domingo, 31 de julho de 2022

Dois corais, uma tarefa

 

Música é um idioma falado por pessoas que aprimoraram a mente. Muitos dizem que são músicos, todavia, nada sabem do porquê a nota dó assim se chama. Não entendem a razão das orquestras, nem tampouco sabem de como os instrumentos de cordas fornecem a harmonia estrutural, nem sabem qual a sequência lógica do agrupamento de notas que formam o acorde e mais, por que as notas que formam o acorde estão agrupadas daquela forma e não de outra forma? Alguns tomam a posição de liderança musical nas igrejas, sem qualquer entendimento teórico musical, faltando ainda aprofundamento teológico para gerenciamento do ambiente musical eclesial. A ausência de aprofundamento musical e teológico leva a deformações nas escolhas dos repertórios dos grupos, assim como à deriva das condições do louvor recomendadas por Deus.

A harmonia musical, uma ciência desprezada pela quase totalidade dos músicos nas igrejas, é o background que permite escolhas adequadas de arranjos que levam o ouvinte a ser tocado e a uma experiência de enlevo. Mesmo músicos que sabem ler partituras negligenciam o estudo da harmonia, tornando-se repetidores sem a inteligência para execução (eu sei que estou falando grego).

A música coral ou a polifonia no ambiente cristão deve ser vista como unidade didática para o aprendizado da cooperação. Mas, quase invariavelmente somente a arte é efetuada. Não é sem razão que nas ocasiões em que a música celeste foi ouvida por humanos, sempre o foi a partir de corais. Contudo, principalmente o trabalho de um coral aperfeiçoa a inteligência emocional para o trabalho em equipe, a razão da distribuição dos dons na igreja. Olhando mais de perto, um coral sempre está formado por pessoas muito diversas, mas, que estão empenhadas em emparelhar seus talentos para efetuarem um resultado. Necessariamente, um coral representa, em essência, o trabalho que deveria resultar da atividade de uma comunidade eclesial. Dependendo de quem ouve o coral, a música pode alcançar objetivos múltiplos. Porém, o trabalho em equipe representa o esforço de muitos para o deleite e o aperfeiçoamento daquele que ouve.

No sábado 30 de julho de 2022, no templo Adventista da Cachoeirinha, em Manaus, Amazonas, houve uma apresentação de dois corais e mais outros dois grupos musicais. Aliás, o canto coral deveria ser muitíssimo incentivado nas comunidades, pois essa atividade aproxima pessoas e desenvolve senso de comunidade. Ao redor de sessenta pessoas compunham os grupos musicais. A principal apresentação ficou a cargo do Coral Adventista de Manaus, um grupo de membros do templo Adventista Central do bairro da Cidade Nova. O grupo comemorava o 14º aniversário de atividades. Apresentaram algumas músicas individualmente, mas, uma das músicas foi em conjunto com o coral da Cachoeirinha, quem albergava o encontro.

Os dois corais fizeram seu melhor. Havia entusiasmo em ambos os corais em não falhar, mas, apresentar seu digno trabalho para o deleite dos ouvintes e, especialmente o louvor a Deus, quem distribui os dons. Na atmosfera que enchia o templo não se notava nenhuma iniciativa relacionada a disputas ou superioridades. Uma das músicas envolveu a participação da congregação e produziu ainda maior efeito de integração. É comum em ocasiões em que ocorre a comparação entre grupos vocais em templos, o surgimento de uma atmosfera que deixa transparecer a superioridade de algum grupo. Se Deus opera na harmonia, em situações em que alguém deixa aparecer superioridade, há também a desaprovação divina. Todavia, na apresentação dos corais em pauta, não estava presente o espírito de superioridade, por essa razão, ambos tiveram a chance de oferecer o seu melhor.

Uma nota soou dissonante. O templo da Cachoeirinha estava com assistência média, sendo a maioria das pessoas que assistiram visitantes de outras comunidades. É importante que os membros prestigiem essas ocasiões, pois o sentido de comunidade é desenvolver experiencias comuns; se não posso cantar, mas, pertenço a uma comunidade, devo apoiar. Há locais onde esse senso de comunidade é muito aguçado. Infelizmente não é o caso da Cachoeirinha. Os membros não prestigiam por não sentirem que devem aprender a ser um com os demais. É como se o esforço de alguns não dissesse nada aos outros, ou melhor, numa comunidade, qualquer esforço de uma fração das pessoas, deve ser encarado como pertencendo a todos. Esta compreensão fortalece o bem comum e cria tradições que enraízam adultos e jovens. Por outro lado, a música sacra produz um efeito educativo que reduz estresse, refina a alma, sendo parte essencial do polimento pessoal. Pessoas gentis, corteses e doces sempre estão associadas às artes. Pode ser que algum artesão seja rude, mas, trata-se de uma exceção.

A liderança nas comunidades cristãs deveria esforçar-se por tornar comum o interesse por todas as atividades dos comunitários. Tal comportamento aumenta a segurança da comuna, além de estabelecer a guarda da lei de Deus.

Depois de encerradas as apresentações, aos coristas e seus familiares foi oferecido um cocktail. O ambiente era de grande fraternidade e alegria. Duas comunidades estavam juntas e se alegravam em felicidade por causa da sensação de tarefa cumprida. Muita descontração e estreitamento de amizades. Foi um exercício de justiça e fraternidade. Justiça porque todos participaram de igual modo dos alimentos oferecidos, e de fraternidade considerando que houve sorteios, mas, os sorteados foram todos. 

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