quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Adoração, Oração e Aprendizado

O ambiente da igreja cristã deveria ser suficiente para produzir e aumentar o contingente de pessoas com excelência no conjunto da sociedade. Em geral, as comunidades cristãs usam o modelo congregacional sem ter preocupação com o conceito de igreja conforme compreendido no hebraico, ou seja, o conceito de templo, significando o local para estudos de teologia, moral, comportamento.

Êxodo 25:8 “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”, define o caráter do templo: a casa ou o espaço feito pelo homem para Deus. O objetivo era que do templo irradiasse a moral celeste que nortearia o relacionamento entre homem e Deus e entre o homem e outro homem. E de fato assim foi. Nos primeiros momentos depois da inauguração do tabernáculo realizado por Moisés, a presença física de Deus era vista através do shekinah. A Torah foi escrita a partir das instruções dadas diretamente a Moisés, e este instruiu ao povo. O templo era, na verdade, um centro de ensino e aperfeiçoamento cognitivo que permaneceu ativo até o cativeiro babilônico, período em que surgiu o modelo da sinagoga. Esta tinha como objetivo manter a identidade nacional, sendo local de adoração, oração e aprendizado da palavra de Deus.

A igreja cristã surgiu como desdobramento do plano da redenção, uma evolução ou transição do próprio judaísmo para a nova fase pós sacrifício vicário do cordeiro de Deus, um período superior em elementos e conhecimentos, considerando que o próprio Deus, na pessoa do Filho, desceu para ensinar e demonstrar as altas exigências celestes relativas ao relacionamento Deus/homem e homem/homem, dando à igreja cristã novas interfaces e ritos consentâneos com a nova realidade ou fase do plano divino para a salvação, mas a mesma prerrogativa de disseminadora do conhecimento, tal qual o templo e a sinagoga.

A reforma protestante do século XVI foi um evento de singular significação. Reativou verdades bíblicas que estavam enterradas pelas tradições humanas oriundas do romanismo. Tais tradições, embora rechaçadas pelos protestantes de então, persistiram na memória, especialmente dos novos conversos, e chegaram até os nossos dias. A igreja protestante atual é tão romana que aceita mais enfaticamente as tradições humanas que as verdades bíblicas. Nos vários ramos do protestantismo veem-se preteridas, por exemplo, exigências do Antigo Testamento, sob o pretexto de uma nova dispensação, negando que o Novo Testamento seja uma explicação ou cumprimento de promessas do Velho Testamento, evidenciando incontestemente as tradições que buscam adequar verdades bíblicas a épocas e costumes que, na maioria dos casos, nada têm a ver com assertivas bíblicas. Tal situação sempre leva a uma deriva das verdades e, inevitavelmente, a uma decadência moral, porque sem profecia o povo se corrompe (Provérbios 29:18).

O que se verifica hoje na realidade das igrejas protestantes é que os membros usam o ambiente religioso para diversão. Buscam um bom palestrante, uma boa música, um bom ambiente social, transformando as igrejas em clubes. Mas, a principal função das igrejas é ser um polo de enraizamento nos conhecimentos cristãos, um difusor de cultura teológica, um local de adoração e oração. Todavia, as igrejas formam concentrações sociais para o exercício do poder temporal em todas as esferas de comandos que fazem parte do ambiente eclesial. São centros de concentração de poder e divertimento, uma decadência insuportável que alimenta as tradições humanas e torna a luta entre o bem e o mal vencível pelo inimigo.

Ainda que pretendam ser centros de difusão de conhecimento teológico, deixam muito a desejar, uma vez que não são ambientes de alta cognição. Há muita assimetria no nivelamento do conhecimento bíblico por parte dos líderes e membros, o que torna o ambiente eclesial um meio de cultura para o crescimento do raciocínio humano, quase sempre contrário às leis do Reino de Deus, ou seja, a ausência de simetria  no conhecimento das verdades bíblicas, leva ao surgimento de conflitos de ideias e de comportamentos, tornando o ambiente cristão instável e propício às dissensões e embates, justamente o que a lei de Deus proíbe. Por essa razão, numa mesma denominação, congregações irmãs produzem adoração e efeitos cultuais diferentes, levando a sérias crises existenciais e de identidade, o que a Bíblia denomina Babilônia, tornando impossível a homeostase necessária para quem pretende estar no contexto de Jerusalém, o sistema divino onde reina a paz. Em Apocalipse 18:4 há uma advertência: “...sai dela, povo meu...”.

O aprofundamento nas verdades celestes tão necessário à igreja cristã passa pela compreensão do papel da igreja, um sistema criado por Deus para enobrecimento dos homens e para seu crescimento até alcançar a estatura segundo a expectativa divina. A palavra de Deus estudada em profundidade torna o ambiente eclesial o caminho para o homem retornar ao estado original obtendo a imagem do criador.

Como corolário, vejamos o que ensina o livro Profetas e Reis (página 246) de Ellen White sobre o comportamento de Daniel no cativeiro babilônico: “Na aquisição da sabedoria dos babilônios, Daniel e seus companheiros foram muito melhor sucedidos que seus colegas; mas sua cultura não veio por acaso. Eles obtiveram o conhecimento mediante o fiel uso de suas faculdades, sob a guia do Espírito Santo. Colocaram-se em conexão com a Fonte de toda sabedoria, tornando o conhecimento de Deus o fundamento de sua educação. Oraram com fé por sabedoria, e viveram as suas orações. Puseram-se onde Deus poderia abençoá-los. Evitaram o que lhes poderia enfraquecer as faculdades, e aproveitaram toda oportunidade de se tornarem versados em todo ramo do saber. Seguiram as regras da vida que não poderiam falhar em dar-lhes força de intelecto. Procuraram adquirir conhecimento para um determinado propósito — para que pudessem honrar a Deus. Compreenderam que para poderem permanecer como representantes da verdadeira religião em meio das religiões falsas do paganismo, deviam possuir clareza de intelecto e aperfeiçoar o caráter cristão. E o próprio Deus era o seu professor. Orando constantemente, estudando conscienciosamente e mantendo-se em contato com o Invisível, andavam com Deus como andou Enoque”. 




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