“A evolução não se sustenta por força das complexidades da natureza. As complexidades exigem relacionamento obrigatório, fato que o acaso não pode sustentar.”
📘 Ensaio
Teológico-Filosófico
A
Impossibilidade de um Universo Relacional nas Mãos do Acaso
Introdução
A proposta
evolucionista naturalista — que defende a origem e complexificação da vida a
partir de forças cegas, aleatórias e não dirigidas — tem enfrentado crescente
contestação não apenas no campo teológico, mas também filosófico. A razão está
em um ponto fundamental: a complexidade integrada da criação não apenas
desafia o acaso, mas o torna logicamente insuficiente. Mais ainda, os
múltiplos níveis de relacionamento obrigatório encontrados na natureza
revelam que a existência não pode ser sustentada fora de uma mente
intencional, ordenadora e pessoal.
Thomas
Nagel (2012), filósofo ateu e professor da Universidade de Nova York, argumenta
que a consciência, a razão e os valores objetivos não podem ser adequadamente
explicados por mecanismos puramente físico-químicos. Em Mind and Cosmos,
ele sustenta que o materialismo neodarwinista fracassa em dar conta da mente,
sendo "quase certamente falso". Para Nagel, qualquer teoria
abrangente da realidade deve incluir elementos teleológicos ou não redutíveis à
matéria.
A posição de Thomas Nagel apresenta uma tensão
filosófica significativa. Por um lado, ele denuncia a insuficiência do
naturalismo materialista ao afirmar que a mente, a consciência e os valores
morais não podem ser reduzidos a processos físico-químicos. Por outro, ele
expressa resistência explícita à ideia de um Deus pessoal como causa final
dessas realidades.
Em Mind and
Cosmos, Nagel escreve: “Desejo que o ateísmo seja verdadeiro e fico
incomodado com o fato de algumas das pessoas mais inteligentes que conheço
serem crentes.” (NAGEL, 1997, p. 130)
Essa declaração,
feita em obra anterior (The Last Word),
revela que sua crítica ao naturalismo não parte de uma abertura religiosa, mas
de um reconhecimento intelectual da falência do paradigma vigente. Assim, Nagel
propõe que a estrutura do universo pode conter princípios internos,
não-redutíveis, que conduzem ao surgimento da vida e da mente — uma forma de
teleologia impessoal.
Embora ele rejeite
a ideia de um Criador inteligente, sua insistência em que qualquer teoria
abrangente da realidade deve considerar a mente como “uma característica
fundamental do mundo” (NAGEL, 2012, p. 16) aproxima seu pensamento de
perspectivas que reconhecem o design, ainda que ele recuse o designador.
Dessa forma, Nagel
ocupa uma posição singular no debate atual: é um crítico interno ao sistema naturalista, mas que se detém no
limiar do teísmo. Sua obra tem servido como uma “ponte filosófica”
para que muitos acadêmicos, ainda não teístas, reavaliem os pressupostos do
materialismo. Ele não oferece uma explicação completa, mas rompe com o dogma
reducionista e reabre espaço para uma ontologia mais rica — o que,
inevitavelmente, aproxima sua crítica das abordagens que defendem o papel de
uma inteligência ordenadora.
Alvin
Plantinga (2011), por sua vez, apresenta o “argumento evolutivo contra o
naturalismo”, segundo o qual, se nossas faculdades cognitivas são produto de um
processo aleatório e sem propósito, então não há razão para confiarmos na
veracidade das crenças que essas faculdades produzem — incluindo a própria
crença no naturalismo. Assim, o naturalismo mina a si mesmo
epistemologicamente.
Alvin Plantinga propõe que o naturalismo — quando
combinado com a teoria da evolução — se autodestrói epistemologicamente. Em sua
obra Where the Conflict Really Lies
(2011), ele formula o chamado Argumento
Evolutivo contra o Naturalismo (AEN), que pode ser resumido da
seguinte forma:
Se as faculdades
cognitivas humanas são produto exclusivo de processos evolutivos aleatórios e
não direcionados (isto é, mutações e seleção natural), então a probabilidade de
que essas faculdades produzam crenças verdadeiras não é alta — na verdade, é incognoscível
ou baixa. A seleção natural se preocupa com comportamentos adaptativos, não com a verdade das crenças que os sustentam.
Segundo Plantinga,
um organismo pode sobreviver e se reproduzir mesmo acreditando em ideias
completamente falsas, desde que seu comportamento prático o mantenha vivo. Por
exemplo, se um ser humano acredita que beber água o mata (crença falsa), mas
por algum motivo sempre evita água e sobrevive bebendo outro líquido (por
superstição ou engano), ele pode sobreviver, ainda que pense de forma
incorreta. Isso mostra que crenças falsas
podem ser compatíveis com comportamentos adaptativos.
Se isso for
verdade, então não há base confiável para supor que nossas crenças sejam
geralmente verdadeiras — incluindo a própria crença no naturalismo e na
evolução. Ou seja, o naturalismo, ao afirmar que nossa mente é produto de
forças cegas e não intencionais, torna
implausível confiar na racionalidade das nossas próprias crenças, o
que o torna autorrefutável.
Alvin Plantinga propõe que a combinação entre naturalismo (a
ideia de que não existe nada além da natureza física) e evolução darwinista
(que opera por mutações aleatórias e seleção natural) conduz a uma forma de autorrefutação
epistemológica. Para isso, ele estrutura um argumento formal que pode ser
expandido da seguinte maneira:
Premissas
ampliadas:
P1. O naturalismo é verdadeiro. Ou seja, tudo o que existe é físico e
impessoal; não há mente divina, nem propósito transcendente.
P2. A teoria evolutiva (neodarwinista) é verdadeira. Isso implica que as
faculdades cognitivas humanas surgiram por meio de mutações aleatórias e
seleção natural, sem direcionamento ou intenção de produzir verdade.
P3. A seleção natural favorece comportamentos que aumentam a sobrevivência,
não necessariamente a formação de crenças verdadeiras. Crenças falsas
podem, em muitos casos, gerar comportamentos adaptativos. Logo, o processo
evolutivo não tem como objetivo produzir mentes confiáveis, mas apenas
organismos eficientes para reprodução.
P4. Se nossas faculdades cognitivas foram moldadas por um processo cego e
não orientado à verdade, então a probabilidade de que elas sejam confiáveis
é baixa ou incerta. Plantinga chama essa probabilidade de Pr(CR |
N&E) — isto é, a probabilidade de que nossas faculdades cognitivas
sejam Confiáveis (CR), dado o Naturalismo (N) e a Evolução (E).
P5. Se não podemos confiar na confiabilidade de nossas faculdades
cognitivas, então não temos base para confiar em nenhuma crença produzida
por elas, inclusive as crenças no naturalismo e na evolução.
Portanto, se
o naturalismo e a evolução são ambos verdadeiros, então não temos boas
razões para crer que o naturalismo e a evolução sejam verdadeiros.
Em termos lógicos: O naturalismo, quando combinado com a evolução, mina sua
própria credibilidade.
O argumento
de Plantinga não nega a evolução em si, nem rejeita a ciência. O que ele
faz é mostrar que sem uma mente racional por trás do universo, não há
garantia de que nossas mentes sejam instrumentos confiáveis de busca pela
verdade.
O teísmo,
ao contrário, fornece uma justificativa ontológica para a confiabilidade
das faculdades cognitivas: elas foram criadas por um Deus racional e voltado
para a verdade.
Portanto, a
única forma de sustentar uma confiança racional em nossas crenças é rejeitar
o naturalismo ou rejeitar a exclusividade da seleção natural como causa
de nossas faculdades cognitivas.
Esse argumento não se propõe a refutar a evolução
em si, mas a mostrar que, sem uma mente
racional por trás da criação do ser humano, o próprio ato de confiar
na razão humana fica sem fundamento. Ele afirma que o teísmo, por outro lado,
oferece uma base coerente para a confiança racional: Deus criou seres com
faculdades cognitivas voltadas à verdade.
David
Berlinski (2009), matemático e autor agnóstico, critica a pretensão do
darwinismo de explicar a totalidade da realidade biológica. Ele argumenta que a
teoria falha em oferecer demonstrações matemáticas satisfatórias sobre como
estruturas complexas poderiam surgir gradualmente. Para Berlinski, muito do que
se apresenta como ciência é, na verdade, uma filosofia embutida, que carece de
verificabilidade rigorosa.
Berlinski tem se destacado como um dos mais
críticos comentaristas da ciência moderna, em especial do que ele chama de “pretensões filosóficas travestidas de ciência”.
Em sua obra The Devil’s Delusion: Atheism and
Its Scientific Pretensions (2009), Berlinski argumenta que muitos aspectos
da biologia evolucionista não se sustentam como ciência empírica, mas se
apresentam como uma cosmovisão filosófica,
envolta em uma linguagem científica que mascara sua falta de verificabilidade
experimental.
Segundo Berlinski, o
darwinismo — especialmente em sua versão naturalista e neodarwinista — é
frequentemente promovido como um sistema explicativo fechado e completo, embora
careça de modelos matemáticos rigorosos,
previsibilidade, e falsificabilidade clara, critérios
fundamentais para a demarcação científica tradicional. Ele afirma que a
biologia evolucionista lida majoritariamente com narrativas históricas retroativas (como reconstruções
adaptativas) que não podem ser testadas
ou replicadas, o que as torna mais próximas de especulação filosófica
do que de ciência empírica robusta.
Berlinski é
incisivo ao declarar: “A teoria da evolução é a grande ficção da biologia
moderna — não por causa de sua falsidade, mas por causa de sua ambição
filosófica disfarçada de objetividade científica.” (BERLINSKI, 2009, tradução
livre)
Ele aponta que,
quando pressionados a apresentar modelos computacionais ou matemáticos que
demonstrem como a seleção natural e as mutações aleatórias poderiam gerar
estruturas complexas (como o olho, o flagelo bacteriano, ou sistemas de
regulação genética), os proponentes da teoria frequentemente recorrem a metáforas ou analogias, mas não a demonstrações formais. Em vez de
ciência operacional, o que se observa, segundo Berlinski, é uma narrativa ideológica, sustentada muitas
vezes por convicções materialistas e ateias, e não por dados incontroversos.
A crítica central de David Berlinski ao pensamento científico
contemporâneo se dirige ao que ele denomina de cientificismo — a crença
de que somente a ciência empírica pode gerar conhecimento verdadeiro, confiável
e relevante, e que toda explicação válida sobre o universo deve necessariamente
se basear em causas naturais, mensuráveis e quantificáveis.
Contudo,
como Berlinski argumenta, essa afirmação não é científica, mas sim filosófica,
e por isso mesmo não pode ser verificada pela própria ciência. Trata-se
de um pressuposto metafísico travestido de conclusão científica.
➤ Estrutura
lógica da crítica:
- Toda ciência depende de pressupostos não
científicos. A ciência, enquanto método, parte de
fundamentos que ela mesma não pode provar: por exemplo, a
existência de uma realidade externa, a confiabilidade da razão humana, a
regularidade das leis naturais e a validade da inferência lógica. Esses
pressupostos são filosóficos e ontológicos, não empíricos.
- O cientificismo afirma que apenas a
ciência é fonte de verdade. Isso
implica que qualquer outra forma de conhecimento — filosofia, teologia,
estética, ética — seria secundária, irrelevante ou ilusória. A única
“verdade” seria aquela obtida por experimentação, mensuração e modelagem
matemática.
- Mas essa crença não é científica. A afirmação “somente a ciência fornece conhecimento verdadeiro” não
pode ser demonstrada cientificamente. Não há experimento que a
comprove, nem dados que a sustentem. Ou seja, há um experimento observável, testável e repetível
que comprove que apenas o
método científico pode gerar verdades confiáveis? A resposta é não, porque
essa afirmação não é produto
de experimentação, nem é verificável por observação. Ela não é uma conclusão científica, mas
sim um pressuposto filosófico
sobre a ciência. A contradição ocorre porque: Ela exige
que todas as crenças válidas sejam cientificamente verificáveis; mas ela
mesma não pode ser verificada cientificamente, logo, ela se exclui do
próprio critério que impõe.
Essa é a definição de uma afirmação autocontraditória ou
performativamente incoerente: ela falha nas próprias condições que exige para
ser aceita como válida. Logo, ela não
se justifica pelos próprios critérios que impõe — e por isso é autocontraditória.
Então, o cientificismo é uma posição filosófica disfarçada de método
científico. Ao reivindicar exclusividade epistemológica, o cientificismo se
torna um dogma, não uma conclusão. E o problema maior, segundo
Berlinski, é que esse dogma domina a academia contemporânea sem ser
reconhecido ou debatido como filosofia — ele opera como uma ortodoxia
epistemológica silenciosa.
➤ Exemplo da
falácia performativa:
Afirmar que
“apenas afirmações cientificamente verificáveis são válidas” não é uma
afirmação cientificamente verificável. Portanto, ela se refuta a si
mesma. Essa é uma falácia performativa: o ato de enunciar a tese
contradiz sua própria premissa.
➤ Implicação
da crítica:
Ao mostrar
que o cientificismo é uma filosofia não assumida, Berlinski desmonta a
pretensão de neutralidade da ciência moderna. Ele não nega o valor da ciência
como método, mas denuncia a elevação da ciência a autoridade totalizadora,
o que configura uma postura ideológica. Sua crítica, portanto, não é contra a
ciência, mas contra a absolutização da ciência como única via legítima
de acesso à realidade.
Exemplo clássico de falácia performativa: “Nenhuma
frase com mais de cinco palavras é verdadeira.” Essa frase tem mais de cinco
palavras — e, portanto, viola a si mesma. O cientificismo comete o mesmo erro: “Somente
afirmações verificáveis cientificamente são válidas”. Mas essa afirmação não é
verificável cientificamente. Logo, ela se autorefuta.
O
cientificismo se apresenta como um princípio neutro e racional, mas na verdade
é uma crença metafísica e exclusiva que não pode ser testada por seus próprios
padrões. Como David Berlinski, Alvin Plantinga e C. S. Lewis apontam, a ciência
é uma ferramenta poderosa para descobrir verdades sobre o mundo físico, mas ela
não é capaz de justificar sua própria autoridade epistemológica — isso é papel
da filosofia.
No campo da
biologia molecular, diversas críticas têm surgido quanto à capacidade do
darwinismo explicar sistemas altamente complexos. Michael Behe (1996) cunhou o
conceito de "complexidade irredutível" para descrever sistemas
biológicos que não funcionam se qualquer uma de suas partes for removida. Para
ele, tais sistemas não poderiam ter surgido por etapas sucessivas.
Stephen C.
Meyer (2009; 2013) argumenta que a informação presente no DNA se assemelha a
códigos linguísticos e exige uma explicação causal inteligente. Em seus
trabalhos, ele propõe que o design inteligente é uma inferência científica
legítima para a origem da informação biológica. É uma tentativa de reposicionar
o Design Inteligente (DI) não como um argumento teológico disfarçado, mas como
uma inferência científica legítima, baseada nos mesmos critérios utilizados em
outras áreas da ciência.
Stephen C.
Meyer, em suas obras Signature in the Cell (2009) e Darwin’s Doubt (2013), desenvolve
uma tese central: a de que a origem da informação funcional complexa presente
no DNA e nos sistemas bioquímicos vivos não pode ser explicada adequadamente
por mecanismos naturalistas como mutações aleatórias e seleção natural.
O DNA,
argumenta Meyer, contém sequências de nucleotídeos que funcionam como códigos
digitais — instruções precisas para a construção de proteínas. Esse padrão de
codificação apresenta o que ele chama de informação funcional complexa e
especificada (specified complex information), que é estatisticamente altamente
improvável de surgir por acaso. A partir disso, Meyer propõe que o melhor
modelo causal para esse tipo de informação é o design — não porque ele rejeita
a ciência, mas porque aplica um tipo de inferência científica comum em outras
áreas, como arqueologia, investigação forense e busca por inteligência
extraterrestre (como no projeto SETI, Search for Extraterrestrial Intelligence –
Busca por Inteligência Extraterrestre).
Ele baseia
sua defesa do DI no que chama de inferência à melhor explicação (inference to
the best explanation), um método reconhecido na filosofia da ciência. Esse
método consiste em: Observar um efeito presente (neste caso, a informação
complexa e funcional no DNA); considerar várias causas possíveis que, em
princípio, poderiam produzi-lo; escolher como mais provável a causa que, com
base na experiência e na lógica, possui maior poder explicativo.
Segundo
Meyer, em toda a nossa experiência, sistemas de informação funcional só são
produzidos por agentes inteligentes. Por isso, ele conclui que o design
inteligente é a melhor explicação disponível para a origem da informação
biológica, ainda que essa conclusão tenha implicações que vão além da
metodologia naturalista tradicional.
Importa
destacar que, para Meyer, essa inferência não depende de ignorância ("não
sabemos, logo foi design"), mas sim do que ele chama de conhecimento
uniforme e repetitivo da causa necessária para esse tipo de efeito — ou seja,
daquilo que sabemos sobre como informação é gerada em qualquer outro contexto.
Quadro Comparativo: Origem da Informação Biológica – Naturalismo vs. Design Inteligente.
Critério de Análise |
Explicação Naturalista |
Explicação por Design Inteligente |
Natureza da informação no DNA |
Produto de processos físico-químicos aleatórios e não dirigidos |
Produto de codificação intencional por uma mente inteligente |
Mecanismo proposto |
Mutações aleatórias + seleção natural |
Causa inteligente com capacidade de gerar informação funcional |
Objetivo declarado |
Nenhum – os processos são cegos e não orientados |
Intencionalidade – geração de sistemas complexos funcionais |
Analogias utilizadas |
Jogo de dados, seleção cumulativa, algoritmos genéticos |
Código de computador, linguagem, programação |
Fonte da informação funcional |
Acaso estatístico e pressão ambiental |
Inteligência como causa conhecida e necessária |
Evidência empírica alegada |
Microevolução observável, simulações computacionais |
Uniformidade da experiência: só mentes produzem códigos |
Critérios metodológicos usados |
Naturalismo metodológico |
Inferência à melhor explicação (como em arqueologia ou SETI) |
Verificabilidade/falsificabilidade |
Em muitos casos, especulativa ou indireta (ex: origem da vida) |
Falsificável: se for demonstrado que processos naturais geram
informação complexa de forma espontânea |
Aceitação na academia |
Ampla, por ser compatível com o paradigma naturalista dominante |
Controversa, frequentemente rejeitada por razões filosóficas |
Implicações filosóficas |
Materialismo, ausência de propósito no universo |
Teleologia, existência de racionalidade fora da matéria |
A teoria do
Design Inteligente não depende da identificação do agente causador, mas da
presença de padrões de informação que, em qualquer outro contexto, indicariam
mente. A mesma metodologia usada em campos como SETI, arqueologia ou
criptografia é aplicada aqui.
Douglas
Axe, PhD em engenharia genética pela Caltech e pesquisador em biologia
molecular, contribuiu significativamente para o debate sobre a origem da
complexidade biológica com seus experimentos sobre a funcionalidade das
proteínas. Em seu livro Undeniable: How Biology Confirms Our Intuition That
Life Is Designed (2016) e em publicações anteriores (Journal of Molecular
Biology, 2004), Axe apresenta evidências experimentais de que a proporção de
sequências de aminoácidos que resultam em proteínas funcionais é extremamente
pequena dentro do universo de possibilidades combinatórias.
Axe
investigou quantas sequências possíveis de aminoácidos em uma cadeia proteica
gerariam uma estrutura dobrada funcional, capaz de desempenhar uma atividade
bioquímica específica. Utilizando técnicas de mutagênese e expressão proteica,
ele demonstrou que a maioria esmagadora das combinações possíveis resulta em
proteínas disfuncionais.
Em termos
quantitativos, ele estimou que apenas 1 em 10⁷⁴ sequências possíveis de uma
proteína média (com cerca de 150 aminoácidos) resulta em uma estrutura
funcional estável.
Esse número
é astronomicamente pequeno, o que sugere que a busca aleatória por proteínas
funcionais no “espaço de sequências” é estatisticamente impraticável, mesmo
considerando os tempos geológicos propostos pela biologia evolutiva. Ou seja, o
acaso cego combinado à seleção natural não possui poder suficiente para gerar
as proteínas básicas necessárias à vida — muito menos os sistemas complexos
interativos nos quais essas proteínas operam.
A
implicação do trabalho de Axe é direta: a explicação neodarwinista de que
mutações aleatórias selecionadas por vantagem adaptativa podem construir
progressivamente a complexidade funcional da vida não é sustentada por
evidência probabilística viável. Mesmo assumindo que mutações úteis seriam
selecionadas, a chance de elas ocorrerem em primeiro lugar é desprezível.
Esse
resultado corrobora o argumento do Design Inteligente, pois, segundo Axe, a
presença de informação funcional em estruturas altamente específicas é, em
todos os contextos conhecidos, o produto de inteligência — nunca de processos
não guiados.
Além dos
dados experimentais, Axe argumenta que a própria intuição humana cotidiana
reconhece que funcionalidade e organização complexa são sinais de projeto.
Assim, o reconhecimento de design na biologia não é apenas cientificamente
justificável, mas também intuitivamente evidente.
O filósofo
britânico Roger Scruton (1944–2020), um dos pensadores conservadores mais
respeitados das últimas décadas, dirigiu críticas contundentes ao reducionismo
científico e à tendência moderna de considerar apenas o que é quantificável,
mensurável e físico como verdadeiramente real. Em The Soul of the World (2014),
ele argumenta que essa visão empobrece o ser humano, desconsiderando
precisamente aquilo que nos torna humanos: a arte, o amor, a moralidade, a
consciência e a experiência do sagrado.
Para
Scruton, o reducionismo científico, ao tentar explicar todos os aspectos da
realidade a partir de processos físicos elementares, oblitera os níveis
superiores de significado, como se fossem ilusões emergentes ou epifenômenos
irrelevantes. No entanto, ele sustenta que a verdade sobre o ser humano não
está nos átomos que o compõem, mas na pessoa que se revela — na face, na voz,
na linguagem, nos gestos intencionais, na cultura e na relação interpessoal.
Scruton
propõe uma visão de realidade estratificada, onde diferentes níveis de
existência requerem diferentes modos de explicação. O erro do cientificismo
está em tentar reduzir o todo ao que é apenas uma de suas partes — como
explicar a música apenas por frequências, ou o amor apenas por
neurotransmissores.
Ele
escreve: “As ciências naturais explicam o mundo em termos de causas e efeitos.
Mas nós, como sujeitos, habitamos um mundo de significados, intenções e valores
— um mundo que não pode ser explicado por leis físicas.” (SCRUTON, The Soul of
the World, 2014, p. 4)
Scruton
afirma que fenômenos como o amor pessoal, a obrigação moral e a beleza
artística não são redutíveis a nenhuma descrição biológica ou química. Essas
experiências são vividas como fins em si mesmas, e não como meios adaptativos
para a sobrevivência. Portanto, são testemunhos ontológicos de que há algo mais
na realidade do que matéria em movimento.
Na
estética, Scruton é igualmente enfático: a beleza não é apenas um resultado de
estruturas neurais ou de preferências evolutivas, mas aponta para uma ordem
mais alta, que comunica sentido e dignidade à existência. A experiência da
beleza, sobretudo na música e na arquitetura sacra, sugere uma dimensão
vertical da realidade — uma elevação da alma que não pode ser traduzida em
equações.
A crítica
de Scruton resgata o papel da filosofia, da teologia e da arte como modos
legítimos de conhecimento, que não se subordinam ao método empírico, mas que
nos dizem algo verdadeiro sobre a realidade. Assim, ele se posiciona contra a
monocultura epistêmica do materialismo, defendendo que só uma visão ampliada e
integrada do ser humano pode responder às questões últimas sobre significado,
valor e finalidade.
Tabela Comparativa: Abordagem Científica vs. Abordagem Fenomenológica segundo Roger Scruton
Dimensão |
Ciência Reducionista (Naturalismo) |
Fenomenologia segundo Scruton |
Objeto de estudo |
Partículas, forças, sistemas materiais |
Pessoa, consciência, linguagem, arte, amor |
Método |
Análise causal, quantificação, decomposição |
Compreensão do significado, experiência vivida, intuição cultural |
Linguagem |
Técnica, matemática, descritiva |
Pessoal, simbólica, interpretativa |
Tipo de verdade buscada |
Explicações funcionais e mecânicas (como funciona) |
Compreensão de sentido e valor (por que importa) |
Natureza da realidade humana |
Organismo biológico complexo |
Sujeito pessoal dotado de liberdade, dignidade e interioridade |
Amor e moralidade |
Produtos de evolução e neuroquímica |
Realidades superiores, intencionais e não-redutíveis |
Arte e música |
Resultados de preferências evolucionárias ou estímulos neurais |
Experiências estéticas profundas que revelam o transcendente |
Religião e sacralidade |
Ilusões úteis ou construções culturais adaptativas |
Dimensões reveladoras do sentido último da existência |
Exemplo de explicação |
"A beleza da música ativa áreas do cérebro ligadas à
recompensa" |
"A música é um meio de elevação da alma em direção ao
invisível" |
Limites reconhecidos |
Tudo deve ser explicado por leis naturais |
Nem tudo pode ser reduzido sem perda do essencial |
Scruton não
nega o valor da ciência, mas alerta que explicar não é o mesmo que compreender.
Para ele, os fenômenos humanos mais profundos — como o amor, a arte e o sagrado
— só podem ser entendidos quando vistos de dentro, como experiências carregadas
de significado, e não como reações bioquímicas.
John
Lennox, professor emérito de Matemática na Universidade de Oxford e autor de
God’s Undertaker: Has Science Buried God? (2007), propõe que a própria
existência da ciência depende de pressupostos filosóficos que apontam para a
existência de Deus, e não para o seu abandono. Contra a tese do chamado
"conflito entre ciência e fé", Lennox argumenta que a investigação
científica só é possível porque o universo é ordenado, inteligível e
racionalmente acessível — características que fazem mais sentido dentro de uma
cosmovisão teísta do que numa naturalista.
Lennox
destaca que, para que a ciência exista como prática, é necessário pressupor: que
o universo segue leis constantes e universais; que o ser humano possui
faculdades cognitivas confiáveis para decifrar essas leis; que existe uma
correspondência entre a razão humana e a estrutura racional do cosmos.
Essas três
premissas, longe de serem explicadas pelo naturalismo ateísta, são assumidas
por ele sem justificativa. Lennox afirma que tais pressupostos são mais
coerentemente fundamentados em um Criador racional, que fez o ser humano à Sua
imagem e estruturou o universo de forma inteligível.
Como ele
mesmo expressa: “A racionalidade da mente humana e a inteligibilidade da
natureza são duas faces da mesma moeda — e ambas fazem sentido apenas se forem
obra da mesma mente”(LENNOX, 2007).
Além disso,
Lennox observa que a ciência moderna surgiu no berço da civilização cristã, e
não apesar dela. Cientistas como Newton, Kepler, Boyle e Faraday acreditavam
que estavam pensando os pensamentos de Deus depois d’Ele, justamente porque
concebiam o universo como produto de um Criador racional. O surgimento da
ciência, portanto, foi motivado pela crença de que o mundo tinha ordem porque
havia sido feito por um Deus de ordem. “A ciência não enterra a fé — ela nasceu
da fé” (LENNOX, 2007)
Lennox
também desafia o naturalismo ao apontar que, se nossas mentes são apenas o
subproduto de processos aleatórios e não dirigidos, não há razão para confiar
na validade das nossas conclusões científicas. Isso o aproxima da crítica
epistemológica de Alvin Plantinga (com quem Lennox dialoga), segundo a qual o
naturalismo é epistemicamente autodestrutivo. “O fato de podermos fazer ciência
é evidência de que nossas mentes foram feitas para entender um universo que foi
feito para ser compreendido” (LENNOX, God’s Undertaker, 2007).
Objeções
comuns e respostas ao argumento contra o acaso como fonte de complexidade
funcional.
Objeção 1: “O acaso
não atua sozinho, mas é guiado pela seleção natural”
Contra-argumento:
De fato, a
teoria neodarwinista não afirma que o acaso atua sozinho; ela combina mutações
aleatórias com seleção natural não-direcionada. Contudo, esse modelo só é
eficaz após o surgimento de uma função minimamente estável que possa ser
selecionada.
A origem
dessa funcionalidade inicial continua inexplicada. Como destaca Stephen Meyer
(2009), a seleção natural é um filtro, não um criador. Ela não opera sobre o
caos, mas apenas sobre o que já funciona. Se a primeira proteína funcional é
estatisticamente improvável de surgir por acaso (Axe, 2004), o problema de
origem permanece insolúvel dentro do modelo neodarwinista.
Objeção 2: “A ordem pode emergir espontaneamente em sistemas complexos, como nos
cristais ou redemoinhos”
Contra-argumento:
Cristais,
redemoinhos e padrões de convecção (como as células de Bénard) são, de fato,
estruturas ordenadas auto-organizadas. Contudo, elas não carregam informação
funcional, nem desempenham tarefas complexas codificadas por um sistema
simbólico, como ocorre no DNA.
Esses
fenômenos físicos seguem leis determinísticas e não produzem sistemas com
múltiplas partes interdependentes, com função específica e baseada em
instruções codificadas. A estrutura de um ribossomo ou de uma enzima funcional
é qualitativamente diferente da simetria de um floco de neve.
Objeção 3: “Probabilidades extremamente baixas ainda são possíveis em escalas
cosmológicas de tempo e espaço”
Contra-argumento:
Embora
eventos altamente improváveis possam, em tese, ocorrer em longos períodos, o
problema não é apenas de tempo, mas de limitação combinatória e informação
específica.
Douglas Axe
(2004) demonstra que, mesmo assumindo todo o tempo disponível desde o início do
universo, o número de tentativas possíveis (com base em eventos moleculares
reais por segundo) é insuficiente para encontrar por acaso uma única proteína
funcional entre 10⁷⁴ possibilidades. Isso é estatisticamente irrelevante, mesmo
em escalas astronômicas.
Objeção 4: “A vida pode ter surgido por caminhos alternativos ainda
desconhecidos”
Contra-argumento:
Essa é uma
objeção de ignorância epistemológica. O fato de que não conhecemos ainda todos
os possíveis mecanismos não valida a hipótese do acaso.
A crítica
aqui não é ao desconhecimento atual, mas ao fato de que os dados que já temos
(bioquímicos, informacionais e probabilísticos) refutam a suficiência do acaso
como causa da informação funcional. Invocar caminhos desconhecidos é
especulativo e carece de poder explicativo, caindo no que o próprio Meyer chama
de “cientificismo esperançoso”.
Objeção 5: “A
entropia permite ordem local em sistemas abertos, como a Terra”
Contra-argumento:
É verdade
que a Segunda Lei da Termodinâmica permite redução local da entropia (ordem
crescente) em sistemas abertos, desde que haja fluxo de energia e mecanismos de
conversão funcional dessa energia em trabalho organizado.
O problema
é que o fluxo de energia por si só não gera informação funcional, assim como
jogar energia sobre um computador não escreve um software. Sem um sistema
codificador, armazenador e interpretador de informação, a energia tende a
aumentar o ruído, e não a ordem funcional.
A crítica à
ideia de que o acaso pode gerar sistemas biologicamente complexos não nega a
mutação, a adaptação ou a microevolução. O que ela contesta é a capacidade
criativa atribuída indevidamente a um processo cego e não-intencional, em
especial na origem da informação funcional primária — algo que, até hoje,
nenhuma hipótese naturalista demonstrou produzir de forma empírica.
Em sua obra
Miracles (1947), o escritor e filósofo britânico C. S. Lewis propõe um
argumento profundo contra o naturalismo materialista: se tudo no universo —
incluindo a mente humana — é produto de processos físicos inconscientes e
irracionais, então a própria razão perde sua autoridade. Lewis afirma que a
racionalidade humana, tal como a conhecemos, só pode existir se for derivada de
uma fonte racional — isto é, de uma mente superior que seja a origem do logos
(razão universal).
Lewis chama
atenção para o fato de que, sob o naturalismo estrito, todas as crenças humanas
são, em última instância, efeitos de causas não racionais — como impulsos
neuroquímicos, respostas condicionadas, ou heranças evolucionárias. No entanto,
isso gera um paradoxo: Se nossas crenças são fruto de causas irracionais, por
que confiar que elas sejam verdadeiras?
Inclusive,
a própria crença no naturalismo estaria nessa condição — e, portanto, não seria
confiável.
Essa linha
de raciocínio é semelhante àquela desenvolvida mais tarde por Alvin Plantinga
com o “argumento evolutivo contra o naturalismo”, mas em Lewis ela aparece de
forma antecipada e com mais ênfase existencial e metafísica. Lewis escreve: “A
menos que a razão seja uma realidade absoluta — derivada de algo além da
natureza — então toda razão humana é simplesmente o subproduto de processos
irracionais, e, portanto, não confiável” (LEWIS, Miracles, 1947, tradução
livre).
Ao tentar
explicar a razão por meios irracionais, o naturalismo cai em contradição
performativa: ele usa a razão para afirmar que a razão é produto do irracional.
Isso, para Lewis, implode a própria estrutura argumentativa do naturalismo, que
exige racionalidade para ser defendido, mas nega suas condições de
possibilidade.
A razão é
uma faculdade que busca a verdade, exige coerência e opera com base em
princípios lógicos objetivos; esses princípios não podem ser produto do acaso,
da seleção natural ou de impulsos físico-químicos, que operam sem intenção de
produzir verdade; logo, a razão humana só faz sentido se for derivada de um
princípio racional superior, que transcende a natureza — o que se alinha ao
teísmo cristão, onde o Logos (Cristo) é o fundamento da razão e da ordem.
“Se o
pensamento racional é meramente o subproduto de causas irracionais, então não
pode haver razão para acreditar que ele seja verdadeiro — e, portanto, não há
razão para acreditar no naturalismo” (LEWIS, Miracles, 1947).
Wolfgang
Smith, físico formado no MIT e filósofo católico, tem desempenhado um papel
notável ao questionar os pressupostos filosóficos ocultos no paradigma
científico moderno. Em sua obra The Wisdom of Ancient Cosmology (2003), ele
propõe uma revisão profunda da visão de mundo moderna, centrada na exclusão da
teleologia — isto é, da ideia de que a natureza possui propósitos ou fins
intrínsecos.
Segundo
Smith, a ciência moderna, desde o século XVII, passou a operar sob um modelo
mecanicista e reducionista, no qual os fenômenos naturais são explicados
exclusivamente por causas eficientes (o “como” dos eventos), e não mais por
causas finais (o “para quê”). Esse modelo, herdeiro do cartesianismo e do
empirismo, rompeu com a visão clássica aristotélico-tomista de que o universo é
estruturado por finalidades ordenadas e inteligíveis.
Smith
argumenta que, ao eliminar a teleologia, a ciência moderna empobreceu sua
própria capacidade explicativa. Ela pode descrever movimentos, medir constantes
e modelar processos, mas não consegue explicar por que existe ordem, nem por
que os seres vivos exibem estrutura, funcionalidade e finalidade. A natureza,
por esse modelo, torna-se um agregado de partículas cegas, movidas por leis que
“simplesmente existem”, sem razão última. Em suas palavras: “A natureza foi
despojada de sua inteligibilidade metafísica e reduzida a um domínio de
quantidades mudas — mensuráveis, mas destituídas de sentido” (SMITH, The Wisdom
of Ancient Cosmology, 2003, tradução livre).
Smith não
rejeita a ciência empírica nem suas conquistas tecnológicas. O que ele propõe é
uma reintegração da ciência com a metafísica clássica, de modo que os dados da
observação sejam compreendidos dentro de um quadro de significados mais amplo.
Isso implica: reconhecer que os entes naturais têm formas, essências e fins
próprios; reintroduzir a ideia de hierarquia ontológica (nem tudo é reduzível à
matéria); afirmar que a ordem do universo aponta para uma Mente ordenadora, e
não pode ser explicada apenas por acaso e necessidade.
Smith
sustenta que a crise contemporânea — tanto intelectual quanto existencial —
decorre do colapso de uma cosmologia que conectava o mundo visível ao
invisível, o físico ao espiritual. Ao reconstituir essa ponte, ele oferece um
modelo no qual fé e razão, ciência e revelação, matéria e espírito se tornam
esferas complementares, não antagônicas. “O abandono da teleologia não nos
libertou da ignorância — apenas nos cegou para as finalidades inscritas na
própria estrutura da realidade” (SMITH, The Wisdom of Ancient Cosmology, 2003).
As críticas
ao evolucionismo naturalista ultrapassam o campo da teologia e se estendem ao
cerne da filosofia da ciência, da epistemologia e da metafísica. As objeções
desses autores mostram que o paradigma neodarwinista enfrenta dificuldades
teóricas fundamentais para explicar realidades como a consciência, a
racionalidade, a origem da informação biológica e os valores morais objetivos.
Diante disso, surge uma demanda crescente por modelos explicativos mais
abrangentes, que integrem dimensões não materiais da existência à investigação
científica.
O erro
filosófico do acaso como causa organizadora
O acaso,
por definição, é a ausência de direção, intenção e propósito. Ele não possui
mente, não visa objetivos e não opera segundo padrões consistentes. Sua
natureza é a desordem, a incerteza e a imprevisibilidade. Assim, ao se atribuir
ao acaso a origem de sistemas biologicamente complexos e funcionalmente
interdependentes — como o código genético, as enzimas reguladoras, ou os
mecanismos de replicação celular — incorre-se em um erro filosófico de
categoria: trata-se o acaso como se fosse um agente organizador, quando ele é,
por definição, o oposto disso.
Como
expressa Stephen Meyer: “A aleatoriedade, por si só, não pode gerar informação
funcional. [...] A seleção natural só atua depois que uma função aparece. Mas a
origem da função é o problema a ser explicado” (MEYER, Signature in the Cell,
2009, p. 108).
Esse
raciocínio é reforçado por Douglas Axe, cujos estudos demonstram que a
proporção de sequências de aminoácidos que resultam em proteínas funcionalmente
dobradas é extremamente pequena: “As sequências funcionais são tão raras que
qualquer processo aleatório está fadado ao fracasso em encontrá-las dentro do
tempo disponível no universo” (AXE, 2004, p. 1315).
A tentativa
de justificar a emergência de estruturas altamente ordenadas e dependentes de
relações internas necessárias por meio de tentativas aleatórias e seleção
cumulativa esbarra em três barreiras fundamentais:
Tempo
insuficiente: mesmo bilhões de anos não são suficientes para que mutações
aleatórias explorem de forma eficiente o vastíssimo espaço combinatório das
sequências biológicas funcionais (AXE, 2004).
Ausência de
informação prévia: a seleção natural só pode operar sobre estruturas já
funcionalmente existentes. Ela não cria, apenas filtra — o que requer que a
função já esteja presente de forma minimamente eficaz (MEYER, 2009).
A entropia
e a ordem local: a geração espontânea de ordem funcional a partir do caos viola
o comportamento estatístico da entropia, conforme descrito na Segunda Lei da
Termodinâmica. Embora sistemas abertos permitam aumento de ordem local, isso
exige um mecanismo direcional de canalização de energia — o que o acaso, por
definição, não oferece (SCHÜTZENBERGER, 1967).
Como
sintetiza o filósofo Marcel Schützenberger, colaborador do matemático Noam
Chomsky: “Não é plausível que um processo cego e aleatório possa gerar as
estruturas linguísticas e semânticas presentes no código genético. A teoria
neodarwinista está aquém do necessário para explicá-las” (SCHÜTZENBERGER, 1967).
Portanto, o
apelo ao acaso como origem da funcionalidade biológica representa uma violação
lógica, epistemológica e probabilística. Mais do que uma hipótese científica,
trata-se de uma mitologia moderna, onde o acaso é tratado como uma entidade
causal ativa — o que equivale a personificá-lo indevidamente.
A realidade
da complexidade funcional e interdependente
A natureza é repleta de sistemas altamente interdependentes, cuja
funcionalidade só se manifesta quando todas as suas partes estão presentes e
operando de forma coordenada. Esses sistemas não funcionam por partes ou por
aproximações — funcionam ou não funcionam. Esse tipo de estrutura é conhecido,
desde a década de 1990, como complexidade irredutível, termo cunhado por
Michael Behe, bioquímico da Lehigh University.
Behe define um sistema irredutivelmente complexo como: “Um sistema único
composto de várias partes bem ajustadas e interativas que contribuem para a
função básica, e em que a remoção de qualquer uma das partes causa a falha do
sistema como um todo” (BEHE, Darwin’s Black Box, 1996, p. 39).
Entre os exemplos mais citados estão o sistema de coagulação sanguínea,
composto por mais de 10 etapas bioquímicas que atuam em sequência exata
(fatores como fibrinogênio, protrombina, trombina, etc.). Qualquer falha nesse
encadeamento resulta em hemorragia ou trombose — não há funcionalidade parcial.
A fotossíntese, cuja eficiência depende da interação precisa entre luz,
clorofila, enzimas fotossintéticas e ciclos bioquímicos como o de
Calvin-Benson. É um sistema de conversão energética altamente específico, onde
cada componente depende dos demais.
O sistema de codificação genética, no qual o DNA só tem sentido
funcional se for replicado, transcrito em RNA, traduzido por ribossomos, lido
por enzimas reguladoras e interpretado por proteínas — todas também codificadas
no próprio DNA. Esse circuito auto-referente e dependente desafia explicações
gradativas ou baseadas em tentativas aleatórias.
Segundo o modelo darwinista
clássico, o chamado modelo
gradualista, estruturas complexas surgem por acúmulo
gradual de modificações vantajosas. No entanto, sistemas irredutivelmente
complexos não funcionam em estados intermediários. Uma enzima incompleta não
atua parcialmente; um sistema de coagulação sem um fator chave não protege o
organismo — ele simplesmente falha.
Behe pergunta: “Como um processo cego e não-direcionado poderia
construir algo que exige, simultaneamente, múltiplos elementos interdependentes
para funcionar?” (BEHE, 1996, p. 104).
Ordem funcional implica intenção. A lógica implicada é direta: a ordem
funcional pressupõe finalidade, e a finalidade pressupõe intenção. Não há como
separar a presença de sistemas altamente ordenados e informacionalmente
dependentes de uma ação intencional organizadora. Assim, atribuir sua origem ao
acaso cego e à seleção natural não responde satisfatoriamente ao problema da
origem funcional simultânea.
“A seleção natural pode explicar a sobrevivência dos mais aptos, mas não
a chegada dos mais aptos” (BEHE, Darwin’s Black Box, 1996, p. 221).
Exemplos de Complexidade Irredutível
Sistema |
Componentes Interdependentes |
Consequência da Falha de um Elemento |
Coagulação Sanguínea |
Fibrinogênio, Protrombina, Fatores VII-XIII, Trombina, Fibrina |
Hemorragia ou trombose — o sistema falha completamente |
Fotossíntese |
Luz, Clorofila, Fotossistemas I e II, Ciclo de Calvin, ATP e NADPH |
Fotossíntese ineficaz — sem produção de glicose e energia para a
planta |
Código Genético |
DNA, RNA, Ribossomos, Enzimas de transcrição e tradução, Proteínas
reguladoras |
O sistema de codificação quebra — proteínas essenciais deixam de ser
produzidas |
Relações
obrigatórias pressupõem design e propósito
A vida na Terra está alicerçada sobre uma rede
de interdependências estruturais, que envolvem cooperação, serviço mútuo e
funcionalidade cruzada entre organismos e organelas. Estas relações
obrigatórias são observadas em diversos níveis da biologia, e não surgem por
mera conveniência evolutiva — são pré-requisitos para a existência da vida tal
como a conhecemos.
Exemplos emblemáticos incluem:
Abelhas e flores: as abelhas dependem do
néctar das flores para alimentação; as flores, da polinização feita pelas
abelhas para reprodução. Trata-se de uma cooperação mútua sofisticada, que
exige sincronização comportamental, anatômica e química (SEELEY, 1995).
Mitocôndrias e núcleo celular: as mitocôndrias fornecem energia (ATP) essencial ao núcleo, enquanto o núcleo provê as instruções genéticas necessárias à replicação mitocondrial. Essa simbiose intracelular é tão estável que muitos biólogos consideram impossível que ela tenha se formado por estágios independentes (LANE, 2005).
Humanos e plantas: seres humanos e animais respiram oxigênio e exalam CO₂; as plantas absorvem CO₂ e liberam O₂. Esse ciclo gasoso só é funcional se as duas partes existirem juntas — sugerindo planejamento conjunto, e não surgimento isolado (MARGULIS; SAGAN, 2002).
Design, não competição. Esse tipo de relação não favorece a sobrevivência isolada de indivíduos, como propõe o paradigma da seleção natural clássica, mas sim a manutenção cooperativa do sistema como um todo.
“A interdependência das espécies em sistemas ecológicos complexos sugere uma arquitetura informacional anterior à emergência dos organismos” (DENTON, 2016, p. 108).
Ao contrário do modelo darwinista baseado na competição, essas estruturas operam como sistemas de serviço mútuo — algo que requer coordenação funcional desde o início. O biólogo evolucionista Lynn Margulis foi uma das primeiras a desafiar o paradigma competitivo dominante, afirmando que: “A vida não conquistou o mundo pela luta, mas pela rede” (MARGULIS; SAGAN, Microcosmos, 2002, p. 13).
Limites da seleção natural
A seleção natural, como filtro de mutações
aleatórias, não é dirigida e não possui visão de conjunto. Ela favorece
vantagens imediatas para indivíduos específicos — e não sistemas inteiros com
múltiplas partes em simbiose. Além disso, não há seleção futura: a seleção não
pode “planejar” um sistema de trocas funcionais interdependentes.
O filósofo da ciência Stephen Meyer sintetiza: “Sistemas dependentes de múltiplas partes funcionais não podem surgir por etapas, pois nenhum dos elementos isolados tem valor adaptativo” (MEYER, 2009, p. 115).
A assinatura moral e relacional do Criador
A Bíblia
revela que Deus criou todas as coisas com sabedoria, e que “nEle tudo
subsiste” (Colossenses 1:17). Essa subsistência inclui:
- Leis naturais estáveis
- Finalidade moral (o bem do outro)
- Chamado ao relacionamento (o amor como lei do ser)
O universo,
portanto, não é um agregado de partes soltas, mas um organismo vivo
interconectado, que reflete o caráter relacional do Criador:
“Façamos o
homem à nossa imagem...” (Gênesis 1:26) — pluralidade relacional desde a
origem.
Se o
Criador é amor (1 João 4:8), então Sua criação também refletirá serviço
mútuo, interdependência, vínculo e ordem.
Conclusão:
O colapso filosófico da evolução cega
Ao
observarmos a natureza — desde os átomos aos ecossistemas — percebemos que:
- A ordem é real
- A relação é estrutural
- A cooperação é indispensável
- O propósito é evidente
Portanto, atribuir
ao acaso a origem de um universo funcional, relacional e moralmente estruturado
é não apenas insuficiente, mas logicamente insustentável.
A criação
clama por um Criador — não qualquer um, mas Um cuja mente concebe a beleza,
cuja vontade deseja o bem e cuja natureza é amor.
Referências
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1996.
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