domingo, 18 de setembro de 2022

Tradições passadas de geração a geração

A igreja cristã está necessariamente ligada à saga dos filhos de Deus em manter viva a chama da verdade através das eras. Cada geração dos filhos de Deus resolveu manter-se ligada aos princípios celestes e manteve seu amor à verdade, fato que levou a geração seguinte a aprender a amar a Deus. Nenhuma geração está obrigada a seguir os critérios da anterior porque é livre para determinar sua própria visão de mundo. Há somente uma força que torna possível que uma nova geração suceda a anterior. O amor com que a antiga geração viveu a sua verdade e, por seu exemplo, ensinou-a aos seus filhos, de modo que eles decidiram segui-la.

Em outras palavras, se fosse perguntado aos atuais filhos de Deus, por que são cristãos? A resposta teria que ser: Nossos antepassados eram cristãos porque seus pais o eram também, assim, nossos avós e os avós dos avós eram cristãos. Por essa razão nosso amor pela verdade cristã sobreviveu e chegou até nós; herdamos uma tradição religiosa daqueles que nos antecederam e vamos segui-la e transmiti-la aos que vêm depois de nós. Ser cristão é ser um dos elos de uma corrente que liga gerações.

Entendese a tradição como um conjunto de sistemas simbólicos que são passados de geração a geração e que tem um caráter repetitivo. A tradição deve ser considerada uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo futuro. Herança ou legado passado de uma geração para outra. A Tradição é conhecimento deixado por Jesus Cristo e que vem sendo lembrado às várias gerações pelo Espírito Santo quem tem tornado possível a continuidade da experiência das origens.

A principal diferença entre cultura e tradição é que cultura são as ideias, costumes e comportamento social de um determinado grupo social, localizado no tempo e no espaço. Enquanto que a Tradição é a transmissão de uma geração para outra de costumes e crenças originados por causa da graça divina, mas que não estão limitadas no tempo e no espaço.

Os significados acima são importantes por causa do pensamento que desde o renascimento vem formatando a visão de mundo ocidental, ou seja, acreditar que a partir do momento em que escolhemos como viver, estamos livres para nos desvincular do passado.  Pensadores como David Hume (século XVIII), Immanuel Kant (final do século XVIII início do século XIX) e Jean-Paul Sartre (século XX) impuseram uma ótica quase axiomática de que o ser não poderia, em instância alguma, implicar dever. Fala-se de autonomia no centro da vida moral, ou que a escolha da identidade é pessoal e livre de qualquer vínculo com o passado. Para os membros atuais da humanidade a história não determina nosso papel.

A Bíblia diz que o contato que temos com Deus se dá através da palavra. Logo, a Bíblia é nossa fonte autoritativa das tradições. Assim, somos informados que para os cristãos a história de uma única geração não é toda a história. Tal como em música, uma melodia é mais do que uma reunião de notas, assim como um quadro é mais do que um conjunto de pinceladas, a sequência da história compõe um todo, sendo que as vidas individuais escrevem partes do todo, sendo a somatória das vidas formadora do drama em andamento, cujo começo está nas gerações ancestrais e deverá continuar com as gerações futuras, ou seja, o cristianismo é a insistência de que a história tem um significado. Por esse motivo, cada geração e cada indivíduo tem um significado preciso dentro da história do plano da redenção. Somos indivíduos devotados a certas ideias e não átomos flutuando livremente no espaço. Facilmente podemos entender que a geração atual de cristãos tem a solene responsabilidade de não descontinuar a história que ainda não está concluída. Filhos deverão ser ensinados “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te” (Deut.6:7). A razão para tal preocupação é que cada geração faz parte de universos culturais característicos de cada país, mas, nascemos cristãos, consequentemente, somos herdeiros da história dos nossos antepassados e responsáveis pelo destino que une nossas vidas com as dos antepassados. Não importa onde estamos, mas, o que somos. O fato de termos nascido cristãos não é um fato qualquer, pois somente pode ter acontecido porque dezenas de gerações ancestrais resolveram permanecer cristãs, assim transmitindo nossa identidade aos descendentes, uma notável história de continuidade.

Atualmente parece haver incompreensão dessa jornada, uma vez que as igrejas estão buscando quebrar as tradições. Chama atenção a falta de compromissos assumidos por agentes de um passado recente e que às gerações atuais parece não significar nada. No Brasil, tem-se testemunhado o descompromisso constitucional, por exemplo. Tal situação é muito desequilibradora e causa aflição no presente e fortes suspeitas de infelicidade no futuro. A falta de compromisso com a história é avassaladora. Este clima está ambientando as igrejas também.

A morte da Rainha Elizabeth II do Reino Unido tem ensinado lições importantes sobre as tradições. O funeral de sua majestade consiste em um processual rigoroso. Mentes simples não conseguem aquilatar o significado de cada passo das exéquias. Parece que as ações são exageradamente realizadas com metodologia complexa e exata. No entanto, cada passo no processual reflete o nível civilizatório dos cidadãos do Reino Unido. Aquele tipo de ritual é absolutamente único e próprio da realeza britânica e não poderá ser achado em outros países. Tais tradições identificam os ingleses.

A tradição deve ser considerada uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo futuro. Se para uma Rainha morta o processual é rigorosamente executado, o que diremos sobre o processual para um Deus que está vivo e que determinou como deseja ser cultuado? Será que a atual geração de cristãos tem o direito a mudar as tradições confundindo cultura com tradição? Confundindo modernidade com tradição? O que poderá resultar de ações que anulam as tradições cristãs? Há tradições sendo anuladas nos rituais dos cultos a Deus. Há tradições sendo anuladas na maneira como a geração atual ensina os filhos sobre as mesmas tradições. Há passos sendo tomados sem a sabedoria necessária para atender comandos divinos que são anulados porque as fábulas humanísticas-cientificas atuais são fascinantes e parecem mais adequadas que as tradições bíblicas. Difícil imaginar que a atual geração será a que anulará a tradição que vem senda tenazmente mantida pelas gerações anteriores, tornando-se responsável por um desastre.

 

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