O edifício portátil que fora construído por Moisés para que
o Altíssimo pudesse habitar entre os homens é mais do que um simples
tabernáculo ou tenda. É a real arquitetura preparada pelos céus para negociar e
resolver o problema do pecado. Tal arquitetura fora pensada para ensinar o processo
expiatório e, todos os seus utensílios, em ambos compartimentos, representam
etapas do processo expiatório, as quais deveriam ser bem entendidas na
atualidade, por tratar-se da forma como Deus se relaciona com os homens. Na
verdade, a forma estética do tabernáculo representa a Lei de Deus com suas duas
dimensões: amor e justiça.
No segundo compartimento do tabernáculo estava a arca da
aliança, um móvel que continha, no seu interior, a Lei dos dez mandamentos, a
vara de Arão que florescera e uma porção do maná. Estes três itens representam intensamente
a justiça e a misericórdia de Deus. Cobrindo a arca, estava o chamado
propiciatório ou cobertura da clemência, onde, entre os dois querubins
representando o exército dos anjos, aparecia o Sheknah, a presença física de
Deus, o qual já havia sido mostrado a Moisés quando da aparição da sarça
ardente no deserto. Verdadeiramente, o tabernáculo era o lugar do trono de Deus
na Terra; o Reino celeste entre os homens.
Do tabernáculo emanavam as instruções sobre como os
israelitas deveriam proceder para alcançar relacionamento correto com Deus. Tal
relacionamento se efetivava pela compreensão e observância da Lei de Deus. Aliás,
relacionamentos com quaisquer tipos de governos ocorrem através do cumprimento
de leis. Assim, deve ser nosso relacionamento com Deus.
O Deus da Bíblia (Jeová) é um soberano cujo território de ação
é o universo. No caso do nosso planeta, palco da luta entre o bem e o mal, o
sistema religioso que mantém alta a observância da lei de Jeová é a embaixada
desse reino. No entanto, existe pluralidade de sistemas religiosos, mas, a
maneira de reconhecer qual sistema religioso é a legítima embaixada é através
da maneira como a Bíblia é manejada, uma vez que ela é a vontade explícita de
Deus. Então, o sistema que considera a Bíblia na sua integridade sem selecionar
ou esconder nenhuma de suas partes, mas que a mantém completamente aberta e,
além disso, ensina como pode ser usada e adonada pelos seguidores, este deve
ser considerado.
Aos sistemas religiosos chamamos igrejas, mas, o conceito de
igreja no Novo Testamento é o conceito grego que denota “Assembleia aberta a
todos os cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos que tivessem
prestado, pelo menos, dois anos de serviço militar e que fossem filhos de um
pai natural da polis. Atuava no âmbito da política externa e detinha poderes de
governança relativos à legislação, judiciais e executivos”, ou ainda, mais
simplesmente, reunião dos que foram chamados. Tal conceito aparece na história
do povo de Deus através das eras, pois este tem sido chamado para refletir a
vontade de Deus por meio de uma vida de fidelidade, confiança, obediência e
amor. Fidelidade é a semelhança entre o original e a cópia; exatidão. A igreja
de Deus busca semelhança, em caráter, com o modelo Jesus. Confiança quer dizer
crédito, boa fé; os céus depositam certeza ou fidúcia na igreja. Obediência é a
submissão à autoridade legítima; aquiescência; docilidade. Assim, na Bíblia
quando aparece a expressão a paciência dos santos, e identifica os santos como
os que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus, está-se falando
daqueles que copiam o modelo que é Cristo (Apoc. 14:12).
Considerando que após a queda do homem a conformidade com a
Lei de Deus não mais pode ser alcançada, o céu prometeu que faria uma aliança
com os homens: “...porei a minha Lei no íntimo deles e as escreverei nos seus
corações. Serei o Deus deles, e eles serão o Meu povo” (Jer.31:33). A Lei de Deus não devia ser somente uma norma
externa de justiça: devia ser o motor determinante que guiasse e contivesse a
conduta humana. Em II Coríntios 3:3-6 Paulo expressa o cumprimento da aliança
referida: “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo,
ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo,
não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. E é por Cristo que temos tal confiança em
Deus; Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós
mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, O qual nos fez também capazes de
ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a
letra mata e o espírito vivifica”.
O Reino de Deus existe desde antes da criação do mundo e,
quando este surgiu, passou a integra-lo. Quando Deus criou os primeiros seres
humanos, deu-lhes domínio sobre todas as coisas. Adão devia governar o mundo. Porém,
pela transgressão da Lei de Deus, ele perdeu o direito à soberania terrena, e o
domínio passou para o arqui-inimigo, Satanás. Quando os representantes de
outros mundos se reuniram diante de Deus durante o tempo dos patriarcas, foi
Satanás quem apareceu como delegado da Terra (Jó 1:6). Esta situação define uma
condição diferente do original, fato que levou o governo de Deus a tomar
providências para resolver a governabilidade de planeta. Paulo descreve como
está atualmente a situação em Efésios 2:1-2 “E Vos vivificou, estando vós
mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste
mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos
filhos da desobediência”. De outra forma ele demonstra em II Coríntios 4:4 “Nos
quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes
não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”.
Embora tenhamos, em realidade, a presença de dois reinos no
âmbito do grande conflito, não existe algo parecido com dupla cidadania.
Estamos de um lado ou do outro. O reino do mal tem lutado contra o reino da
justiça durante milênios. É impossível que uma pessoa seja fiel aos dois lados
ao mesmo tempo. Temos que escolher qual reino terá a nossa lealdade. Em Colossenses
1:12-13 lemos “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da
herança dos santos na luz; O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos
transportou para o reino do Filho do seu amor”. Nestas circunstâncias, somos
instados a agir em conformidade com as regras estabelecidas em I Coríntios
6:9-11 “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não
erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados,
nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os
maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm
sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido
justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”.
Se o que temos é uma luta moral entre dois reinos e, ao
mesmo tempo temos vários sistemas religiosos que não satisfazem os vazios da
alma humana e, que não esclarecem os limites de cada reino, deveríamos tentar
entender melhor o significado destas “igrejas” buscando identificar o papel da
verdadeira igreja no contexto celeste, bem como, da luta entre o bem e o mal.
A escritora Ellen White descreveu em sua obra alguns
indicadores que lançamos mão, neste momento, para que esclareçamos o papel da
verdadeira igreja. Chamo sua atenção para a descrição da criação em dois
momentos. Peço-lhes que leiam com acurado cuidado os seguintes parágrafos:
Os anjos leais lamentaram a sorte daqueles
que haviam sido seus companheiros de felicidade e bênçãos. Sua falta foi
sentida no Céu. O Pai consultou a Jesus quanto à possibilidade de executar
imediatamente o propósito de fazer o homem para habitar a Terra (Signs of the Times, 9 de janeiro de
1879).
Neste parágrafo
temos o emprego de duas idéias. A primeira trata da falta sentida no céu relacionada
aos anjos expulsos. A segunda, aparentemente desconectada da anterior, diz-nos
da alteração no cronograma de Deus para a criação da Terra. Duas perguntas
surgem: Por que os anjos sentiram falta dos outros que caíram? Qual a ligação
entre o sentir a falta e o apressamento da criação do homem? Vejamos com muito
cuidado, os parágrafos seguintes:
As mais brilhantes e exaltadas estrelas da
alva louvaram... a glória [de Cristo] na criação, e anunciaram Seu nascimento
com cânticos de alegria (Signs of the Times, 4 de janeiro de 1883). Por que os as
estrelas da alva louvaram e anunciaram com alegria a criação? Não nos parece
algo semelhante ao nascimento de Jesus? Leiamos o próximo parágrafo:
Quando Deus formou a Terra, havia montanhas,
colinas e planícies, e serpenteando entre estas existiam rios e fontes de água.
A Terra não era constituída de uma extensa planície, mas a monotonia do cenário
foi quebrada por outeiros e montanhas, não elevadas e ásperas como são agora,
mas regulares e belas em sua forma. ... Os anjos contemplavam e se regozijavam
diante das maravilhosas e belas obras de Deus (Spiritual Gifts, vol. 3, pág. 33). Novamente,
os anjos nunca tinham visto obras belas antes? Seria o universo já existente
inferior ou será que estamos diante de algo muito admirável?
Todo o Céu tomou profundo e alegre interesse
na criação do mundo e do homem. Os seres humanos constituíam uma nova e
distinta ordem (Review
and Herald, 11 de fevereiro de 1902). Vejamos bem, o céu tomou interesse
profundo no surgimento de um novo planeta e de uma nova ordem de seres. Estamos
lendo sobre algo incomum. Sigamos a leitura:
Depois dos seres angélicos, a família humana,
formada à imagem de Deus, constitui a mais nobre de Suas obras criadas (Review and Herald, 3 de dezembro de
1908). Chamamos a atenção para a descrição: a mais nobre de suas
obras.
O Senhor... havia dotado Adão com poderes
mentais superiores a qualquer outra criatura vivente que houvesse feito. Suas
faculdades mentais eram apenas um pouco menor do que as dos anjos (Review and Herald, 24 de fevereiro
de 1874).
Tão logo Deus, através de Jesus Cristo, criou
nosso mundo e colocou Adão e Eva no jardim do Éden, Satanás anunciou seu
propósito de conformar à sua própria natureza o pai e a mãe da humanidade.
Review and Herald, 14 de abril de
1896. Por qual razão Satanás anunciou sua intenção de conformar a sua
natureza no homem? Há algo de especial na criação do mundo e do homem que
irrita o inimigo, sigamos lendo os parágrafos abaixo e vejamos novas
informações.
Quando o Senhor apresentou Eva a Adão, anjos
de Deus testemunharam a cerimônia (Nos Lugares Celestiais, pág. 203).
Este casal imaculado não usava roupas
artificiais. Achavam-se vestidos com uma cobertura de luz e glória, tais como
os anjos (Signs of
the Times, 9 de janeiro de 1879). O casamento de Adão e Eva
fora assistido por toda hoste angélica e, por outro lado, os humanos usavam as
vestes dos anjos. Os homens eram como os anjos. O que significa a criação de
uma classe especial de seres parecidos com os anjos e semelhantes a Deus?
Deus criou o homem para Sua própria glória,
para que depois de testada e provada, a família humana pudesse tornar-se uma
com a família celestial. Era o propósito de Deus repovoar o Céu com a
família humana (SDA
Bible Commentary, vol. 1, pág. 1.082). Há neste parágrafo duas importantíssimas
informações: criado para a sua própria glória, ou seja, criado para ser
semelhante a Deus; o caráter do homem era o mesmo caráter de Deus. A outra
informação mostra o propósito de Deus em repovoar o céu. Bem, agora, chamamos
atenção para outra criação. Leia com muita atenção os parágrafos que estão
abaixo.
Deus o fez [a Lúcifer] bom e formoso,
tão semelhante quanto possível a Si próprio (Review and Herald, 24 de setembro de 1901). Verifiquemos
as semelhanças entre a criação do homem e a de Lucifer.
Deus o havia feito [a Lúcifer] nobre,
havendo-lhe outorgado ricos dotes. Concedeu-lhe elevada posição de
responsabilidade. Nada lhe pediu que não fosse razoável. Deveria ele
administrar o cargo que Deus lhe atribuíra, num espírito de mansidão e
devoção, buscando promover a exaltação de Deus, o qual lhe dera glória, beleza
e encanto (The
Sabbath School Worker, 1º de março de 1893).
Lúcifer, no Céu, antes de sua rebelião foi um
elevado e exaltado anjo, o primeiro em honra depois do amado Filho de Deus. Seu
semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. A testa
era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, o
porte nobre e majestoso. Uma luz especial resplandecia de seu semblante e
brilhava ao seu redor, mais viva do que ao redor dos outros anjos; todavia,
Cristo, o amado Filho de Deus, tinha preeminência sobre todo o exército
angelical. Ele era um com o Pai, antes que os anjos fossem criados (História da Redenção, pág.
13).
Lúcifer era o querubim cobridor, o mais
exaltado dentre os seres criados. Sua posição era a mais próxima do trono de Deus,
e ele se achava intimamente vinculado e identificado com a administração do
governo de Deus, havendo sido ricamente dotado com a glória de Sua majestade e
poder (Signs of the
Times, 28 de abril de 1890).
Lúcifer, "filho da alva", era o
primeiro dos querubins cobridores, santo e puro. Permanecia na presença do
grande Criador, e os incessantes raios de glória que cercavam o eterno Deus,
repousavam sobre ele ( Patriarcas
e Profetas, pág. 35).
[Lúcifer] fora o mais elevado de todos
os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos (O Desejado de Todas as Nações, pág. 758).
Houve um tempo em que Satanás se encontrava
em harmonia com Deus, quando era sua alegria executar os divinos mandamentos.
Seu coração encontrava-se cheio de amor e regozijo em servir ao Criador, até
que começou a imaginar que sua sabedoria não derivava de Deus, sendo antes
inerente a ele próprio, e que ele era tão digno quanto Deus de receber honra e
poder (Signs of the
Times, 18 de setembro de 1893).
O que lemos acima
mostra que os atributos dados a Lúcifer são os mesmos dados a Adão. À Lúcifer
também fora dada a semelhança com Deus em caráter e uma atribuição honrosa: a
criatura na qual se viam demonstrados os atributos de Deus e à qual o universo
mirava quando queria estudar sobre Deus. Era um anjo exaltado mais que os
outros e, no seu nome estava inscrita a sua missão: demonstrar ao universo a
luz, isto é, a Lei de Jeová. Lúcifer era o modelo no qual as criaturas todas
copiavam a Deus.
Com a queda de
Lúcifer, o modelo estabelecido desaparece, por essa razão os anjos sentem
falta. Neste contexto, Deus pede a Jesus que apresse a criação do homem, e este
seria criado com os mesmos atributos de Lúcifer; seria o novo modelo para o
universo. Por essa razão, o céu acompanhou com profundo interesse a criação do
homem e toda a corte angélica veio ao casamento, uma vez que os filhos de Adão
e Eva seriam também modelos. Vejamos, era intenção de Deus multiplicar modelos.
Por que Deus queria assim?
Voltemos ao cenário
da batalha no céu. Lúcifer semeou dúvidas sobre o caráter de Deus por todo
universo criado. O poder de persuasão deste anjo era enorme por ser ele o
modelo criado para demonstração do caráter e da Lei de Jeová. Assim, suas
idéias e argumentos viajaram pelo universo e contaminaram, por assim dizer,
toda criação de Deus.
A Terra teve seu
surgimento antecipado para que o governo celeste tivesse um espaço novo e sem
contaminação onde pudesse ser demonstrada a excelência da Lei e do caráter
divino. Em atmosfera limpa e asséptica fora colocado o homem, criado com as
mesmas características de um modelo ao universo. Tivesse o homem permanecido em
seu estado original, o problema criado por Lúcifer teria sido demonstrado e
resolvido. No entanto, não aconteceu assim, o homem assentiu às ideias de
Satanás e o plano de Deus foi frustrado, pelo menos inicialmente. O que aconteceu
então para resolver a situação?
Deus enviou a Jesus como
o segundo Adão, o segundo modelo, vindo na forma de homem e permanecendo assim
para sempre, para que fosse demonstração para os homens e para o universo. É
necessário que façamos um correto raciocínio agora sobre os fatos atuais. À
igreja de Deus, cuja cabeça é Cristo, foi dada a missão de demonstrar o caráter
de Deus e servir como modelo ao mundo. “Vindo habitar conosco,
Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. ... Mas não somente a
Seus filhos nascidos na Terra era feita essa revelação. Nosso pequenino mundo é
o livro de estudo do Universo. O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o
mistério do amor que redime, é o tema para que "os anjos desejam bem
atentar" (I Ped. 1:12), e será seu estudo através dos séculos sem fim”. (O
Desejado de Todas as Nações, pág. 19). A obra do cristão nesta vida
é representar Cristo perante o mundo, revelando, na vida e no caráter, o
bendito Jesus. Se Deus nos tem dado luz, é para que a revelemos aos outros” (Testemunhos Seletos v.2 p.340).
Caros
leitores, a dimensão humana no contexto da
igreja é muito maior e muito mais importante do que imaginamos. A incompreensão
da missão eclesial leva aos homens a utilizar a igreja para seus próprios
propósitos, muitas vezes confundindo-a com agremiações sociais para consecuções
humanas, servindo a interesses políticos temporais e mundanos. Todavia, seu
papel é servir de modelo ao universo na demonstração do caráter de Deus e da
sua Lei, assim como fora o papel de Lúcifer quando em estado de pureza. Este será o papel dos salvos por toda eternidade.
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