quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A Materialidade como Caminho para a Transcendência

 

Na tradição judaico-cristã, os rituais , são exemplos claros de como elementos materiais são usados para promover uma formação espiritual profunda, para promover a razão. Rituais como a ceia e o Batismo, utilizam elementos materiais (pão, vinho, água) para transmitir informações da graça divina ocultos nos mesmos. A água do Batismo, por exemplo, não é apenas um símbolo de purificação, mas também atua como um meio concreto de ingresso na comunidade de fé e na vida cristã. Esse ato físico de imersão em água está intrinsecamente ligado a uma transformação espiritual e moral, que contribui para a construção da identidade religiosa do indivíduo. A ceia, por sua vez, utiliza o pão e o vinho como objetos físicos que são consumidos pelos fiéis. Este ato ritual repetido ao longo da vida é central para a formação espiritual, nutrindo não apenas a fé, confirmando a aliança com Cristo, mas também o entendimento teológico sobre a presença real de Cristo para se alcançar caracteres mais nobres, um comportamento consentâneo com as exigências da Torá. Além disso, os ritos ensinam sobre a comunhão dos santos, e a importância do sacrifício ao envolver os sentidos físicos (visão, paladar, olfato). Tudo isto facilita uma compreensão mais profunda dos mistérios divinos e da ciência celeste. 

Como afirma Santo Tomás de Aquino, “um sacramento é um sinal visível de uma realidade invisível” (Summa Theologiae, III, q. 60, a. 1). Isso reflete a crença de que a matéria pode tornar-se um meio pelo qual Deus comunica Sua presença e graça aos seres humanos.

Além dos rituais, os ícones são vistos não apenas como representações artísticas, mas como janelas que acessam realidades celestes. O teólogo ortodoxo Pavel Florensky destaca que o ícone não é apenas uma imagem, mas uma presença; ele nos conecta com a realidade celestial através de sua materialidade; a cruz é o grande icone do cristianismo (Florensky, *Theology of the Icon*, 1996).

Filosofia e a Transcendência Através do Mundo Sensível

No âmbito do conhecimento humanista, Platão, na sua teoria das Formas, sugere que as coisas materiais são sombras de realidades superiores e perfeitas. No diálogo “Fedro”, ele descreve a alma humana como um prisioneiro no mundo físico, que deve usar o intelecto para transcender o sensível e alcançar o mundo das Formas, onde reside a verdadeira sabedoria e conhecimento (Platão, *Fedro*, 248b-c). Platão sugere que a realidade física deve ser o trampolim para a complexidade dos conceitos.

No contexto bíblico, podemos ver um eco dessa ideia na carta de Paulo aos Romanos, onde ele afirma: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Romanos 1:20). Aqui, Paulo sugere que o mundo material revela aspectos do divino, sendo, portanto, um meio para transcender ao invisível e espiritual.

Immanuel Kant também explora a relação entre o material e o transcendente. Para Kant, os fenômenos que percebemos (o mundo sensível) são manifestações de algo que não podemos conhecer diretamente, o “noumeno” ou a “coisa-em-si”. Através da razão e da moralidade, os seres humanos podem vislumbrar a ordem moral transcendente, que existe para além do mundo material (Kant, *Crítica da Razão Pura*, 1781). Essa ideia ressoa com o ensinamento bíblico de que a fé é “a certeza das coisas que se esperam, a convicção dos fatos que se não veem” (Hebreus 11:1), indicando uma confiança em uma realidade transcendente que supera o que é visível.

Na Bíblia, vemos exemplos de como o contato com o material pode levar a experiências espirituais profundas, como na cura da mulher com fluxo de sangue que tocou as vestes de Jesus e foi curada (Marcos 5:27-29), ou na experiência de Jacó ao sonhar com a escada que ligava o céu à terra (Gênesis 28:12-17).

Como vemos, a razão humana se apodera da realidade transcendente intermediada pelos fenômenos físicos; as coisas, os objetos, tornam possível o pensamento abstrato, a compreensão conceitual, a realidade moral. A rotação física dos corpos, um ato material, permite à mente construir a dinâmica celeste, uma abstração somente possível mediada pelos movimentos dos astros.

O Cotidiano e a Busca pelo Transcendente

Mesmo no cotidiano, o uso das coisas materiais para alcançar valores espirituais pode ser observado. A prática da caridade, por exemplo, transforma recursos materiais em atos de amor e compaixão, que carregam um valor espiritual profundo. Como enfatizado por São Francisco de Assis, o desapego dos bens materiais em favor dos pobres é um caminho para viver de acordo com os valores do Reino de Deus (Celano, *Vita Prima*, 1228). Isso ecoa as palavras de Jesus em Mateus 25:40: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”, onde o ato material de dar se transforma em um ato espiritual de amor para com Cristo.

A utilização das coisas materiais para a obtenção de valores espirituais e cognitivos é uma prática que se entrelaça com a história da humanidade em suas diversas tradições religiosas e filosóficas. Seja através dos ritos cristãos e dos ícones, dos atos de caridade no cotidiano, a materialidade é frequentemente vista como um meio indispensável para a realização do transcendente.

Essa ideia é apoiada pelas Escrituras, especialmente na ceia, onde Jesus afirma: “Tomai, comei; isto é o meu corpo” (Mateus 26:26) e “Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20). Essas palavras mostram como Cristo utiliza elementos materiais para estabelecer uma realidade espiritual mais profunda.

O uso de objetos materiais para lembrar e honrar a presença divina, também é visto no Antigo Testamento, onde a Arca da Aliança simbolizava a presença de Deus entre o povo (Êxodo 25:10-22). O uso das coisas materiais pode ser um caminho para a obtenção de valores espirituais e cognitivos.

Certamente, o uso de objetos físicos para a aquisição de conhecimentos complexos e o desenvolvimento cognitivo é uma prática comum em diversas áreas, desde a educação até a espiritualidade. A seguir, apresento alguns exemplos concretos dessa prática no processo de formação de uma pessoa.

Manipulativos Matemáticos na Educação Infantil

No campo da educação, especialmente na matemática, o uso de manipulativos físicos é fundamental para o desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas em crianças. Objetos como blocos, ábacos e cubos são usados para ensinar conceitos abstratos, como números, adição, subtração e até mesmo frações.

Por exemplo, ao utilizar blocos de construção para representar números, as crianças podem compreender a ideia de quantidade e como diferentes números podem ser combinados ou separados. Esse aprendizado concreto serve de base para o desenvolvimento posterior de habilidades matemáticas abstratas mais complexas. Estudos têm mostrado que crianças que aprendem usando manipulativos desenvolvem um entendimento mais profundo dos conceitos matemáticos e são capazes de aplicar esses conceitos de maneira mais eficaz em situações de resolução de problemas (Clements, D. H., & Sarama, J., *Learning and Teaching Early Math*, 2009).

Laboratórios Científicos e Experimentos

Na educação científica, os laboratórios e os experimentos são formas clássicas de utilizar objetos físicos para desenvolver o conhecimento complexo. Por exemplo, ao conduzir experimentos de química, os estudantes manipulam reagentes, observam reações, e analisam os resultados. Esse processo não só reforça o entendimento dos conceitos teóricos, mas também desenvolve habilidades cognitivas como o pensamento crítico, a análise de dados e a capacidade de formular hipóteses.

Um exemplo específico é o uso de modelos anatômicos em aulas de biologia. Estudantes de medicina ou biologia utilizam modelos físicos do corpo humano para entender a estrutura dos órgãos e sistemas. A manipulação desses modelos permite uma compreensão tridimensional que seria difícil de adquirir apenas por meio de textos ou imagens bidimensionais. Este aprendizado concreto é essencial para o desenvolvimento das habilidades necessárias na prática médica, como a cirurgia, onde o conhecimento anatômico detalhado é fundamental.

Um cientista, observando a realidade física, pode transferir essa realidade para sua mente, trabalhar espiritualmente e interferir na realidade física, transformando-a. Um exemplo disso é a nanotecnologia terapêutica uma área da ciência que utiliza partículas extremamente pequenas, na escala nanométrica, para desenvolver novas formas de tratamento médico. Essas nanopartículas podem ser usadas para transportar medicamentos diretamente para áreas específicas do corpo, permitindo uma liberação mais precisa e eficaz dos fármacos. Por meio da criação de nano robôs é possível desenvolver remédios e até mesmo drogas que veiculem no mercado e que sirvam para o tratamento de pacientes e seus problemas. Tudo isto se tornou possível porque existe uma realidade física, as moléculas químicas, que mediante o trabalho mental dos pesquisadores, foi operada uma transformação do original mediada pela razão.

Além disso, a nanotecnologia terapêutica pode ser aplicada em diagnósticos mais detalhados, desenvolvimento de materiais biocompatíveis e até mesmo em terapias gênicas. Essa abordagem tem o potencial de transformar o tratamento de doenças, tornando-o mais seguro e personalizado. O desenvolvimento de drogas artificiais, que não dependam de elementos do nosso organismo são algumas das principais aplicações dessa ciência. Trabalho mental a partir da realidade física.

Prática de Instrumentos Musicais

No campo das artes, especialmente na música, a prática de instrumentos musicais é um exemplo de como o uso de objetos físicos pode levar ao desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas. Aprender a tocar um instrumento envolve uma série de processos cognitivos, como a leitura de partituras, a coordenação motora fina e a memória auditiva.

Por exemplo, ao tocar piano, o músico deve coordenar as mãos de forma independente, seguir a partitura, e ao mesmo tempo prestar atenção ao ritmo e à dinâmica. Estudos têm mostrado que a prática de instrumentos musicais pode melhorar a memória, a atenção, e as habilidades espaciais (Patston, T. J., *The Cognitive Benefits of Learning Music*, 2014). Além disso, a música pode ter um impacto profundo no desenvolvimento emocional e na disciplina pessoal, contribuindo para a formação global do indivíduo.

A escrita musical, por seu turno, realmente possui uma riqueza de notações que permite capturar nuances interpretativas, acentuações e variações dinâmicas com uma precisão que a prosa, por sua natureza, não pode oferecer. Essa capacidade de detalhar os elementos performativos da música torna a partitura musical um meio especialmente poderoso para transmitir não apenas a sequência de notas, mas também as intenções expressivas e sensoriais do compositor.

É possível argumentar que a escrita musical possui uma superioridade em certos contextos, especialmente em termos de comunicação emocional, abstração matemática e precisão temporal.

Na partitura musical, existem várias notações que indicam como uma nota ou uma frase deve ser executada, em termos de volume (dinâmica), tempo (agógica), articulação (staccato, legato, etc.), e até mesmo emoção (espressivo, dolce). Por exemplo, as indicações de dinâmica como *piano* (suave) ou *forte* (forte) e suas variações (*crescendo*, *diminuendo*) ajudam o intérprete a entender a intensidade emocional que deve ser aplicada a diferentes partes da música. A prosa, por outro lado, depende de adjetivos e advérbios que, embora possam sugerir essas nuances, não possuem a mesma capacidade de instruir precisamente a execução de uma ideia.

O ritmo e o tempo na música são rigidamente controlados por notações como as figuras de tempo (semínima, colcheia, etc.) e marcações de tempo (*allegro*, *andante*, etc.). Esses elementos estruturam a experiência temporal da música de uma maneira que é muito mais precisa do que a prosa pode oferecer. A música pode manipular o tempo de forma quase matemática, criando padrões e variações que geram expectativas e surpresas sensoriais, enquanto a prosa, embora possa sugerir ritmo através da sintaxe e da escolha de palavras, não pode controlar o tempo de forma tão direta.

As notações de articulação, como *staccato*, *legato*, *accent*, *tenuto*, entre outras, indicam como as notas devem ser conectadas ou separadas, dando ao intérprete orientações sobre a textura e o caráter da performance. Essas indicações permitem uma variação de toque que é essencial para criar a expressividade musical. Em contraste, a prosa precisa confiar no contexto e na interpretação subjetiva do leitor para transmitir diferentes "tons" de leitura, e mesmo assim, esses tons não são tão claramente definidos quanto em uma partitura.

Comunicação Emocional

A música é frequentemente descrita como uma linguagem universal que pode transmitir emoções e estados de espírito com uma profundidade e uma complexidade que a palavra escrita pode não alcançar. A partitura musical, ao codificar essas emoções em notações específicas, permite que os compositores comuniquem sentimentos complexos sem a necessidade de palavras. O filósofo e musicólogo Theodor Adorno argumentava que a música, particularmente a música atonal, pode expressar nuances emocionais que não são possíveis de descrever com precisão em prosa.

A partitura musical, ao detalhar as nuances interpretativas, permite ao intérprete uma gama de possibilidades expressivas que podem ser diretamente vinculadas a resultados sensoriais específicos. A música pode provocar sensações físicas, como arrepio ou relaxamento, através da manipulação cuidadosa de suas dinâmicas e articulações, algo que é codificado diretamente na notação. Na prosa, essas sensações são evocadas mais indiretamente, através de descrições que dependem fortemente da interpretação pessoal e da imaginação do leitor.

Abstração e Precisão

A escrita musical é uma forma de notação que lida com a abstração matemática, particularmente em relação ao tempo e à frequência. A capacidade de uma partitura para representar com precisão a duração, a altura e a intensidade de uma nota permite uma reprodução exata da obra musical. Isso é algo que a escrita cursiva ou a prosa não podem fazer com a mesma exatidão. Por exemplo, a obra de Johann Sebastian Bach frequentemente é elogiada por sua complexidade matemática, que é intrínseca à sua estrutura musical e seria impossível de ser expressa da mesma maneira em prosa.

- Claude Debussy é um exemplo notável de um compositor que utilizou uma vasta gama de notações para capturar nuances sensoriais e atmosféricas em suas partituras.

- Igor Stravinsky, em obras como *Le Sacre du Printemps*, explora a complexidade rítmica e dinâmica que só a notação musical pode capturar com precisão.

- O livro *The Interpretation of Music* de Thurston Dart discute em profundidade como as notações musicais informam a interpretação e os resultados sensoriais.

Transcendência do Significado Literal

A música frequentemente transcende o significado literal. Enquanto a prosa está presa ao significado das palavras, a música pode evocar ideias e emoções que estão além do alcance da linguagem verbal. Isso foi explorado por compositores como Ludwig van Beethoven, cuja música muitas vezes transmitia ideias filosóficas profundas sem o uso de palavras. Richard Wagner também explorou a ideia da Gesamtkunstwerk, ou "obra de arte total", onde a música, o drama e a poesia se combinam para criar uma experiência estética mais completa.

Embora a escrita musical não possa substituir a escrita cursiva ou a prosa em muitos aspectos, ela oferece uma superioridade em termos de comunicação emocional, precisão abstrata e capacidade de transcender o significado literal, o que pode ser especialmente poderoso na expressão artística e filosófica.

No entanto, podemos entender a superioridade da escrita musical em termos de notação, pois a sua capacidade de capturar e transmitir uma vasta gama de nuances interpretativas e sensoriais que vão além do que a prosa pode descrever. A música, através de sua notação precisa e específica, consegue comunicar intenções expressivas e afetivas de forma direta e eficaz, tornando-se um meio poderoso de expressão que ultrapassa as limitações da palavra escrita.

Todas estas explicações sobre a música têm como sua base física os instrumentos. Sem essa base física não poderíamos transcender da forma como analisamos acima.

Qual a lição que temos a aprender?

Os objetos físicos funcionam como âncoras no mundo sensorial, conectando ideias abstratas à realidade concreta. Essa interação direta com o mundo físico é crucial para internalizar e compreender teorias complexas que, de outra forma, poderiam parecer demasiado distantes ou intangíveis. A complexidade do mundo muitas vezes é expressa através de conceitos abstratos, como números, fórmulas matemáticas, ou até mesmo valores morais e espirituais.

Os objetos físicos muitas vezes carregam simbolismos que transcendem sua mera materialidade. Uma cruz, por exemplo, é um objeto simples em termos de sua estrutura física, mas carrega um valor espiritual profundo em muitas tradições religiosas. Este valor simbólico permite que conceitos transcendentes e complexos sejam acessíveis e compreensíveis, criando uma ponte entre o mundo material e o espiritual. Assim, os objetos físicos não apenas facilitam a compreensão de complexidades tangíveis, mas também servem como portais para o entendimento de ideias e valores que vão além do físico.

Fixar-se exclusivamente nos objetos físicos, sem buscar os conceitos e valores que eles representam ou possibilitam, pode ser considerado uma forma de rebaixamento intelectual e espiritual, pois limita o potencial de entendimento e transcendência que esses objetos podem oferecer. Essa fixação pode levar a uma visão superficial do mundo, onde o significado profundo e a complexidade subjacente são negligenciados em favor de uma apreciação meramente materialista.

Focar-se nos objetos físicos pode levar a uma visão materialista da vida, onde o valor é atribuído principalmente ao que pode ser possuído ou acumulado. Isso pode criar um senso de apego aos bens materiais, obscurecendo a busca por valores mais elevados, como o conhecimento, a verdade, a beleza e a justiça. É nessa situação de rebaixamento que a humanidade pecadora está aprisionada. Jesus veio para nos libertar dessa carceragem. Na nova Terra o foco não será a realidade física, mas o reino de justiça onde os conceitos e seus valores serão vistos sem o ofuscamento dos objetos.

Referências

- Theodor W. Adorno, *Philosophy of New Music*.

- Leonard B. Meyer, *Emotion and Meaning in Music*.

- Douglas Hofstadter, *Gödel, Escher, Bach: An Eternal Golden Braid* – especialmente na relação entre música e matemática.

- Aquino, T. de. (1947). *Summa Theologiae*. Trad. Fathers of the English Dominican Province.

- Bíblia. (s/d). *Almeida Revista e Corrigida*.

- Celano, T. (1228). *Vita Prima*.

- Florensky, P. (1996). *Theology of the Icon*. St. Vladimir’s Seminary Press.

- Kant, I. (1781). *Crítica da Razão Pura*.

- Platão. (1995). *Fedro*. Trad. Robin Waterfield. Oxford University Press.

- Schimmel, A. (1975). *Mystical Dimensions of Islam*. The University of North Carolina Press.

- Teresa de Ávila, S. (1577). *O Castelo Interior*.

 

 

 

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