabilidades, necessariamente afronta Deus. Logo, as tradições humanas que se elevam sobre a Torá, e as mudanças nas ordenanças legais de Deus conformam um sistema que tira de Deus o comando e a autoridade para salvar colocando o homem no centro, no lugar de Deus. Essa estratégia tem sido exitosa em todos os tempos.

A igreja cristã atual está dividida em muitos ramos, os quais foram surgindo exatamente por causa dos óculos das tradições humanas. A igreja adota a Palavra de Deus; mas as tradições transmitidas de geração a geração, e as interpretações humanas das Escrituras ocultam a verdade como é em Jesus. Perdeu-se a significação espiritual das Sagradas Escrituras. O tesouro de todo o conhecimento está revelado, mas os cristãos não o sabem.

Durante o percurso da história, Deus tem buscado descontaminar a verdade. Na era pós Jesus Cristo, no século XVI, Deus levantou o movimento da reforma, o qual teve Lutero como seu ícone. Ali verdades que estavam sepultadas pelo entulho das tradições foram resgatadas. Mas, outra vez o inimigo logrou êxito, por força da reintrodução das tradições humanas. Como consequência, apareceram as igrejas protestantes entulhadas de tradições. O inimigo assediou os crentes com a ideia de que o Antigo Testamento deveria ser entendido como válido para dispensação judaica e, os protestantes focaram no Novo Testamento. Porém, a interpretação das escrituras do Novo Testamento sem o auxílio e sem os conceitos da Torá e dos profetas, torna muito propício o ambiente para a entrada de interpretações humanas que sofrem reinterpretações a cada geração. Com êxito o inimigo transformou a limpeza realizada pelos reformadores em monturos de ensinamentos bíblicos entulhados com interpretações humanas. É importante que se diga que a Bíblia interpreta a si mesma. Para evitar a interpretação humana, Deus levantou os profetas, assim devemos nos concentrar na Torá e nos profetas e nada mais (Mateus 7:12; Atos 24:14; Romanos 3:21).

Em 1844, depois de quase três séculos de contaminação doutrinária, Deus levanta um novo profeta, a quem fora dada a tarefa de limpar a verdade da contaminação protestante acumulada. Deus concede a Ellen White o privilégio do dom profético. Todos os seus escritos são uma advertência aos cristãos em relação às tradições e interpretações da verdade. Ela escreve dizendo “[...] Pouco a pouco, a princípio de forma discreta e silenciosa e depois mais às claras, à medida que crescia em força e conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniquidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente, os costumes do paganismo ingressaram na igreja cristã. [...]E entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, ele deixou de lado a humilde simplicidade de Cristo e de Seus apóstolos em troca da pompa e do orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e, em lugar das ordenanças de Deus, colocou teorias e tradições humanas. [...] A obra de corrupção progredia rapidamente. Embora parecesse que o paganismo tinha sido derrotado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e ao culto dos professos seguidores de Cristo (O Grande Conflito, p. 49, 50).

Há atualmente dois sistemas através dos quais os cristãos buscam a salvação: o sistema puro, no qual os homens são salvos pela fé em Jesus, sendo que a fundamentação da vida do cristão é o comportamento demonstrado por Jesus, quando andou entre os homens. A cópia desse comportamento origina nos homens as boas obras. Estas serão examinadas no juízo final e serão alegadas como atenuante diante das exigências da Lei de Deus. Mas, é a fé em Jesus que na verdade salva, ou seja, acreditar nele, copiando o seu caráter, sendo que no juízo final, Jesus nos representará e nos aplicará as suas obras, daí a necessidade da fé Nele. De outro lado há o sistema contaminado, no qual os homens buscam ser salvos por seus méritos e sem mudança nenhuma nos seus caracteres. Quem pratica perseverantemente ritos tentando aplacar a ira de Deus, ou quem ajuda seus semelhantes em troca da salvação, ou quem paga para sistemas religiosos para obter perdão, todos estão no segundo sistema de salvação. O mais malévolo e agravante desse segundo sistema é a tentativa de transferir para a terra prerrogativas exclusivas de Deus, como por exemplo sacerdotes que podem perdoar pecados. “Quando as Escrituras são suprimidas e o homem passa a se considerar supremo, só podemos esperar fraudes, enganos e injustiça degradante. Com a elevação das leis e tradições humanas, ficou evidente a corrupção que sempre resulta de se deixar de lado a lei de Deus” (História da Redenção, p. 331, 332).

“A única segurança agora, é procurar como a tesouro escondido a verdade, exatamente como se acha revelada na Palavra de Deus. Os assuntos do sábado, da natureza do homem, e do testemunho de Jesus, eis as grandes e importantes verdades a ser compreendidas; estas se demonstrarão qual âncora para firmar o povo de Deus nestes tempos perigosos. A massa da humanidade, porém, despreza as verdades da Palavra de Deus, e prefere as fábulas. Porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira” (2Ts 2:10,11; Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 300).