quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Amazônia: Teologia e Sociologia da Sustentabilidade

 

 

 (Este artigo foi publicado em 17/11/2020 no Blog Brasil Amazônia  Agora)

 

A população amazônida, sem saber por certo os seus benefícios diretos e indiretos, sem métricas que possam indicar o cumprimento das suas expectativas, carecem de motivações plenas para participar ativamente em uma empreitada que possa, de fato, lhe trazer benefícios.

Estevão Monteiro de Paula

Cláudio Ruy Fonseca
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Esquecem de combinar com o Russos

Era um dia de 1958. Feola, grande técnico da seleção de futebol brasileira, explicava à sua seleção como vencer a mais recente e mais forte adversária do campeonato, a seleção russa. A estratégia de Feola era complicada mostrando como o time marcaria seus gols. Na explicação Feola descrevia os passes de jogador para jogador que deviam ser feitos considerando as posições dos jogadores adversários.  Quando acabou a sua explicação, o Garrincha, um dos melhores jogadores da história do futebol do Brasil, pergunta: “Tá legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?”

Assim, são as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável na Amazônia. Intelectuais, formadores de opiniões e tantos outros dos mais diferentes lugares do mundo discutem essas questões sem combinar com as populações locais. Tentativas de implementação de receitas prontas já ocorreram sem considerar-se quais são os anseios destas populações – esquecem-se de combinar o futuro da Amazônia com os Amazônidas!

Que sem saber por certo os seus benefícios diretos e indiretos, sem métricas que possam indicar o cumprimento das suas expectativas, carecem de motivações plenas para participar ativamente em uma empreitada que possa, de fato, lhe trazer benefícios.

Racionalidade ambiental clarificada pela fé

Os fatores motivacionais do ser humano, impulsionados pela satisfação de suas necessidades, de acordo com a teoria das necessidades de Maslow (1907-1970), e depois aperfeiçoada pelo Alderfer (1973) como a teoria ERG, baseiam-se em 3 grupos motivacionais: existência, relacionamento e crescimento. A existência, são as necessidades psicológicas e materiais; o relacionamento, trata do compartilhamento mútuo de ideias e sentimentos; o crescimento, é o desejo de ter influência criativa e produtiva.

Para isto, é preciso dar musculatura aos indivíduos através do coletivo por meio do compartilhamento dos desejos baseados em princípios éticos e valores morais. Neste sentido, a religião pode ter um papel importante na promoção de autonomia social, na sobrevivência do indivíduo e na construção de subsídios para sua existência.

A racionalidade ambiental clarificada pela fé pode ser um elemento motivador para a construção de modelos econômicos de desenvolvimento sustentável, tendo como pressuposto que a fé, através da religião, pode unificar os indivíduos no fortalecimento de comunidades e no compartilhamento de trabalhos por causa de princípios éticos e valores morais universais.

O saber teológico e os processos sociais com a problemática ambiental

O lado ocidental do planeta teve, em seu processo civilizatório, forte influência dos princípios judaicos, os quais estão plasmados, de forma indelével, na formação da igreja cristã, a mesma que formatou o que entendemos ocidentalmente por moralidade. Nem poderia ser diferente, uma vez que a igreja cristã deriva necessariamente do judaísmo. Assim, todos  os conceitos judaicos sobre moral individual e coletiva estão nos catecismos e manuais cristãos, por força da base de tudo, a qual é a Bíblia, e nesta estão incluídos a Torá (os cinco primeiros livros mosaicos: Gênesis, Êxodo, levítico, Números e Deuteronômio), os profetas e os escritos, sendo esse conjunto conhecido como Velho Testamento (VT), além do Novo Testamento (NT) que inclui os evangelhos e os escritos paulinos e mais algumas cartas de Pedro, João e Judas, terminando com o Apocalipse ou revelação. O NT trata da transição do judaísmo para a igreja cristã, mas, os conceitos do VT deram formato ao moralismo do NT.

Moralismo considera a moral como valor universal e necessário à percepção da realidade. Assim, a Torá é a fonte moral, e nesta condição, orienta o conjunto de valores compartilhados que constituem o senso coletivo do que é correto. Para o cristianismo, o indivíduo tem responsabilidades com os direitos alheios, os quais deverão ser considerados com mais empenho do que os do próprio indivíduo. Essa percepção torna a família, as comunidades, os bairros, as cidades, muito mais seguras, em virtude da preservação dos direitos alheios. Se a preocupação está no bem estar do próximo, então cessam ações violentas.

As bases teológicas da civilização

O ocidente produziu um arcabouço legal baseado no princípio judaico do amor ao próximo. Em todos os marcos legais nos diversos países há preceitos e impedimentos que determinam o respeito pelo bem estar do outro, sob pena de punições asseguradas pelos Estados.

No que diz respeito ao desenvolvimento sustentável, a Torá indica que deverão ser realizadas ações que tornem evidente a materialização da justiça, esta, sendo imprescindível à diminuição das desigualdades. Por exemplo, a cada sete dias, portanto no sábado (shabat), as fazendas deveriam permitir que os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros colhessem alimentos para seu sustento. Também era costume, durante a época da colheita de alguma lavoura, que não se fizesse a coleta dos alimentos nos cantos dos terrenos, para que os desafortunados acima descritos pudessem colher também. Eram contornos sociais para diminuir as desigualdades. Além disso, as dívidas assumidas eram perdoadas a cada sete anos e, a cada 50 anos, todas as terras vendidas voltavam ao seu dono original.

O sistema acima não veio para igreja cristã atual, embora tivesse sido praticado pela igreja cristã primitiva, aquela do primeiro século DC. O discurso de igualdade, fraternidade e liberdade é apenas retórico. Fala-se em desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade, como sendo um processo de transformações e mudanças, em aperfeiçoamento contínuo, envolvendo múltiplas dimensões (econômica, social, ambiental), que visam diminuir as desigualdades, mas, na realidade, o acesso a bens e serviços essenciais não está disponível indiscriminadamente, daí a violência social dos nossos dias.

A ascensão do individualismo

A igreja cristã tem responsabilidade direta na manutenção das desigualdades, por consequência das interpretações dos textos e posições dos seus líderes. Na reforma empreendida por Lutero, tendo em vista desfazer o totalitarismo eclesiástico, ele teve a intenção de realocar a autoridade de uma instituição externa, para o crente individual e seu encontro direto com Deus através de leitura particular de textos sagrados e abertura pessoal para a graça divina. Logo, os teólogos que os sucederam viram no individualismo algo que poderia ser aplicado na liberdade em relação às instituições, assumindo que ninguém pode impor aos indivíduos qualquer decisão. Nada, na cultura ou estrutura social pode aliviar a pessoa de sua responsabilidade final de decidir como viver e no que acreditar. Tudo depende do indivíduo. Este é um ponto decisivo. Formava-se a consciência de que o eu era superior ao nós.

Descartes (1596-1650), pai da filosofia moderna, em sua tentativa de construir uma narrativa da ciência humana sobre a base de ceticismo radical, impôs o questionamento sistemático de tudo. Ele concluiu que o indivíduo era dominante: Penso, logo, existo. O Rabino Jonathan Sacks, em sua obra Morality argumenta que o que tornou isto um ponto decisivo foi a herança religiosa do ocidente que tinha, como um dos seus fundamentos, o momento em que Moisés, diante da sarça ardente, perguntou o nome de Deus, e Deus replicou, Eu Sou o que Sou. A natureza revolucionária do método cartesiano está embasada no movimento do divino “Eu sou” para o humano “Eu sou” – da visão da realidade do teocentrismo para o antropocentrismo. Esta mudança de visão teve implicações que seriam mais tarde articuladas com força despedaçadora por Friedrich Nietzsch (1844-1900).

Transvalorização

Nietzsche, é diretamente lembrado como o iminente genitor do pós-modernismo. Seus escritos permitem uma infinita gama de interpretações, mas o centro do seu trabalho foi sua percepção de que a completa visão da moralidade, como tem sido compreendida através da história do cristianismo, deveria ser substituída pelo que ele chamou de “transvalorização de valores”.

Sua visão era de que a herança moral judaico-cristã não passava de uma vingança dos sem poder contra os poderosos; a retribuição exigida pelos escravos contra os seus antigos senhores; um exercício sustentável pelo ressentimento. Tudo o que fora reputado como virtude, compaixão, bondade, era, de fato, uma maneira de castrar a realidade, moldada e dominada pela vontade do poder. Tal interpretação é um verdadeiro vitupério à Torá.

Na competição por poder, muitas pessoas falham, mas algumas obtém sucesso e impõem sua vontade sobre outros. A tais pessoas Nietzsche chamou de um Ubermensch (super homem). O cristianismo se opõe à competição, uma vez que esta estimula injustiça e desigualdade.  Mas, Nietzsche não disse o que aconteceria com o resto da humanidade num mundo governado por super homens. Para Nietzsche, os vencedores contam, perdedores não. Um mundo governado pela vontade de poder não é um mundo moral como o reconhecemos.

A influência de Nietzsche no mundo contemporâneo é devastadora. Ele foi um dos primeiros a crer que a linguagem e as ideias eram meramente uma máscara escondendo numa subjacente batalha de vontades, uma luta pelo poder. Assim, ele se tornou o originador, mais tarde seguido por Marx e Freud, da hermenêutica da suspeita. Não há verdades, disse ele, apenas interpretações.

Fundamentos de uma outra moral

Nietzsche destruiu, eficientemente, os fundamentos da moralidade tal como concebidos e mantidos no ocidente através dos séculos. Propôs em seu lugar uma visão profundamente subjetiva da vida moral, na qual a escolha particular era a essência. O indivíduo tornou-se a figura marcante do drama moral, mas também seu autor, o escritor das regras.

Isto foi incluído, de muitas formas, em diferentes culturas. Na França tornou-se o existencialismo, como explicado por Sartre e Camus. Nós estamos aqui para ser nós mesmos, não atores dirigidos pela consciência coletiva. Mais tarde, isto se tornou o movimento conhecido como pós-modernismo, liderado por Foucault, Derrida e outros.

Moralidade assim cessou de ser o que tinha usualmente sido percebido como um bem, ou seja, o compartilhado código pelo qual se regulam os membros de um grupo, para tornar-se uma mera questão de gosto pessoal.

O resultado foi uma ética sem princípios acordados ou verdades objetivas. O mundo do relativismo, subjetivismo, e uma nova ideia dominante, chamada autenticidade, ou como é, às vezes chamada, individualismo expressivo. A moral imperativa, diferente em substância para cada um de nós, é o que chamam de tornarmo-nos nós mesmos.

Moral individualista e os limites da democracia

O atual conceito de moralidade torna-se um perigo às democracias, pois, as pessoas simplesmente deixaram de se interessar pelo bem estar dos outros, transferindo essa responsabilidade para o Estado, que cresce, cada vez mais, até se tornar uma espécie de tirania benigna. Decisões coletivas são terceirizadas para o Estado, dando ensejo ao surgimento de regimes de exceção.

Vivendo à parte, as pessoas se tornam como estranhas em relação ao destino de todos os outros; a humanidade fica restrita aos seus filhos e seus amigos particulares. Quanto ao resto dos seus concidadãos, estão perto, mas não os veem; podem tocá-los, mas não os sentem, porque só existem para si mesmas. Neste caso, é como se o país estivesse dissolvido, não havendo o sentido da comunidade nacional, do patriotismo, da luta pelo ideal compartilhado. Esse é o meio ambiente para o surgimento de tiranias.

O perigo da terceirização é que ao se deixar o que não nos concerne pessoalmente para responsabilidade do Estado, assumimos o risco do sequestro da liberdade democrática. A única coisa que nos protege deste resultado é o fortalecimento das famílias, comunidades, igrejas e organizações de caridade. Em outras palavras, no ambiente moral compartilhado as pessoas ativamente cuidam umas das outras. Perder os ambientes do encontro face a face, onde o senso moral é exercitado levará à perda da liberdade.

O ocidente construiu um pano de fundo social que frustra iniciativas que obrigam cooperação. Por esse motivo, qualquer planejamento para alcançar níveis superiores de sustentabilidade tende a não se concretizar. Sustentabilidade requer ação conjunta social, política, educacional, religiosa, entre outras. Na medida em que a sociedade pós-moderna aprimora o individualismo, não há como pensar em cooperacionismo. Essa impossibilidade se dá nos níveis internacionais, mas, também no nível nacional, estadual, municipal, etc. (assistimos hoje a descoordenação dos países, dos estados no caso brasileiro, no enfrentamento ao covid 19).

A individualidade na produção do conhecimento

O sistema filosófico atual é o grande empecilho ao desenvolvimento sustentável. Será necessária a superação desse modelo. Os jovens cientistas brasileiros terão que entrar em contato com a realidade da operação coletiva, sob pena da permanência do sonho do desenvolvimento sustentável continuar no discurso.

Os conflitos sociais existentes, as polaridades das crenças e da política, os ceticismos nas informações recebidas e a individualidade crescentemente alimentada pelo isolamento social do ser humano, dificultam a produção de conhecimentos robustos que possam atender aos anseios de uma sociedade ávida para desenvolver-se de forma sustentável.

Atualmente, muitas entidades representativas do setor empresarial, da academia e pensadores têm se manifestado sobre o fato de que o ser humano deve aprender a trabalhar em grupo e ter inteligência emocional. Isto provoca certa agitação em alguns setores científicos acostumados ainda ao isolamento nas suas pesquisas.

A multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são imprescindíveis na produção de conhecimentos científicos voltados ao ser humano, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Atento a esta postura, os editais publicados pelos fomentadores oficiais, visando o financiamento de projetos de pesquisas exigem parcerias. O ambiente científico passou a dar mais créditos às publicações com grande número de pesquisadores e o pensamento holístico começou a ser internalizado na comunidade científica. Interessante exemplificar os Programas de Pesquisas Translacionais inicialmente utilizados na área da saúde, mas, atualmente este tipo de programa está sendo aplicado nas mais diferentes áreas. Este programa integra cientistas das de diferentes áreas de conhecimento, instituições de desenvolvimento e de produção de insumo. Em outras palavras, aplicação de cadeia de conhecimento na cadeia de produção. Toda a cadeia de produção é estudada simultaneamente. Isto é, a ciência atual persegue a diminuição entre o tempo para a produção de conhecimento e a sua apropriação pela humanidade, almejando que, num futuro próximo, o conhecimento seja convertido em bem de consumo imediatamente. Por esta razão, pode-se esperar que o remédio para COVID-19 seja encontrado e implantado em um tempo bastante rápido.

O Desenvolvimento depende da Ciência

Na área médica a informação e disseminação do conhecimento cresce exponencialmente; a estimativa diz que em 2012 foram publicados mais de 1 milhão de artigos científicos no espaço de um ano. Além disso a velocidade em que as descobertas médicas têm alcançado a prática médica nos últimos dois mil anos é de impressionar.  Pesquisadores estudaram a velocidade com que o conhecimento chega a aplicação medica nos últimos 150 anos, e chegaram a uma relação linear decrescente; de acordo com a pesquisa, a continuar essa linearidade (é o que se espera), nos próximos 20 anos a translação entre a descoberta médica e sua aplicabilidade será praticamente imediata. Isto se dará devido progresso computacional observado com a Lei de Moore e o crescimento das arquiteturas de computação que, de acordo com Ray Kurzweil, em 2045, o ano da singularidade, haverá uma “explosão de inteligência”. Portanto, não acreditamos ser temeroso utilizar remédios desenvolvidos rapidamente para combater pandemias.

Nas academias brasileiras há tentativas para construir trabalho coletivo, todavia, as expectativas não foram satisfeitas. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, por exemplo, redesenhou sua estrutura orgânica para que seus pesquisadores trabalhassem em grupos de pesquisas. Entretanto, toda a geração atual de pesquisadores aprendeu com seus mestres o trabalho individual. Como consequência, formaram-se grupos artificiais de pesquisas que sequer produzem projetos coletivos e, as publicações permanecem individuais, determinando resultados com aplicabilidade restrita, por causa da deficiência de interpretações transdisciplinares dos fatos.

Assim como na área da saúde as demais áreas de conhecimentos terão disponibilizados aparatos tecnológicos capazes de armazenar quantidades significativas de informação, com capacidade computacional jamais imaginadas pelo ser humano. Portanto, será imprescindível que o sucesso de quaisquer empreitadas cientificas sejam dependentes de grupos de pesquisadores e outros atores importantes no processo.

No campo da teologia aparece uma disciplina denominada de ecoteologia, a qual objetiva novas leituras a respeito dos relatos da criação, com reflexões teológicos em diálogo com a ciência, em um novo paradigma pós-antropocêntrico.

A racionalidade ecológica das igrejas

A carência das lideranças políticas e referências econômicas e sociais, o ceticismo em relação à probidade e honestidade das lideranças políticas são fatos que desagregam a sociedade, polarizam a ideologia e promovem o crescimento da individualidade; é provável que, nos dias de hoje, uma das poucas realidades que oportunizam a união, com capacidade para estabelecer foco, construir padrões de comportamentos sociais únicos seja a igreja. Como diz o Papa na sua carta relativa as questões ambientais:

 “Todavia, para se resolver uma situação tão complexa como esta que enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. Os indivíduos isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social e ambiental. Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias:”

As mais diferentes religiões estão se manifestando quanto às questões ambientais, estabelecendo percepções sobre a relação e reponsabilidade do ser humano com o meio ambiente. A mais recente foi da religião católica que resultou em um documento chamado CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM editado pela Santa Sé. Nela a igreja recomenda a “conversão ecológica” que alerta a reponsabilidade atribuída à fé, para as questões sociais e ambientais.  Assim, o documento manifesta-se: “Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis.”

“Ser Cristão é ser Sustentável”?

As preocupações ambientais também chegaram nas igrejas evangélicas. No ano de 2010 a igreja luterana realizou oficinas para discutir a responsabilidade ambiental no 42º Congresso Nacional da Juventude Evangélica Luterana do Brasil (JELB). Três anos depois inaugura em Porto Alegre o Instituto Sustentabilidade. No ano de 2013, a igreja Metodista da Terceira Região Eclesiástica de São Paulo lançou a cartilha “Ser Cristão é ser Sustentável”. 

Nem todas as linhas das igrejas evangélicas estão preocupadas com as questões ambientais. Alguns líderes pastores alertam que a terra será destruída por Deus; portanto, envolver os crentes em projetos de sustentabilidade é um erro; como disse o Pastor americano Mark Driscoll “que os cristãos não devem se preocupar com o meio ambiente ou com o aquecimento global porque Jesus estaria prestes a arrebatar a Igreja.”

Posição contrária a manifestação de Driscoll se observou com o encontro de aproximadamente 4000 líderes evangélicos de 200 países, na cidade do Cabo em 2010, quando escreveram e assinaram o Pacto de Laussane III assumindo o compromisso das igrejas com a preservação da criação de Deus, a natureza.

Força Política das Igrejas

Os adventistas expressaram seu posicionamento em documento desde 1996. Em nível mundial, reiteram que a humanidade foi criada à imagem de Deus, portanto, Deus a responsabilizou quanto ao domínio do planeta, para administrar o ambiente natural como mordomos, ou seja, tendo apenas o usufruto, com a responsabilidade de garantir às gerações futuras, o uso das facilidades feitas por Deus. Também entendem que preservar a natureza pereniza o segundo livro (o primeiro é a Bíblia) onde o caráter de Deus está revelado, assim, as gerações futuras aprenderão a confiar em Deus. A questão maior a entender é: qual a percepção das igrejas em relação ao meio ambiente? Como se manifestarão os cristãos nos próximos anos em relação aos recursos naturais? Como o chamado evangelho pode interferir na sustentabilidade e na segurança social?

Qual será o reflexo na economia, na qualidade de vida do cidadão da Amazônia se seguirem rigorosamente a recomendação da cartilha Ser Cristão é ser Sustentável, quando afirma que: “cabe a cada um fazer sua parte para que o mundo que conhecemos permaneça por muitas e muitas gerações o mais intacto possível evitando, assim, que muito do que hoje existe não se transforme em peça de museu ou extinto da face da Terra por falta de uma preocupação com o que nos cerca”. Todavia, a ressalva “[….] o mais intacto possível” pode parecer utópica.

É indiscutível a força política das Igrejas nos dias de hoje. São capazes de eleger políticos e têm forte liderança em todas as esferas governamentais do Brasil. Além disso, é provável que a igreja seja, hodiernamente, a única referência que, grande parte da população brasileira acompanhada por iniciativa própria. Assim, é de se acreditar que construir projetos de desenvolvimento sustentável com as igrejas nas suas áreas de influência, respeitando seus valores e princípios morais, possa constituir uma iniciativa promissora e de sucesso para melhoria da qualidade vida do cidadão da Amazônia.


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Somos Equilibristas em Verdade

 

Por qual razão Adão e Eva não foram destruídos, conforme Deus asseverou? Em João 3:16-17 está a resposta: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”.

Depois de ler o texto acima, surge outra pergunta: Por que Deus resolveu salvar o mundo?

O Reino dos Céus está suportado pela Lei dos Dez Mandamentos. Esta tem como princípio duas máximas: “[...] Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27).

 Uma representação bastante didática do funcionamento do Reino dos Céus pode se dar através de uma rede de relacionamentos. Imaginemos uma rede, onde na intersecção dos fios da rede, encontram-se nós, que são os homens. Cada um dos nós são locais onde energia (bençãos) chega. Cada nó que recebe energia, se acumula, torna-se obeso e logo estará em desorganização intrínseca, chegando ao falecimento. Por outro lado, se a energia chega ao nó e este a difunde, toda rede ficará energizada e viva. Tal maneira de administração permeia todo o universo. Energia chega aos nós e deve ser difundida. Nós difusores estão vivos e tornam viva a rede.

Agora, vamos pensar no arranjo planejado pelo Céu para que Adão não morresse. Deus poderia ter deixado morrer o homem, mas, por que não o fez?

Ora, se o substrato que sustenta o Reino dos Céus é o amor, ou seja, o interesse pelo bem estar das criaturas, a morte imediata de Adão teria abalado o referido substrato e, mais dúvidas entrariam na mente das criaturas inteligentes. Logo, o Céu não poderia agir de forma diferente, uma vez que Deus é amor.

 A liberdade que Deus outorgou aos seus filhos é a condição essencial para que o amor exista. Não se demonstra amor, a não ser em condições de liberdade, porque as ações no império do amor não podem ser obrigatórias, resultando de exigências forçosas. Somente em liberdade se pode demonstrar cabalmente o amor. Por essa razão, Adão teve espaço para servir ou não às leis do Céu. Então, o Céu não teria como matá-lo imediatamente, sob pena de induzir à compreensão de que Deus era vingativo e, portanto, injusto.

 

Por outro lado, Deus buscou o homem logo depois da queda. Se o Céu tivesse deixado Adão sozinho e demonstrasse menosprezo e afastamento, logo ficaria claro que Deus é intolerante com quem diverge, portanto, injusto, faccioso, sendo que estaria destruindo a arquitetura do seu próprio governo, a rede de relacionamentos. Por esse motivo, Deus amou o mundo.

Por amor ao nome de Deus (misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade (Êxodo 34:6)), o Céu buscou alcançar o homem caído. Importante que se diga que os nós da rede também devem ser misericordiosos, piedosos, tardios em irar-se, grande em beneficência e verdade. Além disso, é essencial lembrar que a palavra verdade, no contexto do Reino de Deus, significa prática, através de ações, das virtudes citadas. Jesus explicou que devemos adorar a Deus em espírito e em verdade, significando que ao entendermos as demandas de Deus, devemos praticá-las. Por esse motivo, porque Deus não apenas possui virtudes, mas, as materializa com ações, não destruiu Adão, mas, buscou salvá-lo. Assim, também os nós da rede não acumulam a energia que recebem.

O que estamos verificando é que o homem, em si mesmo, não tem grande valor, ele poderia ser deixado a morrer, mas, era necessária  a demonstração física do caráter de Deus, bem como todos os princípios do seu reino, entregando Ele o Seu Filho para poder salvar o homem. Por outro lado, o homem que fora criado à imagem de Deus, portanto, capaz de realizar ações como as de Deus, uma vez tendo descaído da sua condição, não poderia ser tratado como um ser descartável, para o qual estariam levantadas todas as barreiras, sendo incompatível com o próprio ser de Deus: Ele é amor e no amor não há barreiras; nesta condição, Deus não teria como deixá-lo para morrer. Se Deus abandonasse Adão, estaria demonstrada a injustiça. Logo, no Reino de Deus, todos importam, porém são livres. Assim, Deus amou o mundo e não o odiou, porque Deus é amor.

Dízimos e ofertas no sistema do amor

Agora, vamos oferecer uma perspectiva sobre como o homem, feito à imagem de Deus, portanto, capaz de agir de forma semelhante a Deus, pode demonstrar justiça e verdade, na sua relação com a Lei dos Dez Mandamentos e seus dois princípios.

Há no ideário cristão o entendimento de que a devolução dos dízimos é obrigatória, mas, que ofertar é uma questão liberal. Na verdade, não está de todo errada tal compreensão, considerando que ao entrarmos na relação membro/igreja, assumimos tal compromisso; compromissos são obrigações. No entanto, se o Reino de Deus é uma rede onde os nós estão em relacionamento de benignidade e verdade uns com os outros e com Deus, e esses relacionamentos estão regidos pelo amor, então, minha relação com Deus não é uma obrigação, mas, uma experiência amorosa, uma troca de solicitudes, onde a energia flui livremente. Ponderando que Deus nos enche com bençãos, e reconhecendo que tudo o que temos vem dEle, e que por esse motivo temos energia para agir, e que não temos nada que traga origem em nossa própria força e poder, então a devolução dos dízimos torna-se uma ação materializadora do amor e fé que confessamos com os lábios, sendo a demonstração da nossa verdade. Deus é o doador de todas as coisas (Neemias 9:17); se não temos como satisfazer nossas expectativas, mas, recebemos de Deus para que tais expectativas se realizem, então, é justo que devolvamos, em gratidão e amor, um pouco do que recebemos.

 É dessa forma que mantemos nossos relacionamentos sociais. Se reconhecemos que um amigo nos beneficia, tratamos de oferecer-lhe algum presente como materialização do nosso reconhecimento amoroso do benefício que recebemos, em virtude da doação que o amigo efetua. Por esse raciocínio, o dízimo não é uma obrigação, mas, nossa devolução amorosa e nossa explicitação de confiança em Deus, nossa adoração em verdade.

Dizimar nos coloca na rede de relacionamentos do Céu, pois nos ligamos a Deus. Já as ofertas, são nossa demonstração material do quanto estamos interessados no bem estar do nosso semelhante. Se queremos estar inteiramente na rede que é o Reino do Céu, teremos que ser difusores de bençãos. Mais do que isso, praticantes da justiça e da verdade. Equilibrar-se na rede de relacionamentos do Céu exige difusão de energia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Escravidão hedônica X Escravidão celeste

 

A história humana está marcada por uma sucessão de eventos políticos e sociais que, na sua grande maioria, culminam com supremacia de grupos humanos sobre outros grupos humanos. Quando um grupo se torna dominante, a força exercida acontece de muitas formas, sendo uma delas a sujeição de grupos humanos a um regime escravagista. Nesse caso, tornar-se escravo determina que serão apagadas tradições, todas as volições, todas as liberdades, sendo que até mesmo escolhas pessoais não contarão. Tal situação é a mais arbitrária e contrária ao propósito da criação humana. A libertação de escravos, quando ocorre, é um processo muito difícil, o qual conta com a má vontade dos opressores e dos que lucram com a escravidão. Se um escravo foi submetido a uma longa e severa opressão, não saberá lidar prontamente com a liberdade. Dá-se, em muitos casos, a degradação moral em níveis mais aviltantes. Somente um processo de educação visando a reconstrução moral poderá ajudar.

Há, no entanto, outro tipo de escravidão tão severa e cruel como a acima descrita; aquela que escraviza as ideias, a vontade, a liberdade, sem, contudo, usar força coercitiva. Esse tipo de escravidão é atualmente a mais usual, sendo que as nações poderosas, no atual cenário geopolítico, submetem nações mais vulneráveis sem nenhum uso de armas ou opressão política; simplesmente empregam a força da sua cultura e do seu comércio. Tal sistema força o surgimento de novas e modernas necessidades, por indução mental, que levam populações a se utilizarem das tradições e costumes dos opressores, dispensando as tradições locais através da imposição efetuada pelo chamado marketing.

Um caso típico da situação acima, no Brasil,  é o Black Friday e o Halloween, que já forçaram entrada no imaginário local, e ambas as efemérides estão agora como que figurando tradicionais aos brasileiros. Os USA escravizam as mentes com sua potência intelectual e sua força econômica. Contra esse tipo de escravidão quase não há remédio. Mas, uma nação se diferencia, principalmente, por sua língua e sua moeda. Se assim, o mundo é escravizado pela língua inglesa e pelo Dólar americano. É um sistema de escravidão mental, uma opressão que o mundo julga sendo necessária e benigna. No caso brasileiro, nossa juventude não está sendo educada para pensar, sentir e se comportar como nativos; comem hamburgueres, pizzas, batatas fritas, bebem Coca Cola, ao invés de feijão com arroz e suco de maracujá ou guaraná, vestem-se como americanos, consomem cultura alienígena, matriculam-se voluntariamente em cursos para língua inglesa, não dando-se conta que estão submetidos a uma escravidão mental. Essa escravidão é quase incurável.

A cosmovisão bíblica exige que reconheçamos Deus como único Senhor (Marcos 12:29-31). Em outras palavras, se consentirmos na escravidão, sirvamos ao Senhor. Todavia, a escravidão ao Senhor não retira o alvedrio, ou seja, o juízo, pois não se trata de um cerceamento de volição, mas exige que sirvamos ao Senhor de todo o nosso coração, ou seja, não devemos nos submeter sem assentimento intelectual, de toda a nossa alma, ou com exercício pleno de nossa vontade, de todo nosso entendimento, terá que existir a informação e a sabedoria.

A situação acima é diametralmente oposta à escravidão mental dos sistemas políticos do mundo. Todavia, o serviço a Deus também exige disciplina e interesse pelo próximo, no sentido de enriquecê-lo. Há ordem, sendo declarado que “Vocês não agirão [...] cada um fazendo o que bem entende; mas “tenham o cuidado de obedecer a todos os mandamentos” (Deuteronômio 12:8,28). Toda influência que o Reino de Deus exerce é através do vínculo do amor. Os servos imitam o Senhor em submissão voluntária, sendo a mente unida à do Senhor, ocorrendo assim o processo mais elevado de educação, ou seja, o desenvolvimento físico, mental e espiritual. O progresso que deverá resultar é a educação de jovens e adultos transformando-os em cooperadores de Deus. Neste sentido, não estamos num regime de escravidão coercitiva, mas, num sistema de abnegação onde cada atributo ou dom será utilizado para erguer os semelhantes.

Por outro lado, há um esforço constante no processo civilizatório humano, no sentido de evidenciar ser o serviço ao Senhor uma alucinação, dando crédito ao saber dos homens, à cosmovisão da ciência humana, a qual explica que a natureza é obra do acaso ou procedente de causas naturais. Todavia, os estudos científicos não passam de interpretações, logo suposições, sendo muito estranho que os homens confiem avidamente em suposições ao invés de aceitarem o relato dado por Deus, ao qual o apóstolo Paulo adiciona que “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (II Timóteo 3:16).

As mentes humanas estão submetidas (incluindo a dos cristãos) a um sistema escravizador não perceptível que impõe comportamentos e aprisiona vontades, educando a população para agir contrariamente ao exigido nos princípios da lei de Deus (Amor a Deus e amor ao próximo). O chamado marketing submete os intelectos, influencia incontrolavelmente pessoas ao consumo em relação aos costumes e utensílios, atos desfavoráveis às ordens divinas. O marketing cria um ambiente educacional que escraviza, sem que a população tenha consciência. Além disso, vai conformando a infraestrutura da cidadania, de maneira que todos os cidadãos sejam forçados a usar tal infraestrutura, concebendo ser indispensável para uma vida com qualidade. Nada é mais prosaico do que passear no shopping, onde há suposta segurança, além de ser conveniente, mas é uma armadilha mental favorável ao desenfreado consumo. Se a abnegação e a preocupação com o crescimento do próximo são o alvo da educação no reino de Deus, o consumo carregado no hedonismo, é o auge do comando escravagista no reino do inimigo de Deus.

Todas as ordenações jurídicas que facilitem o crescimento comercial carregam o princípio do hedonismo em sua face mais injusta e cruel. Injusta porque nem todos podem consumir, e cruel porque o consumo vicia; é parte da estratégia do inimigo das nossas almas para aprisionar nossa liberdade. Se a busca pela felicidade reside no ter, quando tivermos tudo, como faremos para ser felizes? O consumismo nos afoga em objetos, nos aprisiona num sentimento que propõe não poder viver sem os objetos, nos afasta completamente do amor a Deus e ao semelhante, portanto, nos afasta de Deus.

 Em Mateus 24:24, Jesus adverte que falsos mestres com mentes prodigiosas enganariam e, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Obviamente, o texto não está falando apenas de teologia. A luta entre o bem e o mal dá-se num nível de altíssima cognição. As estratégias são muitíssimas e sofisticadas e as mentes humanas são como presas inocentes. Há milhares de obras escritas por autores respeitados, indicando o caminho da felicidade no poder, no aplauso e no consumo. Para os cristãos, a Bíblia recomenda que a imparcialidade moral somente pode acontecer no ambiente da Lei de Deus. Há caminhos que ao homem parecem direitos, mas ao cabo dá em caminhos de morte (Provérbio 14:12). Para resistir o ambiente do marketing os homens terão que estar influenciados pela áurea corrente da amorosa obediência. Devem curvar-se em submissão à vontade de Deus para saírem do reino hedônico deste mudo e se tornarem filhos de Deus.

 A pandemia nos está mostrando o oculto sistema escravagista do marketing operando de forma muito forte. Uma das demonstrações está sendo exibida no comportamento dos consumidores de viagens aéreas. Uma vez que há um déficit de voos as companhias aéreas começaram a oferecer viagens para lugar nenhum. Na verdade, são voos panorâmicos com duração de uma hora ou um pouco mais, que decolam e aterrissam no mesmo aeroporto. As reportagens sobre o assunto têm mostrado a face hedônica dos clientes quando afirmam que se tornaram felizes por poderem ter os tickets de embarque, sentir o cheiro do avião, comer a comida servida a bordo, desembarcarem tendo os amigos esperando. Pura sensação de que por consumirem um sobrevoo adquiriram felicidade. Um equívoco não inteligente, mentes aprisionadas pelo consumismo, escravas do marketing. Esse tipo de personalidade muito provavelmente não responderia a um chamado para ajudar com recursos o enriquecimento de alguém degradado pela “essencial” filosofia do hedonismo.

A lei de Deus é o antídoto a essa situação. Ela é a regra moral que funciona como o antibiótico às ideias humanas de bem estar.

Felicidade tem sido assunto de pesquisa em alguns trabalhos científicos (Sonja Lyubomirsky – Universidade da California, USA; Stephen Post – Case Western Reserve University, USA; Neal Krause – Universidade do Michigan, USA; por exemplo) que concluíram que felicidade é encontrada no suporte a outras pessoas, ajuda social efetiva, que trazem sentimento de exultação ou contentamento, o que torna o ser humano mais forte e com mais energia. Assim, felicidade está ligada ao fortalecimento de nossas conexões sociais, nossas relações com nossa família e nossos amigos, ou seja, pessoas felizes têm melhores relações, tendem a ser boas companhias, têm um amplo círculo de amigos, amam se relacionar e dar amor e suporte social. Relações sociais, mais do que dinheiro, ou fama, são o que mantém pessoas felizes através de suas vidas.

O sábio Salomão chegou à conclusão que adquirir não satisfaz: “Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto. Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol” (Eclesiastes 2:4-8,11).

O sábado é, entre outros significados, uma estratégia poderosa para felicidade, uma vez que é dedicado a efetuação de coisas que têm um valor, mas não um preço. É o dia supremamente contrário ao marketing. Não podemos comprar e nem vender. Não podemos trabalhar e nem pagar outros para trabalharem por nós. É um dia quando celebramos relacionamentos. Pais abençoam suas famílias. Tomamos tempo para ter uma refeição com a família e, às vezes, convidamos amigos. Na igreja renovamos nosso senso de comunidade. Pessoas compartilham suas alegrias com outras. Os enlutados encontram conforto para suas dores. Estudamos a Bíblia juntos e cantamos os mesmos hinos, lembrando-nos da história da qual fazemos parte. Oramos juntos, agradecendo a Deus por nossas bençãos. O sábado é uma instituição transformativa, convertemos o trabalho em celebração do espírito humano; um dia de gratidão, quando descansamos da lida semanal e encontramos refúgio num oásis de repouso. Finalmente, o Rabino Jonathan Sacks afirma, em seu livro Morality que: “o sábado é a estratégia divina que coloca limite no marketing e sua escravidão mental. Valores como lealdade que não são sacrificados para buscar o lucro; aspectos de felicidade que derivam não do que compramos ou ganhamos ou possuímos, mas, do que contribuímos para a vida de outrem; gratidão pelo que temos em vez de anseio pelo que não temos. Os valores do marketing não são os únicos que contam. Há outros necessários para felicidade pessoal e a beatitude coletiva que constitui uma boa sociedade. Casamento não é uma transação. A paternidade não é uma forma de propriedade. Universidades não são maquinas de venda intelectual. A saúde é distinta dos cuidados com a riqueza. A política não deve ser uma forma de poder à venda”.

domingo, 18 de outubro de 2020

Uma descrição do forte relacionamento entre Deus e o seu povo

 

Deus não permite que um de Seus devotados obreiros seja abandonado, a lutar sozinho contra forças superiores, e que seja vencido. Preserva, como jóia preciosa, todo aquele cuja vida está escondida com Cristo nEle. De cada um destes diz: Eu “te farei como um anel de selar; porque te escolhi.” Ageu 2:23. (Ciência do Bom Viver, 488).

O parágrafo acima faz uma descrição do forte relacionamento entre Deus e o seu povo. O momento mais enfático expressa que Deus “preserva, como joia preciosa todo aquele cuja vida está escondida com Cristo nEle”. A vida escondida em Cristo é aquela que busca com honestidade copiar o comportamento de nosso Mestre.

Em muitos momentos, o grupo vocal AmaDeus (GAD), que realizou por quase três décadas um trabalho de beneficência altruísta na cidade de Manaus e área metropolitana, pode sentir o cuidado que os Céus dispensam aos que estão dedicados ao enriquecimento de vidas.

Um desses momentos ocorreu em 2017. Na agenda do GAD estava marcada uma apresentação no da igreja Adventista do Parque Dez, um bairro de classe média. A referida apresentação seria num domingo à noite. O GAD tinha horário de ensaio aos sábados à noite. Nesses momentos de treino vocal, também eram treinados do ponto de vista espiritual. Todos estavam cientes de que a música era empregada como um catalisador das atenções para as ações meritórias e missionárias que sempre eram realizadas. Pessoas eram atendidas e seus problemas, quase sempre de saúde ou financeiros, eram vistos e sentidos. Como consequência, buscava-se, com oração e ação, resolvê-los. A energia empregada pelos membros do GAD resultava em bençãos a muitos irmãos necessitados.

Naquele final de semana, o GAD empenhou-se com prazer nos ensaios visando a apresentação e, depois do ensaio da véspera, alguns dos participantes resolveram ir até uma lanchonete para compartilhamento social e lanche. Juntamente com o grupo de amigos estava também o regente do GAD. Nesta noite, a lanchonete estava muito concorrida, obrigando que os carros ficassem estacionados não imediatamente próximos à lanchonete. Assim, o carro do regente ficou ao lado de um terreno ainda desocupado e, por essa razão, o local não era bem iluminado. Quando o regente voltou para retomar o carro, notou que o mesmo havia sido violado e o vidro traseiro direito estava quebrado, tendo sido roubada a pasta com todas as partituras originais correspondentes à próxima apresentação.

Aquele assalto provocara muita insegurança. Poderia prejudicar a apresentação por causa da ausência das partituras. Poder-se-ia fazer cópias das partituras, mas, como era um domingo, seria muito difícil. Assim, os membros do GAD oraram a Deus para que ajudasse sobre aquele problema. Especialmente o regente ficou preocupado, mas, tinha em memória a maioria das músicas. Todavia, os Céus estavam olhando, uma vez que “os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Provérbios !5:3).

O domingo passou com as suas inquietações, e logo o GAD se dirigiu ao templo da Igreja Adventista do Parque Dez. Às 17 horas todos já estavam apostos para o aquecimento vocal e últimos arranjos para a apresentação que teria início às 18:30 horas. O repertório para aquela ocasião estava sendo repassado quando um dos coristas avisou ao regente que alguém havia encontrado a pasta com todas as partituras. Assim, alguém estava esperando para entregar a pasta e, ao encontrar o regente conferiu-lhe o nome. Muito estranhamente a pessoa chamou o regente pelo título, arguindo se era o Doutor fulano. Sim, sou eu respondeu o regente. Então, a pessoa o levou até uma pequena lanchonete ao lado do templo e informou que a pasta havia sido deixada lá. O regente perguntou quem havia encontrado a pasta, mas a pessoa não tinha como explicar, pois, segunda sua narrativa, a pasta havia sido deixada lá antes de a lanchonete abrir naquele domingo. Logo, não havia visto que a deixara. O regente conferiu o conteúdo da pasta e, para sua surpresa, todas as partituras estavam lá. Como a pessoa que entregara a pasta não tivera contato com quem a deixou, o regente ficou surpreso porque o mensageiro que entregou a pasta sabia o seu nome. Perguntou como soubera o nome? A pessoa disse que lera a identificação num papel que encontrara na pasta. O regente agradeceu e voltou para o templo muito surpreso, emocionado, pois em sua mente sabia que um milagre havia acontecido. O local onde ocorrera o assalto ao veículo era um pouco distante da sede do templo, como a pasta havia sido deixada ali ao lado?

O regente tornou a remover o conteúdo da pasta intentando encontrar o papel com a identificação, segundo a informação da pessoa que a entregou, mas, não achou nenhum papel com qualquer tipo de identificação. Então, como a pessoa sabia seu nome e seu título?

O fato é no mínimo inusitado. Ladrões, quando compreendem que o produto do roubo é desinteressante, não deixam o que não poderá ser utilizado em lanchonetes, jogam fora para que não sejam ligados ao roubo. Não poderia ter sido um comportamento normal o ladrão ter levado a pasta justamente para perto do templo onde o GAD iria realizar uma apresentação. Logo, Deus tinha interesse no trabalho daquele grupo, por essa razão, operou sobre o ladrão e o fez agir de forma muito incomum.

Naquela noite, o templo esteve repleto de membros e visitas. No final da apresentação, o regente narrou aquele milagre para os ouvintes, sendo um motivo para mais louvores ao Deus do céu, quem jamais deixa sozinhos os seus filhos.

Nossa ideia sobre a presença de Deus em nossa atividade é muito tosca e limitada. Pensamos que nosso dia a dia é de nossa responsabilidade e que fatos como o acima narrado passam sem que o vigia santo perceba. Porém, não é assim que o interesse do céu incide. Dia e noite, anjos velam sobre os filhos de Deus. Se fossem abertos nossos olhos veríamos como a luta entre o bem e o mal acontece. Naquela noite, Deus mostrou seu interesse pessoal sobre o trabalho realizado pelo GAD e sempre estará presente no dia a dia daqueles que guardam a sua lei.

domingo, 4 de outubro de 2020

Virtudes cardinais

 

Na sua segunda carta (2 Pe.1:5-7) o apóstolo Pedro apresenta perante os crentes a escada do progresso: “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade”.

O item mais fundamental em nosso relacionamento interpessoal é a fé, pois sem confiança não há amizade. Isto é absolutamente verdadeiro em nosso relacionamento com Deus. Fé é uma confiança de coração e mente em Deus e seus propósitos que nos leva a agir em acordo com sua soberana vontade. Tal fé não está baseada em obediência cega, não inteligente, mas na crença ancorada na confiança suprema, na habilidade e integridade de Deus. Essa qualidade de fé é o pré-requisito para qualquer aproximação a Deus.

A fé não pode ser passiva, mas é manifestada em obras. Assim, todo cristão começa sua trajetória crendo em Jesus Cristo, o seu salvador, sendo Ele o modelo que o levará a sair da degradação moral na qual o mundo mergulhou a humanidade (Fil.3:9).

Na razão direta da observação do modelo são reveladas as virtudes de Cristo Jesus, mas também vão sendo desvelados os deméritos e defeitos do proceder humano e, como consequência, naquele que imita o modelo vai crescendo a vontade de possuir as virtudes do padrão. Começa, então, um exame pessoal buscando a excelência moral. Dá-se início ao enriquecimento íntimo do crente (1Cor.1:5) administrado por ação do Santo Espírito (1Cor.12:8). Tal enriquecimento vai além do conhecimento intelectual, o qual é o fundamento da fé; passa-se a entender os fatos básicos relativos à existência de Deus e ao plano da redenção (SDA Bible Commentary, v.6, p.729).

Logo, a cópia do modelo tornará evidente que se deve levar uma vida de sobriedade, ou seja, temperança, sem a qual não será possível manter o controle sobre as paixões carnais; o controle da razão prevalecendo sobre os impulsos, significando a regência da lei de Deus. Um diligente esforço auxiliado pelo Santo Espírito no sentido da temperança, produzirá paciência, significando resistência constante, na expectativa confiante de algum fim desejado, a despeito das dificuldades, desencorajamentos, desapontamentos circunstanciais e até mesmo eventuais sofrimentos. A entrada no reino de glória vindouro envolve longos períodos de espera, logo, paciência deve ser adquirida como virtude cardinal (Heb. 10:36).

A essa altura do desenvolvimento cristão a piedade ou reverência para com Deus irá prevenir o cristão de tornar-se como os fariseus, fundamentalistas que buscavam a salvação por obras. A piedade manterá a humildade ou submissão a Deus, sem a qual se dará mais atenção às tradições e não às ordens divinas. Como resultado da obediência virá o amor fraternal, virtude que completa ou preenche os requisitos da lei de Deus. Para a igreja cristã rodeada de paganismo e idolatria, rodeada pelo sistema mundano do individualismo, o genuíno amor fraternal é a sua grande necessidade. A falta de simpatia deve ser ultrapassada por um espírito de lealdade, generosidade e amor fraternal, ambiente onde as contribuições liberais tornam possível a tranquila consciência do dever cumprido. “Tendo recebido a fé do evangelho, o trabalho do crente é acrescentar virtude ao seu caráter, e assim purificar o coração e preparar a mente para a recepção do conhecimento de Deus. Esse conhecimento é a base de toda educação e serviço verdadeiros” (Atos dos Apóstolos, 279).

As virtudes listadas pelo apóstolo Pedro são a consecução abrangente da lei. A questão que se está mirando é o juízo final que está em andamento. Aqueles que desejam a justificação pela fé deverão entender e buscar as virtudes acima, porque a soma delas representa a guarda da lei. A pergunta que salta é: estariam as igrejas cristãs realizando um processo educacional que permite aos crentes alcançar o topo da escada de Pedro? As crianças e os jovens, no ambiente das igrejas cristãs estariam recebendo educação suficiente para garantir a evolução requerida pelo Céu?

domingo, 20 de setembro de 2020

Adorai aquele que fez

 


A primeira mensagem angélica (Apocalipse 14:6-7) é um aviso imperativo que deve ser ouvido, atendido e transmitido. O texto diz: “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.

Esta mensagem é taxativamente mandatária. Ninguém deve olvidá-la ou deixar de dar-lhe atenção. Há perigo agudo em assim fazer. A mensagem começa com um anjo voando pelo meio do céu. Anjos são símbolos de mensagens ou mensageiros; aqui refere-se à igreja nos últimos dias ou aos homens santos engajados na tarefa de proclamar o evangelho eterno no tempo quando o julgamento é chegado. Voando pelo meio do céu indica insofismável ação mundial na pregação do evangelho eterno, o qual deverá ser ouvido por todos os homens. Há unicamente um evangelho, o da graça de Deus. É o único evangelho a salvar os homens; eterno porque deve durar enquanto houver homens para salvar.

Temer a Deus implica em servi-lo, obedecê-lo, reverenciá-lo, honrá-lo, o tipo de adoração que marca de forma apropriada o relacionamento singular com o Deus Criador (Não terás outros deuses diante de mim Ex.20:1-3). Estrito monoteísmo caracteriza a adoração daqueles que honram ao verdadeiro Deus, o Criador dos céus e da Terra. Além disso, considerando o fato de que Deus é espírito (João 4:24) homens são proibidos de adorá-lo através de representações materiais.

O perigo anunciado e que torna apropriado o aviso é que chegou a hora do juízo. Mas, o aviso de que é chegado implica em que o dia da salvação ainda não terminou, ou seja, ainda há tempo para arrependimentos, para tornar-se a Deus e escapar da ira vindoura.

Logo, há uma ratificação da primeira parte do aviso: E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. É inevitável ver que o aviso nos manda adorar aquele que fez. E o que ele fez? O céu, a terra, o mar e as fontes das águas. Está-nos informando que a adoração será melhor performada se prestarmos atenção nas suas obras, especialmente nas suas grandes obras. Nelas, vamos encontrar o significado, a razão para adorá-lo, ou servi-lo, ou obedecê-lo.

Vamos, então, começar observando o céu. O criador do universo é o único verdadeiro objeto da adoração. A criação é uma característica distinta do verdadeiro Deus em contraste com os falsos deuses (Jer. 10:11-12). Isto é oportuno em virtude da rápida expansão da teoria da evolução. Além disso, o chamado para adorar o Deus criador dos céus implica na observância do sábado do sétimo dia, num sinal do trabalho criativo de Deus.

Podemos encontrar no céu sinais do caráter de Deus e, ao observá-lo, podemos estudar sobre Deus e sua maneira de ser. Considerando que Jesus voltará “quando o caráter de Cristo (Messias) se reproduzir em seu povo, então virá reclamá-los como seus”(Eventos Finais,p.39), então, encontrar referências sobre o caráter de Deus é prudente. Assim, vejamos apenas alguns exemplos celestes: O Sol, nossa estrela central ao sistema solar, ininterruptamente aquece a superfície da Terra enchendo de energia viva as plantas que fabricam os alimentos que mantém a vida animal. A função dessa estrela é doar energia, mantendo o equilíbrio do sistema planetário.

O sistema solar não é mais entendido como a justaposição de vários planetas orbitando em trajetórias particulares, capturados pela gravidade solar. Mas, é agora entendido como um sistema vivo e inteligente, agudamente ajustado para manter a vida na Terra. Nossa Terra é a biosfera adequada para o desenvolvimento de uma forma de vida inteligente. O sistema solar apresenta um processo de fertilização, por cometas e outros objetos, à medida que se cruzam e interagem com o núcleo interno: Vênus, Terra, Marte. Vênus protege de emissões solares perigosas, enquanto Marte protege de corpos danosos tais como pedras de gelo e meteoros. O sistema apoia o desenvolvimento de organismos vivos e também apoia o desenvolvimento de seres inteligentes. Além disso, o sistema protege o núcleo interno de grandes objetos perigosos. Os materiais fertilizantes são provavelmente armazenados no "freezer" da nuvem de Oort (uma camada gigantesca de gelo entre Marte e Jupter), e cuidadosamente montados e despachados, sob encomenda. O gelo enviado da nuvem de Oort é examinado por Jupter que monta guarda para proteger o núcleo interno do sistema. Assim, Jupter cuida da vida na Terra utilizando a sua enorme gravidade para que nenhum cometa gigante ameace a vida na Terra. Mas o papel de Júpiter não é apenas o de Guardião. Ele também é um educador rigoroso. Júpiter envia asteróides não perigosos no caminho do núcleo interno, materiais importantes para enriquecer a biosfera. Uma grande quantidade de material está cruzando a interface entre a Terra e o Cosmos. A visão acima, do Sistema Solar, é algo como uma nova Revolução Copernicana. De repente, estamos transcendendo a visão estreita e míope de muitos ecologistas, que são apenas capazes de pensar sobre a terra como um organismo vivo (Gaia), mas não podem ver além de seus limites. Pensar no Sistema Solar como um organismo vivo amplia nosso horizonte sem a necessidade de explicações complexas. Esta nova cosmologia está proposta por A. Autino – Moncrivello (2008) em Inner Circle of Technologies of the Frontier / Space Future, in the frame of the preparatory works for the Space Renaissance Foundation.

Os exemplos acima mostram o âmago do caráter amoroso de Deus e seu sistema cooperativo. Logo, olhar o céu deverá nos trazer úteis informações sobre o procedimento de Deus.

Agora, olhemos um pouco a Terra. Na Litosfera, camada exterior sólida da superfície da Terra, que inclui a crosta e a parte superior do manto terrestre, encontramos muitíssimas evidências demonstradoras o caráter de Deus. Em certa ocasião, fui convidado para integrar uma missão diplomática brasileira para negociar acordos no âmbito da ciência e tecnologia com o Peru. O voo de retorno fez o percurso Lima-São Paulo e, nessa rota passamos por sobre a cordilheira dos Andes. Foram três horas e meia de voo entre 09:00 e 13:00 horas, num dia muito claro e quase sem nuvens. Pude então observar a cordilheira com seus picos nevados e sua extensa população humana. Não fazia ideia de como existem inúmeras populações humanas morando nos altos vales andinos. Sabemos que nosso bom Deus elevou os Andes como resultado do encontro de duas placas tectônicas: a placa de Nazca e a própria placa Sul-americana. Tal encontro permitiu a formação de muitos vulcões que produzem magma que fertiliza os Andes. Os nutrientes assim trazidos às montanhas são lixiviados de muitas maneiras para o vale amazônico, sendo que naquele dia o voo me permitiu ver como que rios secos de sedimentos rolando as encostas em direção ao vale. Tais sedimentos fertilizam os rios amazônicos que, por sua vez, carregam as substâncias até as florestas enriquecendo o solo, provocando uma explosão de frutos e matéria orgânica. Este é apenas um aspecto do caráter de Deus visível nos Andes. Mas, se olharmos os vários ciclos naturais tais como o ciclo do Carbono, os vários ciclos minerais, veremos um enorme complexo de cooperação que espelha o caráter do criador.

Em Salmos 8:1 encontramos o salmista admirado em perceber “[...] quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!”. Em Salmos 57:5 novamente é percebida a presença do caráter de Deus: “Sê exaltado, ó Deus, sobre os céus; seja a tua glória sobre toda a terra”.

Há uma ênfase sobre o mar no texto da primeira mensagem angélica. O que podemos descobrir ali sobre o caráter de Deus? O que o mar nos ensina sobre a pessoa do verdadeiro Deus?

Os oceanos compartilham águas utilizando o que conhecemos como correntes marítimas. Estas, percorrem os continentes levando sedimentos e resfriando ou aquecendo as águas, fato refletido no clima de cada continente. As correntes marítimas provocam o enriquecimento das águas oceânicas porque viajam milhares de quilômetros. Elas transportam consigo umidade e calor interferindo também na vida marinha e, consequentemente, tendo influência direta no equilíbrio dos oceanos e mares. Têm sua origem na circulação dos ventos na superfície e pelo movimento de rotação da Terra.

Outro exemplo marcante do caráter de Deus na criação dos mares pode ser visto no leviatã. Esta é uma palavra hebraica que indica criatura marinha como tendo grandes proporções. Logo, a baleia é um leviatã. Estes mamíferos aquáticos são impressionantes. Entre seus muitos papéis, as baleias reciclam nutrientes e aumentam a produtividade primária, ou seja, adubam as águas nas áreas onde se alimentam. Quando alimentando-se em profundidade e liberando plumas fecais perto da superfície, estes mamíferos ajudam o crescimento do chamado fitoplâncton, algas responsáveis pela produção de 54% do oxigênio do mundo. Essas nuvens maciças de excremento fornecem um grande impulso de ferro e nitrogênio às águas, e como as toneladas de dejetos de baleia são principalmente líquidos, toneladas de nutrientes são expelidas e propensas a permanecer em suspensão, sendo fartamente aproveitado pelo fitoplâncton. Se essas algas produzem oxigênio, podemos concluir que às baleias o criador incumbiu de manter parte do equilíbrio climático.

Nestes dois exemplos acima encontramos a digital de um Deus que impôs a sua imagem e o seu caráter cooperativo e doador na natureza marinha.

As fontes das águas são um item da natureza criada que representa intuitivamente o caráter do criador. Podemos traduzir, se quisermos, como as águas contidas nos lençóis freáticos. reservatórios de água presentes nas partes subterrâneas da Terra, os quais variam de 500 a 1000 metros de profundidade, são rios ou até baías subterrâneas. Dessa maneira, uma parte da água da chuva escoa na superfície, enquanto outra parte se infiltra nos solos formado, assim, os lençóis freáticos. Esse manancial de águas doces forma os riachos (igarapés), os riachos formam rios secundários e estes formam os rios caudalosos que desaguam nos oceanos. Os rios em suas múltiplas escalas, são as veias que carregam nutrientes para superfície da terra; por onde passam, deixam atrás de si um rastro de fertilidade e verdor, ato que auxilia na manutenção da vida vegetal e animal. O aquecimento da superfície aquática, quer dos rios quer dos mares forma o vapor de água que sobe para formar as nuvens e, consequentemente, a chuva. Toda água evaporada condensa e se precipita. No caso da costa Amazônica, o vapor que forma as nuvens é impelido pelos ventos fazendo a irrigação de todo oeste amazônico, sendo que a cordilheira dos Andes forma uma parede que obriga as nuvens a desviarem seu curso para o sudeste brasileiro, abençoando a região com umidade. Este corredor de nuvens carregadas com vapor tem sido denominado de rios voadores. Parte das nuvens pode alcançar distâncias inesperadas, indo até a Austrália.

Toda água que desce das nuvens torna a subir para volver à Terra, num ciclo ininterrupto de recebimento e doação. Em ciclos semelhantes, naturais, é demonstrado o caráter do criador. Doar e receber.

Antes da entrada do pecado, Adão e Eva no Éden, estavam circundados por uma bela e resplandecente luz — a luz de Deus. Essa luz iluminava tudo de que eles se aproximavam. Nada havia que lhes obscurecesse a percepção do caráter ou das obras de Deus. Quando, porém, cederam ao tentador, a luz se retirou deles. Perdendo as vestes da santidade, perderam a luz que havia iluminado a natureza. Não mais a podiam ler direito. Não podiam discernir o caráter de Deus em Suas obras. Assim hoje, o homem não pode por si mesmo ler devidamente o ensino da natureza. A menos que seja guiado por sabedoria divina, exalta-a e a suas leis acima do Deus que a criou. É por isso que as ideias meramente humanas quanto à ciência tantas vezes contradizem o ensino da Palavra de Deus. Mas, para os que recebem a luz da vida de Cristo, a natureza novamente se ilumina. Na luz que se irradia da cruz, podemos interpretar devidamente o ensino da natureza (Ciência do Bom Viver,p.205). Pelas razões acima, o anjo do capítulo 14 de Apocalipse chama atenção para a natureza quando adverte que é chagado o juízo, e que a maneira correta para enfrentar o juízo é estudar o caráter do criador para copiá-lo. Tal atitude favorecerá a justificação, sem a qual seremos condenados.

Terminamos reiterando a mensagem angélica de Apocalipse 14. Nenhum deus da imaginação humana tem impresso na natureza o seu caráter. Todos eles são de natureza egocêntrica, logo, os entes da natureza não os representam. Assim, não há outro Deus a quem devamos adorar, a não ser aquele que fez o céu, a terra, o mar, e as fontes das águas.