A grande controvérsia cósmica
criada por satanás está muito além do que podemos ver e entender; profundamente
e ameaçadoramente além da nossa prosaica visão da realidade. Há realizações que
não podemos perceber por tratar-se de operações muitíssimo elaboradas,
envolvendo camadas da realidade que estão veladas aos nossos sentidos. Por essa
razão, é tudo muito perigoso. A Bíblia nos adverte: “Porque não temos que lutar
contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as
potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes
espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Efésios 6:12).
O grande conflito ocorre bem
diante de nós e envolve nossos destinos. A posse da nossa capacidade de
escolha, do nosso livre arbítrio, da nossa adesão, da nossa aquiescência, da
nossa militância, é o grande objetivo. Neste contexto, ou somos protagonistas
críticos, ou somos vítimas. O ser vítima é a pior das situações, uma vez que
envolve nossa inocência despreocupada, bem como, nossa inércia ignorante em não
saber que estamos envolvidos até o pescoço, fato que não desculpa ninguém por não
compreender o que nos diz respeito.
O inimigo de Deus tem vantagens
muito decisivas em virtude das nossas condições morais. A nossa fragilidade
moral e mental é um trunfo muitíssimo importante que satanás usa para nos
tornar inertes e sem vontade. Sabemos que a carne é fraca e aceitamos que haja
contínuo abatimento, por força dos nossos comportamentos e hábitos degradantes,
os quais reforçamos durante nossa existência. Sair dessa situação requer
mudança mental profunda. Nosso entorno social e cultural conspira para que
mantenhamos nosso status quo. O sistema educacional terrestre reforça
nossa conformidade com os pressupostos do inimigo, nosso arcabouço legal nos
faz pensar que o cumprimento das leis humanas é o suficiente para termos
capacidade moral; tudo fica ainda mais complicado porque nossas leis são antropocêntricas
e, portanto, favoráveis aos pressupostos do inimigo.
Contra nós está a nossa
condescendência com o imediatismo e nosso raciocínio concupiscente. Tal
situação nos coloca imediatamente no centro do conflito e ao lado do inimigo,
uma vez que a paciência e a pacificação são qualidades do sistema de Deus.
Trazemos o imediatismo para o centro do nosso quotidiano, para o centro dos
nossos interesses, queremos todas as realizações imediatas, trazemos essa
percepção para o centro de nossa relação com Deus. Porém, no ambiente bíblico,
não há espaço para imediatismos, uma vez que o ego não está no centro do
comportamento dos seres inteligentes que operam no sistema de Deus.
O inimigo conhece as dimensões da
alma humana. Ele opera o sistema social humano para que o imediatismo esteja marcando
o compasso das negociações sociais humanas, logo, quanto mais rápido
conseguirmos nossas metas, mais sucesso percebemos. Tal pensamento também está
no âmbito das ações religiosas. O sucesso dos sistemas religiosos espúrios, em
relação à Bíblia, está na possibilidade do atendimento imediato às demandas dos
fiéis. Milagres, experiencias místicas, cartomancia, necromancia, astrologia, entre
outras formas religiosas, sempre buscam solucionar ou desvelar coisas ocultas e
de forma imediata. E qual o problema com esse comportamento? O imediatismo é o
resultado do reinado ou supremacia do ego.
As formas mais inteligentes
utilizadas pelo inimigo para vencer o grande conflito estão no atendimento
imediato das exigências humanas, de acordo com o querer antropocêntrico. A
assertiva da serpente lá no paraíso “sereis como Deus” se evidencia no culto ao
homem e no atendimento das suas demandas imediatamente. Os deuses criados pelo
paganismo, requerendo o atendimento imediato das suas demandas, em troca de um
suposto apaziguamento, refletem, portanto, a condição moral humana egocêntrica,
pois os deuses são criados à semelhança humana, à semelhança do seu criador. Os
sistemas religiosos humanos tendem a corrigir a demora no atendimento às
demandas; o antropocentrismo não poderia criar nenhum sistema onde o homem não
fosse central.
As igrejas cristãs estão sendo
solapadas por uma verdadeira onda de imediatismo religioso. Os chamados
movimentos carismáticos cristãos (católicos e protestantes) sempre operam
milagres – demandas imediatas - e buscam experiências místicas sensoriais que deem
possibilidade de uma interação física imediata com a divindade; os cultos
carismáticos são apelativos e buscam ordenar que a divindade atenda os
interesses em jogo. Neste sentido, não são os homens que fazem uma translação ao
redor de Deus, mas Deus translaciona em torno dos fiéis. Esta é uma situação de
erro fatal, porque o homem não é Deus e está colocando a si mesmo no centro:
sereis como Deus.
Na Bíblia, não se pode encontrar
apoio ao antropocentrismo. Aliás, o homem não possui nenhuma maneira de controlar
Deus.
Uma das experiencias
esclarecedoras de como não se pode controlar Deus, está no relacionamento de
Abraão com Deus. Em Gênesis capítulo 15, Deus fala com o patriarca e anima-o
prometendo um filho. Abraão não tem qualquer controle da situação. O tempo
passa e dez anos depois da promessa, Sara a sua esposa (Gênesis 16), invocando
o código mesopotâmico de Hamurabi, destarte, utilizando-se da legalidade social
humana, e atendendo ao imediatismo, que é, na verdade, a antítese da fé, entra
em aliança com Abraão e consente em dar sua escrava Agar para gerar um filho
que Sara consideraria como seu. O que acontece em seguida? Agar não querendo
manter a aliança, começa a desvalorizar Sara. Porém, Sara, novamente se
utilizando do código de Hamurabi e não observando a lei de Deus - veja o perigo
da legalidade social puramente humana e do imediatismo - passa a maltratar Agar
conforme permite a lei de Hamurabi. É importante notar que um erro leva sempre
a outro erro. Agar, muitíssima humilhada por Sara resolve fugir, numa atitude
ilegal, mas que resolvia sua humilhação imediatamente. Ao se aproximar da
fronteira egípcia, Agar para e descansa à beira de um poço, quando é
interpelada por um anjo, da parte de Deus, que aconselha a que volte e se
humilhe diante de Sara. O parecer do anjo nos mostra que Deus tem o controle de
todas as situações. Agar era serva e teria que continuar assim. A questão da
humilhação Deus resolveria por ela com Sara. Nosso dia a dia está sob controle
de Deus e não no mando do imediatismo ditado pelo egoísmo humano. Entretanto,
Sara dispensou Agar e teve que esperar por Deus. As ações de Deus não são
pautadas pelo egoísmo humano, mas, por sua misericórdia que sempre usa as
oportunidades para educar aqueles a quem ama. O resultado das ações de Deus, no
seu devido tempo, gera a fé.
O imediatismo é muito utilizado
pelo inimigo para impedir o desenvolvimento da fé. Confiança é uma construção
demorada. José, no Egito, esperou mais de uma década pela resposta de Deus às
suas orações, enquanto prisioneiro. O crer nas promessas de Deus não significa concretizações
de imediato, sendo necessário àquele que crê esperar, porque se não espera, não
crê.
A esperteza do inimigo é
muitíssimo fina. Se não temos uma lente para ampliar o engano não o percebemos.
Se não o percebemos, somos presas inocentes. A ilusão do imediatismo está nas
tentativas de trazer para o culto a Deus formas de cerimônias que resolvem
demandas urgentes. Assim, por exemplo, a tentativa de evangelizar, às pressas, por
causa da urgência das profecias, produzindo interesse de que o ambiente cristão
seja imediatamente aceito por parte dos pagãos, e por esse motivo, a metodologia aplicada
pelos cristãos é a redução das formalidades rituais, a camuflagem religiosa que
chega a usar serviços sociais, que oferecem soluções imediatas, como principal
produto religioso, ao invés de ajudar na construção de uma confiança nas
promessas de Deus. Trata-se de uma dessas armadilhas sutis, que trazem ao
centro do culto o próprio homem. Tais atualizações são formas inteligentes de
antropocentrismos que, à esmagadora maioria dos crentes passam desapercebidas.
Cultos antropocêntricos são necessários aos propósitos satânicos porque não
produzirão jamais uma fé viva, apenas sensações místicas. Fé viva tem a ver com
espiritualidade, e esta, com aprimoramento do discernimento, o qual é a
capacidade de distinguir o certo do errado, distinguir o bem do mal. Somente o
aprimoramento do discernimento poderá livrar os crentes do engano colossal do
imediatismo. O seguidor de Cristo não deve condescender com nenhuma satisfação
antropocêntrica, mas repelir qualquer onda do mal.
Então, não acontecem milagres imediatos
da parte de Deus? Milagres imediatos estão relacionados com perigos iminentes.
Geralmente, tais situações estão completamente fora do controle humano. Se
nossas demandas podem ter algum tipo de controle de nossa parte, Deus nos fará
esperar para que venhamos a construir confiança nele e, consequentemente, a fé.