terça-feira, 26 de março de 2024

Desconfiança em Deus, o Principal Pecado


Na penumbra da alma, onde os dilemas se entrelaçam como teias de aranha, reside o mais insidioso dos pecados: a desconfiança em Deus. Não é o furor blasfemo que ecoa nas catedrais, nem o grito de revolta que desafia os altares. É algo mais sutil, mais traiçoeiro. É a dúvida que se infiltra como um veneno silencioso, corroendo a fé desde dentro.

O homem, esse ser inquieto e ávido por respostas, ergue os olhos ao céu em busca de significado. Ele anseia por um Deus que lhe explique o inexplicável, que lhe revele os segredos do universo. Mas quando as estrelas permanecem mudas e os céus permanecem impenetráveis, a desconfiança se insinua.

“Será que Deus existe?”, sussurra o homem em sua solidão. “Será que Ele nos abandonou à deriva neste oceano de incertezas?” E assim, a semente da desconfiança é plantada, germinando nos recantos mais sombrios da alma.

O homem olha para o mundo e vê a dor, a injustiça, a crueldade. Ele contempla os horrores que assolam a humanidade e questiona: “Se Deus é amor, por que permite tanta aflição?” A desconfiança se alimenta das lágrimas dos inocentes, das súplicas não atendidas, dos milagres que nunca acontecem.

E assim, o homem se torna um apóstata em segredo. Ele frequenta os templos, mas sua alma está distante. Ele reza, mas suas palavras são vazias. Ele se agarra a dogmas, mas sua mente está em rebelião. A desconfiança se transforma em um abismo entre ele e o divino.

Mas talvez, apenas talvez, a desconfiança seja o teste final da fé. Talvez Deus observe com olhos compassivos enquanto o homem luta contra suas próprias sombras. Talvez Ele espere pacientemente, sabendo que a jornada da fé é uma dança entre a luz e a escuridão.

E assim, o homem deve escolher. Ele pode se afogar na desconfiança, afastando-se do sagrado, ou pode se lançar no abismo, confiando que, mesmo na queda, há mãos invisíveis prontas para segurá-lo.

A desconfiança em Deus, o principal pecado, é também a oportunidade de redenção. Pois é na escuridão que a luz brilha mais intensamente. E é na dúvida que a fé se fortalece, como uma árvore que cresce em solo rochoso, suas raízes buscando alicerces profundos.

Que o homem, então, olhe para o céu com olhos de criança, sem medo da vastidão. Que ele abrace a incerteza como um presente, pois é nela que a fé floresce. E que ele saiba que, mesmo quando a desconfiança o assaltar, há um Deus que espera pacientemente, com amor inabalável, pelo retorno do filho pródigo.

Desenvolvendo a Confiança em Deus: Uma Jornada de Fé

Na quietude das almas, onde as estrelas sussurram segredos e os ventos carregam histórias antigas, reside a essência da confiança em Deus. Não é um caminho pavimentado, mas sim uma trilha sinuosa que serpenteia pelos vales da incerteza e pelas montanhas da esperança.

O homem, esse viajante da incerteza, anseia por ancorar sua alma em algo maior. Ele busca respostas nos pergaminhos sagrados, nas preces noturnas e nos olhos dos sábios. Mas a confiança não é um destino; é uma jornada. E como todo peregrino, ele deve dar o primeiro passo.

1. O Silêncio da Fé

A confiança começa no silêncio. É quando o homem se curva diante do desconhecido e sussurra: “Aqui estou, Senhor.” É quando ele abandona as certezas mundanas e se lança nos braços invisíveis da divindade. A fé não é um grito; é um sussurro que ecoa nas câmaras secretas do coração.

2. As Estrelas e os Abismos

O homem olha para o céu e vê as estrelas. Elas são faróis na noite escura, guias para os navegantes perdidos. Ele contempla os abismos da existência e se pergunta: “Haverá um plano maior? Haverá um propósito oculto?” A confiança é a resposta que ele encontra nas constelações e nos vazios siderais onde pode ver a mão de Deus no leme do universo. Galáxias, sistemas planetários, quem sabe, milhares de mundos habitados por ouros seres, tudo dependendo de um Deus longânimo e bondoso, que mantem as leis perenes que dão solidez e equilíbrio aos milhares de sistemas no cosmo. A percepção do comando divino é o fundamento da confiança.

3. As Tempestades da Dúvida

Mas a jornada da confiança não é isenta de tempestades. A dúvida, muitas vezes, se ergue como ondas revoltas, ameaçando afundar o barco frágil da fé. O homem se agarra aos mastros da esperança, enfrentando os ventos da incerteza. Ele aprende que a confiança não é ausência de dúvida; é a coragem de continuar navegando mesmo quando o horizonte está encoberto.

4. O Refúgio nas Promessas

As Escrituras são faróis na escuridão. Elas contêm as promessas de Deus, como pérolas escondidas no fundo do mar. O homem lê sobre a aliança com Noé, a fé de Abraão, a coragem de Moisés, a perseverança dos mártires. Ele percebe que a confiança não é cega; é baseada em histórias de fidelidade e amor.

5. A Oração como Bússola

A oração é a bússola da confiança. O homem se ajoelha e fala com o Invisível. Ele compartilha seus medos, suas alegrias, suas angústias. Ele aprende que a confiança não é uma estrada reta; é um diálogo constante com o divino. Às vezes ouvindo, às vezes silêncio. Quando ouve a voz de Deus deve orar, quando não ouve deve orar ainda mais. E quanto mais ora, mais os mistérios são revelados; a oração promove o desenvolvimento da fé inteligente, é mediante o orar que aprendemos a ciência do buscar e a paciência para esperar.

6. Os Milagres Cotidianos

A confiança se fortalece nos milagres cotidianos. O homem vê a chuva que alimenta a terra, o sorriso de uma criança, a mão estendida de um amigo. Ele entende que a confiança não é apenas para os grandes momentos; é para cada respiração, cada batida do coração. Se Deus alimenta as aves, se cuida da frágil erva, cuidará de quem nele confia.

7. A Dança da Fé

E assim, o homem dança com a fé. Ele gira nos círculos da incerteza, levanta os braços para os céus e se entrega. Ele sabe que a confiança não é uma linha reta; é uma dança que oscila entre a luz e a sombra, entre o alcance da visão e a opacidade do infinito, entre o conhecer Deus e esperar o que dele advem.

Que o homem, então, continue sua jornada. Que ele confie nas estrelas, mesmo quando a noite é mais escura. Que ele se curve diante do mistério, sabendo que a confiança é a ponte que liga o finito ao infinito.

 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Exemplo perfeito para as crianças, os jovens e os adultos

 

“O homem caiu. A imagem de Deus nele se acha deformada. Por causa da desobediência ele se tornou depravado em suas inclinações e debilitado em suas faculdades, aparentemente incapaz de esperar qualquer outra coisa além de tribulação e castigo” (Ellen White, Refletindo a Cristo, 23 de janeiro, p.29) .

A queda do homem significou a rebaixada do nível moral no qual fora criado e colocado por Deus. Havai simetria nas três dimensões humanas: corpo, alma e espírito. Depois da queda veio a depravação; perversão ou corrupção, o efeito de estragar, alterar para pior. A queda alterou para pior as inclinações, os desejos humanos que eram sempre em direção ao que é justo; agora estão estragados. Não há mais inclinação para fatos de justiça, apenas para injustiças ou iniquidades. As faculdades espirituais todas foram alteradas; as capacidades naturais ou adquiridas para realizar alguma coisa. Assim, a sensação, o pensamento, a imaginação, a memória e a vontade, responsáveis por vários fenômenos, como percepção, experiência de dor, crença, desejo, intenção e emoção, estes últimos ligados à alma humana, todas as faculdades que estão relacionadas com as funções superiores do cérebro humano e que possibilitam sua cognição e comportamento, estas faculdades foram alteradas para pior com a queda.

 Mas Deus, por intermédio de Cristo, planejou um escape, e diz a todos: “Portanto, sede vós perfeitos” (Mateus 5:48). Em outras palavras, não era o plano de Deus deixar a humanidade pós-queda nesse estado degradado ou depravado.  O propósito divino é que o homem seja correto e digno diante dEle, e assim, por meio de Jesus Cristo, o Seu plano não será frustrado. “Ele enviou o Seu Filho a este mundo a fim de pagar a penalidade do pecado, e mostrar ao homem como viver uma vida sem pecado” (Ellen White, idem). Chamamos a atenção para que ao homem foi dada oportunidade para deixar a depravação e retornar ao status quo em que estava no Éden. A ideia de homem permanentemente pecador não é bíblica.

“Cristo é o nosso ideal. Ele deixou um exemplo perfeito para as crianças, os jovens e os adultos. Ele veio à Terra e passou pelas diferentes fases da experiência humana. Em Sua vida o pecado não encontrou lugar. Do início ao fim de Sua vida terrena, Ele manteve pura Sua lealdade a Deus. As Escrituras dizem dEle: Crescia o menino e Se fortalecia, enchendo-Se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele (Lucas 2:40). Ele crescia “em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” ( Lucas 2:52). (Ellen White, idem).

“O Salvador não viveu para a satisfação de Si mesmo. [...] Não possuía lar neste mundo, exceto quando a bondade de Seus amigos lhe providenciava um; no entanto, era divinal estar em Sua presença. Dia a dia Ele enfrentava as provações e tentações, mas não fracassou nem ficou desanimado. Era sempre paciente e bem-disposto, e os angustiados O aclamavam como um mensageiro de vida, paz e saúde. Nada havia em Sua vida que não fosse puro e nobre” (Ellen White, idem). O que é importante na citação acima? Jesus é o homem que viveu sem dar oportunidade ao pecado. No seu dia a dia estava exposto às mesmas tentações ou sugestões satânicas como qualquer ser humano. Mantinha suas inclinações e suas faculdades conforme o padrão que fora dado a Adão. O padrão é a lei de Deus. Ali há nossos deveres para com a divindade e também nossos deveres para com os semelhantes. Jesus era 100% homem. Não havia nenhuma diferença nele que o separasse do conjunto dos humanos. E nem poderia haver, sob pena de não nos representar.  Por essa razão, somos instados a imitá-lo.

A promessa de Deus é: “E sereis santos, porque Eu sou santo” (Levítico 11:44). A santidade é o estado contrário ao pecado; a santidade é o reflexo da glória de Deus. O reflexo do caráter de Deus. Mas para refletirmos esta glória, precisamos cooperar com Deus. A cooperação é possível quando o coração e a mente se esvaziam de tudo que conduz ao erro. O erro é chamado na Bíblia de mundanismo; conformidade com o pensamento ou o comportamento da sociedade humana depravada em sua essência. O combate ao erro somente é possível pela suplantação do raciocínio mundano. É necessária a substituição dos pressupostos da razão pura, da tradição civilizatória humana por outras pressuposições que somente são encontrados na Palavra de Deus. Esta precisa ser lida e estudada com um sincero desejo de obter dela força espiritual.

A força espiritual significa que novas ideias ultrapassarão as antigas. A Bíblia é o Pão do Céu; as ideias celestes alimentarão a nova mente e formarão a nova alma. Os que recebem o Pão do Céu e o tornam uma parte de sua vida, se fortalecem em Deus e não no mundanismo ou tradições humanas que formam o senso coletivo. Nossa santificação, ou nossa conformidade com o caráter de Deus, é o objetivo de Deus em toda a Sua conduta conosco. Ele nos escolheu desde a eternidade, para sermos santos. Cristo declara: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Tessalonicenses 4:3). Em decorrência do que até aqui vimos, será necessário que queiramos que os nossos desejos e inclinações sejam mantidos segundo a vontade divina. Sem nossa aquiescência, nada da parte de Deus será realizado. Nestas circunstâncias permaneceremos na depravação. Por esta razão, é necessário um novo nascimento que se inicia com o batismo por imersão.

Ninguém sai do estado depravado sem pagar a multa prevista na lei de Deus, qual seja, sem derramamento de sangue não há remissão de pecado, portanto, a própria vida deve ser o pagamento (batismo). Era essa necessidade que os sacrifícios diários no santuário enfatizavam. O cordeiro morto diariamente simbolizava Cristo que faria o pagamento por toda humanidade. Foi a morte de Cristo (nós a experimentamos no batismo; morremos e ressuscitamos) que possibilitou nossa remissão. Um remido tem a sua dívida anulada, mas, o prejuízo é sempre debitado a alguém. Assim, somos eternamente devedores a Cristo.

Devido ao sacrifício de Cristo, podemos almejar ser santos. O caráter de satanás será substituído pelo caráter de Deus. “O viver a vida do Salvador, o superar cada desejo egoísta, cumprindo corajosa e alegremente nosso dever para com Deus e para com aqueles que nos cercam, nos torna mais do que vencedores. Isso nos prepara para permanecer em pé diante do grande trono branco, livres de qualquer mácula ou ruga, após termos lavado nossas vestes no sangue do Cordeiro” ( Signs of the Times, 30 de Março de 1904).

Deve ficar entendido que nosso dever para com Deus está contido nos cinco primeiros comandos da lei dos dez mandamentos, assim como nosso dever para com os que nos cercam são os outros cinco comandos. Por causa do sacrifício de cristo, posso reivindicar que me seja permitido obedecer a Deus e não ao mundo. Tal situação chama-se liberdade.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A essência humana é triangular

 

A criação do homem foi um feito divino de extrema complexidade. Era intensão divina que o homem formasse uma nova e distinta ordem de seres inteligentes para que demonstrasse para o universo inteiro as vantagens da lei de Deus (Ellen White, Review and Herald, 11 de fevereiro, 1902). Assim, a humanidade foi formada à imagem de Deus, com poderes mentais superiores a qualquer outra criatura vivente que houvesse Deus feito. Suas faculdades mentais eram apenas um pouco menor do que a dos anjos (Idem, 24 de fevereiro de 1874).

A palavra complexidade significa a qualidade de ter muitas ligações, as quais formam plexos, ou seja, com muitas ramificações que se entrelaçam. Um dos plexos humanos mais significativos está formado pelas três dimensões: corpo, espírito e alma.

Três dimensões humanas estão discutidas nas tradições religiosas e filosóficas e, seria oportuno entender as três partes, especialmente sob a iluminação bíblica.

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo”. (I Tessalonicenses 5:23). Conforme a Bíblia, as três dimensões devem ser conservadas para que tenhamos sucesso no dia do encontro com Deus.

Parece haver uma ênfase na importância da harmonia entre corpo, mente e espírito, encorajando um estilo de vida equilibrado e saudável. Também parece intuitivo ver o raciocínio bíblico indicando que desequilíbrios nas três dimensões humanas causam teratologias pessoais e coletivas. Talvez seja prudente olhar mais na intimidade estas dimensões.

Corpo

O corpo refere-se à dimensão física e tangível do ser humano. Ele inclui as células, os órgãos, os sistemas, e toda a estrutura material que compõe o organismo. O corpo é a parte visível e material da existência humana, sujeita às leis da natureza, ao envelhecimento e à mortalidade. De acordo com a tradição cristã, o corpo é criado por Deus e é considerado o templo do Espírito Santo; no funcionamento do corpo pode-se ver, na harmonia entre os órgãos e sistemas, as ideias e o modelo administrativo de Deus. O corpo é a dimensão através da qual a imagem de Deus aparece aos olhos dos outros semelhantes. É o corpo que expressa a fé quando produz as boas obras. É, na verdade, o corpo a dimensão onde Deus habita, ou seja, onde são expressos e materializados os fundamentos ideológicos divinos.

Espírito

Esta dimensão está conexa com a razão. A expressão "razão humana" refere-se à capacidade cognitiva exclusiva dos seres humanos de pensar, analisar, compreender e tomar decisões com base na lógica, na experiência e na reflexão. A razão humana é muitas vezes considerada uma característica distintiva da espécie humana e é fundamental à ética e a tomada de decisões.

O espírito/razão envolve a capacidade de pensar logicamente e de forma coerente. Isso inclui a habilidade de fazer inferências, analisar padrões, reconhecer relações de causa e efeito, e aplicar princípios lógicos. Os seres humanos têm a capacidade de avaliar diferentes opções, considerar informações relevantes e tomar decisões informadas com base em análises racionais.

O espírito humano permite ao homem a reflexão e autoconsciência; os seres humanos podem avaliar seus próprios pensamentos, examinar suas crenças e buscar compreensão sobre si mesmos e o mundo ao seu redor.

Através do espírito/razão, os seres humanos exploram o mundo, formulam teorias, conduzem experimentos e desenvolvem tecnologias inovadoras. Além disso o espírito permite a formulação de princípios éticos e morais. A capacidade de avaliar ações à luz de valores éticos e morais contribuindo para o desenvolvimento de sistemas éticos e para posicionamentos éticos.

É com o espírito que os homens se comunicam e expressam pensamentos, compartilham ideias complexas e colaboram na construção do conhecimento. A capacidade de raciocinar está intrinsecamente ligada à linguagem e à comunicação.

Os seres humanos buscam compreender o propósito da vida, a natureza da existência. Por essa razão, o espírito é associado à comunhão com Deus e à vida espiritual, ou seja, a vida além das posses materiais. Em João 4:24 (NVI), Jesus diz: "Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade."  Adorar em espírito significa estar servindo a Deus com toda a nossa capacidade cognitiva e a razão. Adorar em verdade pressupõe que não há hipocrisias no relacionamento com Deus. O serviremos porque reconhecemos sua soberania e superioridade, discernimos os valores morais exigidos e, efetivamente os empregamos nos relacionamentos sociais cotidianos. A obra do Espírito Santo também é destacada em passagens que falam sobre regeneração e renovação espiritual (por exemplo, Tito 3:5).

Alma

No hebraico, a palavra que muitas vezes é traduzida como "alma" é "nephesh" (נֶפֶשׁ). O termo "nephesh" é usado em várias passagens na Bíblia hebraica (Antigo Testamento) e tem uma gama de significados, sendo traduzido não apenas como "alma", mas também como "vida", "criatura", "ser" ou "pessoa", dependendo do contexto. Na tradição hebraica, a "nephesh" está frequentemente associada à totalidade da vida de uma pessoa, incluindo suas emoções, desejos e individualidade.

"Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente" (Gênesis 2:7). A palavra-chave aqui é "ser vivente", traduzida do hebraico "nephesh chayyah" (נֶפֶשׁ חַיָּה). Nesta passagem, a "nephesh" está relacionada à criação do ser humano como um ser vivo. A ênfase está na vida animada dada por Deus ao homem. Em Gênesis 2:7, está destacada a vivacidade e a animação dadas por Deus aos seres humanos, ou seja, a capacidade de se movimentar, em sentido amplo, e de ter volição, tomada de decisão, vontade, vitalidade, varonilidade.

Por um raciocínio intuitivo, é fácil concluir que a alma sempre obedece ao espírito; o espírito produz a alma. O espírito, por sua vez, depende do corpo, considerando que o cérebro é a sede do espírito e todas as partes do corpo trabalham para manter a sanidade do cérebro. A alma formada pela mente e sustentada pelo corpo, encapsula a ideia da totalidade da existência de uma pessoa: Emoções, desejos, individualidade.

O corpo sustenta a mente, ou espírito, ou a razão; quando pensamos, o cérebro se inunda de sangue. O espírito dá surgimento e formata a alma. As três dimensões possuem relação de complexidade, significando que uma não existe sem a outra. O desequilíbrio em uma das três dimensões provoca, necessariamente, assimetria e, esta, por sua vez, produz um ser humano disfuncional.

Agora, vamos falar no que pode provocar o desequilíbrio tridimensional humano. Se o corpo é a estrutura física que alberga as outras duas dimensões, então, qualquer injúria contra o corpo afetará diretamente o espírito e a alma.

No Éden, a serpente oferece alimento ao casal que era a matriz de uma nova e distinta ordem de seres inteligentes.  “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento [...]” (Gênesis 3:6). Satanás estimulou (tentou) Eva a provar algo que Deus havia proibido. É importante que tenhamos em mente a noção de que as proibições de Deus são motores para manutenção do equilíbrio das três dimensões humanas. Desde a saída do casal primitivo do Éden, até o presente, satanás vem oferecendo à humanidade substâncias que, supostamente, alteram para melhor o desempenho do espírito e, consequentemente, alteram a estado da alma. A palavra temperança faz algum sentido?

As substâncias que ingerimos podem causar dois efeitos: produzem efeitos terapêuticos ou efeitos tóxicos. Logo, qualquer substância que possa injuriar o corpo, roubará a capacidade do corpo de gerar um espírito pleno e, consequentemente, gerará uma alma doente. Portanto, todo vício vai tornar os humanos prisioneiros, sem liberdade, uma vez que a liberdade, a volição, a capacidade de tomar atitudes, que está nas mãos da alma, ficará impedida porque o corpo produzirá solicitações incontroláveis ao espírito (concupiscência) e este afetará a liberdade volitiva da alma. O vício aprisiona o corpo e este não permite que o espírito utilize a razão para estabelecer relações causa e efeito, resultando na perda da alma. A varonilidade de um humano depende, necessariamente, do equilíbrio das três dimensões.

Jesus enfatizou o perigo: "Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno" (Mateus 10:28).

“Adão estava diante de Deus na força da sua varonilidade, tendo todos os órgãos e faculdades do seu ser plenamente desenvolvidos e harmoniosamente equilibrados” (Ellen White, A Verdade Sobre os Anjos, p.50). É fácil concluir que o pecado retirou da humanidade o estado de equilíbrio primitivo. É o desequilíbrio das três dimensões a causa de toda insegurança e injustiça, e também está relacionada com as várias doenças psicossomáticas.

São três as dimensões humanas. São três as divindades na trindade. São três os principais patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó). Na tradição rabínica, a Torá (os cinco livros de Moisés) é frequentemente dividida em três partes: Torá (Lei), Nevi'im (Profetas) e Ketuvim (Escritos). Essa divisão é conhecida como Tanakh, que é a Bíblia Hebraica. Além disso, os rabinos categorizaram os milagres divinos em três tipos: aqueles que afetam a natureza (nissim), aqueles que envolvem eventos históricos (nesim), e milagres pessoais (mofet). Durante o Shabat (sábado), os judeus tradicionalmente fazem três refeições significativas: uma na noite de sexta-feira, uma durante o dia de sábado e outra à noite no sábado. Essas refeições são vistas como parte da observância do Shabat. Em alguns ensinamentos rabínicos, é mencionado que existem três tipos de amor: amor instintivo (ahavah), amor condicional (ahavtá), e amor incondicional (ve'ahavtá).

Qual a importância do número três no equilíbrio?

Vamos entender olhando a figura geométrica mais simples, o triângulo. Estruturas formadas por triângulos são frequentemente mais estáveis do que aquelas que não possuem essa configuração triangular. Essa estabilidade está relacionada a várias propriedades geométricas e mecânicas dos triângulos.

Os engenheiros defendem que os triângulos são eficazes na distribuição de forças. Quando uma força é aplicada a um triângulo, a carga é distribuída de forma mais uniforme pelos lados, minimizando pontos de tensão concentrada. Isso contribui para a estabilidade estrutural.

Branislav Vidic (1933-2003), um engenheiro iugoslavo, desenvolveu várias teorias sobre a eficiência das estruturas triangulares. Ele enfatizou a importância da simetria e da geometria na concepção de estruturas resistentes.

Triângulos são formas rígidas que resistem bem a deformações. Se um triângulo é deformado, os comprimentos dos seus lados ou os ângulos internos precisariam mudar, o que não é fácil em comparação com formas mais complexas.

Em estruturas trianguladas, os deslocamentos em um ponto tendem a ser minimizados. Se um ponto em um triângulo se desloca, isso afeta diretamente os comprimentos dos lados e, consequentemente, a geometria do triângulo. Isso ajuda a limitar e controlar os deslocamentos indesejados.

Buckminster Fuller (1895-1983), um arquiteto, engenheiro e designer, é famoso por popularizar a cúpula geodésica, uma estrutura composta por triângulos interconectados. Fuller acreditava que as estruturas triangulares eram a forma mais eficiente e resistente para construções em larga escala.

A geometria simples dos triângulos facilita a análise matemática e a resolução de equações relacionadas a forças, momentos e deformações. Isso simplifica o projeto e a análise de estruturas.

Estruturas formadas por triângulos tendem a ser mais estáveis globalmente. Triângulos podem ser combinados para formar treliças e malhas, que são usadas em pontes, torres, mastros, e outras estruturas, proporcionando estabilidade global. Então, pensem numa comunidade com pessoas equilibradas nas três dimensões humanas? Teríamos estabilidade social coletiva.

Santiago Calatrava (1951-presente), um arquiteto, engenheiro e escultor contemporâneo, é conhecido por suas obras que frequentemente incorporam formas geométricas, incluindo triângulos. Suas pontes e edifícios muitas vezes apresentam estruturas triangulares que contribuem para a estabilidade global e a estética arquitetônica.

Frei Otto (1925-2015), um arquiteto e engenheiro alemão, era conhecido por suas contribuições para a arquitetura leve e tensão. Suas estruturas muitas vezes incorporavam formas triangulares para otimizar a estabilidade e a distribuição de forças.

Portanto, triângulos são eficientes na resistência a cargas laterais, como vento ou movimentação lateral. Isso é especialmente importante em estruturas expostas a condições ambientais desafiadoras.

Entendendo as qualidades dos triângulos podemos entender que comunidades equilibradas tridimensionalmente resistiriam melhor a ventos morais negativos e às derivas éticas costumeiras de nosso tempo.

É por essas razões que muitas estruturas na engenharia, como pontes, torres de transmissão, mastros, treliças e algumas formas de estruturas arquitetônicas, são projetadas com uma configuração triangular.

Qual é o objetivo do evangelho e a função de uma sociedade da fé? Devolver ao homem o estado original quando o equilíbrio das três dimensões (corpo, espírito e alma) estará satisfeito. Nossa preocupação como cristãos é construir pessoas e comunidades assim. A igreja é bem mais do que apenas programações que invariavelmente divertem mais que educam. Igrejas cristãs são centros de altíssima cognição, onde deverão ser desenvolvidas as três dimensões humanas. Sem o regresso ao equilíbrio tridimensional humano, não seremos capazes de servir a Deus plenamente, porque Deus se relaciona com pessoas livres. É na dimensão triangular que está a nossa resistência.

Tudo o que afeta o corpo, ou produz dependência ou vícios deve ser eliminado. Não estamos falando apenas de substâncias químicas. Há tipos de vícios que são de ordem psicológica que irão, da mesma forma enfraquecer a estrutura triangular humana. Mas, todos os vícios promovem escravidão. Um corpo escravizado definha a razão porque degrada o lobo frontal do cérebro, no qual estão as altas faculdades da mente. Mente enfraquecida tira a existência da alma. Essa é a situação em que o pecado nos aprisionou.

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A oração é um ato humano

 

A oração é um ato humano que visa estabelecer uma conexão com o divino. Na perspectiva cristã, a oração é vista como o diálogo do crente com Deus. Isso significa que orar é basicamente falar com Deus. Se Deus fala conosco através das Escrituras, nós falamos com Ele através da oração. Portanto, a oração é uma parte fundamental do nosso relacionamento com Deus. Ela é tão essencial ao crescimento na vida espiritual (no crescimento na direção oposta ao materialismo, no aprendizado para lidar muito mais com conceitos do que com objetos), como o alimento é essencial ao bem-estar físico. Não é possível viver de forma saudável longe de Deus, pois Ele é o mantenedor da vida. Sempre será possível contar com ajuda divina, para nos assistir passo a passo, mas, somente contaremos com essa ajuda sob as condições estabelecidas por Deus.

RELIGIÃO — esta deve estar subjacente em todos os atos da vida. As faculdades morais, ou seja, nossa capacidade para fazer escolhas, ou a nossa alma, bem como nossas capacidades físicas, nosso corpo ou soma, através do qual materializamos nossas escolhas, além de nossas capacidades espirituais, a nossa mente, o lócus onde são processadas as informações que embasam nossas decisões, todas as nossas faculdades devem estar empenhadas na batalha cristã. Esta batalha é contra o mundanismo (materialismo) e, como munição, devemos ter a Cristo como modelo necessário, de onde vêm a força e o conhecimento para vencermos o mundo.

Muitos oradores nas igrejas persistem no discurso do determinismo pecaminoso. O homem pecador jamais poderá elevar-se acima do pecado. No entanto, este pressuposto nega a verdade bíblica exposta em vidas como a de Enoque, Moisés e Elias, os quais, com exceção de Moisés, foram transladados. A escritora Ellen White, em seu livro Santificação (p.59) Explica: “Cristo veio ao mundo para salvá-lo, para ligar o homem caído ao Deus infinito. Os discípulos de Cristo devem ser canais de luz. Manterão comunhão com Deus, devem transmitir àqueles que estão em trevas e erros especiais bençãos celestes. Enoque não se contaminou com a iniquidade prevalecente em seus dias. Por que ocorreria o contrário conosco hoje?”.

Uma análise do texto acima nos mostra que é possível sair da condição de pecadores derrotados e em trevas. Ora, se Cristo veio ao mundo para ligar o homem caído ao Deus infinito, então, o homem, se se determinar, não permanecerá caído. A força desta premissa é que os que seguem a Cristo devem transmitir luz aos que estão em trevas. Luz e trevas são dois sistemas morais diferentes. No primeiro encontram-se os princípios do altruísmo e preocupação com a ascensão moral do outro que está em trevas, ou seja, no sistema egoísta. Necessariamente, o sistema egoísta é iníquo, se sustenta na desigualdade. Quanto mais desiguais são os homens, mais sucesso conseguem, logo, não há espaço para ajuda ao semelhante. Observemos que Enoque não se contaminou com a iniquidade do seu tempo. Todos aqueles que saíram da queda moral, do mesmo modo, evitarão qualquer tipo de desigualdade, procurarão estabelecer a justiça.

A boa religião sempre buscará diminuir as desigualdades (Gálatas 5:19-26). É devido à boa religião que o inimigo das nossas almas, das nossas boas decisões, não dorme. As tentações a que estamos diariamente expostos tornam a oração uma necessidade. Através dela, manteremos nossas mentes (espírito) e nossos desejos (alma) ligados a Deus de onde vêm o auxílio, a luz, a força e o conhecimento. A luz é o sistema altruísta de ajuda mútua. A força é a materialização de atos e ações misericordiosos em favor de outrem. O conhecimento é Cristo e seu evangelho. As tentações são estímulos para permanecermos no sistema egoísta.

Precisamos viver de forma bivalente: Pensamento e ação; oração e zeloso obséquio. Através da oração podemos nos manter longe da iniquidade prevalente em nossos dias e estar habilitados para difundir a outros, por nossa relação com eles, a luz, a paz e a serenidade que reinam em nosso coração, dando um exemplo da inabalável fidelidade à nossa missão de ser testemunhas de Deus, inundando outras almas com luz divina.

A oração é uma parte essencial da vida do crente, permitindo-nos comunicar diretamente com Deus, buscar Sua orientação, expressar gratidão, confessar pecados e interceder em favor de outros. É uma prática que nos fortalece espiritualmente, fazendo-nos transcender o mundo materialista e nos conecta com Deus e nos capacita a enfrentar as adversidades da vida, suas iniquidades, com fé e esperança.