Há em Gênesis 2 uma sequência de informações muito interessantes. Vejamos
os versos 8 e 9:” E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental;
e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a
árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do
jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”.
Nesta primeira sequência Deus coloca o homem num jardim. Depois Ele fez
brotar toda árvore agradável e boa para comida. Agora vejamos as informações
contidas nos versos 15 a 17: “ E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim
do Éden para o lavrar e o guardar. E
ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás
livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás”. Aqui vemos que havia uma árvore da qual não se
poderia tomar e comer livremente, aliás, havia uma sentença. Por que será que
esta árvore era maligna?
Há algo curioso aqui; na verdade Gênesis fala de duas árvores: uma da
vida e a outra da ciência do bem e do mal. Ambas são excludentes, ou seja, o
comer de uma delas excluiria o participar do fruto da outra. E, de fato, ocorreu
exclusão ao acesso à árvore da vida quando Adão preferiu a árvore da ciência do
bem e do mal.
Talvez fosse melhor entender o que significa árvore na teologia judaica,
uma vez que as palavras na Bíblia estão, em muitos casos, carregadas de
significados e, o fato simples de comer significou um imenso problema moral que
resultou na expulsão do jardim e proibição do acesso à árvore da vida.
Em muitas ocasiões árvores significam, no código
bíblico, pessoas. Por exemplo, em Salmo 1, o homem moralmente perfeito é
considerado uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, cujos frutos são
produzidos na estação correta. No livro de Daniel, no capítulo 4, dos versos 10
em diante, o Rei Nabucodonozor é comparado a uma árvore frondosa. No evangelho
de João no capítulo 15 Jesus diz:” Eu sou a videira, vós as varas; quem está em
mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Esta
última passagem esclarece que na condição de varas devemos permanecer na
videira. Curiosamente, quando Deus procurou Adão após ter comido do fruto
proibido, ele estava escondido dentro da árvore, conforme o original hebraico
de gênesis 3. Assim, permanecer em Cristo significa estar na árvore da vida.
As
árvores que eram excludentes estavam no meio do jardim. Esta circunstância
implica em situação de evidência e grande importância. Nas solenidades formais
da sociedade humana, quando alguém tem proeminência é-lhe indicada a aposição
central. Na verdade, as importantes árvores parecem conter informações
antagônicas que não se pode misturar. Parece-nos
evidente que se trata de dois sistemas ou portais de informações que não podem
ser ajustados.
A
escritora Ellen White fala da árvore da ciência do bem e do mal da seguinte
maneira:
“Alguns insistiam fortemente
quanto ao estudo de autores incrédulos, e recomendavam os próprios livros
condenados pelo Senhor e que, portanto, não devem de maneira alguma ser
sancionados [...] Se nunca houvésseis lido uma palavra nesses livros, estaríeis
hoje incomparavelmente mais capazes de compreender aquele Livro que, acima de
todos os outros, é digno de ser estudado, e que dá as únicas ideias corretas
acerca da educação superior. O fato de haver sido costume introduzir esses
autores entre vossos livros, e que esse costume haja ultrapassado pelos anos,
não é nenhum argumento em seu favor. O longo uso não recomenda necessariamente
tais livros como livres de perigo ou essenciais. Esses livros têm levado
milhares aonde Satanás levou Adão e Eva - à árvore da ciência de que Deus lhes
proibira comer. Eles têm induzido alunos a abandonar o estudo das Escrituras
por uma espécie de estudo que não é essencial. Caso os alunos assim educados
devam ser aptos para trabalhar em prol de almas, terão de desaprender muito do
que aprenderam. Verificarão que isto será um processo difícil; pois as ideias
objetáveis se haverão arraigado em seu espírito como as ervas ruins em um
jardim, de modo que alguns jamais serão capazes de discernir entre o direito e
o torto. O bem e o mal se haverão mesclado em sua educação. Foram exaltados os
homens para que os contemplassem, suas teorias glorificadas; de modo que, ao
buscarem ensinar a outros, a pequena verdade que podem repetir se acha
entremeada de opiniões, ditos e feitos humanos. As palavras de homens que
demonstram não possuir conhecimento prático de Cristo, não devem ocorrer em
nossas escolas. Servirão de obstáculo à verdadeira educação”. Conselhos Sobre
Educação p.149.
Noutra
ocasião Ellen White escreveu o seguinte: “Lidando com a ciência da cura da
mente, tendes estado a comer da árvore da ciência do bem e do mal, na
qual Deus vos proibiu tocar. É mais que tempo de começardes a olhar a Jesus, e,
pela contemplação de Seu caráter, transformar-vos à semelhança divina. Mensagens
Escolhidas - Volume 2 p.350.
É
importante notar que ao comer o fruto da árvore proibida, Adão teve o acesso à
árvore da vida negado e, consequentemente, se percebe que ambas as árvores não
são apenas seres vivos do Reino Vegetal. Simbolizam muito mais que esta ideia
simplória, são elas como que bancos de informações que dão acesso a desempenhos
distintos e antagônicos.
Sobre a árvore da vida a
própria Bíblia a define da seguinte maneira: “A
sabedoria é árvore da vida para os que a seguram, e bem-aventurados são todos
os que a retêm". Prov. 3:18.
Ellen White se refere à árvore da vida dizendo: “Não
olheis a vós mesmos, mas a Cristo. Aquele que curara os enfermos e expulsara
demônios quando andava entre os homens, é ainda o mesmo poderoso Redentor.
Agarrai, pois, Suas promessas como folhas da árvore da vida.” A Ciência do Bom
Viver p.66. Em outros livros ela diz: “A Palavra de Deus é como as folhas da
árvore da vida. Nela se satisfaz toda necessidade dos que lhe amam os ensinos e
os introduzem na vida prática”. Conselhos Professores, Pais e Estudantes p.353.
“ Cristo só comunicava o conhecimento que podia ser utilizado. As
instruções que dava ao povo, limitavam-se às próprias necessidades deste na
vida prática. À curiosidade que os levava a ir ter com Ele com indagadoras
perguntas, não satisfazia. Todas essas perguntas tornava Ele em ocasiões para
solenes, fervorosos e vitais apelos. Aos que se mostravam tão ansiosos de
colher da árvore do conhecimento, oferecia o fruto da árvore da vida”.
Conselhos Professores, Pais e Estudantes p.386. “As lições tiradas das
parábolas de nosso Salvador serão para muitos como folhas da árvore da
vida”. Conselhos Sobre Educação p.215. Chamamos atenção às palavras
encontradas no parágrafo que segue, as quais são ainda mais esclarecedoras: “Se
viveis em obediência a Cristo e Sua Palavra, estais comendo as folhas da árvore
da vida, que são para a cura dos povos”. General Conference Bulletin, 3 de
abril de 1901.
Na verdade, o significado bíblico para árvore da
vida é o próprio Senhor Jesus Cristo. Ora, se é isto, então a árvore da ciência
do bem e do mal é o anticristo. Portanto, para Adão, comer do fruto proibido
significou entrar em contato com os oráculos do erro tornando-se parecido
moralmente com o autor do erro. Neste contexto, não poderia ter acesso à árvore
da vida.
Desde que aconteceu a queda de Lúcifer no céu, e a
capitulação de Adão no jardim, a Terra ficou submetida a dois sistemas de
comportamento moral, a duas teorias sociais excludentes, mas que pretendem o
mesmo fim, ou seja, o bem estar da pessoa.
A primeira diz que o bem estar deve ser
alcançado através do sistema de ajuda mútua. O bem estar seria conseguido por
causa do efeito circular. A cooperação seguiria um caminho em forma de circulo,
onde depois de iniciada seguiria seu percurso esférico, voltando
obrigatoriamente ao ponto inicial, ou seja, alcançaria seu ponto de partida.
Isto está expresso na afirmatiava bíblica de Salmão: "lança o teu pão sobre
as águas que depois de muitos dias o acharás (Eclesiastes 11:1). Tal idéia está
baseada no princípio da cooperação. Os elementos da sociedade tornam-se
realizados e completos pela via da cooperação, ou seja, o compartilhar é o que
satisfaz e dignifica o homem, neste contexto a família foi concebida e a
sociedade se mantém e se organiza. O princípio da cooperação é o principal “drive”
para promoção do bem estar e o que efetivamente torna uma pessoa feliz. De tal
sorte, a máxima do cristianismo é: melhor coisa é dar do que receber.
A outra teoria é diametralmente
oposta. Nela a felicidade ou bem estar é alcançado via competição. Em tal
modelo, a cooperação é exercida às avessas, pois os elementos ficam juntos para
facilitar o desenvolvimento de um só. Neste caso, a concorrência é o elemento
chave para progredir e, consequentemente alcançar o bem estar. Este princípio
está como que embasando o comércio e a política, é também o princípio da teoria
da evolução biológica. É muito sutil a diferença entre o sistema anterior e
este sistema, mas, são opostos; aqui o bem estar de um homem é mantido pelos
esforços de muitos, embora pareça que há uma dinâmica de ajuda, como no caso do
comércio, onde, por exemplo, uma grande empresa gera um tipo de ambiente no
qual outras empresas também se desenvolvem, embora num ambiente de predação. As
empresas menores ficam na dependência obrigatória da maior, ainda que pareça conviverem
num ambiente de cooperação. Na verdade, todos estão espoliando a todos, visando
o bem estar individual.
O primeiro sistema é o que a Bíblia define como vida.
No evangelho de Mateus, no capítulo 15, Jesus é interpelado por um jovem rico
que lhe pergunta sobre a posse da vida eterna. Jesus recomenda que distribua o
que tem com os necessitados e terá a vida. O segundo sistema está demonstrado
no capítulo 15 do evangelho de João quando Jesus adverte sobre a avareza,
contando a parábola do homem que construiu grandes celeiros para armazenar sua
produção, dizendo para si, “Alma,
tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.
Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens
preparado, para quem será? Assim é
aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
As
duas árvores representam dois grandes sistemas morais conflitantes e, cabe aos
filhos de Deus saber distinguir a ambos. Há grande sutileza no sistema que leva
à morte, considerando que à árvore que representa o antagonismo à vida
deu-se-lhe o nome de ciência do bem e do mal, significando uma mescla que pode
enganar e matar. O que parece bom não necessariamente é bom e, nestas
circunstâncias, deve-se conhecer cabalmente o sistema da vida para se ter
clareza moral e escolhas adequadas.
Apesar
da proibição à árvore da vida, Deus fez todos os esforços para que pudéssemos
acessá-la. Isto foi possível através de Jesus Cristo, o modelo do homem que
viveu em harmonia com o sistema da vida. Ao copiá-lo estaremos fazendo o
caminho de volta à árvore da vida. A propósito, deixo-vos uma indagação: se as
árvores que estavam no centro do Jardim no Éden eram sistemas de informações, o
que seriam as demais árvores todas agradáveis e boas para comida, e mais, o que
seria em realidade o jardim? Seria um jardim no sentido estrito ou uma
biblioteca?
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