quinta-feira, 5 de março de 2020

O grande conflito possui formatos que podem não estar perceptíveis



O grande conflito que se desenvolve em toda orbe possui formatos que podem não estar perceptíveis a todos os envolvidos. A questão religiosa está formatada em de dois sistemas contemplativos, os quais são os portais utilizados, pelos humanos, para interação com elementos considerados transcendentais. Há o sistema proposto por Deus, com dispensações que abrangeram os chamados patriarcas bíblicos, depois o judaísmo e por fim o cristianismo. Também há o sistema que faz a contrafação ao sistema de Deus, dissimulado e de difícil demarcação. Para as duas últimas dispensações, o conflito aparece em nuances que, quando analisadas cuidadosamente, permitem ver estratégias semelhantes a ambas dispensações para descaracterizações das ordens de Deus.

A principal estratégia do segundo sistema é a introdução de confusão na interpretação bíblica, causando a simplificação para introdução de tradições humanas no sistema de Deus, tirando a pureza das ordens divinas, descentralizando Deus e colocando homens como mediadores, dando às tradições humanas como que força divina, tornando o sistema religioso centrado na Terra e não no céu. E nem poderia ser diferente, uma vez que o inimigo está restrito ao planeta desde a sua precipitação, conforme Apocalipse 12:9.
É também muito importante verificar como esse conflito ocorreu em tempos anteriores ao judaísmo. Uma das maneiras de analisar é buscando ver os acontecimentos da torre de Babel. Depois que as águas do dilúvio secaram, algum tempo após, os homens planejaram superar qualquer futura ameaça de inundação construindo uma torre, cuja altura deveria ultrapassar a altitude à qual as águas alcançaram no dilúvio (Gênesis 11). Porém, resolveram que isso não era suficiente, e propuseram alcançar as nuvens, uma vez que a chuva veio das nuvens, logo, poderiam estudar como conter as chuvas e, consequentemente, surpreender Deus impedindo outro dilúvio. Aliás, essa é a razão por que as nações investem em pesquisas científicas. Sabendo das causas, poderão administrar a natureza, ou seja, poderão antever desvantagens, mas também, aproveitar fenômenos benéficos provocando as suas causas. Essa arrogância humana é uma das consequências do pecado, pois a inobservância da Lei de Deus significa independência Dele. E assim caminha a humanidade. O sistema científico mundial busca dar à humanidade capacidade para transgredir as ordens divinas. Porém, a concepção da filosofia científica inebria a humanidade quando quer garantir que os humanos devem e podem, por si mesmos, buscar as soluções para suas mazelas. Em muitos casos, a ciência tem se mostrado, em sua altivez, ser capaz de resolver muitas questões, sendo que está até mesmo propondo a imortalidade para 2050 (https://canaltech.com.br/saude/imortalidade-sera-alcancada-em-2050-dizem-cientistas-108478/).

Porém, no caso da torre de Babel, a arrogância humana foi abatida pela onipotência divina. Os sábios da época foram tolhidos na sua mais importante ferramenta, a fala ou a capacidade de comunicação. É importante lembrar que a fala é uma das características próprias de Deus, com a qual Ele abençoou a coroa da criação, mas foi na fala que Deus interferiu para mostrar que os homens não possuem nada de si mesmos e que estão sob controle divino. Desde esse episódio em diante, não mais a humanidade obteve unanimidade. Tal fato, conteve a arrogância, em muitos aspectos.

Durante a dispensação judaica, mesmo que a Torá estivesse em domínio de Israel, a chamada consciência coletiva, ou seja, as tradições próprias somadas às tradições dos povos vizinhos, atuaram como óculos que vedaram uma visão pura das ordens divinas. As tradições acabaram por colimar interpretações da Torá eivadas de egoísmo (a principal “virtude” do sistema do inimigo), transformando os ritos em obrigações que objetivavam aplacar a ira de Deus e conceder méritos aos usuários. Os ritos são interfaces de ensino sobre como transpor o impedimento (devido ao pecado) entre Deus e a humanidade, além de demonstrações humanas de fé e humildade no trato com os céus, nada concedendo em relação ao mérito humano e consequente salvação.

Assim, os judeus criaram um sistema religioso com abundância de regras, as quais eram ensinadas pelos sábios, mas que somente eles as entendiam. O povo ficava aturdido e errava, por exemplo, em achar que o sistema sacrifical, o próprio templo com suas cerimônias e ritos eram suficientes para expiar seu pecaminoso procedimento. Foi exatamente contra essa situação que Jesus se colocou, ofendendo aos sábios que buscaram matá-lo. Todo o sistema judaico estava contaminado com as tradições humanas, um resultado da sutil introdução dos princípios egoístas do sistema religioso criado pelo inimigo, dando a este desafortunada supremacia. 

Jesus ensinava e demonstrava, através do seu comportamento, os princípios altruístas da Torá e, como consequência, a partir dos doze discípulos, surgiu a igreja cristã. Porém, na medida em que o tempo avançou, novamente as tradições humanas se impuseram. No capítulo 8 do livro de Daniel aparece um chifre pequeno que falava como homem e que tinha como meta mudar os tempos e a lei. Se Deus é o Senhor do tempo e a Sua lei é a base do Seu governo, quando o homem tenta ostentar tais responsabilidades, necessariamente afronta Deus. Logo, as tradições humanas que se elevam sobre a Torá, e as mudanças nas ordenanças legais de Deus conformam um sistema que tira de Deus o comando e a autoridade para salvar colocando o homem no centro, no lugar de Deus. Essa estratégia tem sido exitosa em todos os tempos.

A igreja cristã atual está dividida em muitos ramos, os quais foram surgindo exatamente por causa dos óculos das tradições humanas. A igreja adota a Palavra de Deus; mas as tradições transmitidas de geração a geração, e as interpretações humanas das Escrituras ocultam a verdade como é em Jesus. Perdeu-se a significação espiritual das Sagradas Escrituras. O tesouro de todo o conhecimento está revelado, mas os cristãos não o sabem.

Durante o percurso da história, Deus tem buscado descontaminar a verdade. Na era pós Jesus Cristo, no século XVI, Deus levantou o movimento da reforma, o qual teve Lutero como seu ícone. Ali verdades que estavam sepultadas pelo entulho das tradições foram resgatadas. Mas, outra vez o inimigo logrou êxito, por força da reintrodução das tradições humanas. Como consequência, apareceram as igrejas protestantes entulhadas de tradições. O inimigo assediou os crentes com a ideia de que o Antigo Testamento deveria ser entendido como válido para dispensação judaica e, os protestantes focaram no Novo Testamento. Porém, a interpretação das escrituras do Novo Testamento sem o auxílio e sem os conceitos da Torá e dos profetas, torna muito propício o ambiente para a entrada de interpretações humanas que sofrem reinterpretações a cada geração. Com êxito o inimigo transformou a limpeza realizada pelos reformadores em monturos de ensinamentos bíblicos entulhados com interpretações humanas. É importante que se diga que a Bíblia interpreta a si mesma. Para evitar a interpretação humana, Deus levantou os profetas, assim devemos nos concentrar na Torá e nos profetas e nada mais (Mateus 7:12; Atos 24:14; Romanos 3:21).

Em 1844, depois de quase três séculos de contaminação doutrinária, Deus levanta um novo profeta, a quem fora dada a tarefa de limpar a verdade da contaminação protestante acumulada. Deus concede a Ellen White o privilégio do dom profético. Todos os seus escritos são uma advertência aos cristãos em relação às tradições e interpretações da verdade. Ela escreve dizendo “[...] Pouco a pouco, a princípio de forma discreta e silenciosa e depois mais às claras, à medida que crescia em força e conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniquidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente, os costumes do paganismo ingressaram na igreja cristã. [...]E entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, ele deixou de lado a humilde simplicidade de Cristo e de Seus apóstolos em troca da pompa e do orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e, em lugar das ordenanças de Deus, colocou teorias e tradições humanas. [...] A obra de corrupção progredia rapidamente. Embora parecesse que o paganismo tinha sido derrotado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e ao culto dos professos seguidores de Cristo (O Grande Conflito, p. 49, 50).

Há atualmente dois sistemas através dos quais os cristãos buscam a salvação: o sistema puro, no qual os homens são salvos pela fé em Jesus, sendo que a fundamentação da vida do cristão é o comportamento demonstrado por Jesus, quando andou entre os homens. A cópia desse comportamento origina nos homens as boas obras. Estas serão examinadas no juízo final e serão alegadas como atenuante diante das exigências da Lei de Deus. Mas, é a fé em Jesus que na verdade salva, ou seja, acreditar nele, copiando o seu caráter, sendo que no juízo final, Jesus nos representará e nos aplicará as suas obras, daí a necessidade da fé Nele. De outro lado há o sistema contaminado, no qual os homens buscam ser salvos por seus méritos e sem mudança nenhuma nos seus caracteres. Quem pratica perseverantemente ritos tentando aplacar a ira de Deus, ou quem ajuda seus semelhantes em troca da salvação, ou quem paga para sistemas religiosos para obter perdão, todos estão no segundo sistema de salvação. O mais malévolo e agravante desse segundo sistema é a tentativa de transferir para a terra prerrogativas exclusivas de Deus, como por exemplo sacerdotes que podem perdoar pecados. “Quando as Escrituras são suprimidas e o homem passa a se considerar supremo, só podemos esperar fraudes, enganos e injustiça degradante. Com a elevação das leis e tradições humanas, ficou evidente a corrupção que sempre resulta de se deixar de lado a lei de Deus” (História da Redenção, p. 331, 332).

“A única segurança agora, é procurar como a tesouro escondido a verdade, exatamente como se acha revelada na Palavra de Deus. Os assuntos do sábado, da natureza do homem, e do testemunho de Jesus, eis as grandes e importantes verdades a ser compreendidas; estas se demonstrarão qual âncora para firmar o povo de Deus nestes tempos perigosos. A massa da humanidade, porém, despreza as verdades da Palavra de Deus, e prefere as fábulas. Porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira” (2Ts 2:10,11; Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 300).




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