quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Congregações legitimamente cristãs enobrecerão seus membros

 

A humanidade não percebe, nem de longe, o cruel conflito entre o bem e o mal. O fato de termos origem estruturalmente e moralmente no planeta que protagoniza a rebeldia contra o que o céu chama de bem, torna quase impossível perceber os cinquenta tons de cinza do mal.

A partir da segunda geração de humanos, o homicídio (físico ou moral) tem sido o propelente social mais importante, a crônica que nos faz identificar e reconhecer o que é o sucesso. Neste planeta, o bem-sucedido sempre é o mais suplantador.

Jesus Cristo, quando indagado pelos discípulos sobre qual deles seria o maior no eventual reino terrestre de Cristo, respondeu dizendo: “O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:11-12). A vida do Cristo foi uma vida de serviço. Trabalhou incansavelmente para restauração física e moral dos seus contemporâneos. Na cruz, operou para restauração moral não somente dos homens da sua época, mas, assegurou liberdade moral aos homens das gerações futuras, além de confirmar a redenção àqueles de eras passadas que sofreram opressão moral, porém mantiveram o padrão celeste de liberdade.

Pormenorizando a obra redentora de Cristo: cada pessoa limitada em sua liberdade física por impedimentos anatômicos era sempre libertada pela cura. Os relatos bíblicos sempre descrevem a volta do vigor varonil e do rubor da saúde. Neste contexto, todas as possibilidades se abriam novamente àquele a quem Cristo havia curado. Removidos todos os entraves físicos, estava, portanto, devolvido todo exercício de suas atividades. Por outro lado, a cura da alma (alma significa volição) ou dos impedimentos morais também era oferecida. Na cura de um paralítico em Nazaré, Jesus ofereceu também a cura moral: “Filho, tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados (Mateus 9:2). Seja qual seja a má prática que vem sendo alimentada por longa condescendência que acorrenta a alma, Jesus é capaz de libertar-nos, e anseia fazê-lo comunicando vida à pessoa morta em seus delitos. Libertará qualquer humano fraco e prisioneiro das pesadas cadeias do pecado.

A obra restauradora de Cristo alcançou o zênite no sacrifício da crucificação. Ellen White em sua obra ‘Fundamentos da Educação Cristã’ diz que Cristo: “sofreu tudo isso para que pudesse erguer, purificar, refinar e enobrecer a cada homem, e colocá-los sobre seu trono como coerdeiros Dele mesmo”. Na verdade, uma redenção estruturadora que nos tira de uma situação irremediável, transferindo escravos do pecado à condição de libertos morais.

O cristianismo é uma escola que toma o exemplo de Cristo e transcreve-o como material didático para ser utilizado como código de conduta por aqueles que são formados na referida escola. Há, no entanto, o perigo de haver deriva de conteúdo, uma vez que, no decorrer das eras, o cristianismo como que se transformou numa franquia. Muitas correntes religiosas usam a chancela do cristianismo, mas se utizam apenas  de aspectos estéticos externais sem, contudo, se estribarem nos reais princípios cristãos. Tal qual realizaram os judeus com a Torá, quase que substituindo-a por regras oriundas da tradição humana, tornando sem eficácia os ritos e as cerimônias exigidas na Torá, assim também, muitas alas religiosas ditas cristãs estão atulhadas de tradições distantes do conceito central do cristianismo, qual seja, observar o comportamento de Cristo e imitá-lo.

Em sua maioria, os ramos cristãos veem realizadas ou cumpridas as promessas bíblicas totalmente e somente nesta vida cotidiana. Entendem que recompensas materialistas são a realização das promessas. Mas, o cristianismo primitivo não esperava por recompensas materiais, mas, a ressurreição e a esperança de poder viver aqui um sistema social justo e, no futuro, uma nova terra onde habitará a justiça.

O sistema social justo aqui pressupõe que as pessoas devem ter a liberdade para acessar os meios que lhe permitam ter igualdade de oportunidades. Não existe nenhum outro modo de alcançar essa esperança se não for através de um processo de aprimoramento das pessoas.

Vimos acima que Jesus se sacrificou para erguer, purificar, refinar e enobrecer a cada homem. Essas são ações virtuosas que o cristianismo demanda dos seus prosélitos, e não o auferir de recompensas materialistas. Sistemas religiosos que estimulam rituais que prometem a salvação, explicando que a salvação advém de atos que o indivíduo deve realizar, desde que sejam beatos e repetitivos, estão advogando a negação dos princípios fundamentais do cristianismo, a abnegação, com outrem em seu foco de preocupações e não consigo mesmo.

Neste raciocínio, todo cristão bem formado terá consciência de que sua tarefa é a de erguer, purificar, refinar e enobrecer seu semelhante (Tiago 1:27). Este é necessariamente o comportamento daquele que vive em liberdade, defendendo-a. A melhor apologia à liberdade é promover a liberdade do outro. Todo ramo verdadeiro do cristianismo sempre estruturará um vigoroso sistema educacional. E toda congregação local legitimamente cristã procurará enobrecer seus membros.   

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