A igreja cristã está
necessariamente ligada à saga dos filhos de Deus em manter viva a chama da
verdade através das eras. Cada geração dos filhos de Deus resolveu manter-se
ligada aos princípios celestes e manteve seu amor à verdade, fato que levou a
geração seguinte a aprender a amar a Deus. Nenhuma geração está obrigada a
seguir os critérios da anterior porque é livre para determinar sua própria visão
de mundo. Há somente uma força que torna possível que uma nova geração suceda a
anterior. O amor com que a antiga geração viveu a sua verdade e, por seu
exemplo, ensinou-a aos seus filhos, de modo que eles decidiram segui-la.
Em outras palavras, se fosse
perguntado aos atuais filhos de Deus, por que são cristãos? A resposta teria
que ser: Nossos antepassados eram cristãos porque seus pais o eram também,
assim, nossos avós e os avós dos avós eram cristãos. Por essa razão nosso amor
pela verdade cristã sobreviveu e chegou até nós; herdamos uma tradição
religiosa daqueles que nos antecederam e vamos segui-la e transmiti-la aos que
vêm depois de nós. Ser cristão é ser um dos elos de uma corrente que liga
gerações.
Entende‑se a tradição como um conjunto de sistemas simbólicos
que são passados de geração
a geração e que tem um caráter repetitivo. A tradição deve ser
considerada uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o
tempo futuro. Herança ou legado passado de uma geração para outra. A
Tradição é conhecimento deixado por Jesus Cristo e que vem sendo lembrado às
várias gerações pelo Espírito Santo quem tem tornado possível a continuidade da experiência
das origens.
A principal diferença entre
cultura e tradição é que cultura são as ideias, costumes e comportamento social
de um determinado grupo social, localizado no tempo e no espaço. Enquanto que a
Tradição é a transmissão de uma geração para outra de costumes e crenças originados
por causa da graça divina, mas que não estão limitadas no tempo e no espaço.
Os significados acima são importantes
por causa do pensamento que desde o renascimento vem formatando a visão de mundo
ocidental, ou seja, acreditar que a partir do momento em que escolhemos como
viver, estamos livres para nos desvincular do passado. Pensadores como David Hume (século XVIII), Immanuel
Kant (final do século XVIII início do século XIX) e Jean-Paul Sartre (século
XX) impuseram uma ótica quase axiomática de que o ser não poderia, em instância
alguma, implicar dever. Fala-se de autonomia no centro da vida moral, ou que a escolha
da identidade é pessoal e livre de qualquer vínculo com o passado. Para os
membros atuais da humanidade a história não determina nosso papel.
A Bíblia diz que o contato que
temos com Deus se dá através da palavra. Logo, a Bíblia é nossa fonte autoritativa
das tradições. Assim, somos informados que para os cristãos a história de uma
única geração não é toda a história. Tal como em música, uma melodia é mais
do que uma reunião de notas, assim como um quadro é mais do que um conjunto de
pinceladas, a sequência da história compõe um todo, sendo que as vidas individuais
escrevem partes do todo, sendo a somatória das vidas formadora do drama em
andamento, cujo começo está nas gerações ancestrais e deverá continuar com as
gerações futuras, ou seja, o cristianismo é a insistência de que a história tem
um significado. Por esse motivo, cada geração e cada indivíduo tem um
significado preciso dentro da história do plano da redenção. Somos indivíduos devotados
a certas ideias e não átomos flutuando livremente no espaço. Facilmente podemos
entender que a geração atual de cristãos tem a solene responsabilidade de não
descontinuar a história que ainda não está concluída. Filhos deverão ser
ensinados “assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e
levantando-te” (Deut.6:7). A razão para tal preocupação é que cada geração faz
parte de universos culturais característicos de cada país, mas, nascemos
cristãos, consequentemente, somos herdeiros da história dos nossos antepassados
e responsáveis pelo destino que une nossas vidas com as dos antepassados. Não
importa onde estamos, mas, o que somos. O fato de termos nascido cristãos não é
um fato qualquer, pois somente pode ter acontecido porque dezenas de gerações
ancestrais resolveram permanecer cristãs, assim transmitindo nossa identidade
aos descendentes, uma notável história de continuidade.
Atualmente parece haver incompreensão
dessa jornada, uma vez que as igrejas estão buscando quebrar as tradições.
Chama atenção a falta de compromissos assumidos por agentes de um passado
recente e que às gerações atuais parece não significar nada. No Brasil, tem-se
testemunhado o descompromisso constitucional, por exemplo. Tal situação é muito
desequilibradora e causa aflição no presente e fortes suspeitas de infelicidade
no futuro. A falta de compromisso com a história é avassaladora. Este clima
está ambientando as igrejas também.
A morte da Rainha Elizabeth II do
Reino Unido tem ensinado lições importantes sobre as tradições. O funeral de
sua majestade consiste em um processual rigoroso. Mentes simples não conseguem
aquilatar o significado de cada passo das exéquias. Parece que as ações são
exageradamente realizadas com metodologia complexa e exata. No entanto, cada
passo no processual reflete o nível civilizatório dos cidadãos do Reino Unido.
Aquele tipo de ritual é absolutamente único e próprio da realeza britânica e não
poderá ser achado em outros países. Tais tradições identificam os ingleses.
A tradição deve ser considerada
uma orientação para o passado e uma maneira de organizar o mundo para o tempo
futuro. Se para uma Rainha morta o processual é rigorosamente executado, o que
diremos sobre o processual para um Deus que está vivo e que determinou como
deseja ser cultuado? Será que a atual geração de cristãos tem o direito a mudar
as tradições confundindo cultura com tradição? Confundindo modernidade com
tradição? O que poderá resultar de ações que anulam as tradições cristãs? Há tradições
sendo anuladas nos rituais dos cultos a Deus. Há tradições sendo anuladas na
maneira como a geração atual ensina os filhos sobre as mesmas tradições. Há
passos sendo tomados sem a sabedoria necessária para atender comandos divinos
que são anulados porque as fábulas humanísticas-cientificas atuais são
fascinantes e parecem mais adequadas que as tradições bíblicas. Difícil
imaginar que a atual geração será a que anulará a tradição que vem senda tenazmente
mantida pelas gerações anteriores, tornando-se responsável por um desastre.
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