terça-feira, 15 de maio de 2012

SISTEMA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMAZÔNICO


 Publicado na REVISTA T&C AMAZÔNIA Nº21

O ÁRDUO CAMINHO PARA A CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMAZÔNICO


Autor:
Claudio Ruy Vasconcelos da Fonseca

Resumo

Ciência e tecnologia são avaliadas como grandes empreendimentos que, no caso brasileiro, ainda necessitam de investimentos para incremento do capital humano equiparado aos níveis internacionais, além da consolidação de uma infraestrutura para permitir que trabalhos científicos suscitem patentes e produtos, aumentando o nível da riqueza social.

 Introdução

A formação de capital humano é o começo da conversa quando o assunto é pesquisa e desenvolvimento. No último quarto do século passado, já havia universidades estatais em todos os estados da Região Norte, além de centros privados de ensino universitário. Esse novo panorama educacional promoveu o incremento de capital humano, mas, ainda, não é suficiente para entrada nas universidades de jovens de todos os extratos sociais. Além disso, permanecem assimetrias relacionadas à densidade dos programas cursados quando comparados com os centros de maior densidade intelectual, o que determina lacunas na formação regional de capital humano para áreas estratégicas, a exemplo de engenharia e biologia.

A academia Brasileira de Ciências (ABC), no fim de 2008, publicou um documento onde estão algumas prioridades que deveriam ser consentidas para a expansão amazônica no século XXI. Entre os tópicos relevantes estão: i)”[...]Seu potencial, pelo gigantismo, pelo surpreendente e inédito que comporta, pela variedade que absorve, somente será desvendado de forma segura com a interveniência de cientistas e tecnólogos; ii) [...] Tornou-se obrigatoriamente grande centro de interesse da Ciência e da Tecnologia. Dos cientistas especializados no setor, espera-se a orientação sensata para transformar a Amazônia em esteio do futuro brasileiro. Não é exagero dizer que será um fator medular da sustentação também do próprio planeta; iii) [...] A Amazônia é uma questão global, regional e, sobretudo, nacional. Como tal, o desafio de promover o seu desenvolvimento é uma questão de Estado a ser debatida pelo governo e por toda a sociedade do País. À Ciência, Tecnologia e Inovação, cabem contribuições cruciais no enfrentamento desse desafio”.

No seio das recomendações do referido documento está a percepção de que a “Amazônia brasileira surge como um importante polo de atração política, de oportunidades econômicas e de integração com seus vizinhos. O Brasil dispõe de um complexo sistema de ciência e tecnologia, que gera crescentes oportunidades e múltiplas possibilidades de ações. Esforço político deve ser feito no sentido de se estreitarem laços com os países vizinhos, de forma a se explorarem vantagens competitivas regionais que permitam alavancar o processo de desenvolvimento”.
 
Em muitos momentos, ações (nacionais e locais) foram executadas no sentido de prover a Região Amazônica de estruturas de planejamento para dotá-la de eficácia própria e governabilidade. Quase todas essas iniciativas foram descontinuadas, e muitas delas sequer tiveram a consolidação dos planejamentos que executaram. Tal situação tem sido recorrente no cenário regional, fato que tem impedido o desenvolvimento vigoroso das instituições, deixando fragilizada a governança local, bem como a continuidade de programas das quais somente o tempo pode acarretar a necessária maturação e as consequências refletidamente planejadas.
 
Segundo a ABC (2008) persistem desafios estruturais que continuam clamando por atendimento:
 
Criação de novas universidades públicas, atendendo às mesorregiões que possuem densidades populacionais que justifiquem tal investimento.
Criação de institutos científico-tecnológicos associados ao ensino e pesquisa tecnológica, descentralizando a infraestrutura de C&T e permitindo a articulação de uma rede de grande capilaridade.
 
Ampliação e fortalecimento da Pós-Graduação, expandindo de forma expressiva a formação, a atração e a fixação de pessoal altamente qualificado em C,T&I.
 
Fortalecimento das redes de informação na região, dotando-a de uma rede com banda mínima de 2 Gbps.
 
Os reptos acima são a evidente causa das assimetrias entre Norte e Sul no Brasil. Mas, antes de prosseguirmos, vejamos como vem ocorrendo o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na América Latina.
 
Panorama do investimento na América Latina
 
A partir dos anos 1980 o investimento em ciência e tecnologia, na maioria dos países do mundo desenvolvido, se tornou ainda mais intenso, ou seja, um empreendimento planejado, estimulado e com resultados calculados. Na América Latina houve também forte interesse em financiar pesquisas, resultando no aumento do percentual do PIB investido em P&D, o chamado GERD (gross domestic expenditure on R&D), acima de 100% entre 1997 e 2007. O Brasil investiu 63,5% do GERD latino-americano, seguido pelo México, 15,3% e Argentina, 5,8% (UNESCO, 2010). No caso brasileiro, o governo federal constituiu os chamados Fundos Setoriais, os quais se tornaram ferramenta capital para financiar pesquisas. Além disso, os governos estaduais estruturaram seus sistemas de P&D, estabelecendo as Fundações de Amparo à Pesquisa (FAP), que capturam recursos do Estado dirigindo-os às suas prioridades científicas particulares. Tal arcabouço proporcionou melhora significativa na qualidade da pesquisa produzida, além de gerar acréscimo e fixação de capital humano de alta habilidade intelectual.

O efeito desse esforço foi a ampliação do número de pesquisadores brasileiros, que passou de 64.002 em 2000 para 124.882 em 2007, correspondendo atualmente a 1,7% do total mundial (UNESCO, 2010). Todavia essa somatória de pesquisadores ainda está aquém das demandas e, quando comparada com países como os Estados Unidos (cerca de 1.500.000; 25% do total mundial) e a China (1.400.000, 19%), se mostra irrisória.
 
O acréscimo nos investimentos no sistema de ciência e tecnologia (C&T) brasileiro é robusto: passamos de R$ 470 milhões em 1994 para R$ 1,3 bilhão em 2009 (UNESCO, 2010). Quando olhamos a América Latina, verificamos que os países empreenderam esforços para melhorar o equilíbrio com o mundo chamado desenvolvido. Malgrado os déficits educacional e social, tem-se atualmente a percepção de que a saída para melhorar os países emergentes passa pela estruturação de sistemas de C&T fortes, de modo a permitir a apropriação da riqueza mineral e biológica em seu território e sua transformação por meio de tecnologias autóctones. Esse desafio não prescinde de sistemas de universidades de nível mundial, e, do mesmo modo, será necessário um sistema de investimentos imunes às descontinuidades.
 
A participação do setor privado no financiamento do sistema de P&D na América Latina ainda não é cultural. Os setores econômicos necessitam de políticas de incentivo ao investimento, sem o que não será admitida a incorporação de metas mais ambiciosas. O financiamento do sistema de P&D nos países latino-americanos ainda é muito dependente dos recursos governamentais (entre 40% e 60% no Brasil, México, Argentina e Chile), sendo essa uma das razões do baixo número de solicitação de patentes, porém outro pretexto é a insuficientíssima demanda por inovação por parte do setor produtivo, que prefere importar tecnologias.
 
 Formação de capital humano no Brasil
 
O cenário da formação de recursos humanos para pesquisa tem sido construído com significativo esforço das esferas administrativas federal e estadual, de forma que em alguns estados, o investimento local chega a ser superior ao federal. Tal é o caso do Estado do Paraná, onde uma rede de universidades estaduais foi implantada nas chamadas mesorregiões, causando alterações estruturais e sociais de alta complexidade.

Importante salientar que mesmo nas regiões brasileiras com menor índice de desenvolvimento, tem havido investimentos na instalação de universidades estatais. Recentemente, na Amazônia, foi implantada a primeira universidade federal fora do eixo das capitais, na cidade de Santarém, Pará, cuja concepção pedagógica deverá ser inovadora para os padrões locais e nacionais, trazendo esperança ao preenchimento de lacunas educacionais e científicas que, ao longo de décadas, têm fragilizado o sonho de desenvolvimento em áreas consideradas remotas. Porém outras iniciativas têm buscado amenizar o déficit e as assimetrias na aglutinação do capital humano nacional, tais como as redes de pesquisa, cujo objetivo é agrupar massa crítica em áreas estratégicas, possibilitando interação profissional, compartilhamento de equipamentos, formação de pesquisadores, discussão de programas de pesquisas, respaldo às políticas públicas, entre outras atividades.

De acordo com o MCTI, os quantitativos de pesquisadores envolvidos no sistema de C&T nacional até 2008 mostram 69.232 doutores e 85.910 mestres em tempo integral nas instituições públicas e privadas. As titulações em nível de doutoramento, em 2009, alcançaram o total de 11.368. O número de alunos graduados no sistema universitário nacional foi de 826.928, no mesmo ano; por meio de um algebrismo simples, observa-se que apenas 1,37% dos graduados buscam doutoramento. Esse percentual, aliado à ausência de política para fixação de doutores, em especial nas regiões de menor índice de desenvolvimento, representa uma forte barreira ao progresso, já que existe uma relação direta entre o PIB e o número de doutores. A sociedade parece não enxergar a pesquisa como ferramenta para geração de riqueza, havendo defasagem entre o discurso político nacional e a realidade. Estamos diante de um ciclo pernicioso que não consentirá, no caso amazônico, o atendimento das prioridades içadas pela ABC. A fixação de doutores ou profissionais de maior aptidão intelectual somente ocorrerá se houver algum diferencial para atração. São necessários adicionais aos salários ou recompensas, tais como possibilidades concretas de intercâmbio científico, melhores condições de comunicabilidade, facilidades na importação de insumos e material para pesquisa, entre outros.

Investimento amazônico em P&D

Não se poderia ponderar em dar oportunidade à Amazônia sem um olhar crítico ao sistema universitário regional. Há centros de excelência nas várias universidades federais amazônicas, mas os números da produção científica indicam restar um longo e árduo caminho para a consolidação dessas instituições como centros de análises e discussões das demandas desenvolvimentistas.


Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq (Tabela 1), dos 68.748 autores nacionais que publicaram no período entre 2005 a 2008, apenas 2.613 (3,8%) estão na Região Norte do Brasil.Dos 229.368 artigos publicados por pesquisadores brasileiros em periódicos de circulação internacional no período entre 2005 a 2008, apenas 6.396 (2,7%) vieram da Região Norte, sendo a menor contribuição em termos regionais. É importante evidenciar que a Região Norte publicou 7.502 artigos em revistas de circulação nacional no mesmo período, todavia essa realidade não é alvissareira, pois evidencia que, possivelmente, os níveis de generalizações nas informações publicadas não atingem as exigências dos periódicos internacionais de alto fator de impacto, sendo, por isso, publicadas preferencialmente em periódicos de circulação regional. Há, porém, nesses resultados outras variáveis importantes. Os números relativos à Região Norte refletem também o grande esforço dos 2.863 doutores que estão formalmente nas instituições de pesquisa. A quase totalidade dos doutores publicou 4.632 artigos por ano, o que perfaz uma média de 1,6 artigo por pesquisador/ano. Comparando com a produção científica da Região Sudeste, por exemplo (2,5 artigos/pesquisador/ano), a média não está tão díspare, ou seja, nas condições atuais, o esforço de publicação para o Norte do País está a satisfatório, não sendo de nenhum modo desprezível. Resta ainda uma questão: quanto do conhecimento produzido está sendo convertido em inovação? O Brasil, em 2009, obteve 148 concessões de patentes junto ao escritório ao escritório norte-americano de patentes (USPTO), enquanto a Coreia do Sul obteve 9.566 concessões. Os números indicam que o conhecimento produzido pelos pesquisadores nacionais parece ainda distante da demanda do setor produtivo, levando à indagação sobre o acerto dos investimentos em C&T.

Considerando que a ABC (2008) sugere como prioridade a “ampliação e fortalecimento da Pós-Graduação, expandindo de forma expressiva a formação, atração e fixação de pessoal altamente qualificado em C,T&I, torna-se condição sine qua non que o sistema universitário regional assuma postura mais consentânea com o ambiente acadêmico de nível mundial. Universidades passam a fazer jus a esse título quando, necessariamente, estão lecionando sobre o conhecimento que produzem. O paradoxo regional é que a produção do conhecimento local não é capaz de comunicar alterações nas grades estruturais dos cursos acadêmicos e, nessas circunstâncias, as universidades operam como refletores do conhecimento gerado em outras partes do mundo, resultando em influência tangencial na realidade local.

De outro lado, o setor produtivo amazônico demanda mais inovação nas engenharias, contrapondo-se ao cerne da produção científica regional voltado para biologia. Resta decifrarmos a contradição que nos oprime: a Amazônia é uma região considerada megadiversa, mas o setor produtivo regional não se desenvolve em torno da biodiversidade, ou seja, ratificamos a indagação se estaríamos aplicando corretamente os recursos disponíveis para P&D. Algumas variáveis insistem na manutenção do status quo regional: i) inadequada distribuição geográfica das competências regionais; ii) carência de infraestrutura de C&T nas instituições; iii) investimento amazônico inadequado em P&D. Esse cenário leva à baixa capilaridade de ação das Instituições de C&T na Região, resultando em baixa formação de pesquisadores e de capital humano para atuar em pesquisa, desenvolvimento e inovação. A consequência última dessa cadeia de fatos é a reduzida produção, difusão e utilização do conhecimento e de tecnologias que contribuam para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Apesar de continuarem as assimetrias regionais, na última década tem havido interesse por parte do governo federal em redefinir os percentuais destinados à atividade de P&D nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Há uma determinação para que 30% dos recursos de editais sejam destinados às referidas regiões, onde estão concentrados 25% da massa crítica nacional para pesquisa. Isso tem permitido ampliação na infraestrutura para grupos de pesquisa emergentes, abrindo janelas para a produção científica e para o adensamento da massa crítica.
Por outro lado, os sistemas estaduais de C,T&I contam com fundamental apoio das FAPs, aumentando a possibilidade para o desdobramento científico nos estados.
  
O total geral das receitas dos estados da Amazônia, segundo os números do Ministério da Fazenda para 2010, é em torno de R$ 14 trilhões. Se 1% desse total fosse investido no sistema de C,T&I desses mesmos estados, os recursos seriam da ordem de 145 bilhões de Reais, soma que daria para criar um fundo regional de investimentos e para financiar sucessivamente programas de pesquisas induzidos pela sociedade local. No caso específico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), foram investidos entre 2003 e 2009 R$ 39.309.375,00, montante que corresponde a 0,6% da arrecadação estadual em 2009 (FAPEAM, 2010). Ainda que as FAPs estejam ativas, os recursos para permitir metas mais ambiciosas ainda são limitados. No entanto, se bem entendido o papel estratégico das FAPs, poderá haver indução de pesquisas que esquadrinhem soluções aos gargalos locais, ampliando espaços para parcerias entre academias e o setor produtivo, um casamento que poderá trazer uma prolífica sucessão de resultados importantes.



 Bibliografia

ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS .2008. Amazônia: desafio brasileiro do século XXI/Academia Brasileira de Ciências. São Paulo:Fundação Conrado Wessel, 32 p.

FAPEAM. 2008. Realtório de atividades 2003-2008. www.fapeam.am.gov.br

UNESCO .2010. UNESCO SCIENCE REPORT. UNESCO Publishing.
www.unesco.org/publishing

Claudio Ruy Vasconcelos da Fonseca - Doutor em zoologia, Pesquisador Titular do INPA, Professor da Universidade do Estado do Amazonas.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

USO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE


USO E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
1            
                     INTRODUÇÃO À BIO DIVERSIDADE
O crescente interesse mundial sobre a quantificação da diversidade biológica tem base na compreensão de que o estado do sistema biológico da Terra é de fundamental importância para a sociedade humana e de que nossa influência nesse sistema tem aumentado exponencialmente. Informações recentes estimam que mais da metade da superfície habitável do planeta foi significativamente alterada pela atividade humana (Hannah & Bowles, 1995). Essa informação sugere que poderemos estar provocando extinção de espécies de forma maciça (Myers, 1979; Wilson, 1985). Essa preocupação é legítima quando percebemos que o nosso conhecimento da diversidade de plantas, animais, microrganismos e ecossistemas é assombrosamente incompleto. 

O conceito de diversidade biológica como sendo a variabilidade total da vida na Terra, emergiu há cerca de vinte anos, incluindo dois conceitos: variabilidade genética (a variabilidade genética nas espécies) e diversidade ecológica (o número de espécies numa comunidade de organismos) (Lovejoy, 1980; Wilson, 1985; Wilson & Peters, 1988; Chauvet & Oliver, 1993). Embora o termo biodiversidade seja recente, as origens remontam há tempos atrás. A necessidade de separar a diversidade de plantas, animais e microrganismos sobre a terra e nos oceanos em grupos reconhecíveis é uma característica humana e permite-nos achar nosso lugar no planeta em que vivemos. Classificação é um processo essencial da mente humana sendo uma ferramenta para sobrevivência. É necessário, por exemplo, saber quais são as plantas e os animais úteis ou quais fungos são comestíveis ou venenosos. Essa atividade de classificação é conhecida com Taxonomia. A primeira tentativa de produzir uma classificação formal vem de Aristóteles séculos antes da moderna taxonomia biológica surgida em meados do século XVIII.

Nosso conhecimento da diversidade de organismos permanece extremamente limitado, mas, tem aumentado grandemente durante os últimos 200 anos, desde que o mundo foi aberto para exploração, colonização e comércio. Todavia, não temos ainda certeza em relação à magnitude da diversidade biológica. Não sabemos ainda quantas são as espécies que ocupam nosso planeta, embora uma estimativa de 13.000.000 de espécies seja aceita, apenas um oitavo deste número está descrito e catalogado nos museus.

Idéias relativas às ligações e relações bióticas e abióticas, entre as espécies de organismos e seus ambientes (Ecologia), se desenvolveram a partir do século XVIII lideradas por naturalistas como Darwin, Humboldt e Wallace, observando os padrões distribuição das espécies e os tipos de vegetação em seus ambientes naturais. Todavia, a Ecologia desenvolveu ferramentas formais para medir e modelar essas relações na primeira metade do século XX.

A diversidade ecológica se refere ao número de espécies numa dada área, o papel que estas espécies desempenham, o modo como a composição de espécies muda, na medida em que ocorre a exploração da região e o grupamento de espécies que incide em uma dada área particular (campina, floresta, etc.), juntamente com os processos e interações que tomam lugar no interior e entre esses sistemas. Este conceito cobre também a diversidade de ecossistemas nas paisagens, e de paisagens nos biomas e de biomas no planeta.

A idéia sobre a diversidade genética é mais recente e está centrada na preocupação com a perda da variabilidade genética das plantas cultivadas, levando ao desenvolvimento de recursos genéticos o qual lida com amostragem, coleta e estoque da variabilidade genética de cultivares e raças domesticadas (Plucknett  et al., 1987; Juma, 1989). A diversidade genética está relacionada à variação intra e inter-populacional de espécies, sendo medida em termos de variação entre genes ou entre seqüência de DNA ou amino ácidos em diferentes populações.

A quantidade de espécies estimadas tem sido alvo de muitas estimativas e, abaixo está uma tabela que ilustra a polêmica, onde estão anotados os números das espécies formalmente descritas e as estimativas totais.


Espécies descritas
Número estimado de espécies
Número de trabalho
Precisão
alto
baixo
Virus
4.000
1.000.000
50.000
400.000
Muito pobre
Bactéria
4.000
3. 000.000
50.000
1.000.000
Muito pobre
Fungi
72.000
2.700.000
200.000
1.500.000
Moderada
Protozoa
40.000
200.000
60.000
200.000
Muito pobre
Algae
40.000
1.000.000
150.000
400.000
Muito pobre
Plantas
270.000
500.000
300.000
320.000
Boa
Nematoda
25.000
1.000.000
100.000
400.000
Pobre
Crustácea
40.000
200.000
75.000
150.000
Moderada
Aracnídea
75.000
1.000.000
300.000
750.000
Moderada
Insetos
950.000
100.000.000
2.000.000
8.000.000
Moderada
Moluscos
70.000
200.000
100.000
200.000
Moderada
Cordados
45.000
55.000
50.000
50.000
Boa
outros
115.000
800.000
200.000
250.000
Moderada
Totais
1.750.000
111.655.000
3.635.000
13.620.000
Muito pobre
                Fonte: Global Biodersity Assessment  (1995)

Por iniciativa da Organização das Nações Unidas – ONU realizou-se no Rio de Janeiro em 1992 a chamada Convenção da Biodiversidade, reunião que ficou conhecida com a ECO-92. Na ocasião, os países participantes estabeleceram normas para conservação e o uso sustentável da biodiversidade. Foi acordado que os recursos genéticos nos territórios de cada país eram assunto de sua soberania, mas a Eco-92 requereu que todo país signatário tome medidas para preservar a sua diversidade biológica. Em 2002 outra Convenção sobre a biodiversidade aconteceu em Johanesburgo, a chamada Rio+10, e representou novos compromissos assumidos pelos países relativos à conservação da biodiversidade.
                 Manutenção da biodiversidade
Após a publicação do livro “A Origem das Espécies” por Darwin em 1859, muitos trabalhos foram publicados explorando as idéias evolucionistas. Entretanto, a idéia da fixidez da superfície terrestre impunha um modelo de evolução que previa a ocupação espacial através da dispersão de espécies que, ao longo do tempo, a partir de centros de dispersão, iam ocupando novas áreas geográficas. Uma das grandes preocupações da Biogeografia pós-Darwin era estabelecer as rotas migratórias para as espécies e, conseqüentemente, orientar as buscas pelos fósseis: a prova definitiva da evolução das espécies. Mas, em 1929, a superfície da Terra ganhou mobilidade quando Alfred Wegener propôs a teoria da deriva continental.  Atualmente existem seis continentes, sendo eles: América, África, Ásia, Oceania, Europa e Antártica. A teoria de Wegener propunha a existência de uma única massa continental chamada Pangéia, que começou a se dividir há 200 milhões de anos atrás.
Esta idéia foi complementada na época por Alexander Du Toit, professor sul-africano de geologia, que postulou que primeiro a Pangéia se separou em duas grandes massas continentais, Laurásia ao norte e Gondwana ao sul (Dietz et al, 1970). Posteriormente estas duas massas teriam se dividido em unidades menores e constituído os continentes atuais. Segundo a teoria da deriva continental, a crosta terrestre é formada por uma série de "placas" que "flutuam" numa camada de material rochoso fundido, as chamadas placas tectônicas. As junções das placas (falhas) podem ser visíveis em certas partes do mundo, ou estar submersas no oceano. Quando as placas se movem umas ao encontro das outras, o resultado do atrito é geralmente sentido sob a forma de um tremor de terra (Ben-Avraham, 1981).

Essa teoria foi muito importante para a compreensão de padrões de distribuição das espécies e contribuiu para mudanças paradigmáticas no pensamento biogeográfico. As semelhanças encontradas na flora e fauna nas áreas tropicais do globo, por exemplo, não era produto da dispersão ou migração das espécies, mas da modificação das populações que estavam presentes na Pangéia que, ao partir-se em dois grandes blocos que migraram na direção norte sul, levaram sobre si parte da biota original que, por sua vez, sofreram pressões seletivas por causa das novas condições geográficas e ambientais, mudando as suas características primitivas.  Com a quebra interna da Laurásia e da Gondwana dando surgimento aos atuais continentes, outra vez houve migração das placas continentais até a posição geográfica atual, fato que gerou novas pressões evolutivas sobre as frações da biota que migraram sobre as placas, resultando nas espécies que atualmente colonizam cada continente. Assim, o conceito de que o que acontece na Terra acontece na vida é o que embasa atualmente o pensamento biogeográfico.  

Há na literatura informação mostrando que as áreas do globo submetidas a tectonismos mais freqüentes, como por exemplo, o sudeste asiático e América Central, também possuem megabiodiversidade (Levin, 1975). A explicação aceita é que os abalos tectônicos provocam freqüentes quebras de territórios estabelecendo barreiras às populações que estavam em simpatria, obrigando as frações resultantes a viverem em alopatria. Posteriormente, ocorre anagênese, ou seja, a evolução progressiva de espécies que envolve uma mudança na freqüência genética ou alélica de uma população inteira. Quando um número suficiente de mutações atinge a fixação numa população de tal maneira que existe uma diferença significativa em relação à população ancestral, uma nova espécie pode ser designada. Portanto, a população vai se modificando gradativamente, em função de continuas alterações nas condições ambientais e na freqüência alélica, resultando em uma população tão diferente da original que pode ser considerada uma nova espécie (Wiley, 1881; Nelson & Platnick, 1981; Eldredge & Cracraft, 1980).
Agora, surge uma pergunta: como explicar a megadiversidade amazônica se esta é aparentemente estável do ponto de vista tectônico?
Estudos geológicos recentes têm demonstrado que o processo geotectônico gerador das bacias no interior da Placa Sul-Americana durante o mesozóico, foi caracterizado por intenso magmatismo básico (Almeida, 1967; Schobbenhaus e Campos, 1984). Isto gerou falhas ou descontinuidades que drenaram a água que havia no interior amazônico.  Igreja (2000) sugere que
Os modernos estudos do Sistema Neotectônico Amazônico indicam que há a possibilidade de aplicação de uma nova visão geométrico-evolutiva para o seu relevo, onde o critério geocinemático seria o componente principal (morfoestruturas), e numa dinâmica mais “violenta” que antes considerada, constatada inclusive por importantes sismos... A megaestruturação dos rios amazônicos, por exemplo, obedecem a uma distribuição ordenada e previsível no contexto de um grande sistema de falhas transcorrentes destrais.

 Por outro lado, a progressiva implantação da rede de estações sismográficas na região amazônica vem contribuindo, para melhor investigação dos movimentos geotectônicos lentos, moderados, rápidos e instantâneos (sismos), permitindo as primeiras sismodelineação das principais zonas ativas da Amazônia (Veloso et al. 1997). Segundo Igreja (2000) observa-se neste aspecto que também caiu por terra a concepção de estabilidade tectônica amazônica, pelo contrário, como já apontavam registros históricos (Sternberg, 1950), a Geodinâmica Amazônica Cenozóica é intensa, apenas, ainda desconhecida.
Conforme o acima exposto verifica-se no vasto território amazônico muito tectonismo; os grandes rios têm seus leitos por sobre fendas geológicas, sendo as áreas interfluviais placas geológicas distintas e com biotas específicas.

Hoje são reconhecidas oito áreas de endemismo na Amazônia (Guiana, Imeri, Napo, Inambari, Rondônia, Tapajós, Xingu, Belém) (Silva et al.,2005) baseadas na distribuição de vertebrados, mas coincidentes com distribuições de plantas e insetos, as quais se superpõem aos interfluvios, conforme o mapa abaixo.
A Amazônia não é uma região homogênea ou uma entidade biogeográfica única, mas um complexo de unidades geológicas que carregam biotas distintas, sendo por isso, muito diversa e de difícil compreensão. 

 
Fonte: Silva et AL (2005)

CHAVE DE ACESSO À BIODIVERSIDADE
O caminho inteligente para uso da biodiversidade é através da caracterização e da compreensão da linguagem que dá acesso a ela.  Tal linguagem é a taxonomia, que é um ramo da sistemática que nomeia, descreve e classifica a espécie (Blackwelder, 1967). Nomes são palavras, uma curta sentença de símbolos que facilitam a descrição e o reconhecimento. Um nome científico é único, uma chave crítica que abre a informação sobre tudo o que está conhecido sobre organismos vivos. Os nomes científicos são mais que nomes, são chaves que guardam e recuperam informações funcionando como o número do CPF de um cidadão.  Homo sapiens é o único nome que guarda e recupera informações sobre o homem e, além disso, o coloca numa ordem hierárquica de classificação.
A classificação biológica está baseada na aceitação de uma única história comum para a vida e, conseqüentemente, reflete esta história comum em seu arranjo hierárquico.  A sistemática é a ciência que estuda o sistema vivo, compreendendo e analisando as espécies e suas relações, buscando ponderar a biodiversidade. A menos que conheçamos as relações entre as espécies (táxon, taxa), torna-se muito difícil determinar a significância de um caráter, como por exemplo, uma diferença química. Se soubermos que um táxon possui um caráter químico de interesse econômico, conhecer quais são os taxa que estão relacionados proximamente pode expandir a gama de caracteres químicos semelhantes.  Através de uma matriz de caracteres pode-se ler todos os caracteres relevantes de um táxon particular ou qual táxon possui um caráter especial.

              O VALOR DA BIODIVERSIDADE
De acordo com Norton (1988), às espécies pode-se atribuir valor de commodity, de amenidade e valor moral. Dizemos que uma espécie tem valor de commodity se pode ser transformada em produto vendido no mercado. Neste caso, às espécies são atribuídos valores diretos. Todavia, pode-se valorar de forma indireta como ocorre na indústria farmacêutica, uma vez que muitos medicamentos são cópias sintéticas de químicos produzidos biologicamente (Lewis & Elvin-Lewis, 1977).
Uma espécie tem valor de amenidade se sua existência ajuda a melhorar a vida, de alguma maneira, não material. Aspectos estéticos ou espirituais, ou ainda aspectos de entretenimento são algumas formas de atribuir valor de amenidade. A natureza, em muitos casos, serve como modelo para criação artística ou mesmo de inspiração na solução de problemas de engenharia que ajudam a gerar mecanismos, estética, diversão, paisagismo, etc.
Em relação ao valor moral, muitos autores advogam que, independentemente dos valores e dos usos que a humanidade atribui às espécies, estas possuem valor em si mesmas. Talvez, seja suficiente dizer que as espécies possuem valor moral mesmo que o valor moral dependa de conceitos humanos (Norton, 1988). Thoreau (1942) afirma que a simples observação de outras espécies nos ajuda a viver melhor. Por outro lado, as espécies podem atuar como fontes morais aos humanos, ajudando-os a formar, refomar e melhorar seus próprios sistemas de valores (Norton, 1988). Tanto quanto passa o tempo, nosso conhecimento sobre as espécies vai sendo incrementado, adicionando também novos usos às espécies (mais valia no sentido das commodities), novos níveis de valores estéticos e novos valores morais, os quais não reconhecemos no presente.
O valor em dólar da diversidade biológica é muito difuso, ou seja, somente é possível atribuir um valor econômico se se pode de alguma forma, valorar os usos que uma espécie poderá oferecer.  Fisher & Hanemann (1985) valoraram uma nova gramínea silvestre descoberta no México, como valendo 6.82 bilhões de dólares, por ser proximamente relacionada com o milho e por oferecer possibilidade de cruzamentos para fornecer híbridos perenes de milho. Mas, é preciso, primeiramente conhecer a diversidade, ou seja, quantificá-la e classificá-la, para depois atribuir valor econômico.  Mesmo tendo-se ciência do valor de uma espécie, explorá-la, nem sempre, é tarefa simples, considerando que espécies dependem de outras para sua sobrevivência e, conseqüentemente, a domesticação agronômica pode ser inviável, em alguns casos, ou pode ser que demore anos para que seja viável economicamente. Há espécies que são criticas em seus ecossistemas, das quais tantas outras dependem em diferentes graus. Rapidamente concluímos que o valor da diversidade biológica representa mais do que a simples soma algébrica de suas espécies.

AS ÁREAS MEGADIVERSAS
Uma tendência de aumento da biodiversidade com o decréscimo da latitude pode ser observada para vários grupos de animais; mais espécies vivem em determinada área dos trópicos do que em áreas de mesmo tamanho nas zonas de mais altas latitudes.  Esse padrão tem se verificado para mamíferos (Simpson, 1964), pássaros (Cook, 1969), répteis e anfíbios (Kiester, 1971) e insetos (Stork, 1988), entre outros. Não é, entretanto, a latitude o fator que determina a diversidade, mas outros fatores potencialmente importantes, tais como a temperatura, a precipitação total, a variação sazonal na precipitação e o fluxo de energia no ecossistema determinam o padrão de distribuição da biodiversidade (Stork, 1995).
Outra variável que certamente exerce um papel decisivo na distribuição dos táxons é o tectonismo. Fonseca (1988) estudando coleópteros da família Passalidae (INSECTA, SCARABAEOIDEA) verificou que nas áreas de maior intensidade tectônica a diversidade de gêneros é maior do que naquelas de maior estabilidade. Um exemplo que sobressai é o número de gêneros de besouros Passalidae no continente africano (três) contra o número de gêneros do mesmo grupo na ilha de Madagascar (seis) e Sudeste asiático (vinte e dois), ambos com forte tectonismo. O mesmo ocorre na América do Sul, onde o referido grupo está representado por oito gêneros, contrastando com a America Central com vinte gêneros. Este padrão parece ser recorrente para outros grupos de insetos, considerando a quantidade de endemismos nestas áreas de alta tensão tectônica.

            ESPÉCIES CONHECIDAS
A avaliação da diversidade biológica é complexa e varia de acordo com os objetivos definidos. Usualmente, consideram-se quatro razões para fazer avaliações da diversidade (Burley & Gauld, 1994; Bachmann, Köhl, Päivinen, 1998):
a.       Para compreensão científica da estrutura, função e evolução dos ecossistemas, necessário para basear o manejo de recursos;
b.      Para conservação e desenvolvimento de germoplasma para melhoramento genético de espécies para florestas plantadas e agrofloresta;
c.       Para monitorar as mudanças naturais e antropogênicas na diversidade biológica provocadas pelo impacto do manejo da terra;
d.      Para decidir áreas prioritárias para conservação da biodiversidade por razões éticas, estéticas, religiosas, culturais, científicas ou para futura prospecção.

Qualquer que seja o índice ou indicador requerido, e qualquer que seja a escala ou intensidade de amostragem usada, a avaliação da biodiversidade emprega muitos métodos. Esses incluem a expansão do tradicional inventário florestal para inventário multitaxon baseado em sítios de amostragem temporários ou permanentes, ou ainda sítios de pesquisa ecológica de longa duração adotados pela UNESCO, Smithsonian Institution, FAO e outras agências internacionais. Tais inventários são facilitados e incrementados por sensoriamento remoto e sistemas de bancos de dados e informação geográfica. Métodos bioquímicos modernos estão se tornando de amplo uso para avaliações rápidas e precisas da diversidade genética, sistemática e populações genéticas no nível do DNA e da proteína (Glaubitz & Moran, 2000).

O conhecimento do número de espécies que vivem no nosso planeta é parcial, porque muitas espécies ainda não foram descritas; incorreto, porque existem erros de julgamento taxonômico e de outros tipos, sendo que para alguns grupos o número apresenta melhor acuidade do que para outros. Além de serem incompletos, para muitos grupos os dados sobre espécies descritas são pobremente organizados, de modo que o número de espécies reconhecidas é uma aproximação. Não é de estranhar que os números de espécies descritas informadas por autores de renomada competência variam consideravelmente (Hammond, 1995; Gaston, 1991). No entanto, foram descritas aproximadamente 1,7 milhões de espécies, dessas, cerca de 1.300.000 são animais, conforme tabela abaixo.
BACTÉRIA
(bacteria, cyanobacteria, algas verdes e azuis, etc)
[c. 4.000]†
ANIMALIA
1.320.000
ARCHEA
(halobacteria, methanogens, eocytes, etc)

METAZOA
1.320.000
EUKARIA


Porifera (esponjas)
10.000
PROCTISTA
(protozoa, algae,etc)
80.000
Cnidaria (hidras, corais, águas marinhas
10.000
Actinopoda
6.000
Plathyhelmintes (vermes achatados)
20.000
Foraminifera
10.000
Nematoda
(vermes arredondados)
25.0000
Cilophora
8.000
Echinodermata (ouriço do mar)
6.000
Sporozoa
5.000
Chordata (peixes, aves, mamíferos, etc)
45.000
Rhodophyta (alga vermelha)
5.000
Arthropodas (caranguejos, aranhas, insetos, etc)
1.085.000
Gamophyta (alga verde)
10.000
Mollusca
(Caracol, lula, etc)
70.000
Bacillariophyta (diatomaceae)
12.000
Anellida
 (vermes segmentados)
12.000
PLANTAE
270.000
VIRUS
[c.4.000]
Musgos, hepáticas
16.000


Pteridófitos
10.000


Spermatophyta
(plantas com semente)
240.000


FUNGI
72.000


Fonte: Global Biodiversity Assessment (1995)

Entre os animais, os artrópodes são os mais numerosos sendo que alguns grupos são hiperdiversos, tais como: Diptera (120.000 espécies); Hymenoptera (130.000 espécies); Lepidoptera (150.000 espécies) e Coleoptera (400.000 espécies).
A taxa de descrições de novas espécies está na casa de 13.000 por ano e tem se mantido assim nas ultimas duas décadas. Entretanto, apesar da alta taxa de descrição, os incrementos em espécies válidas têm sido baixos, especialmente para os grupos pouco conhecidos.

            USO DA BIODIVERSIDADE ANIMAL PELO HOMEM

       AQÜICULTURA
A produção mundial de pescado através de pesca e aqüicultura é de aproximadamente 142 milhões de toneladas por ano, segundo os dados da FAO (2006), correspondendo ao consumo per capita de 16,6 Kg. Desse total aqüicultura responde por 43%.  De toda proteína animal consumida mundialmente, o pescado representa, pelo menos, 20% da média per capita. Entre 2004 e 2005 houve um acréscimo de um milhão de toneladas na produção. Tal produção representa uma estimativa de US$84.9 bilhões.

Fonte: FAO

Aqüicultura tem crescido mais rapidamente do que qualquer outro tipo de produção animal, com média de 8,8% ao ano desde 1970. A pesca cresceu 1,2% enquanto que o sistema de produção terrestre de carne cresceu 2,8%.
A pesca de fauna aquática quer de água doce, quer marinha, para a América do Sul está resumida na tabela abaixo, onde o Chile e o Peru aparecem como os maiores produtores:
PAÍSES
PEIXES DE ÁGUA DOCE
PEIXES DE MAR
CRUSTACEOS
MOLUSCOS
CEFALÓPODES
ARGENTINA
37
761
29
50
77
BOLIVIA
6
1



BRASIL
420
436
137
19
4
CHILE
569
4563
20
178
177
COLOMBIA
93
97
22
0
0
EQUADOR
8
333
58
0
0
GUYANA
1
38
19
0
0
PARAGUAY
24
0
0
0
0
PERU
44
9239
14
52
284
SURINAME
0
19
14
0
0
URUGUAY
2
110
3
3
5
VENEZUELA
55
356
46
54
2
               Fonte FAO (toneladas x 1000)
A produção brasileira de pescado, segundo dados da FAO para o ano de 2004 foi da ordem de 856 mil toneladas, sendo que foram pescadas 137 mil toneladas de crustáceos (camarões de caranguejos), 19 mil toneladas de moluscos (conchas) e 4 mil toneladas de cefalópodes (polvos e lulas).
Para a região norte do Brasil, a produção de alimentos a partir da aqüicultura representou (IBAMA, 2005) 8,1% da produção nacional (257.780,0 toneladas), ou seja, 19.984,5 toneladas, sendo que a produção do Estado do Amazonas 5.515,0 toneladas, perfazendo 9,1% da produção estadual, onde a pesca artesanal (90,9% da produção) foi de 55.412,5 toneladas.
Produção estimada relativa à pesca extrativa industrial, artesanal e aqüicultura, no Brasil e nos Estados da região Norte para o ano de 2005.
UF
Pesca Extrativa
Aqüicultura
Total
Industrial
%
Artesanal
%
Total
%
t
BRASIL
232.429,
23,0
518.863,5
51,4
257.780,0
25,5
1.009.073,0
REGIÃO NORTE
16.115,0
6,6
209.164,0
85,3
19.984,5
8,1
245.263,5
Rondônia
0,0
0,0
2.329,0
35,9
4.151,0
64,1
6.480,0
Acre
0,0
0,0
1.487,5
42,4
2.023,0
57,6
3.510,5
Amazonas
0,0
0,0
55.412,5
90,9
5.515,0
9,1
60.927,5
Roraima
0,0
0,0
783,0
28,5
1.967,0
71,5
2.750,0
Pará
16.022,0
10,9
128.523,0
87,5
2.350,5
1,6
146.895,5
Amapá
93,0
0,5
18.907,0
97,6
378,0
2,0
19.378,0
Tocantins
0,0
0,0
1.722,0
32,4
3.600,0
67,6
5.322,0
Fonte: IBAMA (2005)
O setor pesqueiro nacional representa em média R$ 5 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB) relativo à pesca e gera cerca de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos.


O consumo de peixes no Brasil é de aproximadamente 7 Kg por habitante/ano, segundo estudo do IBGE (2006), sendo que a média mundial é de 16 Kg/hab/ano e o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 12Kg/hab/ano. Alguns Estados do país, tal como o Amazonas, têm o peixe como base da alimentação, mas outros têm consumo abaixo da média nacional.

Vida silvestre como fonte de alimentos
O consumo de proteína animal oriunda da vida silvestre varia muito através dos continentes. Na África, uma importante fonte de proteína animal vem da caça de espécies das savanas, mormente ruminantes, porcos, macacos e roedores, entre outros (FAO, 2007). A variação de espécies de relativa importância tem sido documentada para algumas áreas do continente e variam de localidade para localidade, dependendo da disponibilidade e das restrições legais em muitos países.
Espécies de mamíferos usados como fonte de alimento em relação ao ambiente
PAÍS
POVO INDÍGENA
AMBIENTE
NÚMERO DE ESPÉCIES
Zaire
Mbuti
Floresta
57 (60)
Zaire
BaMbote
Floresta
35 (90)
Kenya
Dorobo
Floresta/Savana
26 (41)
Botswana
Kung
Savana seca
28 (58)
Tanzania
Tongwe
Floresta
37 (91)
Kenya
Rendille
Semi-deserto
7 (29)
Kenya
Turkana
Savana seca
44 (56)
                                Fonte: Ichikawa (1993)
Há estudos mostrando a composição da dieta de alguns grupos étnicos que vivem  no oeste africano (Takeda & Sato, 1993; Takeda, 1990)
Números de espécies de diferentes grupos faunísticos usados com fonte de alimento entre três grupos étnicos africanos
GRUPO
HORTICULTURISTAS
CAÇADORES

BOYELA
NGANDU
MBUTI
Mamíferos
52
62
57
Pássaros
38
46
113
Répteis
14
20
7
Anfíbios
8
2
2
Peixes
51
104
22
Insetos
22
51
29

Estes números apenas exemplificam como a fauna silvestre ainda é utilizada como fonte alimentícia em certas regiões do mundo, mas não iremos nos alongar com outros exemplos, embora se saiba que a caça é ainda utilizada nas regiões mais abastadas em recursos financeiros e de informações, para o preparo de iguarias exóticas e, às vezes, consideradas sofisticadas.
De outro lado, a produção de proteína animal através da atividade de pecuária ao redor do mundo é muito expressiva, sendo da ordem de 260 mil toneladas em 2004, segundo os dados produzidos pela FAO. Na America do Sul o Brasil é de longe o maior produtor, representando 7,66% da produção mundial, seguido pela Argentina, Colômbia, Chile e Venezuela, conforme a tabela abaixo:

PRODUÇÃO DE CARNE (1000 TON.)

AREA/
TEMPO
2003
2004
% NO MUNDO 2004
ARGENTINA
3.762
4.175
1.61
BOLIVIA
440
446
0.17
BRASIL
18.388
19.919
7.66
CHILE
1.041
1.126
0.43
COLOMBIA
1.494
1.587
0.61
EQUADOR
579
591
0.23
GUYANA
27
27
0.01
PERU
939
958
0.37
PARAGUAY
351
414
0.16
SURINAME
9
9
0.00
URUGUAY
530
602
0.23
VENEZUELA
1.238
1.170
0.45
MUNDO
253.688
260.098

                                                  Fonte: FAO

Os números indicam o papel desempenhado pelas espécies da fauna domesticada na produção de riqueza para os países. No caso brasileiro, tal produção representou para o ano de 2005 recursos da ordem de 35 bilhões de dólares.

          RIQUEZA PRODUZIDA NA AMERICA DO SUL ADVINDA DA DIVERSIDADE ANIMAL ($1000)

AREA/
TEMPO
2004
2005
ARGENTINA
9.729.364
9.399.912
BOLIVIA
786.655
774.246
BRASIL
37.214.120
34.929.980
CHILE
1.990.255
1.960.493
COLOMBIA
4.147.992
4.068.392
EQUADOR
1.422.021
1.314.944
GUIANA FRANCESA
2.870
2870
GUYANA
41.805.
41.805
PARAGUAY
840.625
840.334
PERU
1.215.513
1.700.932
SURINAME
16.200
16.200
URUGUAY
1.539.206
1.537.569
VENEZUELA
2.412.409
2.272.120
Fonte: FAO

Tomando-se uma fotografia da produção pecuária no Brasil, nos últimos cinco anos, tem-se um quadro de aumento significativo para o rebanho bovino, mas certa estabilidade para outros tipos de rebanhos e, até mesmo para galináceos e coelhos, conforme os dados produzidos pelo IBGE para o período 2000/2005:             

Brasil
Tipo de Rebanho
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Bovino
169.875.524
176.388.726
185.348.838
195.551.576
204.512.737
207.156.696
Eqüino
5.831.817
5.801.055
5.774.493
5.828.376
5.787.250
5.787.249
Bubalino
1.102.551
1.118.823
1.113.400
1.148.808
1.133.622
1.173.629
Asinino
1.242.177
1.239.025
1.217.122
1.208.660
1.196.324
1.191.533
Muar
1.347.855
1.345.656
1.339.161
1.345.389
1.358.419
1.388.665
Suíno
31.562.111
32.605.112
31.918.749
32.304.905
33.085.299
34.063.934
Caprino
9.346.813
9.537.439
9.429.122
9.581.653
10.046.888
10.306.722
Ovino
14.784.958
14.638.925
14.277.061
14.556.484
15.057.838
15.588.041
Galos, frangas, frangos e pintos
659.245.547
692.654.775
703.718.166
737.523.096
759.512.029
812.467.900
Galinhas
183.494.626
190.233.644
180.427.006
183.799.736
184.786.319
186.573.334
Codornas
5.775.181
6.045.342
5.575.068
5.980.474
6.243.202
6.837.767
Coelhos
375.573
348.779
337.135
335.555
324.582
303.640
    Fonte: IBGE, Pesquisa Pecuária Municipal (PPM)















Quando olhamos o tamanho do rebanho bovino brasileiro, da ordem de 207 milhões de cabeças, na perspectiva da ocupação espacial das regiões do país, verificamos que a região norte é a segunda maior produtora com 41 milhões de cabeças, e o Estado do Amazonas colabora com 1.197.171, representando 28,85% do rebanho regional, de acordo com os dados do IBGE para 2005.



Efetivo dos rebanhos (Cabeças)
Rebanho Bovino
Ano 2005
#
Brasil, Região Geográfica e Unidade da Federação

1
Brasil
207.156.696
2
Centro-Oeste
71.984.504
3
Norte
41.489.002
4
Sudeste
38.943.898
5
Sul
27.770.006
6
Nordeste
26.969.286
7
Amazonas
1.197.171

                             










Fonte: IBGE

A fauna pode ser ainda avaliada considerando outras variáveis ou produtos que são considerados como tendo relevância como bens de consumo, logo, considerados de mais valia para o comércio nacional e internacional. Na tabela abaixo (IBGE,2005) vemos alguns quantitativos para o Brasil, para a região norte:

Produção de origem animal

Ano 2005
Brasil, Região Geográfica e Unidade da Federação
Tipo de produto

Brasil
Leite (Mil litros)
24.620.859
Ovos de galinha (Mil dúzias)
2.773.429
Ovos de codorna (Mil dúzias)
117.638
Mel de abelha (Quilograma)
33.749.666
Casulos do bicho-da-seda (Quilograma)
7.448.904
Lã (Quilograma)
10.777.534
Norte
Leite (Mil litros)
1.743.253
Ovos de galinha (Mil dúzias)
75.758
Ovos de codorna (Mil dúzias)
1.378
Mel de abelha (Quilograma)
653.467
Casulos do bicho-da-seda (Quilograma)
-
Lã (Quilograma)
-

Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal





Um sobrevôo sobre o dados mostram que para a região Norte existem ainda lacunas que poderiam ser preenchidas, pois seriam alternativas que gerariam mais renda, considerando as peculiaridades locais. Uma delas é a produção de mel de abelhas, representando atualmente apenas uma tonelada/ano. Para essa atividade seriam necessários recursos financeiros para dar o chamado “startup”, significando cursos de treinamento para a criação e manejo das colméias, bem como para o gerenciamento comercial. Parece-nos outra lacuna a exploração da seda, uma atividade nula na região norte. Há muitas espécies de Lepidoptera (borboletas) nativas que produzem seda, todavia, a domesticação dessas espécies demanda estudos científicos para dominar o manejo, mas, além disso, estudos de melhoramento genético para aumentar a produtividade dos insetos, ou seja, tempo, preparação de recursos humanos e principalmente perseverança.

Efetivo dos rebanhos (Cabeças)
Ano 2005
Brasil, Região Geográfica e Unidade da Federação
Tipo de rebanho

Brasil
Bovino
207.156.696
Eqüino
5.787.249
Bubalino
1.173.629
Asinino
1.191.533
Muar
1.388.665
Suíno
34.063.934
Caprino
10.306.722
Ovino
15.588.041
Galos, frangas, frangos e pintos
812.467.900
Galinhas
186.573.334
Codornas
6.837.767
Coelhos
303.640
Norte
Bovino
41.489.002
Eqüino
668.057
Bubalino
728.004
Asinino
41.038
Muar
194.582
Suíno
2.100.033
Caprino
154.678
Ovino
481.528
Galos, frangas, frangos e pintos
18.219.721
Galinhas
9.255.563
Codornas
83.455
Coelhos
2.317



























Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal


























          BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA

A Amazônia detém cerca de 1/10 da biota universal e, conseqüentemente, é um gigantesco banco genético. Essa heterogeneidade típica dos ambientes tropicais gera problemas para a ocupação humana e para exploração dos recursos naturais, considerando que a baixa densidade demográfica e ausência de tecnologia apropriada para extração e exploração industrial, aliada ao alto custo operacional aumentam a distancia entre a Amazônia e o chamado primeiro mundo. Apesar do grande potencial econômico não há ainda ciência local para a transformação da rica diversidade genética em bens de consumo. Por isso, precisamos de mais ciência e biotecnologia no nível micro, macro e mega, para que possamos utilizar inteligentemente esses recursos da flora e fauna, sem destruir as opções do futuro.

Salati et al (1998) chamam atenção para o problema da diminuição da biodiversidade, o qual está relacionado com os processo de redução da variabilidade genética. Assim, o uso dos recursos naturais vivos passa pela resposta a algumas questões de fundo: 1) Como cada população é regulada, isto é, qual a amplitude da taxa de nascimento e morte dos indivíduos?; 2)Até que nível cada população é regulada e/ou dependente do comportamento de cada indivíduo?; 3) Como as espécies interagem entre si como mutualistas, competidoras ou na relação predador-presa?; 4) Como a cadeia alimentar determina a estrutura de uma comunidade, e se a extinção de uma determinada espécie afeta a existência de outras espécies?; 5) Como as mudanças ambientais afetam os organismos, do nível individual ao nível do ecossistema.

ESPÉCIES CONHECIDAS (TIPOS NAS COLEÇÕES)

O estado atual do conhecimento sobre a biodiversidade amazônica mostra um grau acentuado de incertezas. No entanto alguns números estimam a riqueza em espécies, como por exemplo:
                       427 espécies de mamíferos
                       1249 espécies de aves
                       378 espécies de repteis
                       427 espécies de anfíbios
                       3000 espécies de peixes
                      40000 espécies de plantas
Estima-se ainda que a Amazônia albergue de 20 a 100 mil espécies de microrganismos;1 a 10 milhões de espécies de invertebrados e 5 a 7 mil  espécies de vertebrados.
Considerando a história, dois fatos colaboraram para o incremento da coleta e catalogação de organismos vivos: a descoberta de novos continentes no final do século XV e início do século XVI e a invenção do microscópio. No Brasil, há coleções biológicas desde o século XIX e, especificamente na Amazônia, há coleções nas principais instituições de ensino e pesquisa, sendo a coleção do Museu Paraense Emílio Goeldi a mais antiga. No caso das instituições oficiais, estas coleções têm sido reunidas por inúmeros especialistas, desde os primeiros viajantes naturalistas aos pesquisadores atualmente em atividade.
A importância de coleções está no fato de que “concentram as informações sobre as espécies que, incorporadas a bancos de dados eficientemente, podem gerar uma série de benefícios (Brandão et al., 1998). Canhos (2004) assinala que as coleções biológicas não devem ser consideradas como meros depositórios de espécimes  mortos, para mera constatação da sua existência em determinado momento do tempo, mas que a missão dessas coleções é de documentar, compreender, educar o mundo sobre a vida em nosso planeta , passado e presente. Além disso, salienta ainda que devem conter informações em quantidade e qualidade, de forma que sejam capazes de promover pesquisas, sendo base de dados importantes para nortear programas de preservação da diversidade biológica, tornando-se fatos sociais estratégicos para orientar tomadas de decisões.
As coleções demandam iniciativas multi e interdisciplinares, requerendo ambientes de cooperação nacional e internacional, de modo a formar um conjunto de informações comparativas. Na verdade, as coleções são repositórios de recursos genéticos que podem ser úteis às atividades econômicas, especialmente no caso amazônico, onde, devido as suas características, há forte tendência para o desenvolvimento da biotecnologia. 
As instituições de pesquisas locais, embora conscientes do valor da biodiversidade, e a despeito de esforços recentes do governo federal, ainda não receberam recursos suficientes para manterem programas estáveis de coleta e catalogação das espécies regionais. A ausência de uma política regional ou mesmo institucional de coletas revela-se através das coleções zoológicas mantidas por elas, onde o material testemunho da diversidade faunística não representa, talvez, um terço da riqueza genética disponível. Nota-se que os acervos estão relacionados à presença de especialistas, uma vez que não há representatividade de todos os grupos, conforme mostram as tabelas abaixo:

Acervo faunístico (número de exemplares)nas coleções do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) (Fonte: Páginas das instituições na internet) spp = número de espécies.


INPA
MPEG
IEPA
INSETOS
330.201
2000.000
30.000
ARTRÓPODES
3.800
10.000
lotes
10.000
51 spp
MOLUSCOS



MAMIFEROS
5.237
36.000
1.100
120 spp
AVES
700
80.000
1.372
300 spp
ANFÍBIOS E RÉPTEIS
16.500
60.000

PEIXES
25.500 Lotes
10.000
lotes
















Exemplares tipos (Holótipos e Parátipos) depositados nas coleções do INPA, MPEG e IEPA (Fonte: Páginas das instituições na internet) spp = número de espécies.

INSTITUIÇÕES
TIPOS
INVERTEBRADOS
VERTEBRADOS
INSECTA
ARTRÓPODES
MOLUSCOS
MAMIFEROS
AVES
ANFÍBIOS E RÉPTEIS
PEIXES
INPA
1.500
?
0
42
0
10
348
IEPA
0
0
0
0
0
0
0
MPEG
2.200
+ 300 spp
73
16 spp
0
50

0
244
36 spp

79
10 spp

No que tange à diversidade das copas das árvores, ambiente considerado a última fronteira a ser explorada, alguns autores (Erwin, 1982; 1983a,b; 1989; Adis et al., 1997,  1998a) já demonstraram a riqueza de artrópodes em florestas amazônicas. Hurtado et al. (2003), estudou, na Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada na rodovia AM-010, Km 25, Manaus, Amazonas, a densidade de artrópodes nas copas de três espécies de árvores da família Sapotaceae e seis espécies da família Lecytidaceae, encontrando média de 325,34 indivíduos/m2, cifras superiores a quaisquer outras já levantadas nos trópicos do mundo.

BIOPROSPECÇÃO
A bioprospecção pode ser definida como o método ou forma de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a diversidade de vida existente em determinado local, e tem como objetivo principal a busca de recursos genéticos e bioquímicos para fins comerciais.  
O século XXI parece definir-se como o século da Biologia, desde o final dos anos 1990 que a biotecnologia vem despertando o interesse dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo a agronomia o ramo de atividade onde a biotecnologia tem maior expressividade, uma vez que aumenta o interesse pela agregação de valor na forma de novos alimentos, fibras, aromas, novos materiais biológicos, além de sistemas produtivos que garantam sustentabilidade e segurança ambiental. A perspectiva que a biotecnologia disponibiliza permite vislumbrar oportunidades de inovação nas áreas de saúde, maio ambiente, ciências da vida. Este conhecimento estimula novas ciências tais como a genômica, a bioinformática, engenharia metabólica, agenciando melhoria social e produção de riqueza. Na medida em que aumenta o interesse por agregar valor à agricultura, ou seja, melhoramento genético, a biodiversidade será o grande alvo, buscando-se diversificação de espécies, sistemas e processos (Lopes et al, 2005). Mas, biotecnologia é a somatória de esforços em disciplinas tais como ciências biológicas, química e engenharia (Fig. 1 )



Fonte: UFSC 2009
Figura 1. Esquema da interação entre Biologia, Química e engenharia para formar a biotecnologia.

O desenvolvimento da biotecnologia pressupõe ainda a união de três elementos: área governamental, setor acadêmico e setor produtivo. A prospecção inicia-se com uma demanda do setor produtivo que, necessita atendimento através de pesquisa. Esta é principalmente desenvolvida nas universidades e instituições de pesquisa. O apoio governamental é imprescindível, uma vez que o setor produtivo requer apoio no que tange à legislação, incentivos e abertura de mercados. A academia, por seu turno, demanda treinamento, infra-estrutura e manutenção, especialmente do governo, mas o setor produtivo pode e deve apoiar a pesquisa fornecendo insumos e até mesmo infra-estrutura. A sinergia requerida dos atores é o propelente da biotecnologia e bioprospecção. Um forte exemplo desta sinergia são os parques tecnológicos onde os três setores citados encontram-se formando o fluxo da figura abaixo.





A Biotecnologia poderá ser, no caso amazônico, uma via de desenvolvimento importante e que valorizará a floresta em pé, favorecendo a atividade fabril de acordo com os protocolos ecológicos corretos.

SERVIÇOS AMBIENTAIS
Serviços ambientais são definidos pela capacidade da natureza de fornecer qualidade de vida e comodidades para a manutenção da vida e de seus processos. Exemplos de serviços ambientais são a produção de oxigênio, a purificação do ar pelas plantas, a estabilidade das condições climáticas com a moderação da temperatura, as chuvas, a força dos ventos e das marés, o equilíbrio do ciclo hidrológico, o controle das enchentes e das secas, etc.
A manutenção da biodiversidade constitui um serviço ambiental de abrangência mundial, uma vez que alguns benefícios são indispensáveis para a própria sobrevivência humana, tais como o estoque do material genético que alimenta o sistema agrícola, por exemplo. Por outro lado, a manutenção dos fluxos de energia em florestas como a amazônica, depende da preservação da biodiversidade. O desaparecimento de uma espécie causa   solução de continuidade na termodinâmica do ecossistema ao qual ela pertence. Tal perda sempre diminuirá a eficiência de ecossistemas e, por conseqüência, dificuldades nos serviços ambientais.

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