segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Nossa universal individualidade



Os seres humanos somam uma população de cerca de sete milhões de almas. Essa massa populacional possui aspectos compartilhados, mas, há outros que são particulares nos seus deferentes níveis de estratificação social.

Compartilhamos com todos os semelhantes o fato de termos sido feitos à imagem de Deus. Tal fato nos torna iguais não importando a raça (se elas existem) na qual temos raízes. Todos temos as mesmas aptidões para construir a parte que nos corresponde do mundo social. Aliás, é bom que se saliente que Deus criou o mundo físico e deixou o mundo social como a parte da criação correspondente ao homem. Assim, semelhantes a Deus, é nossa tarefa ser uma benção aos demais, do mesmo modo como Deus o é ao todo. Nossa capacidade para transformar o mundo social é gigantesca, mas diretamente proporcional à nossa habilidade de compreender o meio que nos cerca. Quando chegamos ao mundo, já encontramos uma forte organização preparada pelos que nos antecederam, a qual nos propicia conforto. Assim como Deus opera à perfeição, cabe a cada nascido aperfeiçoar o mundo, melhorando o que recebeu. Nossa tarefa não é desmontar o que foi organizado para nos acolher, porém, aprimorar, de modo que não devemos passar em branco pelo privilégio de estarmos existindo. Um ser humano vivo é uma formidável oportunidade para interação positiva com o mundo físico, tornando-o ainda mais belo, mais humano e sensível, mais benéfico e favorável, contudo, uma oportunidade única para edificação e requinte do mundo social. Cada ser humano tem igual chance para completar a criação de Deus, porque é um agente singular que plasmará a sua própria visão na contextura social, tornando-a ainda mais forte, se for capaz de compreender as transações que formam a ilimitada rede de cooperação que é a sociedade humana.

Atualmente, o mundo experimenta um compartilhamento global de interesses que formam a malha educacional da humanidade. Não somos mais, tal como antigamente, aldeias isoladas, mas humanos conectados que interagem ininterruptamente, de modo que somos uma civilização global com aspirações semelhantes, gostos semelhantes e sonhos semelhantes. Consumimos os mesmos bens, nos vestimos de forma quase uniforme, partilhamos as mesmas percepções e sensações, as mesmas expectativas. Somos educados no mesmo sistema, o que nos torna ainda mais universais e menos individuais.

Por causa do imperioso compartilhamento de ideais, as nações atuais se parecem politicamente. Todos os países têm interesses comerciais e aspirações de lideranças consentâneas com as demais nações. Somos uma aldeia global perigosamente semelhante. Mas, o que distingue cada povo é o espaço pátrio. Mesmo que os costumes sejam redesenhados pelos costumes estrangeiros, há sempre a manutenção de um tabu que molda aquilo que é estranho tornando-o mais nacional. Nenhuma nação no mundo usa o telefone celular como usam os brasileiros. Sabe-se que os antigos egípcios já utilizavam o feijão na culinária, mas, a cozinha brasileira o usa de forma especialmente própria, como se foram os tupis que o descobriram.

Do ponto de vista do indivíduo, no geral, todos aspiramos por paz. Queremos poder viver e gastar nosso tempo sem que tenhamos que garantir a existência. Buscamos prosperidade com direito ao uso de toda tecnologia disponível e o uso do mercado que privilegia o consumo massificado, casas com conforto, carros na garagem, além de roupas portando etiquetas famosas. Tais motivos nos igualam inquestionavelmente. Porém, o que nos distingue mesmo são as honrarias que dependem da performance individual. Nada nos torna tão únicos como as honrarias. Quaisquer que sejam. Até mesmo um lugar destacado na igreja, restaurante, avião, pode fazer a diferença e, às vezes, brigamos por elas, quem sabe por estarmos numa aldeia que nos assemelha tanto.

Nossa dimensão individualista mais importante é o nome que ganhamos com toda a carga de aportes conseguidas pelos nossos ancestrais. Num mundo com tantas faces igualitárias, possuir um nome com tradição e peso social é nosso quinhão particular. Cabe a cada um preservar a herança heráldica aumentando seu prestígio, de modo a poder entrega-la aos filhos e netos ainda com maior importância. Nosso nome é nossa herança mor. Um nome bem construído poderá ser um facilitador para muitos feitos.                                                                                                                                                                                                                                                                                           
Todos os nascidos terão, de uma forma ou de outra, oportunidade para receber educação. Esta busca o desenvolvimento de nossas habilidades e disposições e seu processo lapidar começa na casa que nos trouxe ao mundo. Nossa primeira chance acontece no ventre materno. A segunda vem da observação e imitação daqueles que nos cercam. A família é nossa primeira formadora (talvez a definitiva) na qual compomos hábitos (portanto o caráter) que nos acompanharão durante nossa existência. A sorte de uma pessoa é ter uma grande mãe e excelente família. Nosso tabu alimentar, a maneira como construímos nossa visão sobre elegância no vestir, o jeito como falaremos, o polimento social, o interesse por artes ou esportes, nossas preferências literárias, nosso interesse religioso, nossa forma de acumular e até mesmo a futura profissão serão fortemente influenciados pelo meio familiar. São os primeiros sete anos de vida que formatarão nosso modo de ser, nossa visão de mundo, entre outras coisas. Por outro lado, nossa compreensão das intrincadas relações sociais também será aprimorada no processo educacional extra lar. Mas é o lar o grande útero que abrigará o desenvolvimento inicial o qual será cinzelado com a convivência social.

A religião que recebemos de nossa casa poderá nos orientar por toda existência, assim como poderá ser mudada se eventualmente nos dermos conta de outra verdade com maior poder explicativo. No entanto, qualquer que seja ela, tenderá a se tornar individual e particular, na razão direta da compreensão dos pressupostos e fundamentos. Quanto mais buscarmos descobrir os fundamentos, as razões e os motivos dos oráculos, ritos e sacramentos, mais individual se tornará a religião. Mas, paradoxalmente, quanto mais sabemos sobre teologia mais saberemos conviver socialmente, porque os princípios mais basilares da fé são o amor a Deus e o amor ao próximo. Assim, mesmo que nossa experiência com Deus seja única, mesmo que nossa permanência na fortaleza de Deus nos faça sentir segurança individualmente, a presença divina é universal, por essa razão desfrutamos a universalidade na quietude da adoração.

Não existem duas pessoas iguais, nem mesmo irmãos gêmeos. Cada ser humano tem um único código genético, cuja combinação jamais se repetirá. Mesmo que estejamos sob a pressão da formatação comportamental em massa, por causa dos meios de comunicação, seremos únicos no conjunto dos procedimentos que estabelecem a disposição dos dados que regem nossa sociedade global. Sempre haverá uma forma individual de nos apropriarmos dos vários modismos e condutas que a chamada consciência social impõe. Nosso código genético é vertiginosamente único. Sempre reagiremos impondo nossa interpretação. Isso é fascinante, considerando que por essa característica individual iremos contribuir de forma particular no aprimoramento do mundo social. Cada indivíduo em sua geração escreverá uma história que deverá ser sobreposta a todas as histórias já escritas anteriormente, e também adicionadas àquelas que estão sendo escritas concomitantemente por seus contemporâneos. É dessa forma que acrescentamos nossa individualidade ao coletivo da humanidade. É assim que adicionamos nossa influência ao conjunto do conhecimento existente e acumulado por toda humanidade desde seu início. Dependendo de quanto o processo educacional nos esculpiu, seremos capazes de deixar marcas indeléveis na odisseia humana, quer seja na escala familiar, pátria ou internacional.

Nossa personalidade torna possível particularizar sonhos coletivos. Por exemplo, poderemos tornar nossa atividade profissional, mesmo que tenha sido formatada massivamente em uma universidade, agudamente única por uma atuação oriunda de um viés exclusivo. Essa possibilidade é estimulante no sentido de podermos conferir nossa própria forma de desempenho, acrescendo bênçãos peculiares ao conjunto da sociedade. Há homens e mulheres que passaram no mundo, mas viram possibilidades exclusivas. Podemos citar Santos Dumont, Pelé, Bill Gates, Ivo Pitangui, Henry Ford, Wernher von Braun, John Kennedy, Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Johannes Gutenberg, Rainha Elizabeth II e tantos outros. Essa é a nossa marca, essa é a nossa maneira de marcar no mundo a nossa presença. A expectativa de Deus ao deixar conosco a criação do mundo social era que fossemos capazes de escrever histórias únicas que, uma vez somadas às outras histórias, deixassem ver o laivo do caráter de Deus na face da humanidade, tornando possível a multiplicação de redes de cooperação, o modelo que permeia o universo criado.