Em Gênesis 37:5-8 a Bíblia nos
conta sobre um sonho que José, filho de Jacó, tivera e que narrara aos seus
familiares: “Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram
ainda mais. E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: Eis
que estávamos atando feixes no meio do campo, e eis que o meu molho se
levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos feixes o rodeavam, e se
inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus irmãos: Tu, pois, deveras
reinarás sobre nós? Tu deveras terás domínio sobre nós? Por isso ainda mais o
odiavam por seus sonhos e por suas palavras”.
No domínio da teologia judaica há
um aviso importante sobre os fatos narrados na Torá. Dizem os sábios que se a Torá
diz, então deve-se prestar muita atenção. Baseados nessa premissa vamos
analisar um pouco do sonho acima.
Na verdade, o capítulo 37 de
Gênesis fala de dois sonhos; um ligado ao trabalho no campo, ou seja, às coisas
deste mundo e outro onde aparecem o Sol a Lua e onze estrelas, nos informando
que as coisas terrenas estão ligadas às coisas dos céus. Do mesmo modo, no
sonho de Jacó, era vista uma escada que ligava a Terra ao Céu. Estes sonhos
parecem informar que os acontecimentos terrenos não estão desligados da percepção
celeste. No entanto, vamos focar no
primeiro sonho de José e tentar ver o que podemos aprender ali e trazer para
nossos dias.
O sonho começa com a aproximação
de hastes que estavam separadas e foram atadas em feixes. O sonho
começa com trabalho, e por este motivo, é útil entendermos o que significa
trabalho. Avodá é a palavra que
aparece, e esta significa o esforço envolvido no serviço a Deus. O serviço a
Deus deve envolver ações físicas que levam à santidade. Deve haver diligente
trabalho para satisfazer as exigências da Lei. Veja bem, no domínio profano não há esforço
para o serviço a Deus, há esforço para o serviço egoísta, e no caso do sonho de
José todos trabalhavam para juntar feixes.
O Rabi Jonathan Sacks, em sua
obra Lições da Torá, narra um episódio sobre o Rebe Maharash, que discutia com
os seus dois filhos pequenos sobre as virtudes do judeu, e para demonstrar o
seu argumento, ele perguntou ao seu criado: “Bentsion (filho de Sião) – você comeu?
Sim, respondeu o servo. Você comeu bem? Estou satisfeito, graças a Deus. Por
que você comeu? Para viver. Por que você vive? Para ser um judeu e para fazer
aquilo que Deus deseja. Ao dizer isto, o servo suspirou”. Mais tarde o Rebe
Maharash disse aos seus filhos: “Vejam, um judeu tem uma intenção espiritual em
toda ação física, os próprios atos são espiritualizados.
A história acima traz luz à
mensagem contida no sonho de José. O fato de estarem trabalhando e atando feixes
significa que num mundo separado de Deus, num mundo de ocultação que é como um
campo, as coisas e as pessoas crescem separadas. Esta é a orientação do
inimigo, a orientação do ego, que cria a dessemelhança e a separação. No entanto,
o cristão deve ir além disso, atando feixes, ou seja, atando como feixes as
muitas facetas do próprio ser unificando-as num serviço transcendente ao ego e
a separação, num serviço a Deus. Esta é uma tarefa pessoal e intransferível, a
qual deve ser auxiliada pela educação, pelo estudo, pela dedicação no
aprimoramento moral. A semelhança do servo do Rebe Maharash, que comia para ter
saúde e assim servir a Deus, temos obrigação de prover nosso desenvolvimento
num mundo físico para poder atuar no serviço a Deus, atando os feixes.
Há ainda uma perspectiva
coletiva. O realizar feixes significa que ao cristão foi destinada a tarefa de
juntar os dispersos, os homens a serviço do mundo, a serviço do ego, e junta-los
em feixes tornando-os unidos para que ao invés de membros individuais atuem em
harmonia na direção a um objetivo adequado. Chamamos a atenção para o propósito
da Igreja de Deus. Em Romanos 12:3-11 lemos: ”Porque pela graça que me é dada,
digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes,
pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque
assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma
operação, assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes
dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida
da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao
ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com
liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com
alegria. O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. Amai-vos
cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos
outros. Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo
ao Senhor”.
Cabe aos líderes religiosos
trabalhar para que os feixes sejam atados. O pastor de uma comunidade, o pai de
uma família, todos devem trabalhar para que os feixes estejam construídos. No
entanto, a segunda parte do sonho é ainda mais importante. Os feixes depois de
atados e adicionados curvaram-se diante do molho de José. Estamos falando do
aprimoramento no serviço; o ato de curvar-se ou submeter-se àquilo que é ainda
mais elevado do que nós. Os cristãos formam uma unidade como se fossem membros
de um mesmo corpo. Assim como um corpo é coordenado somente quando seus
músculos obedecem ou respondem às ordens do sistema nervoso central, também a
saúde espiritual dos cristãos depende de sua submissão à cabeça que é Cristo. É
Ele quem instrui aos cristãos para atuarem em harmonia, em direção ao serviço adequado.
De fato, sem a unificação e a submissão jamais poderão os cristãos realizarem o
serviço a Deus.
A lição importante extraída desse
primeiro sonho de José é que primeiro se deverá atar feixes e depois a
submissão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário