quarta-feira, 24 de abril de 2019

Um coral de homens e anjos em Manaus



 
A noção cristã de que o céu e a terra são unidades muitíssimo separadas e distantes uma da outra interfere em nossa compreensão da dinâmica do governo divino. Da mesma forma, o entendimento de que Deus é um ser místico quase inacessível, torna a prática religiosa misteriosa e sem aplicabilidade pragmática. Mas, na realidade, o Deus do cristianismo é um sistema de governo que administra o universo, sendo a Terra uma das unidades administrativas do referido governo. Se é assim, então é possível reconhecer ações administrativas ocorrendo em nosso dia a dia, onde agentes do governo celeste misturam-se com os humanos para realizar consecuções. 

Há muitas histórias bíblicas onde o envolvimento de anjos (mensageiros) com as ações humanas estão vividamente relatadas. Porém, por causa do entendimento de que a Terra é distante do céu, olha-se tais histórias como acontecimentos místicos. 

Hodiernamente, há muitos relatos de ações de anjos em parcerias com atos humanos. Dois desses acontecimentos ocorreram em Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Um grupo de pessoas oriundas de várias comunidades de Adventistas do 7º Dia que, por 27 anos mantiveram atividades missionárias incluindo assistência social, assistência médica, religiosa, educacional, e que utilizava o canto coral como elemento atrativo e aglutinador, experimentou um momento singular com a parceria de anjos, quando fazia uma visita a uma comunidade Adventista do bairro do Morro da Liberdade na primeira década dos anos 2000.

Num sábado, à tarde, após realizarem trabalho de assistência social e religiosa através de visitas a famílias com algumas carências, retornaram à sede da comunidade, onde havia uma igreja Adventista e fizeram uma apresentação utilizando o canto coral. Durante a reunião, relatos sobre as necessidades encontradas foram realizados e a comunidade foi envolvida e tocada pelos apelos para ajudar aos necessitados. O auditório da igreja estava repleto com religiosos e o ambiente, a certa altura da reunião, pareceu envolvido com alguma presença, além dos membros já conhecidos. Em dado momento, depois de explanações e adesões por parte dos ouvintes ao trabalho em favor dos necessitados, o coral cantou uma música (Com o Som de trombetas - J.W.Peterson) a qual não soou como de costume. O volume resultante da somatória das vozes que cantavam não correspondia àquele de 40 pessoas que compunham o coral, mas soava como se fora resultante de mais de uma centena de vozes. Notou-se que havia outros cantores que não estavam visíveis aos presentes, mas que se somavam aos cantores visíveis. O impacto daquela melodia em volume tão denso impressionou de forma crítica a todos ali naquela sala. Fez-se solene o momento. Todos permaneceram concentrados e estáticos por causa do fenômeno que ouviram. Eram 40 pessoas cantando e produzindo resultante sonora correspondente a mais de uma centena.

Encerrou-se a atividade naquela tarde, mas as pessoas ali presentes não arredavam o pé do lugar, presos por uma atmosfera solene. Os próprios coristas estavam perplexos com o ocorrido. Todos sabiam que aquele resultado não poderia ter sido um efeito acústico ou a simples amplificação eletrônica do som produzido por 40 vozes porque não se utilizou equipamento amplificador. Algo havia acontecido e que não era místico, pois todos ouviram, sem exceção, o que resultou. 

As pessoas não conseguiam partir para suas casas, mesmo tendo passada uma hora desde o encerramento da reunião. Estavam mesmo impressionadas. Havia como que um sentimento de companheirismo incomum. Todavia, o grupo coral despediu-se e partiu. O assunto recorrente na viagem de volta foi o acontecimento que também impactou o coral.

Naquele sábado à tarde, o Pastor líder da comunidade não estivera presente. Porém, encontrou-se com os membros da sua igreja logo após o coral ter partido e, prontamente, sentiu que alguma coisa modificara o comportamento dos membros. Logo que pode ligou para o líder do coral perguntando o que ocorrera. Os membros da igreja estavam muito sensibilizados e o pastor preocupado. Ao ouvir o relato, o pastor raciocinou que anjos estiveram naquela reunião. Nenhuma explicação poderia ser dada, a não ser que a multiplicação do volume se desse por adição de outras vozes, mas que não estavam visíveis aos olhos presentes.

A parceria angélica não se dá por qualquer motivo, e nem por causa da mística que geralmente os religiosos costumam invocar. Ela se dá quando os homens se colocam à disposição do céu para realizar tarefas pertinentes, consentâneas com a expectativa do governo de Deus. Na medida em que saiu-se para atender necessidades de pessoas carentes, ação que nega o egoísmo natural e expande o reino celeste, os agentes celestes vieram para unir-se ao louvor sabático àquele em quem está centralizado o amor e cuja lei mantém o universo em cooperação. Naquela tarde o céu mostrou que a Terra não está abandonada aos homens e que existem parcerias em andamento.

Alguns anos mais tarde, em outro sábado, o mesmo grupo missionário estava visitando outra igreja, num município próximo de Manaus, Iranduba. Ali há uma comunidade Adventista representativa. O grupo estava para efetuar uma nova investida missionária. Eram 15:00 horas e começou uma daquelas chuvas amazônicas com pingos capazes de encher um copo. Logo tudo ficou inundado. Tudo conspirava para que desistissem do trabalho. Porém, havia cerca de trinta pessoas necessitando assistência médica, além de seis famílias demandando assistência social e espiritual. Por esse motivo, o grupo não desanimou e saiu para os atendimentos. O trabalho naquele dia esteve especialmente difícil. Os caminhos estavam encharcados e muita lama formada.

Para o grupo missionário, é de costume que o sábado seja encerrado na igreja. Assim, todos voltaram após o trabalho. Reunidos relataram as demandas encontradas e, nestas ocasiões, quando possível, recolhe-se uma oferta para ajudar problemas imediatos. Todas essas ações são educadoras, fazem recuar o sentimento egoísta.

O coral costuma cantar, no encerramento do sábado três ou quatro músicas para encerrar o dia com louvores a Deus. Assim, naquele sábado o coral também cantou. Entretanto, antes da apresentação da primeira música, uma das coristas pareceu não estar sentindo-se bem, ficou pálida e com seu semblante alterado. O regente pensou que era por causa da canseira do dia. Mas, ela continuou ali sem se afastar e cantou as músicas apresentadas, mas seu semblante parecia assustado. Assim que acabou a reunião, ela chegou perto do regente do coral e relatou que vira um grupo grande de anjos entrando na igreja pela porta principal. Avançando pelo corredor o grupo de anjos veio para perto do coral, tendo um deles se postado ao lado do regente. Aquela visão tinha provocado alteração nela. O regente pensou que se tratava de alguma alteração mental, mas disse-lhe que o céu e a Terra estão próximos. 

Entretanto, logo depois daquela conversa, o ancião da igreja relatou que também vira os anjos e ouvira o farfalhar das suas asas. Com este segundo relato, não restaram dúvidas sobre a presença angélica naquela tarde, depois da realização de um trabalho de atendimento a pessoas carentes. Novamente, os anjos haviam se unido ao grupo, ratificando que o governo do céu está fortemente ligado às ações humanas que fortalecem a ordenação exigida pela lei de Deus.

Mesmo que estas demonstrações tenham sido entendidas como aprovação por Deus ao trabalho realizado em favor dos semelhantes, alguns membros do grupo se afastaram e até deixaram a igreja. Outros continuam na igreja, mas deram ocasião ao egoísmo e partiram para atividades que aparentemente seriam para promoção do reino de Deus, mas promovem questões pessoais. No entanto, outros continuam nas atividades missionárias, sendo uma benção aos semelhantes.



segunda-feira, 15 de abril de 2019

Influência e Poder


Os seres humanos são dotados de um sistema nervoso central com poderes impressionantes. Um deles é o poder para influenciar outros humanos e criar, inclusive, redes de influência muito intensas, capazes de modificar comportamentos e de construir sociedades. Muitas vezes, esse poder de influência é usado para beneficiar pessoas, mas, por outro lado, pode ser utilizado para moldar negativamente comportamentos sociais que buscam beneficiar poucos grupos dominantes. De qualquer forma, o poder da influência é um atributo singular que também é exercido por animais que vivem em grupos sociais.

Na Bíblia encontram-se muitos exemplos nos quais o poder de influência determinou bênçãos ou maldições. Um dos relatos marcantes de uso da influência para provocar rebelião está no livro de Números, no capítulo 16. Três pessoas provocaram forte abalo social na recém-formada nação israelita. Vamos aos fatos.

Em Números 16:1-4 lemos o seguinte: “ E CORÁ, filho de Izar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben.  E levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação, chamados à assembleia, homens de posição,  e se congregaram contra Moisés e contra Arão, e lhes disseram: Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o SENHOR está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do SENHOR?  Quando Moisés ouviu isso, caiu sobre o seu rosto”.

O relato descreve a ação de Corá, um homem da tribo de Levi, que influenciou a Datã e Abirão, dois outros da tribo de Ruben, além de outros 250 príncipes da congregação.  Esse grupo formou uma conspiração muito bem fundamentada, como resultado de um propósito decidido de subverter a autoridade dos líderes designados pelo próprio Deus Jeová. Quem era Corá? E quem eram Datã e Abirão?

A genealogia (Genesis 46:16; Exodo 6:16) indica que Corá era filho de Isar, que era filho de Coate, que era filho de Levi. Portanto, era primo de Moisés, o qual era filho de Anrão, irmão de Isar. O primo, segundo comentaristas (SDA Bible Commentary), alimentava inveja de Moisés e questionava sua liderança, por ser ele, Corá, homem que gozava de muita influência e versado orador. Pretendia ser o sumo sacerdote.  Datã e Abirão, eram da tribo de Ruben, o filho mais velho de Jacó e, por consequência, viam-se com direitos à liderança política porque detinham os direitos à primogenitura.
Corá era coatita, um grupo dos levitas designado por Deus para cuidar do transporte de partes do santuário, uma honraria que destacava os coatitas, juntamente com os gersonitas e meratitas, todos filhos de Levi. Essa distinção fora concedida por Deus após o relevante episódio do bezerro de ouro, no qual a tribo de Levi não tomou parte na adoração ao bezerro.

Embora Corá fosse designado para o serviço do tabernáculo, descontentara-se com sua posição, e aspirara à dignidade do sacerdócio. A concessão a Arão e sua casa do ofício sacerdotal, que anteriormente tocava ao filho primogênito de cada família, dera origem a inveja e dissabor, e por algum tempo Corá estivera secretamente a opor-se à autoridade de Moisés e Arão, se bem que não se arriscasse a um ato manifesto de rebelião. Finalmente concebeu o ousado plano de subverter tanto a autoridade civil como a religiosa. Era homem tido em alta estima na congregação e, envolvido na insurreição, tornou-a, assim, ainda mais séria. Era seu argumento que Moisés havia se autoproclamado líder político o qual, usando de nepotismo, pusera seu irmão Arão em destaque religioso, ocupando a posição máxima de sumo sacerdote.

Datã e Abirão eram rubenitas e esta tribo situava-se geograficamente próxima dos coatitas em relação à organização das tendas no acampamento israelita. O santuário era o edifício central tendo ao redor as tendas devidamente organizadas, cada qual ocupando seu lugar designado por Moisés, por instrução divina. Assim, na condição de vizinhos foram cooptados por Corá. Datã e Abirã, dois príncipes da tribo de Ruben, prontamente aderiram aos planos ambiciosos daquele. Sendo descendentes do filho mais velho de Jacó, pretendiam que a autoridade civil lhes pertencesse, e decidiram-se a dividir com Corá as honras do sacerdócio. É importante notar que os argumentos utilizados para apoiar a rebelião eram sofismas com base em aspectos da tradição que já fora modificada por Deus mesmo.

O entendimento dos pretextos da rebelião está no capítulo 14 de Números. Ali está relatado o que resultou do relatório dos espias que foram enviados para observar a terra que Deus entregaria aos israelitas. O povo murmurou contra Deus e Moisés, pediram um novo líder para que os conduzisse de volta ao Egito. Essa situação certamente estimulou Corá. Deus irou-se contra o povo e decidiu mata-los. Porém, com a intercessão de Moisés Deus os perdoou, mas condenou--os a morrer no deserto. Determinou que vagariam por 40 anos, um ano para cada dia do período da espionagem que fora de 40 dias.

Corá juntamente com Datã e Abirão estavam indispostos a sujeitar-se à terrível sentença pela qual todos deviam morrer no deserto, e daí o acharem-se prontos a apanhar qualquer pretexto para crer que não era Deus, mas Moisés que os estava guiando, e pronunciara a sua condenação.

O que vemos é a inveja corroendo a alma. Aproveitaram a oportunidade da murmuração e lançaram-se como a solução. Então Moisés falou a Corá, bem com a toda congregação, dizendo: “Amanhã pela manhã o SENHOR fará saber quem é seu, e quem é o santo que ele fará chegar a si; e aquele a quem escolher fará chegar a si. Fazei isto: Tomai vós incensários, Corá e todo seu grupo; E, pondo fogo neles amanhã, sobre eles deitai incenso perante o SENHOR; e será que o homem a quem o SENHOR escolher, este será o santo; basta-vos, filhos de Levi.  Disse mais Moisés a Corá: Ouvi agora, filhos de Levi:  Porventura pouco para vós é que o Deus de Israel vos tenha separado da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, e administrar o ministério do tabernáculo do SENHOR e estar perante a congregação para ministrar-lhe;  E te fez chegar, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? ainda também procurais o sacerdócio?  Assim tu e todo o teu grupo estais contra o SENHOR; e Arão, quem é ele, que murmureis contra ele?” (Números 16:5-11).

Moisés usa de toda prudência, propondo um período de 24 horas para que os rebeldes meditassem no que estavam propondo. Porém, solicita que tomem incensários, coloquem fogo e depois incenso e tragam ao Senhor. Com essa ordem Moisés os fez lembrar do episódio acontecido dias antes com os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, quando queimaram inadvertidamente incenso diante do Senhor e morreram. Mas, não deram ouvidos. Nem sequer consideraram o juízo que caíra sobre Miriam, irmã de Moisés, por ter falado mal do irmão, oportunidade em que ficou leprosa.

Além disso, Moisés mandou chamar, particularmente, a Datã e Abirão, mas eles não quiseram vir a Moisés. Alegaram que a liderança era ilegítima e que também os tinha enganado com a promessa de uma terra que manava leite e mel. No entanto, como era uma liderança falsa, e por não ter garantido a posse da terra, os estava novamente enganando e submetendo-os a 40 anos de peregrinação. Com este ato, não reconheceram a autoridade de Moisés e, consequentemente, a autoridade de Deus.

Nos versos 16 a 19 do capítulo 16 de Números se repete a mesma sentença prolatada sobre Nadabe e Abiú. Com um agravante: Corá fez ajuntar contra Moisés e Arão todo o povo à porta da tenda da congregação; então a glória do SENHOR apareceu a toda a congregação. Ali o Senhor ordenou que Moisés e Arão e seus familiares se apartassem da congregação, porque esta seria consumida num momento. Mas, Moisés e Arão intercederam e o Senhor ordenou que a congregação se apartasse de Corá, Datã e Abirão, os quais estavam em frente as suas tendas com toda a família, numa postura de rebeldia explícita e perigosamente arrogante contra Deus.

Nos versos 25 a 33 lemos um relato muitíssimo solene que reflete o que acontecerá com os ímpios após o seu julgamento final. “Então Moisés levantou-se, e foi a Datã e a Abirão; e após ele seguiram os anciãos de Israel. E falou à congregação, dizendo: Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens ímpios, e não toqueis nada do que é seu para que porventura não pereçais em todos os seus pecados. Subiram, pois, do derredor da habitação de Coré, Datã e Abirão. E Datã e Abirão saíram, e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com as suas mulheres, e seus filhos, e suas crianças. Então disse Moisés: Nisto conhecereis que o SENHOR me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem. Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se forem visitados como são visitados todos os homens, então o SENHOR não me enviou. Mas, se o SENHOR criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então conhecereis que estes homens irritaram ao SENHOR. E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação”.

Lutavam contra um ordenamento divino; lutavam contra um inimigo fictício; lutavam por uma causa errada!

Se os coatitas armavam suas tendas logo após a cerca do santuário, assim como logo atrás dos coatitas estavam os rubenitas, a fenda na terra ocorreu bem nas proximidades do santuário, no seu lado sul. Logo após ter a terra tragado os líderes da rebelião, saiu fogo do Senhor e consumiu os 250 homens que ofereciam o incenso. Pereceram do mesmo modo que Nadabe e Abiú.

Há nesse episódio da rebelião muitas lições a aprender. Na insurreição de Corá, veem-se, em um cenário menor, os resultados do mesmo espírito que determinou a rebelião de Satanás no Céu. Foi o orgulho e a ambição que moveram Lúcifer a queixar-se do governo de Deus, e procurar subverter a ordem que fora estabelecida no Céu. O ciúme dera origem à inveja e a inveja à rebelião. Haviam discutido a questão do direito de Moisés à sua tão grande autoridade e honra, até que vieram a considerá-lo ocupante de uma posição muito invejável, que qualquer deles poderia deter tão bem quanto ele. Enganaram-se a si mesmos e uns aos outros, pensando que Moisés e Arão tinham por si mesmos assumido as posições que ocupavam. (Patriarcas e Profetas, p.292)

Os descontentes disseram que esses chefes se haviam exaltado sobre a congregação do Senhor, tomando para si o sacerdócio e o governo; mas sua casa não tinha direito à distinção de superioridade às outras de Israel; não eram mais santos do que o povo, e ser-lhes-ia bastante estar no mesmo nível de seus irmãos, que eram igualmente favorecidos com a presença e proteção especial de Deus (SDA Bible Commentary).

Toda geração, toda comunidade tem o seu Korach (transliteração correta do nome). Mas, é imprescindível lembrar que o povo de Deus é considerado a menina do seu olho (Deuteronômio 32:10; Zacarias 2:8). Nessa condição, é necessário verificar se movimentos oposicionistas ou surgimento de ações corretivas oriundas de grupos particulares, ou mesmo que tenham aprovação popular, como no caso de Corá, não estarão provocando diretamente a irritação de Deus.

A premissa básica que deve ser preservada é que Deus é o responsável por sua igreja, sendo ela a menina dos seus olhos. Com isso em mente, não temos como pensar que as ações humanas desenvolvidas por membros, pastores e/ou administradores da igreja não tenham consequências. Cada ação efetuada por quem detém responsabilidades, e especialmente aquelas com o peso de uma ordenação, para a qual Deus deu o seu aval, não podem deixar de ser auditadas pelo céu. Assim, ao observarmos que exageros estão ocorrendo, devemos perguntar a Deus até quando Ele permitirá tais atos.

O grande perigo que corremos é a tentação de tomar a justiça em nossas mãos. Não devemos faze-lo porque há um juiz no céu a quem pertence o julgamento e a aplicação de sansões. Agora, raciocinemos, alguém que faz voto de servir a Deus (a tribo de Levi o fez, assim como os pastores o fazem seriamente através da ordenação) e se utiliza dos princípios do inimigo (cobiça), estará em apuros, mais cedo ou mais tarde. Assim, por uma questão de inteligência, não devemos estimular qualquer exercício de justiça humana, porque estaremos tirando da mão do Grande Legislador a aplicação de autoridade que pertence a Ele.

Devemos enxergar as estratégias do inimigo e, com inteligência, desmonta-las. Uma dessas estratégias que têm atingido a muitos ao longo da história, é a tentação de tomar o lugar de Deus, assumir lideranças não planejadas por Deus julgando que Ele não está tão próximo e que não aplicará a justiça quando necessária. Quando cedemos nesse particular, incorremos no erro de Corá, o qual o impediu de entrar na terra prometida. Quando lideranças são apontadas por Deus, não são necessárias rebeliões, contendas e dissenções. Estas são necessariamente estratégias do inimigo. No ambiente divino há sempre cooperação. É sempre possível mudar situações cooperando. Neste caso, as alterações são duradouras.

Hoje, há muita dissidência na igreja, com formação de grupos independentes ou mesmo grupos que se mantém no seio da igreja, atirando as pedras da crítica e da desconfiança, sendo que essas pedras podem aniquilar muito mais almas do somente as da liderança. A estes grupos fica o conselho: observem se estão agindo por Deus. Se não, cuidado com as consequências; no caso de Corá foram consequências eternas.