quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Capacidade de Ser Único


No evangelho de Lucas no capítulo 21:25-27 lemos: “E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas. Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória”.

Estamos presenciando atualmente grandes sinais na natureza, mudanças climáticas, e na sociedade humana, ondas migratórias dirigidas por grandes incertezas sócio-políticas, grupos armados tirando a paz de milhares, fora a instabilidade social causada pela anomia que assombra as grandes cidades. Literalmente homens desmaiando de terror.

Qual será a origem dessa precariedade? Nosso planeta está submetido às tradições humanas que levam pessoas a serem orientadas para religiões que apenas operam externalidades, não enxergando o âmago do problema: desobediência à Lei de Deus.

O princípio da Lei é o interesse pelo próximo. Harmonia é a palavra que traduz esse princípio. A partir do momento em que o homem desobedeceu a Lei, estabeleceu-se um sistema de divisão e desunião. A Lei está calcada no princípio da unicidade, ou seja, a capacidade de ser único ou formar todos indivisíveis.

A criação foi uma gigantesca demonstração do princípio da unicidade. Litosfera, biosfera e atmosfera existem como unidade. Uma parte não funciona sem a outra e são, por essa característica, unidade singular. O ciclo das águas na superfície da Terra é outro exemplo de unicidade. As águas que evaporam voltam à Terra e formam um conjunto único. Todos os mananciais de águas têm uma origem, os oceanos. De outro lado, ainda que nas condições de pecado, a unicidade pode ser vista: o ciclo da cadeia alimentar, conforme o entendemos, é um forte exemplo, todos os nutrientes que estão presos nas grades estruturais dos seres vivos serão decompostos após a sua morte e tornarão a fazer parte de grade estrutural de outros seres vivos, num ciclo contínuo ininterrupto, até que a Terra chegue ao seu final.

 O fundamento da unicidade está no macro universo, onde as galáxias orbitam em torno de outras galáxias, de modo a manter um fino equilíbrio gravitacional que mantém o cosmo coeso. Do mesmo modo, a estrutura atômica funciona equilibrada tendo os elétrons orbitando o núcleo atômico, equilíbrio mantido pela força eletrostática. Se vamos ao interior da célula, o núcleo celular onde está o DNA, vemos as duas fitas deste formando uma hélice. Tais fitas são formadas por açucares (ribose) onde estão as bases púricas e pirimídicas (Timina, Guanina, Citosina, Adenina, Uracila) que se ligam entre si por pontes de hidrogênio para formar a complexidade do DNA.

Deus foi o criador de tudo e, consequentemente, esse princípio da unicidade é encontrado nEle. São três pessoas formando o que chamamos de Deus: Pai, Filho e Santo Espírito. O Pai não é o Filho e este não é o Espírito Santo, mas os três formam uma unicidade incomum para governar tudo. Estamos falando de uma unidade de três pessoas que formam o Deus infinito e que está além da compreensão humana, mas é conhecido por sua auto revelação (Deut.6:1; Mat.28:19; 2Cor.13:13; etc.).

Na criação do homem vemos o princípio da unicidade transferido. Este é formado por três partes: corpo, alma e espírito. Esta composição é ratificada por Paulo na sua primeira carta aos Tessalonicenses, capítulo 5:23 quando afirma: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo. Estas três partes devem agir unidas, do contrário causarão infelicidade. Por exemplo, se o espírito trabalha contra o corpo, prejudica a alma. Salomão denuncia isto em Provérbios 1:19 “São assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça: ela põe a perder a alma dos que a possuem”. Do mesmo modo, se afetamos ou destruímos o corpo prejudicaremos o funcionamento da alma. Isto está demonstrado em Levíticos 20:25 “Fareis, pois, diferença entre os animais limpos e imundos, e entre as aves imundas e as limpas; e as vossas almas não fareis abomináveis por causa dos animais, ou das aves, ou de tudo o que se arrasta sobre a terra; as quais coisas apartei de vós, para tê-las por imundas”. Assim, percebemos que a inquietação humana é o resultado da quebra da unicidade do homem. No estado de pecador, a não observância da Lei leva ao estado de desequilíbrio das três dimensões, provocando o paradoxo humano; queremos fazer o bem, mas praticamos o mal.

Em Hebreus 4:12 lemos “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”. Esta afirmação é útil para explicar o que Deus tenta fazer conosco, ou seja, o reequilíbrio do homem. A situação atual é melhor entendida se olharmos o início. “Adão estava diante de Deus na força da perfeita varonilidade, tendo todos os órgãos e faculdades de seu ser plenamente desenvolvidos e harmoniosamente equilibrados. Achava-se ele circundado de coisas belas e conversava diariamente com os santos anjos (Verdade sobre os Anjos, p.49). Em outro trecho do livro O Grande Conflito, à página 83, Ellen White explica: “O homem e a mulher foram formados à imagem de Deus, com individualidade, poder e liberdade de pensar e agir. Conquanto tenham sido criados como seres livres, cada um é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito, e dependente de Deus quanto à vida, respiração e tudo o mais. Quando nossos primeiros pais desobedeceram a Deus, eles negaram sua dependência dEle e caíram de sua elevada posição abaixo de Deus. A imagem de Deus, neles, foi desfigurada, e tornaram-se sujeitos à morte. Seus descendentes partilham dessa natureza caída e de suas conseqüências. Eles nascem com fraquezas e tendências para o mal. Mas Deus, em Cristo, reconciliou consigo o mundo e por meio de Seu Espírito restaura nos mortais penitentes a imagem de seu Criador. (Gênesis 1:26-28; 2:7; Salmos 8:4-8; Atos dos Apóstolos 17:24-28; Gênesis 3; Salmos 51:5; Romanos 5:12-17; 2 Coríntios 5:19, 20; Salmos 51:10; 1 João 4:7, 8, 11, 20; Gênesis 2:15.).

Para restaurar a imagem de Deus na humanidade o céu fez um plano que se desenvolveu desde que nossos pais saíram do Éden. Tal plano foi pensado para aproximar um Deus transcendente a uma humanidade imanente. Assim, a imanência de Deus tornou-se mais sentida no tabernáculo do deserto, quando a presença física de Deus era vista no lugar santíssimo, através do resplendor do Shekhinah. Porém, Deus tornou-se ainda mais imanente quando entregou a Moisés a sua palavra, a Torá, a qual poderia tornar a imanência de dEle cabal pois a palavra estaria na mente do homem. Esta espada de dois gumes que penetra na intimidade do ser agiria para reequilibrar as três dimensões. No entanto, o ato mais crítico e mais importante da imanência de Deus foi a encarnação de Jesus Cristo.  Ele se tornou um com os homens, era o Deus entre os homens e, nesta condição, poderia ensinar pessoalmente a humanidade no caminho do retorno ao equilíbrio ou à imagem de Deus. Se Deus tornara-se um com os homens, os homens poderiam tornar-se um com Deus; estaria de volta a unicidade perdida no Éden.

No entanto, Cristo não permaneceu com a humanidade e voltou para o céu. A pergunta que se levanta é: o princípio da unicidade foi quebrado? Essa questão foi resolvida com a criação da igreja cristã. A Igreja é um corpo com muitos membros, chamados de toda nação, tribo, língua e povo. Em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição. Mediante a revelação de Jesus Cristo nas Escrituras, partilhamos a mesma fé e esperança, e estendemos um só testemunho para todos. Esta unidade encontra sua fonte na unidade do Deus triúno, que nos adotou como Seus filhos. (Romanos 12:4, 5; 1 Coríntios 12:12-14; Mateus 28:19, 20; Salmos 133:1; 2 Coríntios 5:16, 17; Atos dos Apóstolos 17:26, 27; Gálatas 3:27, 29; Colossences 3:10-15; Efésios 4:14-16; 4:1-6; João 17:20-23).

É propósito de Deus que haja unidade entre Seus filhos. [...] A união faz a força; a desunião enfraquece. Unidos uns aos outros, trabalhando juntos, em harmonia, pela salvação dos homens, seremos na verdade “cooperadores de Deus”. 1 Coríntios 3:9. Os que se recusam a trabalhar em boa harmonia desonram grandemente a Deus. O inimigo deleita-se em vê-los trabalhando para fins mutuamente contrários. Essas pessoas precisam cultivar o amor fraternal e a ternura de coração. Se pudessem correr a cortina que lhes vela o futuro e ver o resultado de sua desunião, por certo seriam levados a arrepender-se (Conselhos para Igreja, p.42).













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