terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Educando adultos e crianças para o céu

 

Nosso planeta está patrocinando um sistema social injusto. Governos injustos. Sistemas religiosos que lutam pelas mentes das pessoas e, portanto, usam persuasões injustas. Escolas ensinando ideologias injustas, educando jovens para superarem outros jovens. Lares que educam para a competição. A pergunta que vem à mente é como quebrar este paradigma injusto ou a visão de mundo onde a competição é o objetivo.

A Bíblia traz uma visão de mundo muito adversa à competição. Apresenta três pilares para vencer a competição: Bondade, justiça e verdade.

A igreja cristã, de acordo com a verdade pura, é a instituição divina para educar adultos e crianças visando quebrar o paradigma da injustiça sob o qual o mundo opera. O apóstolo Paulo adverte aos cristãos de que embora sejam carnais, não devem militar segundo a carne. Segue dizendo que as armas dos cristãos não são carnais, mas, armas poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo. Portanto, os cristãos deveriam estar prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a obediência cristã (2Cor. 10:3-6). É quase intuitivo que as armas do mundo são a riqueza, o talento que rende prestígio, posição, influência, razão antropogênica, perversão da verdade, força e projetos humanos.

As armas satânicas são defendidas por fortificações. Novamente, Paulo explica:” Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus (Gl. 5:19-21).

Na construção do caráter, baseada na contracultura cristã, a integridade é necessária ao êxito. “Importa haver sincero desejo de executar os planos do Construtor-Mestre. As vigas empregadas precisam ser sólidas; nenhuma obra descuidosa, que não seja digna de confiança, pode ser aceita; isso arruinaria o edifício. Lembrai-vos de que estais construindo para a eternidade. Vede que seja seguro o vosso fundamento; construí então firmemente, e com persistente esforço, mas com brandura, mansidão e amor. Assim vossa casa será inabalável, não somente quando as tempestades da tentação vierem, mas quando a assoladora inundação da ira de Deus varrer o mundo” (The Youths Instructor, 19 de fevereiro de 1903).

“Na formação do caráter é da máxima importância que cavemos fundo, removendo todo lixo, e construindo na inabalável, na sólida Rocha que é Cristo Jesus. O maligno está sempre à espreita de uma oportunidade para [...] atrair a mente para o que é proibido. Se ele puder, fixá-la-á nas coisas do mundo. Procurará estimular as emoções, despertar as paixões, firmar as afeições no que não é para vosso bem; pertence-vos, porém, manter toda emoção e paixão sob domínio, em calma sujeição ao entendimento e à consciência. Então Satanás perde o poder de controlar a mente. A obra a que Cristo nos chama é a de vencer progressivamente o mal espiritual em nosso caráter. As tendências naturais devem ser vencidas. ... O apetite e a paixão precisam ser dominados, e a vontade inteiramente posta do lado de Cristo” (The Review and Herald, 14 de junho de 1892).

É importante não perder de vista as fortalezas defendidas pelo inimigo: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,  Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl 5:19-21).

Ora, se temos que retirar todo lixo do mundo, então, o que devemos colocar no lugar? A resposta está nas palavras de Jesus: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”.(Mt.11:29). O que será necessário entender é o uso do jugo. Um instrumento de madeira utilizado para manter pareados dois animais, um adestrado e outro não adestrado, obrigando-os a caminharem juntos emparelhando todos os movimentos, de sorte que, o animal adestrado ensine aquele que não sabe. Um dos animais é experiente e conhecedor de uma tarefa. O outro é novato e desconhecedor da tarefa que, por causa do convívio, aprenderá a tarefa. Esta maneira de ensinar é evocada por Jesus para mostrar que uma pessoa somente aprenderá a ser cristão se, e somente se, estiver usando o jugo de Cristo. A figura do jugo equivale à comunhão. Estar ao lado de Cristo emparelhado com Ele, nos fará reproduzir seus movimentos, seus pensamentos, sua tarefa. Toda vez que alguém tiver alcançado a comunhão com Cristo pelo efeito produzido pelo jugo, poderá, por sua vez, usar o jugo para orientar outrem.

“Precisamos aprender abnegação, coragem, paciência, fortaleza e amor perdoador.  À medida que Cristo, o modelo, é sempre mantido diante dos olhos do espírito, formar-se-ão novos hábitos, poderosas tendências hereditárias e cultivadas serão subjugadas e vencidas, o amor-próprio será lançado ao pó, os velhos hábitos de pensamento serão sempre resistidos, o amor da supremacia será visto em seu caráter real, desprezível, e será vencido” (Ellen White, Manuscrito 6, 1892).

“Nossa independência natural, nossa confiança em nós mesmos, nossa forte obstinação, transformar-se-ão num espírito infantil, submisso, dócil. ... Reconheceremos a autoridade de Cristo para dirigir-nos, e Seu direito a nossa incondicional obediência” (Ellen White, Carta 186, 1902). Jesus abriu uma escola para educação e preparo de Seus escolhidos, e eles devem estar sempre aprendendo a praticar as lições que Ele lhes dá, a fim de conhecê-Lo plenamente. A equação formada pelo lar e a igreja deveriam ser a escola mais eficaz. O resultado para alguém submetido a esse sistema educacional seria “um espírito dominado, palavras de amor e ternura, uma honra ao Salvador. Os que falam palavras bondosas, palavras amáveis e que promovem paz, serão ricamente recompensados. [...] Temos de deixar que Seu espírito irradie na mansidão e humildade dEle aprendidas” (Ellen White, Carta 257, 1903).

No evangelho de João lemos o seguinte diálogo entre Jesus e um fariseu chamado Nicodemos: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito (João 3:3-6). Facilmente identifica-se que Jesus mostrava a Nicodemos que a educação recebida de acordo com o mundo deve ser apagada e substituída pelo novo nascimento. Deve-se adquirir abnegação, coragem, paciência, fortaleza e amor perdoador. Tais mudanças somente acontecem pelo uso do jugo de Cristo.

Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo identifica o reino de satanás:” Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus” (Gl. 5:19-21). Logo a seguir Paulo identifica o Reino de Deus: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gl. 5:22-23). As virtudes do Reino de Deus advêm do aprender com Cisto, “porque sou manso e humilde de coração”. Com Ele aprenderemos, abnegação, coragem, paciência, fortaleza e amor perdoador. Esses valores empoderam o homem para que o espírito (mente = amor, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão temperança) vença a carne (impulsos tais como adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonaria).

Até aqui, vimos o método para educar adultos. Porém, qual seria o método para educar crianças?

Se um adulto necessita nascer outra vez para ver o Reino de Deus, uma criança tem a vantagem de ter acabado de nascer. Portanto, os melhores momentos para formação de pessoas são os primeiros seis anos da sua vida. Segundo alguns estudos, essa é a fase em que o cérebro das crianças se desenvolve mais rapidamente e é capaz de absorver uma grande quantidade de informações e habilidades. Nesse período, as crianças aprendem a falar, a ler, a escrever, a contar, a se relacionar com os outros, a expressar suas emoções, a resolver problemas, a criar e a imaginar. Algumas das características que favorecem o aprendizado infantil nessa fase são: a curiosidade, a motivação, a atenção, a memória, a imitação, a repetição, o jogo e a interação social. Esses fatores estimulam as conexões neurais e fortalecem as áreas cerebrais responsáveis pelo pensamento, pela linguagem, pela criatividade e pelo raciocínio lógico-matemático.

Os neurônios, as células que formam o cérebro, têm a capacidade de ligações complexas chamadas de redes neurais. Quando se está aprendendo ou abstraindo um conceito, várias regiões do cérebro interagem, ativando diferentes grupos de neurônios. A força e a frequência das conexões sinápticas entre esses neurônios podem ser modificadas com base na experiência e no aprendizado, um fenômeno chamado plasticidade sináptica. Portanto, é fundamental que as crianças tenham acesso a ambientes ricos em estímulos sensoriais, afetivos e cognitivos, que ofereçam desafios adequados ao seu nível de desenvolvimento e que promovam sua autonomia e sua autoestima. Assim, elas poderão aproveitar ao máximo sua capacidade de aprendizado e se tornarão adultos mais felizes, inteligentes e criativos. Os ambientes mais adequados para que uma criança receba educação, de modo a aprender amor, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança, são o lar e a igreja. Moises instruiu o povo de Israel dizendo: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR.  Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.  Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas” (Dt.6:4-9).

Se é no lar que uma criança aprende os valores corretos, é também no lar que elas aprendem erros. O apóstolo Pedro adverte dizendo: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais” (1Pe 1:18). A vã maneira de viver é: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas.

 “Mães, estai certas de que disciplinais devidamente vossos filhos durante os seus três primeiros anos de vida. Não lhes permitais formar suas vontades e desejos. A mãe deve ser mente para os filhos. Os três primeiros anos são o tempo para vergar o pequenino rebento. As mães devem compreender a importância desse período. É aí que é posto o fundamento” (Ellen White, Orientação da Criança, 194).

“Permiti que o egoísmo, a cólera e a voluntariedade sigam sua direção nos primeiros três anos da vida de uma criança, e difícil será levá-la a submeter-se à sã disciplina. Sua disposição tornou-se azeda; ela se deleita em seguir sua própria vontade; desagradável é o domínio paterno. Essas más tendências desenvolvem-se à medida que ela cresce, até que, na varonilidade, o supremo egoísmo e a falta de controle sobre si mesmo o coloca à mercê dos males que andam desenfreados em nossa terra” (Ellen White, Temperança, 177).

“A cada mãe são confiadas oportunidades de inestimável valor e interesses infinitamente preciosos. Durante os primeiros três anos de vida do profeta Samuel, sua mãe lhe ensinou cuidadosamente a distinguir entre o bem e o mal. Por meio de todo objeto familiar de que estava rodeado, ela procurou levar-lhe os pensamentos para o Criador. [...] Seu preparo precoce levou-o a escolher manter sua integridade cristã. Que recompensa a de Ana! E que incentivo para a fidelidade o seu exemplo!” (The Review and Herald, 8 de setembro de 1904).

“Se esperastes até vossos filhos terem três anos de idade para lhes começar a ensinar o domínio próprio e a obediência, procurai fazê-lo agora, embora seja muito mais difícil” (Ellen White, Manuscrito 74, 1899).

Agora é o momento de reforçar os conceitos bíblicos importantes. CARNE (Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus Gl.5:19-21). ESPÍRITO (Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei (Gl.5:22-23).

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O corpo, a alma e o espírito não existem separados II

Muitos cristãos pensam que seu destino será viver e morrer vendido ao pecado. Poderá ter algum momento de paz quando, por mercê de Deus, deixamos de pecar, mas, estaremos sempre cedidos ao pecado. Esta noção parece bastante equivocada, uma vez que o apóstolo Paulo recomenda: “Não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana. E também não entreguem nenhuma parte do corpo de vocês ao pecado, para que ele a use a fim de fazer o que é mau. Pelo contrário, como pessoas que foram trazidas da morte para a vida, entreguem-se completamente a Deus, para que Ele use vocês a fim de fazerem o que é direito” (Romanos 6:12, 13).

Ora, é verdade que há desejos pecaminosos. Qualquer mente que esteja em ambiente de liberdade, poderá abrigar pensamentos bons e maus. Mesmo no céu, as criaturas têm liberdade de pensamento.  Porém, ambientes de liberdade são limitados por leis. Cabe às criaturas manterem-se sob tais limites. Sair das quatro linhas é o pecado. No céu, onde se originou o pecado, os anjos tinham liberdade para pensar, mas, diante deles estava a lei de Deus. O problema não é o livre pensar, mas, sustentar e consentir desejos de ultrapassar os limites legais. O Entre os anjos o pecado teve origem no interior deles. Foi precisamente aspirar estar fora dos limites que levou Lúcifer a ação; ele não tinha tendência para pecar, mas, alimentou secretamente desejos de cobiça e persistiu nesse caminho, resultando em que a sua alma desejasse além do permitido, e seu corpo realizou finalmente uma revolta. Entre os homens, a origem do pecado está ligada a um tentador, mas, “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.  Não erreis, meus amados irmãos” (Tiago 11:14-16). O que está em pauta no pensamento de Tiago é que o ser humano cai diante da tentação devido ao desejo de satisfazer um anseio particular que é contrário à vontade de Deus. Portanto, é a cobiça do ser humano o arrasta ou o seduz.

Assim como um peixe é atraído ao seu destino pela isca no anzol, os seres humanos são induzidos a cair em pecado pela isca dos enganos e lisonjas do pecado. A força e o poder do pecado não poderiam prevalecer se não fosse por sua astúcia e sedução. Se nutrido e acariciado, o desejo desenfreado finalmente resulta em atos pecaminosos. Se atos pecaminosos resultam de um desejo, então, a tendência ao pecado nasce no interior do próprio indivíduo, como resultado das informações que estão armazenadas e processadas ou trabalhadas na mente. De outro lado, Deus afirma que a inclinação ao pecado resulta do desvio da verdade pura que vem do Altíssimo (Oseias 11:7).

No primeiro livro da Bíblia, o das Gênesis, há um diálogo entre Deus e Caim, filho de Adão, no qual Deus explica que, em liberdade, as criaturas inteligentes têm que tomar a responsabilidade de dominar desejos. Em Gênesis 4:7, Deus fala a Caim: “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. É importante sentir que temos liberdade para desejar, mas, há desejos bons e maus. Os maus devem ser dominados, conforme o juízo de Deus no diálogo acima. Logo, não se está falando de uma tendência incurável e incontrolável para o mal, como pensam os cristãos, porém, em estado de liberdade, há que se tomar cuidados evitando nutrir pensamentos ilegais, ou seja, o mal.

No texto de Romanos que vimos acima, Paulo afirma:” Não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana”. Desejos maus podem dominar. A possibilidade do domínio dos desejos sobre a vontade ou a alma, significa que também pode haver o não domínio dos desejos. Domínio sempre pressupõe liberdade antes do domínio. Portanto, há permissão para o domínio. Paulo está conclamando para que nos mantenhamos em liberdade.

A escritora Ellen White chama atenção para o adversário que trabalha contra as almas, significando que quer subjugar a alma. Falando de Cristo, a autora afirma que Ele triunfou sobre o adversário das almas, no conflito das tentações. Logo, o domínio se estabelece na alma, ou seja, na vontade humana, a qual determina a ação. Nossa vitória está na resistência às tentações, pois estas, dominam a alma. Tentações, são insinuações para que percamos o domínio próprio e nos deixemos vencer pelos desejos pecaminosos, aqueles que insistem na ultrapassagem dos limites legais, portanto, degradam a alma. Porém, copiando o exemplo do Cristo, aprenderemos como vencer as tentações (The Signs of the Times, 4 de março de 1880).

Muitos advogam que Cristo era o segundo Adão, sem tendência ao pecado ou sem nenhuma predisposição para errar. Este raciocínio está correto, mas, incompleto. A encarnação de Jesus o torna completamente igual a qualquer homem. Havia a possibilidade de Cristo errar. “Satanás sabia que tudo o que concernia a sua prosperidade estava dependendo do seu êxito ou fracasso em dominar a Cristo com suas tentações no deserto. Trouxe sobre Cristo todo artifício e força de suas tentações poderosas, para demovê-Lo de Sua obediência” (O Desejado de Todas as Nações, p.37). Se Jesus estivesse em vantagem, ou seja, não tivesse nenhuma possibilidade de cair, por que então satanás o tentaria? Nossa esperança está em que “Cristo foi tentado em todos os pontos como nós somos. Como representante do homem Ele Se aproximou de Deus nas provas e tentações. Enfrentou a força intensa de Satanás. Cristo experimentou as mais vis tentações e as venceu em favor do homem. É impossível que o ser humano seja tentado acima do que pode suportar enquanto se apoia em Jesus, o infinito Conquistador” (O Desejado de Todas as Nações, p.38). A afirmação acima desmancha o argumento que pretende dar ao homem desculpas para errar, em virtude da sua tendência pecaminosa.

Em outro texto, Ellen White diz: “O homem caído é, legalmente, cativo de Satanás. A missão de Jesus Cristo foi libertá-lo de seu poder. O homem tem a tendência natural de seguir as sugestões de Satanás e, por si mesmo, não pode resistir com sucesso a tão terrível inimigo, a menos que Cristo, o poderoso Vencedor, nele habite, guiando-lhe os desejos e concedendo-lhe força” (Mensagens aos Jovens, p.51). A autora menciona a tendencia natural de seguir as sugestões de satanás. O pano de fundo é que nossa mente está repleta das instruções de satanás, além disso, cultivamos períodos em atividade mental, sonhando com o erro sugerido pela tentação, e nesta circunstância, tendemos a concretizar o sonho. Todavia, sugestões não obrigam ninguém a aceitá-las. De outro lado, a autora informa que precisamos de ajuda para substituir, na mente, os ensinos satânicos. Somente a habitação de Jesus na mente do homem pode guiar os desejos no sentido contrário ao de satanás. Não restam dúvidas, quanto ao poder decisório da pessoa. Quem decide para qual lado penderá é o indivíduo ou a sua alma, e não uma força pecaminosa inapelável. É importante que o povo de Deus compreenda isso, a fim de escapar de suas ciladas. O texto está mostrando que há uma força mental adormecida, sendo que, os ensinos de Cristo a despertará. No livro Mensagens aos Jovens (p. 53), Ellen White avisa: ”não é, porém, a obra dos anjos bons dominar a mente contra a vontade dos indivíduos. Se se submeterem ao inimigo e não se esforçarem por resistir-lhe, então os anjos de Deus pouco mais podem fazer do que refrear o exército de Satanás, para que não destrua até ser concedida maior luz aos que estão em perigo, a fim de levá-los a despertar e olhar ao Céu em busca de auxílio. Jesus não enviará os santos anjos para livrar os que não fazem esforço para ajudarem a si mesmos”. Conforme pode-se interpretar, não há tendência genética impelindo ninguém a produzir crimes. Alguns costumam usar o texto de Salmos quando afirma que “eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5), para justificar que herdamos geneticamente a tendência pecaminosa. Todavia, o texto do salmos 51 apenas diz que um desejo pecaminoso impulsionou o nascimento de alguém. Até aqui, o que vimos foi que, em liberdade, sempre temos que ter a lei bem à frente, para não sermos tentados a quebrá-la. Se nossa mente tiver nutrido o desejo de quebrar a lei, então, certamente a quebraremos. Se nossa mente tiver nutrido o desejo de fazer o que justo, então, faremos o que é justo. Com muita clareza, os textos acima indicam que nosso pensamento é o produtor da tendência. A vontade ou a alma do homem é ativa e constantemente luta por aplicar todas as coisas a seus fins. Se estiver arregimentada ao lado de Deus e do bem, aparecerão na vida os frutos do Espírito; e Deus designou “glória, honra e paz a todos os que fazem o bem” (Romanos 2:10).

“Quando se permite a Satanás controlar a vontade (ele é o inimigo das nossas almas (acréscimo nosso)), ele a usa para realizar seus fins. Instiga teorias de incredulidade e incita o coração humano a guerrear contra a Palavra de Deus. Com persistente e perseverante esforço, procura inspirar os homens com suas próprias energias de ódio e antagonismo contra Deus, e dispô-los em oposição às instituições e exigências do Céu e à atuação do Espírito Santo. Alista sob seu estandarte todas as forças más, e leva-as para o campo de batalha sob seu comando, a fim de opor o mal ao bem” (Mensagens aos Jovens, p.54).

Deus pede aos homens que se oponham aos poderes do mal. “Nós não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal que vivem nas alturas, isto é, os governos, as autoridades e os poderes que dominam completamente este mundo de escuridão” (Efésios 6:12). Forças espirituais sugerem a forma como devemos pensar. Logo, formatam a alma ou a volição humana. Não há neutralidade, pois estamos entre dois conjuntos de forças espirituais: as forças espirituais do bem e as do mal. “Nesse conflito da justiça contra a injustiça, só podemos ser bem-sucedidos através do auxílio divino; a vontade humana deve fundir-se com a divina. Isso trará o Espírito Santo em nosso auxílio; e cada conquista tenderá para o restabelecimento da possessão adquirida de Deus e a restauração de Sua imagem na alma” (Mensagens aos Jovens, p.55). Portanto, admitindo o modelo correto, cuidando das entradas da alma, está-nos prometida a vitória sobre a propensão ao pecado e não apenas um arranjo que nos dará alguma possibilidade de ir vivendo, aqui e ali, sem cometer erros. Definitivamente não. Haverá a restauração, ainda aqui, da imagem de Deus na alma (veja o exemplo de Enoque e Elias), sendo então que nossa pecaminosidade ficará dominada. O crente não é salvo no pecado, mas recebe poder de abandonar o pecado, escapar de suas garras e viver livre de sua influência corruptora. A participação na natureza divina só pode ocorrer depois que o cristão passa a fugir da corrupção. Aliás, de Jesus é dito que “ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21). Logo, não os manterá perdidos e pecaminosos.

A compreensão deste assunto lança luz sobre o final da história do grande conflito. Alguns argumentam que sem a ação do Espírito Santo, o homem sempre voltará à sua pecaminosidade. Depois que Jesus terminar sua obra no santuário celestial, não haverá mais interseção, também estará fechada a porta da graça, ou seja, todo conhecimento para as devidas correções relativas aos crentes já estará dado. As mentes dos crentes fiéis estará completamente sob a influência da verdade celeste e nada do conhecimento mundano terá qualquer influência. Então, haverá um período no qual os justos não contarão com ajuda do céu, no sentido do padrão que deverão adotar. No entanto, manter-se-ão justos. Se houvesse a incontrolável tendência ao pecado, nesse período sem intermediação, certamente cairiam; mas, não cairão. Suas tendências continuarão a ser para o bem, porque as suas mentes conterão os pressupostos do bem, e as suas almas produzirão desejos justos. 

Há incompreensão sobre a forma da ação do Espírito Santo nas mentes humanas. Alguns raciocinam que o Espírito toma posse da mente e sem isso não há como coibir a tendência pecaminosa. Vejamos o que Ellen White diz sobre o assunto: “O Senhor Jesus age por meio do Espírito Santo; pois Este é Seu representante. Por meio dEle, infunde na alma vida espiritual, vivificando as energias para o bem, purificando-a da corrupção moral e habilitando-a para Seu reino. Jesus tem grandes bênçãos a conceder, ricos dons a distribuir entre os homens. É o Maravilhoso Conselheiro, infinito em sabedoria e força; e, se reconhecermos o poder de Seu Espírito e nos sujeitarmos a ser por Ele moldados, estaremos perfeitos nEle. Que pensamento é este! Em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus, e, por estarem unidos com Cristo, vocês também têm essa natureza” (Colossences 2:9, 10).

Há muita informação acima. A submissão ou sujeição ao Espírito, para que sejamos moldados, por si só, já indica que não se trata de possessão mental, mas, educação. A submissão ou o prestar atenção, aceitar o que é ministrado, nos educará para termos a mesma natureza de Jesus. O processo educacional purificará da corrupção moral habilitando-nos para o seu reino. O termo ‘habilitação para’ é muito diferente de possessão mental. Significa independência individual, porém, sob a sabedoria lecionada, o que nos tornará submissos e não possessos. Portanto, a origem do pecado na mente humana deve ser vista como uma consequência do livre-arbítrio e da tentação externa.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O corpo, a alma e o espírito não existem separados

 

No âmbito religioso, há muita subjetividade e desbalanço emocional, por força das interpretações pessoais e da falta de leitura e estudo mais aprofundado da verdade bíblica. É muito comum pessoas satisfeitas com a interpretação dos clérigos, uma tentativa de deixar a responsabilidade da atuação pessoal com os guias religiosos. Todavia, em qualquer ramo do conhecimento, deve-se construir saber individual. Ser dono da sua própria ciência produz assertividade e equilíbrio emocional, uma vez que não se deixa a terceiros o definir de propósitos.

No cristianismo, é fundamental a noção de que somos discípulos de Cristo. O discipulado é mais do que o mero assentimento intelectual a algumas premissas. É necessário nascer no Reino de Deus. A razão dessa necessidade é que, quando o homem caiu do seu estado original, perderam-se virtudes que, sem elas, a humanidade fica separada do reino de Deus.

A queda está definida em muitos textos bíblicos.  Na carta a Tito encontramos a seguinte proposta do apóstolo Paulo: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente, sensata, justa e piedosamente” (Tito 2:11-12).

Se a graça salvadora nos educa, significa que perdemos virtudes. O texto diz que a educação realizada pela graça trará como resultado o renegar da impiedade, a falta de respeito por valores aceitos no reino dos céus. Também são renegadas as paixões mundanas, os desejos, os impulsos carnais não dominados que, não aspiram nada mais elevado do que os prazeres deste mundo. Em outras palavras, paixões mundanas são um arranjo ordenado de coisas ou pessoas que, muitas vezes, representa o povo ímpio, alienado e hostil a Deus, ou ocupado com assuntos mundanos que levam para longe de Deus, estranho e hostil a Deus e em oposição ao Seu reino. Trata-se da preocupação com falsos ensinos, utilização de elementos terrestres, animados e inanimados que Satanás organizou e arregimentou em rebelião contra Deus.

Muitas coisas boas em si mesmas podem estar entre o homem e Deus. Casas e terras, roupas e móveis, parentes e amigos, são bens que valem a pena (e que substituem Deus), mas que não devem se tornar centro de atenção, em detrimento dos bens espirituais. Sem dúvida, é o eu que finalmente se interpõe entre a pessoa e Deus.

A educação que a graça opera tornará possível o cultivo das altas faculdades mentais da razão. Estas trarão a força de um caráter que esteja à altura de pessoas que resplandecem como luzes e que norteiam o mundo. Através da Palavra Sagrada, será ouvida a voz de Deus, orientando, animando, fortalecendo, fazendo avançar a expansão cognitiva que tornará possível prescindir das coisas físicas em direção a um elevado caráter.

O apóstolo João diz que “o mundo passa, bem como a sua concupiscência, aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo. 2:17). Ora, está claro que bens físicos são transitórios. O mundo é, repetimos, um arranjo ordenado de coisas. Todas as coisas são finitas. A concupiscência, impulsos que nos atiram para as coisas físicas, também passa. A verdade subjacente é que os impulsos, emoções, desejos, devem estar sob o controle da alma. Quando não há controle sobre os impulsos, estamos em concupiscência. Neste padrão, estamos sob o domínio dos impulsos e das paixões descontroladas, temperamentais. Quando assim, nossa vontade leva o corpo à ação, em busca dos prazeres carnais, ou a satisfação dos desejos; egoísmo (culto ao eu). A isto a Bíblia chama de queda. Então, o estado pecaminoso é a perda do controle das paixões.

Até agora estávamos no plano do discurso teórico. Vejamos como lidar com esta dimensão na prática. Se o corpo é a nossa casa, sendo que através do corpo materializamos nossos desejos, então, desejos descontrolados, que levam a ações comportamentais, resultam de um corpo insano. Aqui começamos a desvendar um mistério.

Somos pura química. Nosso comportamento resulta da secreção de químicos ou humores (hormônios) que nos impulsionam às boas ou às más obras. Os hormônios afetam o corpo humano de várias maneiras, como regulação e funcionamento de estruturas do corpo, desenvolvimento de caracteres, controle da quantidade de glicose e cálcio no corpo, regulação do sono, atuação no metabolismo celular e preparação do corpo para reações de perigo. Eles também têm um grande impacto em quase tudo que o nosso corpo faz, incluindo o controle do ritmo de nossas vidas e a regulação das funções corporais, além de condicionarem nosso comportamento e temperamento. Logo, desequilíbrio hormonal alterará nosso desempenho, levando a agir da maneira que não gostaríamos.

A explicação acima é fundamental para entender o problema moral do pecado. O homem é formado por três partes: corpo, mente ou espírito e alma, às vezes chamada de razão. Em Lucas (12:5) Jesus fala dessas partes dizendo: “Eu vos revelarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar a alma no inferno. Sim, Eu vos afirmo, a esse deveis temer.

É através do corpo que interagimos com o mundo físico. É através do corpo que mostramos nossas ações e, portanto, nosso caráter. É no corpo, ou seja, no cérebro que está a mente ou espírito. A mente é formada pelos neurônios mais as informações neles contidas. Todavia, a mente, propriamente dita é mais do que neurônios e informações; o processamento das informações, ou nossa capacidade de relacionar as informações gerando os conceitos. Estes nos fazem entender a realidade, a isto chamamos de mente ou espírito. Assim, o bom funcionamento do corpo dará sustentabilidade para o bom desempenho da mente. Nossa visão de mundo resulta do processamento das informações, de como analisamos os dados e os sintetizamos. Logo, se nosso corpo não está são, nossa mente estará limitada, portanto, nossa compreensão da realidade estará diminuída. O corpo mais a mente dão surgimento à alma. Esta, é a nossa vontade, nossa volição, nosso ato ou potência de fazer, a vontade de alguma coisa, nossa razão. Esta vontade surge depois que a mente percebe a realidade. Uma vez que processamos as informações e entendemos a realidade, então vem a interação com a realidade, materializada na alma que nos impulsiona para ação. Mas, é no corpo que temos a concretude da ação. Logo, estamos diante de um sincício, um looping de ações, ou partes que só agem juntas. O corpo, a alma e o espírito não existem separados.

O homem somente é alma vivente quando há equilíbrio das três partes que o compõem. O equilíbrio gera a liberdade e a paz. Sempre que o homem domina a mente, relacionando informações que geram pensamentos, a saúde do corpo e da mente trarão a disciplina, o temperamento subjugado.  Este contexto gerará alma livre. Em contrário, desejo descontrolado, gerado por paixões impulsivas oriundas das descargas hormonais desequilibradas, gerará ações que podem envergonhar, fazendo com que o egoísmo assuma o controle das ações. Logo, uma pessoa que se utiliza das regras da temperança, tende a ter as suas três dimensões equilibradas.

O entendimento dos atributos da verdade bíblica é a chave para alcançar o equilíbrio. A santificação é este processo de reequilíbrio e que somente pode ser potencializado e realizado através da palavra de Deus. Sobre isso, o apóstolo Paulo recomenda que “o próprio Deus da paz vos santifique. Que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam mantidos irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Tess. 5:23). O contato com Deus, que se dá através da mutualidade com o modelo Jesus, característica de quem aprende com a Bíblia, é o canal que restabelece o equilíbrio humano, por isso a graça é salvadora. O apóstolo pede a irrepreensibilidade das três partes do homem. Nenhuma parte sobrepujando a outra. Então, voltando ao que Jesus disse sobre temer ao que pode matar o corpo e depois a alma, compreendemos que se alguém torna frágil o corpo, fatalmente não terá controle de si mesmo, porque a sua alma não responde com desejos sadios.

Todos os hábitos que debilitam o corpo acabam matando a alma. Esse é o caso dos viciados, em quem a alma não tem a força da vontade, sendo escravizada pelo corpo que passa a exigir que a vontade ou a alma obedeça ao corpo. O apóstolo Pedro segue o mesmo raciocínio quando afirma “amados, exorto-vos como a peregrinos e estrangeiros a vos absterdes das paixões da carne que debilitam a alma” (1Pe.2:11). Salomão fala do looping entre as três partes quando diz que “a alma disposta sustem o ser humano durante a doença, mas o espírito deprimido, quem o pode suportar?” (Prov.18:14).

Paulo chega a falar num corpo natural e num corpo espiritual. Se matamos o corpo natural, ou seja, aquele que por causa da concupiscência domina a alma, então nascerá o corpo espiritual, não dominado por paixões desenfreadas, ou impulsos descontrolados, mas, um corpo que tem prazer em sentir as delícias dos raciocínios e das conquistas intelectuais que moldam outros corpos por sua influência benéfica. Corpos naturais traídos pelos impulsos químicos são a possessão de satanás. O plano da redenção tem em vista a nossa completa recuperação. O modelo Jesus veio para destruir as obras do diabo.

Jesus é o homem em sua perfeita varonilidade, ou seja, sua capacidade de dominar as três dimensões humanas. Sempre esteve no comando das suas ações, sua alma não tinha propensões ao pecado, em virtude de um corpo sadio e uma mente alimentada com a verdade. Ele mantinha seus pensamentos e palavras em sujeição à verdade. Mesmo diante das tentações mais atrozes (cuspiram-lhe no rosto, pregaram-no na cruz, etc.) Cristo manteve o equilíbrio, não deixou que seus hormônios tomassem as rédeas, não abriu a sua boca. Ainda que estivesse sob a tensão de 40 dias sem alimento, o inimigo não o desequilibrou, e não cedeu ao império do corpo e nem ao império da vontade. “A atuação do tentador não deve ser usada como desculpa para que alguém aja erradamente. Satanás se rejubila quando ouve os professos seguidores de Cristo arranjando desculpas para suas deformidades de caráter. São tais desculpas que conduzem ao pecado. Um temperamento santificado, uma vida semelhante à de Cristo, podem ser conseguidos por todo penitente filho de Deus”. (The Review and Herald, 31 de Outubro de 1907).

“Um dos mais deploráveis efeitos da apostasia original foi a perda do poder de domínio próprio por parte do homem. Unicamente à medida que esse poder é reconquistado pode haver real progresso. O corpo é o único agente pelo qual a mente e a alma se desenvolvem para a edificação do caráter. Daí o adversário dirigir suas tentações para o enfraquecimento e degradação das faculdades físicas. Seu êxito nesse ponto importa na entrega de todo o corpo ao mal. As tendências de nossa natureza física, a menos que estejam sob o domínio de um poder mais alto, certamente produzirão ruína e morte”. (A Ciência do Bom Viver, 130 ).

Pelo que vimos acima, a mesma ausência de tendência para o pecado que estava em Jesus, está à disposição de toda humanidade. Apenas temos que colocar o corpo em sujeição, aceitando que as mais elevadas faculdades da alma dominem. As paixões e os impulsos devem ser regidos pela vontade (alma), e esta, por sua vez, deve achar-se sob a direção de Deus.

“O corpo tem de ser posto em sujeição. As mais elevadas faculdades do ser devem dominar. As paixões devem ser regidas pela vontade, e essa deve, por sua vez, achar-se sob a direção de Deus. A régia faculdade da razão, santificada pela graça divina, deve ter domínio em nossa vida. [...] Homens e mulheres precisam ser despertados para o dever do império de si mesmos, para a necessidade da pureza, a liberdade de todo aviltante apetite e todo hábito contaminador. Precisam ser impressionados com o fato de que todas as suas faculdades de mente e corpo são dons de Deus, e destinam-se a ser preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço.”  (A Ciência do Bom Viver, 130).

Há uma ciência crucial que deve ser vista por todos. No ritual diário no antigo santuário, o sacrifício que representava Cristo não podia ter defeito. Assim como o próprio Jesus ao viver entre os homens e tendo encarnado à nossa semelhança, performou perfeito domínio sobre as naturais inclinações que corrompem a alma, e foi o sacrifício irrepreensível, devem os homens, através do poder divino, copiando Jesus o modelo perfeito, tornarem-se sacrifício vivo (domínio sobre si), santo, agradável a Deus (Rm. 12:1).

As tentações de Jesus foram apresentadas na tentativa de pressioná-lo a deixar que o desequilíbrio entre corpo, mente e alma imperasse.  Depois de 40 dias sem comer, o inimigo tenta para que o corpo debilitado de Jesus, produzisse desequilíbrio mental e a alma demandasse comida. Jesus não cedeu. Ao responder que “nem só de pão vive o homem”, demonstrou equilíbrio, liberdade, varonilidade, ou seja, nenhuma mancha egoísta.

Toda sociedade humana está completamente acostumada em satisfazer as exigências da carne. Sempre estamos acariciando alguma concupiscência. Além disso, aprendemos vícios por causa da chamada consciência coletiva. Aprendemos costumes dietéticos, por exemplo, que somente tornam mais difícil o domínio do corpo pela mente e alma. Vícios, de quaisquer espécies, transformam o corpo em carrasco da alma.

Há ainda, em todas as vertentes do marketing das comunicações, apelos visuais que aprisionam a alma à compra sem controle de bens. O mundo físico com as tecnologias e os designs que provocam a concupiscência visual, são cadeias que parecem douradas, mas, maculam a alma. Mesmo em contato com a preciosa palavra de Deus, os crentes vivem de acordo com o comportamento dos que não são livres. Toda alma que está presa na concupiscência é considerada morta para o reino dos céus. Lá, os bens físicos são apenas domínios ou espaços para execução dos bens espirituais, superiores. Bens espirituais representam virtudes e seus valores, bens muitíssimo superiores, utilizados não para o uso pessoal, mas, para edificação de outros. Por esse motivo, as crianças que têm vontade inteligente devem ser educadas de maneira a reger todas as suas faculdades. À mente humana, porém, deve ser ensinado o domínio próprio. Ela deve ser educada a fim de governar o ser humano (Conselhos sobre Educação, p.2).

Cedendo à tentação de satisfazer o apetite, Adão e Eva caíram originalmente de sua condição elevada, santa e feliz. E é por meio da mesma tentação que os homens se têm debilitado. Eles têm permitido que o apetite e a paixão ocupem o trono, mantendo em sujeição a razão e o intelecto ( Conselhos sobre Educação, p.9). Aqui está o que a Bíblia chama de queda. O corpo sujeitando a razão. E como vimos acima, a educação verdadeira deverá manter o corpo em sujeição à razão. A isto denomina-se perfeição.

“Cristo veio a este mundo e viveu a Lei de Deus, a fim de que o homem pudesse ter perfeito domínio sobre as naturais inclinações que corrompem a alma. Médico da alma e do corpo, Ele dá a vitória sobre as concupiscências em luta no íntimo. Proveu toda facilidade para que o homem possa possuir inteireza de caráter” (A Ciência do Bom Viver, p.130).

Uma palavrinha mais sobre a queda. Por causa da nossa tendência em atender os apelos da carne, não nos é possível manter a virtude da lealdade. Sempre que alguma promessa de lealdade é feita, esta não se sustenta por causa da sujeição da razão ao corpo. Nossos impulsos impedem o uso adequado da razão e não sustentamos a lealdade, por tratar-se de uma virtude que exige mantermos a egolatria sob controle. Por essa razão não somos leais a Deus e nem aos nossos semelhantes. Mas, graças a Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, quem nos ensinou o caminho para a volta o estado inicial da humanidade: o equilíbrio.

 

 

 

 

domingo, 20 de agosto de 2023

Os ambientes e as experiências que proporcionamos para crianças pequenas

 

Uma criança que vive em um ambiente com relações de apoio e rotinas consistentes é mais propensa a desenvolver sistemas biológicos bem funcionais, incluindo circuitos cerebrais, que promovem o desenvolvimento positivo e a saúde ao longo da vida. Crianças que se sentem ameaçadas ou inseguras podem desenvolver respostas fisiológicas e comportamentos de enfrentamento que estejam sintonizados com as condições severas que estão experimentando no momento, às custas, a longo prazo, do bem-estar físico e mental, da autorregulação e da aprendizagem eficaz. Falo aos formuladores de políticas, líderes de sistemas de serviços humanos, desenvolvedores de intervenção e profissionais podem usar esse conhecimento para criar soluções inovadoras para reduzir as disparidades em doenças evitáveis e mortes prematuras, e reduzir os altos custos de cuidados de saúde para doenças crônicas que têm suas origens nas adversidades da primeira infância. Além disso, esses custos provavelmente crescerão a menos que o investimento da sociedade na promoção da saúde e na prevenção de doenças se mova "rio acima” para abordar as fontes desses problemas na primeira infância.

Quase todos os aspectos do desenvolvimento precoce e da saúde posterior são afetados pelas interações entre experiências, genes, idade e ambientes em que as crianças vivem. Essas interações influenciam todos os sistemas biológicos do corpo, com efeitos especialmente poderosos nos primeiros anos. Sistemas relacionados ao desenvolvimento cerebral, função cardíaca e pulmonar, digestão, produção de energia, combate à infecção e crescimento físico estão todos interconectados e influenciam o desenvolvimento e a função uns dos outros.  Cada sistema do corpo "lê" o ambiente, se prepara para responder, e compartilha essas informações com os outros sistemas. Cada sistema então "sinaliza de volta" para os outros, através de loops de feedback ou sistemas de retroalimentação que já estão funcionando ao nascer.  Como exemplo, maiores taxas de infecção na primeira infância podem aumentar o nível de ansiedade aos 9 anos de idade, o que pode comprometer o desempenho escolar.  Crianças que vivem em condições de ameaça e privação podem surgir como adultos com maior risco para múltiplas formas de doenças cardiometabólicas. Em suma, os ambientes que criamos e as experiências que proporcionamos para crianças pequenas e suas famílias afetam não apenas o cérebro em desenvolvimento, mas também muitos outros sistemas fisiológicos, desde a função cardiovascular e a responsividade imunológica até a regulação metabólica. Todos esses sistemas são responsáveis por nossa vida inteira.

Os ambientes que criamos e as experiências que proporcionamos para crianças pequenas e suas famílias afetam não apenas o cérebro em desenvolvimento, mas também muitos outros sistemas fisiológicos.    

O cérebro e todos os outros órgãos e sistemas do corpo são como uma equipe de atletas altamente qualificados, cada um com uma capacidade especializada que complementa os outros e todos os quais são dedicados a um objetivo comum. Os membros de uma equipe de bom funcionamento leem as ações uns dos outros, ajustam suas próprias ações de acordo com o que acontece ao seu redor e aprendem continuamente uns com os outros.

Com o tempo, os sistemas biológicos no corpo amadurecem em uma unidade finamente afinada e respondem como uma unidade a uma infinidade de desafios. À medida que suas experiências ou ambientes compartilhados mudam, esses sistemas devem se ajustar, assim como os jogadores em cada posição devem responder. Cada desempenho se baseia nas experiencias anteriores e, embora os ajustes sejam sempre possíveis, é mais difícil — e mais caro — mudar estratégias, padrões e hábitos mais tarde do que construir uma equipe bem funcional e eficiente desde o início. Assim como cada equipe é diferente em como os jogadores reagem e se adaptam ao seu ambiente, assim é com cada criança. Os conceitos centrais de desenvolvimento se aplicam a cada indivíduo, mas, a forma como esses sistemas se adaptam e interagem pode variar, e essas diferenças são essenciais para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e intervenção médicas baseadas na ciência do século XXI.

As implicações políticas e práticas desse conhecimento são impressionantes: Os investimentos estratégicos em crianças pequenas e nos adultos que cuidam delas afetam a saúde física e mental a longo prazo, tanto quanto afetam a aprendizagem precoce. Quando o acesso a recursos essenciais e relacionamentos de apoio é seguro, os blocos de construção tanto de resiliência (por exemplo, auto-regulação e habilidades adaptativas) quanto blocos de construção de bem-estar (por exemplo, sistemas de resposta ao estresse bem regulamentados) são reforçados. Quando as dificuldades ou ameaças são extremas ou persistentes, particularmente no contexto da pobreza intergeracional e/ou racismo sistêmico, múltiplos sistemas biológicos podem ser interrompidos. Os resultados "no futuro" dessas interrupções são a baixa realização educacional, a menor produtividade econômica, as taxas mais altas de criminalidade e o aumento dos custos de cuidados com a saúde.   

Todos os sistemas biológicos do corpo interagem entre si e se adaptam aos contextos em que uma criança está se desenvolvendo — para o bem ou para o mal — e adaptações em um sistema podem influenciar adaptações em outros.

Pense em como todos os sistemas do corpo de uma criança devem funcionar de forma altamente coordenada para responder a condições desafiadoras. A resposta biológica inicial é a mesma se a experiência é uma experiência normativa de curta duração, como o primeiro dia em uma creche, ou o trauma contínuo do abuso físico recorrente; é a duração, a gravidade e o tempo da experiência (juntamente com a disponibilidade de relacionamentos de apoio) que determinam se a resposta é, em última análise, prejudicial ou promotora do crescimento. Em ambas as situações, os sistemas de estresse do corpo respondem coordenando múltiplos componentes interativos: (1) o sistema nervoso autônomo aumenta a  frequência cardíaca e a respiração para que o sistema cardiovascular possa bombear mais sangue rico em oxigênio para o cérebro e músculos para conduzir a uma resposta "luta ou fuga"; (2) o sistema  imunológico é ativado para combater a possibilidade de feridas abertas e infecções; (3) os sistemas metabólicos são ajustados para gerar mais energia para abastecer as células, tecidos e órgãos do corpo; (4) o sistema neuroendócrino mantém o delicado equilíbrio dos hormônios que regulam  muitas dimensões da adaptação do corpo ao que ele sente no ambiente.

Essa resposta integrada à ameaça é um exemplo vívido de jogadores de uma equipe trabalhando em direção a um propósito comum: todos esses sistemas são robustamente interconectados e juntos ajudam o corpo a se adaptar ao ambiente ao seu redor. O cérebro recebe sinais de cada sistema, que influenciam como ele funciona (e pode até alterar sua química e arquitetura), e depois envia sinais de volta para outros órgãos. Por exemplo, vários estudos mostram que o exercício físico promove a saúde cardiovascular e também estimula os processos que levam a novas conexões neurais e aumento do fluxo sanguíneo no cérebro que melhoram a memória e o humor. Por outro lado, Diabetes está associado a problemas no metabolismo do açúcar que podem afetar pequenos vasos sanguíneos nos olhos e rins que podem levar a uma visão prejudicada e mau funcionamento renal. Essas mesmas interrupções metabólicas também podem produzir mudanças na arquitetura cerebral que podem levar a um humor e memória prejudicados, bem como o aumento do risco de demência posterior. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos que ilustram as conexões entre o cérebro e o resto do corpo.

Nossos corpos são projetados para manter um equilíbrio fisiológico saudável e restaurar tal equilíbrio quando é interrompido. As interações contínuas e o feedback responsivo entre vários sistemas são projetados para buscar e sustentar esse equilíbrio dentro de uma faixa de operação relativamente estreita, um processo que os cientistas chamam de homeostase. A temperatura normal do corpo, por exemplo, é programada para permanecer em torno de 98 graus Fahrenheit, e muita variação da temperatura para mais ou para menos, desencadeará múltiplas respostas fisiológicas para restaurar uma faixa normal (por exemplo, a sudorese para diminuir a temperatura corporal e o tremor para aumentá-la).  

Adversidades excessivas e persistentes no início da vida podem sobrecarregar sistemas biológicos e levar a consequências no longo prazo.

 Mobilizar as respostas do corpo às ameaças desvia energia do crescimento e do desenvolvimento saudável. Para uma criança que experimenta um repouso após um acesso de raiva, o desafio passará, o equilíbrio é restaurado, e a biologia pode voltar à tarefa de construir um cérebro e corpo saudáveis. Não é assim para uma criança que sofre a persistente ameaça de maus tratos, pois a ativação contínua da resposta ao estresse comprometerá o investimento do corpo no crescimento.

O processo de adaptação do corpo para gerenciar ameaças, como o aumento da pressão arterial como resposta ao estresse, é o que os cientistas chamam de allostase (mecanismo que garante a estabilidade fisiológica). Se uma ameaça ou dificuldade é muito intensa ou prolongada, resulta em carga ou sobrecarga allostática. Assim como em qualquer sistema sobrecarregado, a carga alostática pode levar a colapsos (ou seja, mudanças fisiológicas e comportamentais que podem prejudicar a saúde física e mental).  A pressão arterial elevada, por exemplo, é inicialmente parte da resposta ao estresse que torna necessário receber sangue, nutrientes e oxigênio para todas as células do corpo, mas se for muito alto por muito tempo danifica artérias, o que pode levar a um ataque cardíaco ou derrame.

Se o corpo recebe indicações de que o ambiente é geralmente previsível e apresenta desafios gerenciáveis, uma criança pode desenvolver um sistema de resposta ao estresse mais facilmente bem regulado. Se, no entanto, o cérebro perceber ameaça excessiva, frequente ou persistente, ele aprende a esperar adversidades e desenvolve um "fusível mais curto" para ativar respostas fisiológicas em todo o corpo. Essas adaptações podem levar a custos e benefícios — eles protegem a saúde em situações agudas, de curto prazo, mas podem se tornar prejudiciais à saúde se ativados em um nível muito alto para muito tempo. Tais trocas ocorrem frequentemente quando o corpo se adapta a um ambiente (por exemplo, um ameaçador), mas depois precisa se ajustar a diferentes condições (por exemplo, uma situação neutra).

Considere, por exemplo, crianças em desenvolvimento em condições de pobreza, onde pais dedicados e outros cuidadores são sobrecarregados pelos desafios de fazer face às despesas. Esses desafios são frequentemente incorporados em desigualdades estruturais, como segregação residencial, privações alimentares e oportunidades limitadas de emprego. Alimentos nutritivos podem não estar prontamente disponíveis, a habitação estável pode não ser garantida, e preocupações econômicas constantes e imprevisibilidade podem impor impedimentos contínuos nas interações diárias entre adultos e crianças, que ativam múltiplos componentes da resposta ao estresse. Algumas crianças podem desenvolver comportamentos que as ajudem a se adaptar e lidar com essas condições de escassez ou medo (por exemplo, compulsão alimentar sempre que possível), mas essas adaptações de curto prazo podem se tornar problemáticas mais tarde na vida.

Para crianças que não vivem sob condições de dificuldades crônicas, ativação de sistemas de resposta ao estresse breves e intermitentes, seguidas de um retorno ao equilíbrio, leva a adaptações saudáveis que constroem resiliência — assim como uma simulação de incêndio prepara as crianças para uma emergência, mas depois restaura a ordem após um curto período de tempo. Em contraste, se as respostas ao estresse permanecerem ativadas em altos níveis por longos períodos, isso pode ter um desgaste significativo – e um efeito de ruptura no cérebro e em outros sistemas biológicos. Em outras palavras, se as crianças fossem interrompidas por exercícios de fogo urgentes sem parar por dias, semanas ou meses, elas seriam desgastadas ao longo do tempo e menos propensas a responder efetivamente a uma verdadeira emergência. No organismo, essa carga cumulativa pode levar a consequências de curto e longo prazo que podem incluir comportamentos inadequados (por exemplo, dificuldades com controle de impulsos, vícios), um efeito do "intemperismo” que acelera o processo de envelhecimento, doença crônica na idade adulta e uma vida útil reduzida.   

Há um conjunto crescente de evidências das ciências biológicas e sociais baseadas nesse conceito de desgaste crônico. Além dos efeitos cumulativos das adversidades crônicas de forma mais geral, há um quadro convincente para explorar como as disparidades raciais em saúde bem documentadas, independentes do status socioeconômico, podem estar enraizadas nos efeitos do racismo individual e sistêmico no desenvolvimento da primeira infância. Em nível individual, vários estudos têm documentado como o estresse da discriminação cotidiana sobre pais ou outros cuidadores pode afetar comportamentos assistenciais e saúde mental de adultos, e por extensão do desenvolvimento infantil.

 “Investir na primeira infância é como uma vacina para o desenvolvimento humano”

O que toda essa informação tem a ver com a igreja?

Crianças são o ativo mais importante de uma sociedade. Se bem formadas poderão dar continuidade a um padrão social e mesmo aperfeiçoá-lo.

Uma sociedade sadia deve ter altíssima preocupação com a qualidade de vida de suas crianças. Se as circunstâncias sociais afetam de forma crítica a formação física, intelectual e social de uma criança, então é dever comunitário prover o bem-estar comunitário. Por essa razão, a Bíblia adverte que todos devem ter em mente a causa das viúvas e dos órfãos. “Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus, no seu lugar santo(Salmos 68:5). ‘A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tiago 1:27).

Se crianças em ambiente de ameaças constantes não podem ter formação física que lhes garantam sucesso educacional e bem-estar social e financeiro quando forem adultas, e se por causa desse ambiente hostil a sociedade tiver que conviver com altas taxas de criminalidade, vicios, e desajustes sociais, entre outros, então, é dever comunitário e, especificamente das comunidades adventistas, cuidarem do ambiente social dos pais para que os mesmos possam ter estabilidade e seus filhos possam se desenvolver plenamente. Se a igreja descuidar neste aspecto, estará incluída em crime de lesa pátria, crime que tem como objetivo lesar, prejudicar a pátria; por ter negligenciado segurança social impedindo a formação de cidadãos com capacidade de gerenciamento pessoal, e por extensão, gerenciamento nacional. Nunca devemos esquecer que o julgamento final, aplicado por Deus, cobrará nossa responsabilidade com a construção do mundo social.

Deixar que famílias com crianças e jovens em formação tenham privação de alimentos e estejam submetidos a estresse social contínuo, responsabilizará individualmente e coletivamente nossa comunidade. Ficaremos vulneráveis a uma cobrança quer da sociedade comum, quer do tribunal celeste.

Seria prudente visualizar a dinâmica da igreja adventista no tocante à responsabilidade social. Temos os projetos da oferta do 13º Sábado. Sempre há preocupação com construção de escolas e hospitais, além de construção de templos. Vimos atualmente, com a pandemia, como as igrejas são suportes psicológicos importantes, diminuindo o estresse e, como consequência, ajudando na recuperação de pessoas que adoeceram e que perderam entes queridos. Há uma fonte de estresse muito forte, mas, a igreja serve como atenuador que pode restaurar a normalidade. Significando pouca sobrecarga adaptativa ao sistema biológico dos atingidos. Se o estresse da pandemia não for atenuado resultará em respostas adaptativas que podem levar a injurias permanentes.

É dever dos adultos prover às crianças os meios para que possam alcançar desenvolvimento completo. Esse dever é maiormente relacionado aos pais, mas, está também relacionado, especialmente, no caso dos cristãos, à comunidade.

Gênesis 12:2 “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”. (Gênesis 18:19 “Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado”).

Se Deus pede que os filhos sejam educados de modo que possam educar as gerações posteriores, então, é dever de toda comunidade agir para que a próxima geração seja uma benção ao mundo. Mais capacidade de gerenciamento das ameaças sociais em relação à segurança alimentar, aprendizado religioso, segurança educacional, resultará em construção de segurança social coletiva.

A igreja cristã não é apenas mais uma interpretação de ensinos teológicos. Vai muito além de ser só uma religião. É, antes de tudo, um grupo de pessoas que fizeram uma aliança com Deus. Surgiram para ensinar ao mundo os princípios da justiça e evidenciar os valores e virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.

A luz maravilhosa é o sistema de cooperação que fundamenta todo o universo. Esse sistema fundamentou a criação da Terra. O salmo 19 deixa patente o sistema de cooperação (1-3): “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz... (7-8) A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. Esse sistema de cooperação é o moto contínuo do organismo humana e dos outros seres vivos.

A melhor e mais significativa obra às mães da comunidade local seria assegurar estabilidade intelectual, social e financeira para houvesse sabedoria na construção dos filhos. Isto requer ação conjunta da comunidade. Há necessidade de assessoria para a criação dos filhos. Os talentos confiados por Deus aos adultos devem formar redes para que seja garantida a segurança alimentar, estudantil, religiosa, entre outras coisas. Numa comunidade cristã, as famílias não podem estar sozinhas. É necessário assessoria para o planejamento familiar e, consequente estabilidade social.

Seria muitíssimo importante que as lideranças pensassem em como assessorar as famílias para que no futuro, a nova geração possa ser autossustentável, autogerenciável e, consequentemente, seja uma benção ao mundo. Se não formos inteligentes neste aspecto, abriremos uma fístula intergeracional que interromperá a aliança que fizemos com Deus e entregaremos nossos filhos ao inimigo.