quarta-feira, 14 de abril de 2021

A tarefa que transcendeu os séculos (A lógica das alianças)

 

A queda do homem foi um evento que abalou o universo. A Terra e o homem foram criados para serem a demonstração da efetividade da lei de Deus, do sistema de relacionamentos e cooperação que opera no universo, mas, a perfeição da criação deveria ser o ambiente cabal para consolidação do sistema celeste após o desastre provocado no céu por Lúcifer.

A criação do homem, à imagem de Deus, o torna capaz de ser um ente inteligente que poderia auxiliar na reinvindicação do caráter divino, o qual tinha sido contestado por satanás. Por esse motivo, logo após a queda do homem, Deus fez uma aliança com Adão. Ali foi prometido que uma solução que estaria já em andamento. Através de uma aliança, seria possível aos homens não serem escravizados por satanás. Tudo ficou explicitado assim: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). Tal inimizade prometida entre os filhos de Deus e o inimigo poderia ser imediatamente alcançada. No entanto, a luta feroz entre o bem e o mal provocou o aparecimento de dois grupos de seres humanos: os filhos de Deus (nos quais cumpria-se a promessa da inimizade, ou seja, a cobiça e a injustiça foram substituídas pela justiça ou pelo sistema de cooperação) e os filhos dos homens, os quais eram amigos do inimigo, logo, aderidos ao sistema de competição onde a injustiça é o motivo.

Assim, Adão depois da expulsão do Éden, aceitando a aliança proposta por Deus, passou a ensinar seus contemporâneos sobre a justiça, o sistema de Deus. Passou quase mil anos mostrando o seu próprio erro e advertindo seus semelhantes sobre as consequências da desobediência, além de ser, ele mesmo, testemunho vivo de boas obras.

Adão viveu quase até o dilúvio. Os patriarcas pré-diluvianos (descendentes de Sete) fizeram o mesmo que Adão. Ensinaram a justiça como fonte de felicidade e servindo, eles mesmos, de exemplo na prática da justiça (realizando boas obras) às gerações de pré-diluvianos.

Cento e vinte anos antes do dilúvio, Deus chama particularmente a Noé, que era homem justo e perfeito em suas gerações e que andava com Deus; e anuncia-lhe que, por causa da corrupção imperante na terra, iria destruir os homens e a terra com água. Deu a Noé a planta de um barco que deveria ser construído para salvação de Noé e sua família e de quem mais aceitasse o meio de salvação oferecido. Assim, por acreditar em Deus, Noé demonstra a sua fé passando a construir o referido barco ou arca conforme ficou conhecido. Além disso, por ser justo, Noé compreendeu que a sua geração tinha o direito de ser salva da destruição e, ato contínuo, passou a avisar sobre o juízo vindouro e sobre a forma de salvamento. Pregou por mais de um século persuadindo seus contemporâneos. Alguns comentaristas dizem que muitos aceitaram a mensagem de Noé, mas, faleceram antes do diluvio. Porém, na época em que Noé e sua família entraram na arca, somente oito pessoas demonstraram fé na salvação oferecida. Noé cumpriu a missão de ensinar a justiça, sendo ele próprio exemplo, achando graça diante de Deus.

Muitos anos após a catástrofe diluviana, da descendência de Sem, um dos filhos de Noé, surge Abraão. Deus chama o patriarca e pede-lhe que saia da sua terra, do meio da parentela e da casa de seu pai, e vá para a terra que Deus mostraria (Gênesis 12:1-3). Também promete a Abraão abençoá-lo e fazer dele uma grande nação, explicando que deveria ensinar a justiça significando uma aliança com Deus. Abraão, aceitando a aliança, deveria se transformar em benção para todos com quem entrasse em contato. A benção que ele seria denotava o ensino da justiça para tirar seus semelhantes do domínio satânico. Abraão demonstrou sua crença ou sua fé partindo para a viagem. Onde chegava erguia um altar para que pudesse servir de marco sobre a prática da justiça, além de monumento ao Deus Altíssimo. Mediante sua peregrinação, as nações por onde passou viram a Deus através de Abraão, aprenderam sobre a justiça e puderam aderir ao sistema divino.

Mais adiante, Deus promete a Abraão o nascimento de um filho. Abraão creu. Como a promessa tardasse e, pensando como homem, percebe o decréscimo de sua vitalidade, bem como a de Sara, tendo ambos consentido em que Abraão tomaria a Agar, escrava egípcia de Sara, por esposa e com ela teria um filho. Assim, nasce Ismael. Porém, essa atitude adiou ainda mais a promessa do filho prometido por Deus, uma vez que Abraão demonstrou desconfiança em Deus. Mais tarde, já com a idade de cem anos e Sara sua mulher com noventa anos, num período em que não havia mais possibilidades humanas, nasceu Isaac, conforme a promessa, um milagre de Deus. Depois que havia crescido o menino, Deus pede a Abraão que faça uma viagem para sacrificar seu único filho. Esse pedido de Deus parece sem nexo, uma vez que Isaac era o filho prometido. Se morresse agora como poderia vir de Abraão uma grande nação? O nexo dessa demanda está na falta de fé de Abraão quando toma Agar para gerar um filho. Abraão para tornar-se a raiz de onde viria o Messias, deveria demonstrar que cria em Deus, sendo necessária demonstração de obras diante de Deus. Assim, Abraão partiu com Isaac para sacrificar ao Senhor. Isaac deveria ser o sacrifício. Ao Abraão colocar o moço sobre o altar e levantar o braço para realizar a imolação, um anjo segura o braço do patriarca e diz que não era necessário matar o rapaz, pois havia um cordeiro para substituí-lo. Ao apresentar sua fé através de obras diante de Deus, Abraão foi justificado, passando à condição de raiz do Messias prometido, tornando-se o canal através do qual seriam consideradas benditas todas as famílias da terra. Por Abraão deveria se formar o caminho genético para o nascimento do Messias, a benção prometida para todas as nações. Deus fez aliança com Abraão baseada na premissa de que ele seria capaz de ensinar a justiça.

Assim, por Isaac veio Jacó, ao qual Deus acrescentou doze filhos. Um dos filhos de Jacó, foi vendido pelos irmãos a mercadores (Gênesis 37) ismaelitas, estes o levaram ao Egito, vendendo-o a Potifar, oficial capitão da guarda de Faraó. A Bíblia não é explicita se Deus fez aliança com José, mas, informa que o Senhor estava com José (Gênesis 39:2) prosperando tudo o que fazia. José então torna-se uma testemunha fiel do sistema de cooperação de Deus, fazendo seu serviço com empenho e honestidade, tornando próspera a casa de Potifar. O proceder de José o qualificava como justo e, sem muitas palavras e discursos ensinava a justiça a todos. Anos mais tarde José torna-se governador do Egito. Manda buscar sua família para morar no Egito. Seu governo espelhou o sistema de cooperação divino. Por causa do longo período de fome, José comprou todas as propriedades dos egípcios, bem como comprou os próprios habitantes. No entanto, deu-lhes o usufruto das propriedades, encheu de mantimento as casas espalhando conforto e segurança. Verdadeiramente José implantou o sistema econômico divino: a Terra e tudo o que nela há pertencem a Deus, os homens têm o usufruto, são, portanto, mordomos. Sabemos que os egípcios eram felizes porque prantearam por sessenta dias a morte de Jacó. José tornou-se um singular ícone da justiça, ensinando-a e vivendo-a.

Quatrocentos anos depois, Deus chama Moisés e faz com ele uma aliança. Naquela altura o povo de Israel já alcançava a densidade demográfica de quase um milhão de almas. Estavam numa situação de muita pressão social e moral, como escravos, e Deus então decidiu libertá-los. Moisés deveria ser o grande articulador e o líder condutor do êxodo para a terra prometida a Abraão, mais de quatro séculos antes.

A aliança realizada com Moisés pressupunha que o povo deveria ser liberto para adorar a Deus. Significava que deveriam aprender o sistema de Deus, viver a justiça e ensinar outros povos sobre a justiça e sobre a vinda do Messias. Assim, no monte Sinai recebem a lei, ou o modelo de justiça requerido por Deus. Além disso, um santuário foi erguido no centro do acampamento, um lugar para habitação divina de onde emanariam os fundamentos da justiça, de modo que Deus pessoalmente ensinaria Moisés, Arão e os sacerdotes os processos e as interfaces para um relacionamento direto com o povo israelita. É importante lembrar que desde a saída de Adão do Eden o homem não tinha acesso direto a Deus, fato que está ratificado em Isaías 59:2, onde lemos: “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça”. Agora Deus, através do tabernáculo no deserto, busca tornar-se imanente com o povo, para que pudesse levantar uma nação de sacerdotes, um povo que aprendesse a justiça e ensinasse aos filhos e filhos dos filhos, mas, que também tivessem a visão de ensinar aos não nativos.

A despeito da presença de Deus no santuário, o povo israelita nunca assimilou o seu papel na aliança feita no Sinai. Deveriam praticar e ensinar a justiça aos seus filhos e às outras nações, alertando que o Messias viria. No entanto, por entenderem-se muitíssimo especiais, assumiram um orgulho nativista insuportável, não buscando relacionar-se com outros povos. Tal comportamento persiste até hoje levando-os à deriva cultural assimilando comportamentos estranhos aos princípios divinos e, em muitas ocasiões serviram ao sistema do inimigo competindo internamente e buscando competir com as nações circundantes. Por não abraçarem o sistema justo de Deus, foram submetidos a governos estranhos, passaram por várias diásporas, tudo permitido por Deus para que os princípios do sistema divino fossem vistos pelos gentios.

No processo de reivindicar o caráter de Deus e trazer o homem de volta ao seu estado original, a aliança realizada com os israelitas ampliava a abrangência da influência da justiça, porque uma nação agora poderia se relacionar com outras nações. No passado eram os patriarcas quem ensinavam a justiça, agora, uma nação com grande influência no mundo seria o vetor do ensino da justiça. Assim, conforme o profeta Isaías (capítulos 65 e 66), quando o Messias chegasse, a terra estaria pronta para recebê-lo, tornando-se possível o estabelecimento de uma nova ordem mundial.

Israel falhou. Quase 700 anos depois do profeta Isaías o Messias veio. As condições eram muito adversas. O sistema do inimigo, o da competição, alcançara quase toda a humanidade.  Para ser realista, somente os pastores no campo e três reis orientais estavam esperando o Messias na noite em que os anjos anunciaram o nascimento de Jesus. Parecia que o planejamento de Deus em relação à salvação dos homens havia falhado.

Ao iniciar o seu ministério, Jesus prepara doze discípulos. Ele era o enviado divino para desvelar a inimizade entre os filhos de Deus e a serpente. Jesus ensinava os princípios do reino de Deus, sendo que Ele mesmo vivia neles. Além disso, fazia obras de justiça sem tréguas. Com Ele estavam os discípulos que vendo a atuação do mestre aprendiam de modo prático como era viver no reino de Deus. Jesus era a grande benção prometida através de Abraão. Tornou-se o modelo para toda humanidade na prática da justiça e das boas obras.

Sendo Ele próprio a rocha onde a igreja cristã seria edificada, fez aliança com líderes, entre eles Pedro. Para este, explicitou sua expectativa pedindo que apascentasse as ovelhas, ou seja, ensinasse à igreja a prática da justiça. Para Abraão pediu que fosse uma benção, e esta solicitação transcendeu à igreja cristã. Assim que, a igreja primitiva cristã se tornou uma benção, uma vez que os irmãos viviam em unidade, tendo como premissa maior a justiça própria do reino de Deus. Depois de tempos, a introdução de heresias fez a igreja primitiva perder sua característica, sendo que Deus reclama disto (Apocalipse 2:4-5) dizendo: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.

Passam-se os séculos e a igreja cristã vive altos e baixos. No século XIX, especificamente no outono de 1844, Deus novamente faz aliança com os milleritas que depois se tornam os adventistas do sétimo dia. Esta aliança requer que o povo de Deus viva e ensine a justiça, conforme todas as alianças anteriores, além de convidar que anunciem o juízo que está em andamento. Tal advertência deverá alertar para a necessidade do abandono do sistema egoísta do inimigo, o qual está disfarçado em evangelho endossado pelo cristianismo romano, pelo cristianismo protestante e pelo espiritismo. Esses três patrocinam a guarda do domingo e o sistema de cobiça de Lúcifer, onde o chamado evangelho da prosperidade estimula os cristãos na busca e acúmulo de riquezas materiais, todos princípios antagônicos a lei de Deus.

Adventistas deverão ser pacientes, assim como o foram os primeiros cristãos, guardar e ensinar os mandamentos que incluem o descanso sabático, e ter a fé de Jesus. O que significa ter a fé de Jesus? Significa que creem em Deus e materializam a fé fazendo as obras que Jesus fez enquanto esteve conosco, comportamento que os leva a não fixar seu foco em acúmulo de bens materiais. Desta forma, operam a sua salvação negando o sistema competitivo do inimigo e aderindo ao sistema de cooperação de Deus. A aliança com Deus requer a prática da justiça e não a cobiça de riquezas terrenas. Tal comportamento fará com que o inimigo recrudesça sua perseguição vomitando os filhos de Deus do sistema mundano do comércio (não poderão comprar nem vender), o qual representa a mais sofisticada demonstração da competição, fato que parece natural para quem não conheceu o sistema de Deus. Conforme recomenda Apocalipse, a igreja de Deus deverá lembrar de onde caiu e arrepender-se, sob pena de ser-lhe retirada a luz.

Finalmente, todas as alianças realizadas entre Deus e a humanidade têm a mesma característica: viver a justiça, ensinar a justiça e avisar de assuntos críticos. Assim, há um dever que transcendeu os tempos e que compele o povo de Deus a liderar na construção de homens e na sua salvação de homens.