domingo, 28 de julho de 2013

Assinalando os umbrais com sangue



ASSINALANDO OS UMBRAIS COM SANGUE
O plano da salvação tem sido intuído pela humanidade, às vezes, de forma equivocada. Concebido para operar nas condições de uma humanidade caída, o plano deve ser olhado do ponto de vista do tempo. Esta perspectiva parece clara quando olhamos os dois macros momentos do plano lado a lado com a maneira como a Bíblia foi organizada: Antigo e Novo testamentos. Apenas a título de esclarecimento, a palavra testamento significa o ato pelo qual a pessoa declara a sua vontade; assim, temos na Bíblia a antiga vontade de Deus, assim como a nova vontade de Deus. Por causa destes conceitos, deveríamos ler a Bíblia, ou seja, a vontade de Deus a partir destas perspectivas, buscando saber a vontade de Deus no decorrer do tempo.
Na perspectiva do Antigo Testamento, o culto tinha seu principal argumento no sacrifício de animais. Por essa razão, o santuário hebraico oferecia ininterruptamente sacrifícios que apontavam à vinda futura do Messias e Salvador. Na perspectiva do Novo testamento, o argumento do culto centra-se na Santa Ceia, onde o sacrifício de animais é substituído pelo símbolo do pão e do vinho. Chamamos atenção para os dois momentos do plano da redenção: o primeiro (Velho Testamento) antes de Cristo, e o segundo (Novo Testamento) depois de Cristo. A pergunta que surge agora é: Por que foi necessária a mudança de argumentos, ou seja, o que estaria Jesus ensinando quando substituiu a Páscoa pela Ceia?
Vamos recapitular a Páscoa, para entendermos o que aconteceu. A primeira Páscoa ocorreu na saída do povo Hebreu do Egito. Deus ordenara através de Moisés que na noite que antecedeu a saída, os hebreus matassem um cordeio sem defeitos, assassem a animal inteiro sem quebrar nenhum osso, adicionassem ervas amargas e pão sem levedura, e o comessem de pé prontos para a partida. Além disso, deveriam passar o sangue do animal morto nos umbrais das portas das casas para que o anjo destruidor não matasse os primogênitos hebreus (última das dez pragas no Egito). A palavra hebraica para páscoa é Pessach que significa passar sobre. Ellen White, no seu livro Patriarcas e Profetas, na página 274 explica o seguinte: “Antes da execução desta sentença, o Senhor por meio de Moisés deu instruções aos filhos de Israel relativas à partida do Egito, e especialmente para a sua preservação no juízo por vir. Cada família, sozinha ou ligada com outras, deveria matar um cordeiro ou cabrito "sem mácula", e com um molho de hissopo espargir seu sangue ‘em ambas as ombreiras, e na verga da porta’ da casa, para que o anjo destruidor, vindo à meia-noite, não entrasse naquela habitação”. Neste trecho da sua narração Ellen White esclarece que o ato de aspergir o sangue protegeu os hebreus do juízo que veio sobre o Egito, ou seja, da morte. Ela prossegue dizendo: “O Senhor declarou: Passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos. ... E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo Eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando Eu ferir a terra do Egito". Novamente surge uma pergunta: Por que o sangue era necessário para proteger os hebreus?
A resposta a esta questão está no Éden. Deus havia sentenciado que se o homem pecasse certamente morreria. Logo após a que do homem, Deus poupou a vida do casal original substituindo a morte deles pela morte de um cordeiro. Ali fora oferecido o primeiro sacrifício animal que apontava para o verdadeiro cordeiro de Deus, o Messias, que viria oportunamente no futuro. Assim, Adão e sua mulher foram poupados da morte imediata. O sangue do cordeiro imolado no Éden fez com que a destruição passasse por sobre o casal. A mesma situação ocorreu no Egito naquela noite quando Deus aplicou juízo sobre o arrogante país. O sangue aspergido nas portas representava a Cristo, a verdadeira páscoa. Vejamos o que diz novamente a escritora Ellen White na página 227 do livro Patriarcas e Profetas: “A páscoa devia ser tanto comemorativa como típica, apontando não somente para o livramento do Egito, mas, no futuro, para o maior livramento que Cristo cumpriria libertando Seu povo do cativeiro do pecado. O cordeiro sacrifical representa o ‘Cordeiro de Deus’, em quem se acha nossa única esperança de salvação. Diz o apóstolo: "Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós." I Cor. 5:7. Não bastava que o cordeiro pascal fosse morto, seu sangue devia ser aspergido nas ombreiras; assim os méritos do sangue de Cristo devem ser aplicados à alma. Devemos crer que Ele morreu não somente pelo mundo, mas que morreu por nós individualmente. Devemos tomar para o nosso proveito a virtude do sacrifício expiatório”.
Pelo que vimos acima, a Páscoa é um evento de altíssima seriedade e que não deveria ser negligenciada. Deveríamos destacar algum tempo buscando a compreensão desta cerimônia, considerando que a sua aplicação ou uso nos livra da morte. Outra vez, vejamos o que diz Ellen White: “As regras que Moisés deu concernentes à Páscoa são plenas de significado, e têm aplicação a pais e filhos nesta época em que vivemos [. ...] . O pai devia atuar como sacerdote da família e, se o pai fosse falecido, o filho mais velho devia realizar o solene ato de aspergir os umbrais da porta com o sangue. Esse é um símbolo da obra a ser feita em toda família. Devem os pais reunir os filhos no lar e apresentar Cristo diante deles como sua Páscoa. O pai deve dedicar cada membro da família a Deus e fazer a obra que é representada pela festa da Páscoa. É perigoso deixar esse solene encargo nas mãos de outros. Decidam os pais cristãos que serão leais a Deus, e disponham-se a reunir os filhos no lar consigo e assinalem [simbolicamente] os umbrais com sangue, representando Cristo como o único que pode proteger e salvar, a fim de que o anjo destruidor passe por alto o feliz círculo da família” (Fundamentos do Lar Cristão, p. 129).
Abrimos aqui um parêntese para explicar algo importante para a compreensão do que virá a seguir. Depois de haver ocorrido o pecado no universo, Jesus se tornou a pessoa da trindade responsável para resolver o problema do pecado e, por esse motivo, tornou-se o interlocutor para o homem. Assim, fora Jesus quem instruíra Moisés quanto ao ritual da Páscoa, sendo que Ele mesmo participou da solenidade enquanto esteve entre os homens. Se a Páscoa é assim de extrema importância e instituída por Jesus, por que ele a substituiu pela Ceia? Jesus teria proibido a Páscoa?
Vejamos o que nos diz a própria Bíblia sobre essa questão. Em I Cor. 11:23-26 lemos: “O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de Mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no Meu sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de Mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha" . No livro Desejado de Todas as Nações (pag.652, 653) Ellen White diz que “Cristo se achava no ponto de transição entre dois sistemas e suas duas grandes festas. Ele, o imaculado Cordeiro de Deus, estava para se apresentar como oferta pelo pecado, e queria assim levar a termo o sistema de símbolos e cerimônias que por quatro mil anos apontara à Sua morte. Ao comer a páscoa com Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar Seu grande sacrifício. Passaria para sempre a festa nacional dos judeus. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado por seus seguidores em todas as terras e por todos os séculos. A páscoa fora instituída para comemorar a libertação de Israel da servidão egípcia. Deus ordenara que, de ano em ano, quando os filhos perguntassem a significação desta ordenança, a história desse acontecimento fosse repetida. Assim o maravilhoso livramento se conservaria vivo na memória de todos. A ordenança da ceia do Senhor foi dada para comemorar a grande libertação operada  em resultado da morte de Cristo. Até que Ele venha a segunda vez em poder e glória, há de ser celebrada esta ordenança. É o meio pelo qual Sua grande obra em nosso favor deve ser conservada viva em nossa memória”.
A Santa Ceia representa o mesmo que os sacrifícios de animais representaram no Antigo Testamento. Para a época antes de Cristo, o sangue de animais apontava para o Messias vindouro e pela fé, os antigos se apoderavam da salvação. Na Ceia os símbolos são, do mesmo modo, uma poderosa demonstração de fé. Assim como os antigos hebreus comeram a carne do cordeiro morto, ao comermos o pão (símbolo do corpo) comemos o cordeiro. Do mesmo modo, aos antigos passarem o sangue de um cordeiro nos umbrais das suas portas, significando que criam no sacrifício expiatório e substituto de Cristo no futuro, sendo libertos da morte, hoje, ao tomarmos o vinho (símbolo do sangue), estamos passando o sangue nos umbrais das nossas almas, ou nos umbrais das nossas casas que são nossos corpos e, deste modo somos também libertos da morte. Conforme vimos, a ceia passa a ser a páscoa, pois Jesus, o Messias prometido, veio e cumpriu a promessa feita a Adão sendo nosso substituto e, portanto, a nossa páscoa. Cristãos sem a Ceia correm sério perigo de vida, jamais deveríamos negligenciar a participação na Ceia porque não sabemos quando passará o anjo destruidor.
Mas, ainda resta algo de grande importância que não abordamos e que está relacionado com a Ceia. Vejamos mais uma afirmação de Ellen White no livro Desejado de Todas as Nações (pág. 659): “Participando com os discípulos do pão e do vinho, Cristo Se empenhou para com eles, como seu Redentor. Confiou-lhes o novo concerto, pelo qual todos os que o recebem se tornam filhos de Deus, e co-herdeiros de Cristo. Por esse concerto pertencia-lhes toda bênção que o Céu podia conceder para esta vida e a futura. Esse ato de concerto devia ser ratificado com o sangue de Cristo. E a ministração do sacramento havia de conservar diante dos discípulos o infinito sacrifício feito por cada um deles individualmente, como parte do grande todo da caída humanidade”. O texto enfatiza que a Santa Ceia é o ritual que confere ao cristão o status de filho de Deus, e co-herdeiros de Cristo. Então, não participar da Ceia significa desistir da salvação. Porém, Ellen White afirma também que através da Ceia, toda benção que o céu pode conceder será concedida. É uma promessa valiosa que precisa ser entendida. Em Isaias 58:14 lemos “[...] e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do SENHOR o disse”. Este verso é a resposta que precisamos para entender a promessa concedida através da Ceia. Porém, qual é a herança de Jacó? Jacó era filho de Isaac, o qual, por sua vez era filho de Abraão. Assim, a herança de Jacó veio de Abraão seu avô e podemos encontra-la em Genesis 12:2,3 onde lemos: “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra”.
A benção dada a Abraão é que ele seria uma bênção e, por consequência, todas as  famílias seriam benditas. Jacó recebeu esta mesma benção quando lutou com Deus no vale de Jaboque. Tal benção está à nossa disposição através da Ceia. Ser uma benção significa viver completamente de acordo com Lei de Deus. Em João 13:35 lemos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. O raciocínio dos textos acima nos mostra que através da Ceia somos habilitados a guardar os mandamentos e consequentemente seremos uma benção ao mundo. Para abençoar nosso semelhante é necessário que tenhamos para oferecer, assim, receberemos dos céus todas as virtudes necessárias para que sejamos uma benção.

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