terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O ritual do santuário pode ser visto na igreja cristã?


O ritual do santuário pode ser visto na igreja cristã?

No Éden, ao sexto dia da criação, fez o Senhor Deus ao Homem. Este fora criado à imagem e semelhança do criador. Quer significar que o homem era de aparência física semelhante a Deus ( as descrições bíblicas da aparência de Deus  Eze.1; Apoc.1), mas, também levava consigo a imagem de Deus, ou seja, o seu caráter, sendo que essa imagem se fazia mais evidente em termos de sua natureza espiritual a qual refletia a santidade do seu criador. Com tais características o homem tinha acesso direto a Deus e seu proceder era de acordo com lei do céu (dez mandamentos) sendo por isso semelhante a Deus.

Os dez mandamentos são a lei que governa o reino de Deus. Os princípios que estão subjacentes na lei é o amor a Deus e ao próximo, tal qual Jesus expressou no sermão da montanha de Mateus 5. Vemos a eficácia da lei em Adão quando examinamos o diálogo deste com Deus após a criação da mulher: “E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada” Gen.2:23. A frase de Adão demonstra o cuidado que ele havia de devotar a Eva. Logo após a queda, o diálogo muda: “ Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi” Gen.3:12. Aqui vemos que a lei dos dez mandamentos perde a sua pujança; não há mais cuidado com a mulher, e esta passa a ser vista como dificuldade. Enquanto a lei estabelece harmonia entre iguais, a ausência da lei estabelece quebra de relacionamento.

Enquanto o homem esteve sob o domínio da lei, podia falar face a face com o Senhor e este, por seu turno, repassava ao casal em formação, as instruções sobre como permanecer no ambiente do céu.

Pós-pecado

Com a capitulação de Adão às doutrinas de Lúcifer, a lei dos dez mandamentos deixou de ser a regra básica em vigência e os homens foram submetidos à lei antagônica que leva a desarmonia. Uma vez que o pecado original em Lúcifer foi a cobiça, esta se transforma na base sobre a qual está assentada a sociedade humana. A característica marcante do comportamento é o egoísmo e, nestas circunstancias, não há como existir harmonia com a lei do céu, a qual prevê amor a Deus e ao próximo.

Sacrifício de ADÃO

Conforme a Bíblia havia sido prevista a possibilidade do pecado no caso do homem e, como solução Jesus assume o papel do cordeiro sacrifical que foi morto desde a fundação do mundo. A pergunta que surge é: por que cordeiro sacrifical? Porque o sacrifício foi o meio estabelecido para o homem se aproximar de Deus? A resposta parece obvia se olharmos atentamente os pressupostos da lei: Amor a Deus e amor ao próximo. Uma vez que a base do pecado é a cobiça, o egoísmo, então, somente uma disposição contrária poderia aproximar o homem à base do reino de Deus. A primeira providência tomada por Deus logo após a queda de Adão foi o sacrifício de um cordeiro efetuado antes da expulsão do casal do Éden.  Sacrifícios são o oposto da cobiça e do egoísmo e, demonstrando através dos sacrifícios arrependimento pelo pecado, o homem poderia se aproximar de Deus.

Os patriarcas

Sacrifícios são o culto instituído por Deus para o homem. Ninguém pode se aproximar da divindade sem apresentar sacrifícios, uma vez que a cobiça tornou-se parte da essência humana a qual não mais é semelhante a de Deus. Por esse motivo os patriarcas ofereceram sacrifícios onde quer que fossem. Por exemplo, em Gn 12.7 “ Apareceu, porém, o Senhor a Abrão, e disse: À tua semente darei esta terra. Abrão, pois, edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera”. Disto depreendemos que o primeiro e mais importante protocolo estabelecido por Deus foi o sacrifício, onde o homem colocava sobre o altar o símbolo do próprio sacrifico de Jesus, sendo que a fé era o elo entre Deus e o homem.
Abraão é chamado na Bíblia de o pai da fé, pois não duvidou da promessa de Deus da vinda de um redentor. Ele ensinou aos seus descendentes a fé no Messias e isto se tornou a base religiosa conformadora do povo hebreu.

A ida para Egito

Após a migração do povo hebreu para o Egito durante o governo de José, o filho de Jacó, neto de Abraão, o culto sacrifical foi mantido por muito tempo, mas, com a subida ao poder de uma dinastia que não era simpática aos hebreus, estes foram submetidos como escravos e impedidos da prática religiosa conforme conheciam.  Assim, após suscitar Moisés como líder, Deus retira o povo do Egito afirmando que eles deveriam adorá-lo no deserto.  Saíram do Egito e acamparam no pé do monte Sinai onde lhes foram entregues as tábuas com a lei. Este ato de Deus está carregado de pedagogia à qual devemos atentar: i) A solenidade daquele momento demonstra a distância entre Deus e os homens; ii) o grande poder de Deus demonstrado através da natureza e a entrega da lei fez os israelitas tomarem consciência da sua própria pecaminosidade, eles temeram por suas vidas e, por esse motivo, passaram a entender a necessidade de salvação.

Em seguida, Deus chama a Moisés e dá-lhe o modelo de um templo, o chamado tabernáculo, cuja motivação era que Deus queria estar com o seu povo, mas, mais importante ainda era a exposição pictórica do plano da redenção. Assim, o tabernáculo tornou-se o local onde de forma visível seria o ponto de encontro entre Deus e os homens, mas também o local onde o povo deveria achar o caminho da expiação.

O tabernáculo era chamado por Moisés de tenda da reunião. Ora, se era o local do encontro entre Deus e os homens, então se torna importante entender o tabernáculo, considerando a eternidade de Deus. Se Deus não muda, pode ser que hoje tenhamos perdido de vista a importância do tabernáculo por causa de instruções e tradições que nos distanciaram de Deus. Por esse motivo, seria de grande importância compreender não somente o tabernáculo do ponto de vista arquitetônico, mas, especialmente o que representa na aproximação de Deus a nós, já que foi o próprio Deus quem instruiu sua construção. Além disso, todo o ritual do santuário também é cheio de protocolos de aproximação, ou seja, expiação que, dada a eternidade de Deus, ainda carregam lições importantes àqueles que efetivamente querem aproximação com a divindade ou querem acertar suas contas com a justiça de Deus. Ver de perto todo o ritual poderá indicar formas de ligação com Deus que se perderam com as interpretações cristãs modernas.

O Tabernáculo do deserto

Depois de haver dado a Moisés as instruções obre a construção do tabernáculo, Deus dotou de sabedoria aos artesãos que trabalharam na construção propriamente dita. Além disso, Moisés convocou ao povo para que doasse o material de que necessitava o tabernáculo, e o povo doou ouro (cerca uma tonelada) e prata (cerca de três toneladas e meia) e bronze (cerca de duas toneladas e meia). Esta atitude de doação coletiva testificou que amavam a Deus e ofereceram com espírito de abnegação e sacrifício, tudo conforme prescrevera a lei dos dez mandamentos, conforme informa Sl. 105.37 “E fez sair os israelitas com prata e ouro, e entre as suas tribos não havia quem tropeçasse”. Os preparativos para a construção do tabernáculo já nos ensinam que não é possível chegar-se a Deus sem oferecer sacrifícios.

Toda a obra de construção durou seis meses. Dois homens foram os lideres encarregados da obra: Bezaleel e Aholiab. Cada elemento foi cuidadosamente esculpido e nada estava mal feito. Moisés mesmo inspecionou cada item declarando que era “muito bom”, tal qual fizera Deus ao contemplar toda a obra das suas mãos (Gn. 1:22). Todavia, o tabernáculo não estava montado, somente as peças estavam prontas para a montagem. Da mesma forma o homem havia completado o santuário onde Deus prometia morar (Ex. 25:8). Representava os melhores esforços do homem e havia sido feito de acordo como Deus ordenara. Então, processou-se a montagem do edifício. Quando este foi concluído, a nuvem que acompanhava o povo hebreu migrou para cima do tabernáculo, baixou sobre ele envolvendo-o completamente, significando a aceitação por Deus da tenda da reunião, todo o edifício foi cheio com a glória de Deus. Depois que o evangelho for pregado a todo mundo os escolhidos serão reunidos (Mat. 24:14,31), então, toda pedra viva (1Reis 6:7; 1 Pe2:4,5) que tenha sido lavrada e acabada de acordo com o modelo divino, ocupará seu lugar no templo de Deus (Ap. 3:12) Estamos agora construindo os caracteres que um dia haverão de formar parte daquela morada eterna (Mat.6:19-21; 7:24-29). Uma vez que se haja completado o trabalho preparatório, relacionado com o reino de Deus, de acordo com o plano, não tardará em estabelecer esse reino com toda a sua glória, Cristo aparecerá então, e seu povo aparecerá com ele (Col.3:4).

Os rituais

Os rituais foram estabelecidos com parte do plano para Deus habitar entre os homens. A palavra hebraica para sacrifício/oferta é “qorban” cuja raiz está no verbo “qorab”, significando chegar-se a. Assim, os sacrifícios ou oferendas eram como que interfaces de comunicação entre o homem e Deus. Havia dois tipos de holocaustos (do grego holos=tudo e causto=queimar): os obrigatórios e os voluntários. Alguns dos holocaustos obrigatórios deviam oferecer-se em determinadas ocasiões e eram apresentados pelos sacerdotes para benefício de toda a nação.  Entre estes estão o holocausto diário (Exo. 29: 38-42; Núm. 28: 3-8); o holocausto sabático (Núm.28: 9, 10), e os holocaustos das festas de lua nova, de páscoa, de Pentecostes, da festa das trombetas, do dia de expiação, e da festa dos tabernáculos (Núm. 28: 11 a 29: 39). Outros holocaustos obrigatórios eram de natureza ocasional, e eram apresentados pelas pessoas afetadas.  Tais eram os holocaustos em ocasião da consagração de um sacerdote (Exo. 29: 15-18; Lev.  8: 18-21; 9: 12-14), do nascimento de um menino (Lev. 12: 6-8), da purificação de um leproso (cap. 14: 19, 20), da purificação cerimonial (cap. 15: 14, 15, 30), e quando se tomava o voto do nazareato (Núm. 6: 13-16).

Os holocaustos voluntários podiam ser apresentados por uma pessoa em qualquer momento, mas deviam ater-se sempre aos mesmos regulamentos que regiam os holocaustos obrigatórios (Núm. 7; 1 Rei. 8: 64). Os regulamentos de Lev. 1 correspondem especificamente aos holocaustos voluntários, embora o ritual também era similar para os outros.

"Se seu qorban fosse 'olah".  'Olah é a palavra hebraica comum para designar o "holocausto", e significa "o que ascende". Outro vocábulo, usado somente duas vezes, é kalil, que significa "inteiro".  Estas palavras se derivam do fato de que os holocaustos eram inteiramente consumidos sobre o altar e que, ao ascender a fumaça, em forma figurada ascendia a oferenda para Deus. A palavra "holocausto" descreve bem ao sacrifício queimado por fogo.  Não se comia nenhuma parte do holocausto, como ocorria com alguns outros sacrifícios; tudo se queimava e subia a Deus em chamas como "aroma suave”.  Não se retinha nada.  Tudo era entregue a Deus.  Indicava uma consagração completa.
Mencionam-se pela primeira vez os holocaustos logo após o dilúvio, quando Noé "ofereceu holocausto no altar" (Gén. 8: 20). Logo se menciona na ordem dada Por Deus a Abraão de que oferecesse a seu filho "em holocausto sobre um dos Montes que eu te direi" (Gén. 22: 2).  O livro do Job, possivelmente o mais antigo da Bíblia, registra que Job "levantava-se de amanhã e oferecia holocaustos ... porque dizia Job: Possivelmente terão pecado meus filhos, e terão blasfemado contra Deus em seus corações" (Job 1: 5).  Evidentemente Job acreditava que seus holocaustos serviriam para apartar a ira de Deus, embora seus filhos não oferecessem sacrifícios eles mesmos e possivelmente não se deram conta de seu pecado.  Os rabinos tinham um dito: "Os holocaustos fazem expiação pelas transgressões de Israel".
Os holocaustos foram os mais antigos de todos os sacrifícios, como também os mais característicos e completos; reuniam entre si os elementos essenciais de todos os sacrifícios.  Sua importância resulta evidente ao considerar que, durante séculos, foram os únicos sacrifícios realizados.  Mais tarde, quando se ordenou a apresentação de outros sacrifícios, declarou-se expressamente que não deviam substituir ao "holocausto contínuo", mas sim deviam oferecer-se além deste (Núm. 28: 10; 29: 16; etc.).
Embora o sacrifício diário, de amanhã e de tarde, obrigatório até no grande dia da expiação, era devotado pela nação, também tinha um propósito bem definido em benefício de cada israelita.  Quando finalmente foi instalado o serviço do santuário em Jerusalém, Deus mandou que daí em diante todos os sacrifícios deviam ser levados lá, e que os sacerdotes só deviam oficiar no altar. Embora deste modo se centralizava o culto e se obtinha a uniformidade, e isto era útil, criavam-se certos problemas para os que viviam em lugares distantes do santuário.  Uma viagem desde a Galilea até Jerusalém podia levar vários dias, especialmente se se levava o animal para o sacrifício. Em sua viagem de volta a casa, o homem podia pecar de novo, e podia precisar fazer outra viagem ao templo. É obvio isto era impraticável. Para uma pessoa, o sacrifício diário, de amanhã e de tarde, oferecia uma feliz solução.
Os animais que deviam ser usados como sacrifícios diários eram comprados com dinheiro contribuído por todo o povo.  Todas as manhãs se oferecia no altar do holocausto um cordeiro em favor de toda a nação, e à tarde se repetia o mesmo serviço.  Este holocausto proporcionava expiação temporária e provisória para a nação, até que o pecador pudesse comparecer, levando seu próprio sacrifício.  Estes sacrifícios nacionais tinham o mesmo propósito em benefício da nação que os sacrifícios oferecidos por Job, quem dizia: "Possivelmente terão pecado meus filhos, e terão blasfemado contra Deus em seus corações" (Job 1: 5). Job não sabia se seus filhos tinham pecado.  Mas existia a possibilidade de que assim o tivessem feito. Portanto, a fim de "cobri-los" até que pudessem oferecer seus próprios sacrifícios, Job atuava em lugar deles.  Da mesma maneira, o holocausto diário, devotado pela nação, protegia Israel até que cada um pudesse trazer sua oferenda individual.  O Talmud  ensina que o sacrifício matutino expiava os pecados cometidos durante a noite, e o sacrifício vespertino, os pecados do dia.

Os holocaustos diários eram queimados no altar, mas com fogo lento, para que um sacrifício durasse até que fosse colocado o próximo (Lev. 6: 9).  O sacrifício vespertino durava até a manhã, e o sacrifício matutino durava até a tarde.  Deste modo, sempre havia uma vítima sobre o altar para proporcionar expiação provisória e temporária para Israel. Quando um homem pecava, embora não pudesse comparecer imediatamente no santuário, ou até por semanas e meses, sabia que havia um sacrifício sobre o altar que se consumia em seu favor, e que ele estava "protegido" até que pudesse apresentar sua própria oferenda e confirmar seu arrependimento.
Esta misericordiosa medida feita em favor dos pecadores de antigamente constitui uma grande esperança para o pecador de hoje.  Há vezes quando pecamos, mas não damo-nos conta disso até mais tarde, e, portanto não fazemos uma confissão imediata.  Que consolo é saber que Cristo está sempre preparado a "nos cobrir" com o manto de sua justiça até que nos precavamos de nossa condição; saber que Jesus nunca nos deixa nem nos abandona; que até antes de que aproximemo-nos dele, já tem feito a provisão necessária para que sejamos salvos. Graças a Deus por esta maravilhosa provisão!  Entretanto, ninguém deve aproveitar-se indevidamente deste benefício e demorar a confissão.

Embora os holocaustos mencionados em Lev. 1 são todos voluntários e pessoais, o ritual a seguir-se devia ser preciso e estrito. Desta maneira acostumava-se aos israelitas a obediência implícita. Deus pode perdoar, e Deus perdoará, mas deve haver uma adesão absoluta às instruções divinas. Quem deseja aproximar-se de Deus, deve fazê-lo como Deus manda.  O único culto aceitável diante de Deus é aquele que está de acordo com sua vontade; não o que nos pareça melhor e mais efetivo, não o que nós pensemos que seja mais adequado à ocasião, não o que parece trazer os resultados mais rápidos ou maior quantidade de dinheiro, a não ser só o culto que Deus aprova e sobre o qual pode derramar sua bênção.

Usavam-se quatro classes de animais como holocaustos: bezerros, ovelhas, cabras e aves.  Quem apresentava a oferenda podia escolher.  O rico naturalmente preferia apresentar um bezerro.  O pobre podia apresentar somente um filhote de pomba ou uma rolinha, se não tinha mais recursos. É significativo que Maria, a mãe do Jesus, apresentasse duas rolinhas como oferenda logo após o nascimento de seu Filho (ver Lev. 12: 8; Luc. 2: 22-24).  José e Maria eram pobres.  O leão e a águia, reis das feras e das aves, não podiam ser usados para os sacrifícios posto que eram animais imundos; em troca se usavam o cordeiro e a pomba. Deus não pode tolerar um espírito altivo, mas aceita aos mansos e humildes.
O holocausto voluntário era uma dádiva de amor, de dedicação e de consagração.  Oferecia-se com um espírito de alegre sacrifício a Deus.  Era mais que um presente; significava dar-se a si mesmo, em sacrifício vivo.  Hoje não oferecemos holocaustos, mas faríamos bem em aplicar à nossa vida diária esse espírito que impelia a oferecer holocaustos.  Deus ainda se agrada do
serviço contente e voluntário (2 Cor. 9: 7).
"Para que seja aceito será sem defeito" (Lev. 22: 21).  Isto faz ressaltar o fato de que Deus exige o melhor que temos.  Possivelmente não sejamos ricos, nem possamos apresentar grandes oferendas a Deus, mas o quer que dermos deve ser perfeito.  Não devemos apresentar nada que seja inferior ao melhor que tenhamos.  Não devemos dar a Deus o que seja de valor inferior: uma moeda defeituosa, uma propriedade impossível de vender, restos de tempo livre.  Em troca devemos servir a Deus com o melhor que esteja a nossa disposição.

O significado do tabernáculo

O plano da redenção possui aplicações que vão desde o plano individual até o plano cósmico macro. Assim, é necessário contextualizar o ritual do santuário no plano macro da redenção e, somente assim, ele passa a ter significado transcendente ao judaísmo.

Os três principais sacrifícios eram uma sombra das etapas que deveriam ser cumpridas no grande plano para salvar o homem. Mas, antes de analisarmos e contextualizarmos hodiernamente o tabernáculo será necessária uma apreciação do conceito de pecado. Assim, vejamos, a palavra pecado vem do hebraico Chatta’th que significa falta, ou perder uma marca, ou ainda ficar aquém, fazer errado,  ofender, ser culpável.

A Bíblia quando aborda o pecado conceitua-o, pelo menos, de quatro modos: i) Pecado é uma violação de uma norma definida, uma violação da lei de Deus (1 João 3: 4).  Se concebermos a lei como uma linha reta que deve ser seguida, qualquer desvio dessa linha seria pecado.  Tal desvio pode ser acidental ou intencional, mas é sempre pecado. Ii) Pecado é ficar aquém; não alcançar a meta da perfeição.  O pecado é como uma flecha que não alcança o alvo.  O arqueiro pode ter feito tudo o que estava ao seu alcance, mas não teve força para que o arco disparasse a flecha com suficiente força para alcançar o alvo.  Não chega ao alvo. iii) Pecado é desobediência.  A desobediência não é possível a não ser quando há conhecimento da lei e a transgressão da mesma.  Há diferentes graus de culpa na desobediência, e Deus tem recursos para isto, mas toda transgressão é grave.  Quem persiste em sua impenitência, finalmente cometerá o pecado imperdoável. iv) Pecado é ofensa contra Deus.  O homem pode pecar contra outros homens, mas sua primeira e principal ofensa é contra Deus.  Portanto, a confissão deve fazer-se sempre em primeiro lugar a Deus. Pecado é finalmente qualquer desvio da vontade conhecida de Deus, mesmo a negligência  em fazer o que Ele especificamente ordenou ou fazer o que Ele especificamente proibiu.

Como é, então, resolvido o problema do pecado?

O sistema sacrifical é a resposta. Conforme já anteriormente demonstrado, havia três sacrifícios importantes: o sacrifício pelo pecado, o holocausto e as ofertas pacíficas.  O primeiro tinha como objetivo fazer expiação, palavra cujo conceito é Remir (a culpa), cumprindo pena, pagar; sofrer as consequências de, sofrer, padecer, purificar (um local sagrado) de profanação ou sacrilégio, ou ainda, purificar-se (de crimes ou pecados).  Assim, este sacrifício, a Oferta pelos Pecados tinha o objetivo de restabelecer a comunhão do ofertante com Deus que um dia fora rompida devido à transgressão do mesmo. Não era um sacrifício ordinário, pois era ofertado em datas específicas: Na inauguração do Tabernáculo e, consequentemente na inauguração do Templo de Salomão, no dia da Expiação, na festa das cabanas (Sucot), no pentecostes e na festa do Ano Novo.  Relembramos que a oferta pelo pecado foi o sacrifício oferecido no Éden, logo após a queda de Adão. Era de responsabilidade do sacerdote oferece-lo, logo, se o sacerdote representava Deus, era Deus, portanto  quem o ofertava, tal qual ocorreu no Éden. Jesus ofereceu o sacrifício pelo pecado quando da sua morte na cruz cumprindo o plano da redenção.

Os holocaustos eram inteiramente consumidos sobre o altar e que, ao ascender a fumaça, em forma figurada ascendia a oferenda para Deus. A palavra "holocausto" vem do grego e significa "o que se queima tudo".  Esta palavra descreve bem ao sacrifício queimado por fogo.  Não se comia nenhuma parte do holocausto, como ocorria com alguns outros sacrifícios; tudo se queimava e subia a Deus em chamas como "aroma suave. Não se retinha nada.  Tudo era entregue a Deus.  Indicava uma consagração completa.  Do mesmo modo, Jesus apresentou o holocausto quando ofereceu a sua vida no calvário. Observe que Jesus completou dois terços do ritual sacrifical quando da sua morte.

As ofertas pacíficas tem raiz na palavra hebraica shélem,  que significa "fazer paz" (Jos. 10: 4) ou "estar em paz" (Job 22: 21), "fazer restituição" (Exo. 22: 5), "completar [um pagamento]“ (Sal. 50:14).  A marca distintiva da oferenda de paz era a comida em comum, celebrada dentro do recinto do santuário, na qual prevaleciam o gozo e a alegria, e durante a qual conversavam o povo e os sacerdotes.  Não era esta a ocasião para efetuar a paz, mas sim se tratava de uma Festa de regozijo porque a paz já existia.  Geralmente era precedida por uma oferenda pelo pecado e por um holocausto.  O sangue tinha sido aspergido, efetuando-se a expiação; outorgou-se o perdão, e se tinha recebido a segurança da justificação.  Para celebrar isto, quem tinha devotado o sacrifício convidava a seus parentes, a seus servos e aos levita a comer com ele.  Toda a família se reunia no átrio da congregação para festejar a paz que tinha sido efetuada entre Deus e o homem, e entre o homem e seu próximo. Assim, se completava o ritual da expiação ou ajuste de contas. Tal protocolo exigia os três sacrifícios. O primeiro era oferecido por Deus, o segundo era oferecido pelo pecador e o terceiro era uma espécie de celebração. Ora, se olharmos o plano da redenção em seu plano cósmico, encontraremos que o grande final será a proclamação de que a expiação está realizada.

Quando Jesus regressar, aqueles quem levará ele consigo serão os que tiverem completado o protocolo exigido pela expiação. Assim, se Jesus ao morrer completou dois terços dos sacrifícios, quem deverá completar o terço restante? Será que os cristãos deveriam fazer algo que as igrejas não estão observando, por não tratarem o ritual do santuário de acordo com seu devido valor? Ora, se Jesus veio cumprir o plano da redenção e com sua morte satisfez dois terços do que exige a expiação e, sendo o sacrifício divino considerado vicário, do ponto de vista macro, aos pecadores resta realizar a parte que completa toda expiação e que não se tornou obsoleta por causa da morte de Cristo. Deste modo, quão intensamente o sistema sacrifical ocorre na igreja atual?

Voltemos aos holocaustos. Este sacrifício era efetuado de duas maneiras: i) o sacerdote oferecia holocaustos contínuos pela manhã e pela tarde, cujo objetivo era cobrir o pecador até que este tivesse oportunidade de oferecer pessoalmente o seu holocausto. Os holocaustos pessoais eram de duas espécies: obrigatórios e voluntários. Os primeiros, como o próprio nome indica, eram exigidos, ou seja, não poderiam ser descumpridos. Sempre que alguém cometia pecados que eram reconhecidos, este obrigatoriamente oferecia holocausto. Os voluntários eram holocaustos oferecidos por faltas das quais não se tinha um reconhecimento explícito, assim, quanto maior era o reconhecimento da pecaminosidade pessoal, maior era a quantidade de holocaustos voluntários.

Uma vez que Jesus ofereceu o holocausto para cobertura, espera-se que o cristão, entendendo que ele necessita oferecer o seu individual o faça para que transcorra o sistema expiatório.  Na igreja cristã, o holocausto de animais (aquele da cobertura) não mais se processa, porque Jesus pregou na cruz este tipo de cerimonia, uma vez que o tipo encontrou o antítipo. Então, como poderá o pecador oferecer holocausto?

Em Romanos 12:1, o apóstolo Paulo diz:  rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. O apelo é para que usemos nosso raciocínio a fim de que apresentemos sacrifícios. Se olharmos o ritual cristão veremos que existem obrigações sem as quais alguém não poderá ser considerado cristão: devolução dos dízimos e o cuidado com o próximo.

É imprescindível que se relembre que pecado é a transgressão da lei e, consequentemente, o sistema sacrifical oferecia oportunidade para restaurar a lei; sangue era exigido para a realização da expiação. Neste raciocínio, compreendamos bem que sacrifícios são exigidos ainda para completar a expiação e, portanto, sangue deverá ser apresentado. Se o culto, segundo Paulo deve ser racional, estamos falando da morte do eu a qual era a finalidade do sistema sacrifical.

Através da doação dos dízimos e através do cuidado com as necessidades dos carentes promovemos a morte do eu e fazemos um sacrifício agradável a Deus (Isa.58), ou seja, cumprimos a lei.  Quando usamos nossos recursos para atender à igreja e aos necessitados estamos queimando completamente nosso egoísmo, reconhecendo que somos pecadores e oferecendo o holocausto pessoal obrigatório. Resta ainda fazer holocaustos voluntários. Estes podem ser realizados através das ofertas voluntárias ou através de assumirmos responsabilidades voluntárias na comunidade através de trabalhos eclesiásticos formais ou através da prestação de outros serviços voluntários.

Quanto às ofertas pacíficas, devemos lembrar que estas eram oferecidas pelo pecador em regozijo por sua condição de justificado e perdoado. Hoje, por causa do sacrifício de Cristo, temos motivos de sobra para nos regozijarmos. Há muitas oportunidades nas quais poderemos trazer ofertas de gratidão ou oferecer ações de graças por tudo o que o céu já realizou no plano da salvação. Mas, Jesus antes da sua morte convidou os discípulos para a ceia e introduziu o ritual que deveria ser realizado até a sua vinda em substituição às ofertas pacíficas. Na verdade, a santa ceia é um ritual no qual há alimento. Deus e os homens comemoram juntos, pois os sacrifícios pelo pecado e os holocaustos já foram oferecidos. Tal cerimonia completa o sistema expiatório e, ao mesmo tempo, repete os três sacrifícios do sistema sacrifical. Se os cristãos compreendessem o lugar da ceia no plano da redenção, jamais deixariam de participar. Do ponto de vista macro ou cósmico, Jesus prometeu que a última ceia será tomada na casa do Pai. Sendo que o plano da redenção estará completo quando do regresso de Jesus, a expiação finalmente se concluirá com o oferecimento das ofertas pacíficas onde Deus e os salvos, naquela ocasião, comerão juntos em comemoração ao triunfo do plano da redenção.
Claudio Ruy V. da Fonseca

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