Um pouco antes da ascensão de Jesus
aos céus, disse aos discípulos que não permitissem turbações porque logo ele voltaria para receber seus fiéis e estar com eles (João 14:1-3). Outra vez, em
Apocalipse 3:11 Jesus repete que viria sem demora. Torna a repetir em
Apocalipse 22. Desde que Jesus assuntou já passaram 2022 anos. Cada geração,
por seu turno, esperou no seu lapso de tempo, a volta de Jesus. Como explicar a
noção de brevidade nas promessas? Os apóstolos e os demais membros da primeira
igreja almejavam ver Jesus. A geração que nos trouxe ao mundo também esperava a
volta de Jesus, a nossa geração idem. Então, como entendemos a afirmação de
Jesus dizendo que voltaria sem demora?
Podemos buscar uma resposta através da 2ª
carta de Pedro, no capítulo 3. Ali estão argumentos para erguer a esperança de
judeus e gentios que aderiram ao cristianismo na Asia menor. Para os
comentaristas, essa epístola é considerada de cunho universal, logo, também
infunde esperança à sequência de gerações e, portanto, interessa à igreja
atual.
Pedro começa dizendo a todos que
devem lembrar “[...] das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos
profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador”. Em
seguida lembra que “nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as
suas próprias concupiscências, e dizendo: onde está a promessa da sua vinda?
porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o
princípio da criação” O adjetivo escarnecedor traz consigo, no texto de Pedro,
a qualificação destes: andam segundo as próprias concupiscências. Em outras
palavras, homens que não têm nenhum domínio sobre si mesmos. Como qualificou
Cristo seriam tais como os antediluvianos.
Pedro prossegue descrevendo que Deus
criou o céu e a Terra por sua palavra e está preservando-os “[...]pela mesma
palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo,
e da perdição dos homens ímpios”. Depois ele conclui informando que a aparente demorar se dá por nossa incompreensão do tempo, determinando que: “não
ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como
um dia”. Pedro está se apoiando no Antigo Testamento (Salmos 90:4) onde está
afirmado que o transcurso do tempo não significa nada para um Deus eterno e que
o lapso de uma vida, por mais longevo que seja, não é mais que um dia em
comparação com a eternidade de Deus. Portanto, o regresso de Jesus, para cada
indivíduo, não demora mais que um breve tempo, o lapso de uma vida. Quando
morremos perdem-se todas as percepções porque não há atividade mental. Neste
sentido, se Jesus ainda demorar mil anos, e depois ressuscitar os salvos, para
estes, a sensação é de que esperaram somente o tempo em que tiveram existência.
Porém, durante o período da existência de um fiel, a expectante esperança do
encontro com Jesus parece demorar e durar mil anos, em virtude do imediatismo
humano. É como se o apóstolo estivesse montando um raciocínio circular.
Enquanto esperamos, devemos lembrar do que disseram os profetas e apóstolos.
Ao dizer que viria sem demora,
Jesus também afirma que não se deve descurar na manutenção das virtudes
essenciais cristãs, considerando que o período da história pertencente a cada
geração é demasiadamente solene, porque é única a oportunidade para demonstrar
ao universo, de forma singular, a eficácia da lei de Deus. No entanto, muitas
gerações passaram desde a ascensão de Jesus. Se considerarmos que cada geração
significa 25 anos, então teremos desde Cristo até agora 80 gerações. Muitas
pessoas esperaram a volta de Jesus. Então, por que parece retardar, embora a
Bíblia diga que não (II Pedro 3:9)? Por qual razão esperamos ainda?
Há uma explicação na parábola das
dez virgens. Jesus avisa que o noivo tarda. Consequentemente, as virgens
dormem. Quando dormem, o tempo parece não passar, então é anunciada a chegada
do noivo.
Depois da ressurreição de Jesus e
a ressurreição especial dos mortos de todas as eras representando o penhor da
promessa da vida eterna, Jesus apareceu aos discípulos em Jerusalém e lhes
ordenou não dispersassem e esperassem pelo batismo do Espírito Santo. A
aparência gloriosa de Jesus alimentava nos apóstolos a sensação de que agora o
reino físico e político do Messias seria finalmente implantado e perguntaram: “Senhor,
restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” ao que Jesus lhes reponde
dizendo: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu
pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de
vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:7-8).
A resposta de Jesus carrega muita
informação. Ele afirma que o tempo é um mistério que pertence a Deus quem
mantém o tempo sob seu poder. Aqui está subjacente a luta entre o bem e o mal.
O esclarecimento de toda amplitude dos estragos morais provocados pela
existência do mal exige um tempo que não pode ser entendido através da nossa
compreensão do tempo que é marcado pelos astros que estão no nosso céu. Há
interesse universal no esclarecimento do mal, porém, a contagem do tempo não
está considerando apenas nosso sistema solar. Há miríades de galáxias e não
sabemos quantos planetas habitados há e que sistema de tempo os comanda. Logo,
o tempo necessário para que o mal fique patentemente esclarecido de forma
universal é um mistério para os homens e foi estabelecido pelo poder e
sabedoria do Pai.
Do ponto de vista terrestre, a
humanidade que se volta para o bem e para Deus, guardando a lei dos dez
mandamentos, será a testemunha dos feitos amorosos de Deus, que para nós se
materializaram especificamente por Cristo. A geração que viveu o processo
civilizatório no tempo de Jesus tinha um meio ambiente social muito diferente
da geração que viveu o segundo século e, sucessivamente, cada geração em
séculos subsequentes teve processo civilizatório muito diverso, portanto, o mal
também experimentou novos comportamentos sociais e pode adaptar-se de modo a
demonstrar nuances e novos tons que não estavam a descoberto para gerações mais
antigas. Há aqui uma ideia muito rica da necessidade de gerações para que o mal
possa se mostrar sob seus mais variados ângulos. Quanto tempo será necessário
para que o universo não caído perceba através da humanidade todas as multiformes
maneiras em que o mal pode se apresentar, nos ambientes sociais em sucessão
evolutiva nas várias eras? A resposta está na frase de Jesus aos discípulos: “Não
vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu
próprio poder”.
É importante perceber que o
processo civilizatório vai se modificando, com novas tecnologias, e estas sempre
induzem a novos crimes. Há aspectos criminalistas que não seriam possível
pensar sem a internet, não é verdade? No século XVI, as navegações tornaram
possível entrar em regiões da terra que não eram conhecidas até então, como
consequência, a pirataria marítima passou a ser um meio de enriquecimento patrocinado,
em muitos casos, pelos governos da época, que consideravam o mar um espaço
sem legislação; um crime oficial. Mais recentemente, as viagens espaciais trouxeram novas
tecnologias que deixaram à amostra tipos de crimes que não eram cogitados no
século XIX, sabotagens, tecnologias espaciais não completamente dominadas e que
ceifaram a vida de astronautas, tudo capitaneado pela cobiça. A pandemia do
Covid 19 trouxe um aspecto novo da disputa comercial que, publicou a moral
imunda dos políticos e escancarou crimes que tiraram a vida de muitos. O mal se
mostrou mesclado com a medicina e com vacinas sem eficácia. Quanto tempo ainda
será necessário para que o mal apareça com todo o seu séquito de consequências?
Neste contexto, somente o Pai sabe
quando todo o mal estará universalmente exposto.
De outro lado, pode-se pensar que
Deus poderia estar sacrificando muitas gerações para demonstrar a abrangência
do mal. Isso pode soar injusto. Todavia, para cada geração também houve toda
exposição dos princípios do bem. Por exemplo, Adão viveu quase um milênio e sua
principal atividade foi explicar, às várias gerações (pelo menos 40 gerações),
as consequências do mal. Era Adão uma testemunha viva à geração antediluviana.
Tal geração se perdeu, mas não por falta de esclarecimento, uma vez que juntamente
com Adão, outros patriarcas foram os defensores e pregadores da justiça.
Quando Jesus diz que os
discípulos seriam testemunhas, nesta afirmativa está incluído todo o universo
que não pecou, mas, ouviu a acusação de satanás. Estamos nós, os humanos, os que
aceitamos os princípios celestes, com a responsabilidade de demonstrar a efetividade
da obediência à lei de Deus em contraste com a humanidade que escolheu
desobedecer. Do mesmo modo como o mal se adapta e alcança novas formas de
produzir seus efeitos nos vários processos civilizatórios, o bem também sofre
adaptações nos vários ambientes sociais das múltiplaseras da humanidade. Muitas
formas novas de demonstrar o bem são encontradas para atender demandas
civilizatórias. O Rabino Jonathan Sacks, em sua obra “Uma letra da Torá”
explica que a Torá não está concluída, porque cada geração a reinterpreta para
utilizar os princípios do bem no ambiente social de cada geração e de cada era.
Portanto, se o mal é adaptável e tem muitas formas que somente se mostram na
evolução da humanidade, do mesmo modo o bem. Quanto tempo ainda será necessário para que ambos, mal e bem, fiquem cabalmente demonstrados? Não vos pertence saber os
tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.
4 comentários:
Análise excelente!! E possível compreender um panorama bem mais amplo…
Uma cousa é certa: Ele virá.
Se o homem terrestre é imediatista, e sua mente usual é finita, por que Jesus deixou essa afirmação: "em breve voltarei"?
A abrevidade está realcionada com o tempo de vida de cada pessoa. Morrendo, se ressuscitar terá a impressão que não passou muito tempo, ainda que a volta de Jesus tenha demorado milenios depois da morte daquela pessoa.
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