quarta-feira, 17 de julho de 2024

O Conflito dos Pressupostos: Humanismo e Iluminismo à Luz dos Princípios Bíblicos

 O texto abaixo, é uma continuação de um texto intitulado “O conflito: pressupostos”, o qual é parte do cervo deste blogue. Ali, analisamos o empenho satânico para represar o efeito causado pelo rio de informações nascido na Bíblia. Os movimentos que estão em análise no texto abaixo, são a inundação do vômito que saiu da boca do dragão (Apocalipse 12:15). Facilmente podemos discernir o grande conflito quando comparamos os pressupostos dos referidos movimentos com os propósitos bíblicos.

O humanismo e o iluminismo são dois movimentos intelectuais distintos, mas ambos tiveram um impacto significativo na história e na forma como as pessoas compreendem o mundo. O humanismo surgiu na Itália no século XIV, valorizando a antiguidade clássica e o conhecimento humano. Já o iluminismo foi um movimento cultural europeu dos séculos XVII e XVIII que buscava mudanças políticas, econômicas e sociais. As diferenças e convergências se dão nos seguintes aspectos:

O humanismo Defende o antropocentrismo, ou seja, a ideia de que o homem é a medida de todas as coisas e está no centro da natureza. Promove a educação e a razão como meios para atingir a grandeza humana.

Em razão da valorização do ser humano, o humanismo coloca o anthropos e suas capacidades no cerne do pensamento filosófico e cultural, enfatizando a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa (é evidente que estas ideias estavam no diálogo entre a serpente e Eva: “...serão como Deus...”). Neste caso, a racionalidade é a que leva ao livre arbítrio, este completamente alicerçado na capacidade humana de tomar decisões livres, o que promove a ideia de autodesenvolvimento e autoaperfeiçoamento, tendo como fundamento a valorização do estudo da literatura, filosofia, história e artes como meios para entender a condição humana e desenvolver virtudes. Essas noções são diametralmente opostas às instruções bíblicas. “Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia” (Salmos 25:5); “Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (João 3:21).

Embora não seja necessariamente antirreligioso o secularismo, separação entre o Estado e as instituições religiosas, próprio do humanismo, tende a enfatizar a importância das realizações humanas fora do contexto religioso.

Por seu turno, o humanismo foca na capacidade humana de atingir grandeza por meio da educação e da razão, enquanto o iluminismo defende a primazia da razão e da ciência para guiar a humanidade.

para o iluminismo, o racionalismo e a Ciência produzirão uma confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas para compreender e melhorar o mundo, sendo assim assegurado o progresso contínuo da humanidade através do conhecimento, ciência, e inovação social e tecnológica.

Por outro lado, a tecnologia trará a valorização dos direitos e liberdades individuais, incluindo liberdade de expressão, religião e pensamento, bem como a defesa da igualdade perante a lei. Claramente isso pressupõe secularismo e laicidade, promovendo a ideia de que as questões religiosas não devem interferir nos assuntos públicos e políticos. Na verdade, estamos falando de uma crítica às autoridades tradicionais sejam elas políticas, religiosas ou sociais, em favor de uma sociedade mais justa e equitativa baseada na razão (cada ser humano possui impressões éticas e morais inatas) e na justiça originária na experiência humana e não em tradições religiosas. Para tal será necessária a crença de que a educação humanista e secularizada é fundamental para a emancipação do indivíduo e o desenvolvimento de uma sociedade esclarecida e informada.

Ambos os movimentos compartilham uma ênfase na razão e no potencial humano, mas o humanismo tende a focar mais na dignidade e valor individual, enquanto o iluminismo enfatiza o progresso e a aplicação prática da razão para melhorar a sociedade como um todo.

Se pudéssemos fazer uma mescla dos dois movimentos teríamos que o humanismo e o iluminismo, embora distintos em suas origens e ênfases, convergem em sua celebração do potencial humano e na crença no poder da razão. O humanismo, emergindo no Renascimento, coloca o ser humano no centro do universo, destacando a dignidade e o valor intrínseco de cada indivíduo. Este movimento ressuscitou o estudo das humanidades — literatura, filosofia, história e artes — como meios para entender a condição humana e desenvolver virtudes. A racionalidade e o livre-arbítrio são pilares fundamentais, promovendo a ideia de que os seres humanos têm a capacidade e a responsabilidade de se auto aperfeiçoar.

Por sua vez, o iluminismo, florescendo nos séculos XVII e XVIII, também coloca grande ênfase na razão, mas com um foco particular no progresso e na aplicação do método científico para compreender e transformar o mundo. A confiança na ciência e no racionalismo impulsionou inovações que moldaram a modernidade, fomentando uma visão de progresso contínuo. Os iluministas defendiam ardorosamente a liberdade e os direitos individuais, argumentando que a emancipação humana se baseia na liberdade de expressão, pensamento e religião (esta não baseada na Bíblia), bem como na igualdade perante a lei.

Ambos os movimentos compartilham uma valorização do secularismo. O humanismo, embora não necessariamente antirreligioso, defende que as realizações humanas podem ser celebradas independentemente do contexto religioso. O iluminismo, por seu turno, propôs a separação entre Igreja e Estado, sustentando que as questões religiosas não deveriam interferir nos assuntos públicos e políticos, posto que são tradições místicas, variando ao sabor das visões de mundo.

Essa convergência de ideias não apenas protestou as autoridades tradicionais, mas também promoveu uma nova visão de educação e ilustração. Para os humanistas, o estudo das humanidades era essencial para o desenvolvimento pessoal e moral. Já os iluministas viam a educação como a chave para a emancipação do indivíduo e para o avanço de uma sociedade mais esclarecida e justa, com indivíduos acessando livremente ter os mesmos objetos. Quanto mais educação, mais facilidade para acessar objetos, ou seja, a justiça abonará oportunidades iguais para aquisição de bens materiais. É importante lembrar que para o cristianismo, baseado na Bíblia, justiça tem a ver com possibilidades equitativas de crescimento moral em valores e seus significados, uma visão baseada na razão impressa na Torá judaica, sendo que os objetos são apenas pontos de inflexão para apoiar o crescimento em princípios e valores e mudanças de direção.

Assim, a fusão dos princípios humanistas e iluministas molda uma visão de mundo que celebra a capacidade humana de raciocinar, criar e progredir. Essa síntese promove um ideal de sociedade onde a dignidade humana é respeitada, a razão e a ciência são ferramentas essenciais para o progresso, e os direitos e liberdades individuais são fundamentais para a realização de uma vida plena e significativa. Em essência, esses movimentos combinados oferecem uma perspectiva otimista e progressista sobre o potencial humano e o desenvolvimento da civilização.

Ponderando que ambos os movimentos colocam o homem como sendo capaz de encontrar todas as soluções civilizatórias, e que é a razão humana a fonte de toda virtude, encontramos algumas incongruências entre os pressupostos do humanismo e do iluminismo e os propósitos bíblicos, especialmente no que diz respeito à visão sobre o ser humano, a fonte de moralidade e o papel da religião. Aqui estão algumas dessas incongruências:

Humanismo

1. Valorização do Ser Humano:

   - Humanismo: Coloca o ser humano no centro e valoriza a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa.

   - Bíblia: Embora a Bíblia também valorize a dignidade humana (criação à imagem de Deus), coloca Deus no centro de todas as coisas, e a dignidade humana é derivada do relacionamento com Deus.

2. Racionalidade e Livre-Arbítrio:

   - Humanismo: Acredita na capacidade humana de raciocinar e tomar decisões livres.

   -Bíblia: Afirma a importância do livre-arbítrio, mas também enfatiza a necessidade de orientação divina e a limitação da razão humana devido ao pecado.

3. Secularismo:

   - Humanismo: Promove uma visão secular, independente do contexto religioso.

   - Bíblia: Enfatiza a importância da fé e da submissão a Deus em todas as áreas da vida.

 Iluminismo

1. Racionalismo e Ciência:

   - Iluminismo: Confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas principais para compreender e melhorar o mundo.

   - Bíblia: Reconhece o valor da razão e da observação do mundo natural, mas enfatiza que o verdadeiro entendimento e sabedoria vêm de Deus.

2. Progresso:

   - Iluminismo: Crença no progresso contínuo da humanidade através do conhecimento e inovação.

   - Bíblia: Embora a Bíblia não seja contra o progresso, ela coloca uma ênfase maior na transformação espiritual e na esperança de um futuro redentor através de Cristo.

3. Liberdade e Direitos Individuais:

   - Iluminismo: Valorização dos direitos e liberdades individuais.

   - Bíblia: Reconhece a importância da liberdade, mas ensina que a verdadeira liberdade é encontrada na obediência a Deus e em viver de acordo com Seus mandamentos. Não foca no indivíduo, mas na vida em coletividade e na cooperação com Deus e com os semelhantes, os dois princípios da Torá.

 

4. Secularismo e Laicidade:

   - Iluminismo: Defende a separação entre Igreja e Estado.

   - Bíblia: Embora haja passagens que reconheçam diferentes esferas de autoridade (como "dar a César o que é de César"), a Bíblia geralmente não promove uma separação estrita entre fé e vida pública. No entanto, admite que a mistura estado e religião sempre leva ao uso da força estatal na imposição de dogmas religiosos, um erro bíblico, pois o serviço a Deus é sempre por amor e não pela força.

As principais incongruências surgem do fato de que tanto o humanismo quanto o iluminismo tendem a enfatizar a autonomia e a capacidade humana, muitas vezes de forma independente ou até em oposição à dependência de Deus, central na cosmovisão bíblica. Além disso, o secularismo promovido por esses movimentos pode entrar em conflito com a perspectiva bíblica que contempla Deus como fundamental para o justo implemento de todas as áreas da vida. No entanto, é possível encontrar pontos de convergência em áreas como a valorização da dignidade humana e a busca por conhecimento, desde que estes sejam entendidos dentro de uma estrutura teológica que coloca Deus no centro.

Perspectiva Adventista do Sétimo Dia

Considerando que os movimentos humanista e iluminismo colocam o homem como a solução para seus próprios dilemas, ambos travam uma espécie de duelo com a Bíblia, onde a verdade não está na razão humana e no cientificismo, mas, na obediência aos princípios sagrados, os quais têm sua origem em Deus. Por essa razão, torna-se interessante verificar o que pensam, em particular os adventistas do sétimo dia, uma vez que estes não perfilam com os cristãos tradicionais ou católicos e evangélicos (são classificados de seita). 

Os Adventistas do Sétimo Dia são uma denominação cristã com crenças fundamentadas na interpretação literal e histórica da Bíblia. Algumas ideias do humanismo e do iluminismo podem entrar em contradição com essas crenças. Aqui estão algumas das principais áreas de conflito:

Humanismo

1. Valorização do Ser Humano:

   - Humanismo: Coloca o ser humano no centro e valoriza a dignidade e o valor intrínseco de cada pessoa.

   - Adventistas: Embora também valorizem a dignidade humana (criada à imagem de Deus), acreditam que a centralidade deve ser em Deus e em Seu plano para a humanidade.

2. Racionalidade e Livre-Arbítrio:

   - Humanismo: Enfatiza a capacidade humana de raciocinar e tomar decisões livres.

   - Adventistas: Reconhecem o livre-arbítrio, mas enfatizam a necessidade de orientação divina e a limitação da razão humana devido ao pecado.

3. Secularismo:

   - Humanismo: Promove uma visão secular, independente do contexto religioso.

   - Adventistas: Acreditam que a fé deve influenciar todas as áreas da vida e que Deus deve ser central em todas as decisões. Acreditam que a separação entre religião e estado é salutar à liberdade de consciência, sendo que, as leis deveriam estar baseadas na busca pela justiça, igualdade e proteção dos direitos humanos, refletindo os ensinamentos cristãos de amor ao próximo e compaixão.

 Iluminismo

1. Racionalismo e Ciência:

   - Iluminismo: Confiança profunda na razão humana e no método científico como ferramentas principais para compreender e melhorar o mundo.

   - Adventistas: Valorizam a ciência e a razão, mas acreditam que o verdadeiro entendimento vem de Deus. Eles sustentam que a Bíblia é uma fonte categórica de conhecimento e sabedoria (Jeremias 2:13; Jó 28:28; Provérbios 2:6).

2. Progresso:

   - Iluminismo: Crença no progresso contínuo da humanidade através do conhecimento e inovação.

   - Adventistas: Acreditam no progresso, mas colocam maior ênfase na transformação espiritual e na esperança do retorno de Cristo, que trará a verdadeira renovação (Isaías 55:11; Tessalonicenses 4:1).

3. Liberdade e Direitos Individuais:

   - Iluminismo: Valorização dos direitos e liberdades individuais.

   - Adventistas: Valorizam a liberdade religiosa e os direitos individuais, mas acreditam que a verdadeira liberdade é encontrada em viver de acordo com a vontade de Deus, conforme a lei dos dez mandamentos (Mateus 11:29; Efésios 4:13).

4. Secularismo e Laicidade:

   - Iluminismo: Defende a separação entre Igreja e Estado.

   - Adventistas: Apoiariam a separação em termos de evitar a imposição religiosa pelo Estado, mas acreditam que a fé deve influenciar a vida pública e pessoal.

Pontos de Convergência e Divergência

Convergências:

- Valorização da Educação: Ambos valorizam a educação, mas os adventistas enfatizam a educação que inclui formação espiritual.

- Dignidade Humana: Ambos valorizam a dignidade humana, embora os adventistas vejam essa dignidade como derivada de ser criado à imagem de Deus.

Divergências:

- Fonte da Moralidade: Para os humanistas e iluministas, a moralidade pode ser baseada na razão e no consenso social. Para os adventistas, a moralidade está fundamentada nos ensinamentos bíblicos.

- Centralidade de Deus: O secularismo e a ênfase na autonomia humana dos humanistas e iluministas contrastam com a visão adventista de que Deus deve ser central em todas as áreas da vida.

- Destino Humano: O progresso humano contínuo promovido pelo iluminismo contrasta com a visão adventista de que a solução final para os problemas da humanidade virá com o retorno de Cristo.

Em resumo, enquanto há áreas onde os adventistas podem encontrar pontos de concordância com os princípios do humanismo e do iluminismo, especialmente na valorização da dignidade humana e na educação, há também áreas de significativa divergência, especialmente no que se refere à centralidade de Deus e à fonte da moralidade e do entendimento humano.

Os pontos de concordância não são taxativos, mas algo evasivos, implicando que os movimentos humanista e iluminista têm distanciamentos irreconciliáveis com os adventistas. Isto indica que a fonte dos movimentos tem origem não bíblica. Ambos movimentos têm suas origens na árvore da ciência do bem e do mal.

Um comentário:

Giovanna Bonilha disse...

Uma saudade de Manaus é poder aprender com o Dr. Claudio.