Muitos cristãos pensam que seu
destino será viver e morrer vendido ao pecado. Poderá ter algum momento de paz
quando, por mercê de Deus, deixamos de pecar, mas, estaremos sempre cedidos ao
pecado. Esta noção parece bastante equivocada, uma vez que o apóstolo Paulo
recomenda: “Não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com
que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana. E também não
entreguem nenhuma parte do corpo de vocês ao pecado, para que ele a use a fim
de fazer o que é mau. Pelo contrário, como pessoas que foram trazidas da morte
para a vida, entreguem-se completamente a Deus, para que Ele use vocês a fim de
fazerem o que é direito” (Romanos 6:12, 13).
Ora, é verdade que há desejos
pecaminosos. Qualquer mente que esteja em ambiente de liberdade, poderá abrigar
pensamentos bons e maus. Mesmo no céu, as criaturas têm liberdade de
pensamento. Porém, ambientes de
liberdade são limitados por leis. Cabe às criaturas manterem-se sob tais
limites. Sair das quatro linhas é o pecado. No céu, onde se originou o pecado,
os anjos tinham liberdade para pensar, mas, diante deles estava a lei de Deus.
O problema não é o livre pensar, mas, sustentar e consentir desejos de
ultrapassar os limites legais. O Entre os anjos o pecado teve origem no
interior deles. Foi precisamente aspirar estar fora dos limites que levou Lúcifer
a ação; ele não tinha tendência para pecar, mas, alimentou secretamente desejos
de cobiça e persistiu nesse caminho, resultando em que a sua alma desejasse
além do permitido, e seu corpo realizou finalmente uma revolta. Entre os
homens, a origem do pecado está ligada a um tentador, mas, “cada um é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a
concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera
a morte. Não erreis, meus amados irmãos”
(Tiago 11:14-16). O que está em pauta no pensamento de Tiago é que o ser humano
cai diante da tentação devido ao desejo de satisfazer um anseio particular que
é contrário à vontade de Deus. Portanto, é a cobiça do ser humano o arrasta ou
o seduz.
Assim como um peixe é atraído ao
seu destino pela isca no anzol, os seres humanos são induzidos a cair em pecado
pela isca dos enganos e lisonjas do pecado. A força e o poder do pecado não
poderiam prevalecer se não fosse por sua astúcia e sedução. Se nutrido e
acariciado, o desejo desenfreado finalmente resulta em atos pecaminosos. Se
atos pecaminosos resultam de um desejo, então, a tendência ao pecado nasce no
interior do próprio indivíduo, como resultado das informações que estão
armazenadas e processadas ou trabalhadas na mente. De outro lado, Deus afirma
que a inclinação ao pecado resulta do desvio da verdade pura que vem do
Altíssimo (Oseias 11:7).
No primeiro livro da Bíblia, o
das Gênesis, há um diálogo entre Deus e Caim, filho de Adão, no qual Deus
explica que, em liberdade, as criaturas inteligentes têm que tomar a
responsabilidade de dominar desejos. Em Gênesis 4:7, Deus fala a Caim: “Se bem
fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à
porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. É importante
sentir que temos liberdade para desejar, mas, há desejos bons e maus. Os maus
devem ser dominados, conforme o juízo de Deus no diálogo acima. Logo, não se
está falando de uma tendência incurável e incontrolável para o mal, como pensam
os cristãos, porém, em estado de liberdade, há que se tomar cuidados evitando nutrir
pensamentos ilegais, ou seja, o mal.
No texto de Romanos que vimos
acima, Paulo afirma:” Não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e
faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana”.
Desejos maus podem dominar. A possibilidade do domínio dos desejos sobre a
vontade ou a alma, significa que também pode haver o não domínio dos desejos.
Domínio sempre pressupõe liberdade antes do domínio. Portanto, há permissão
para o domínio. Paulo está conclamando para que nos mantenhamos em liberdade.
A escritora Ellen White chama
atenção para o adversário que trabalha contra as almas, significando que quer
subjugar a alma. Falando de Cristo, a autora afirma que Ele triunfou sobre o
adversário das almas, no conflito das tentações. Logo, o domínio se estabelece
na alma, ou seja, na vontade humana, a qual determina a ação. Nossa vitória
está na resistência às tentações, pois estas, dominam a alma. Tentações, são
insinuações para que percamos o domínio próprio e nos deixemos vencer pelos
desejos pecaminosos, aqueles que insistem na ultrapassagem dos limites legais,
portanto, degradam a alma. Porém, copiando o exemplo do Cristo, aprenderemos
como vencer as tentações (The Signs of the Times, 4 de março de 1880).
Muitos advogam que Cristo era o
segundo Adão, sem tendência ao pecado ou sem nenhuma predisposição para errar.
Este raciocínio está correto, mas, incompleto. A encarnação de Jesus o torna
completamente igual a qualquer homem. Havia a possibilidade de Cristo errar. “Satanás
sabia que tudo o que concernia a sua prosperidade estava dependendo do seu
êxito ou fracasso em dominar a Cristo com suas tentações no deserto. Trouxe
sobre Cristo todo artifício e força de suas tentações poderosas, para demovê-Lo
de Sua obediência” (O Desejado de Todas as Nações, p.37). Se Jesus estivesse em
vantagem, ou seja, não tivesse nenhuma possibilidade de cair, por que então
satanás o tentaria? Nossa esperança está em que “Cristo foi tentado em todos os
pontos como nós somos. Como representante do homem Ele Se aproximou de Deus nas
provas e tentações. Enfrentou a força intensa de Satanás. Cristo experimentou
as mais vis tentações e as venceu em favor do homem. É impossível que o ser
humano seja tentado acima do que pode suportar enquanto se apoia em Jesus, o
infinito Conquistador” (O Desejado de Todas as Nações, p.38). A afirmação acima
desmancha o argumento que pretende dar ao homem desculpas para errar, em
virtude da sua tendência pecaminosa.
Em outro texto, Ellen White diz:
“O homem caído é, legalmente, cativo de Satanás. A missão de Jesus Cristo foi
libertá-lo de seu poder. O homem tem a tendência natural de seguir as sugestões
de Satanás e, por si mesmo, não pode resistir com sucesso a tão terrível
inimigo, a menos que Cristo, o poderoso Vencedor, nele habite, guiando-lhe os
desejos e concedendo-lhe força” (Mensagens aos Jovens, p.51). A autora menciona
a tendencia natural de seguir as sugestões de satanás. O pano de fundo é que
nossa mente está repleta das instruções de satanás, além disso, cultivamos
períodos em atividade mental, sonhando com o erro sugerido pela tentação, e
nesta circunstância, tendemos a concretizar o sonho. Todavia, sugestões não
obrigam ninguém a aceitá-las. De outro lado, a autora informa que precisamos de
ajuda para substituir, na mente, os ensinos satânicos. Somente a habitação de
Jesus na mente do homem pode guiar os desejos no sentido contrário ao de
satanás. Não restam dúvidas, quanto ao poder decisório da pessoa. Quem decide
para qual lado penderá é o indivíduo ou a sua alma, e não uma força pecaminosa inapelável.
É importante que o povo de Deus compreenda isso, a fim de escapar de suas
ciladas. O texto está mostrando que há uma força mental adormecida, sendo que,
os ensinos de Cristo a despertará. No livro Mensagens aos Jovens (p. 53), Ellen
White avisa: ”não é, porém, a obra dos anjos bons dominar a mente contra a
vontade dos indivíduos. Se se submeterem ao inimigo e não se esforçarem por
resistir-lhe, então os anjos de Deus pouco mais podem fazer do que refrear o
exército de Satanás, para que não destrua até ser concedida maior luz aos que
estão em perigo, a fim de levá-los a despertar e olhar ao Céu em busca de
auxílio. Jesus não enviará os santos anjos para livrar os que não fazem esforço
para ajudarem a si mesmos”. Conforme pode-se interpretar, não há tendência
genética impelindo ninguém a produzir crimes. Alguns costumam usar o texto de
Salmos quando afirma que “eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me
concebeu minha mãe” (Salmos 51:5), para justificar que herdamos geneticamente a
tendência pecaminosa. Todavia, o texto do salmos 51 apenas diz que um desejo
pecaminoso impulsionou o nascimento de alguém. Até aqui, o que vimos foi que,
em liberdade, sempre temos que ter a lei bem à frente, para não sermos tentados
a quebrá-la. Se nossa mente tiver nutrido o desejo de quebrar a lei, então,
certamente a quebraremos. Se nossa mente tiver nutrido o desejo de fazer o que
justo, então, faremos o que é justo. Com muita clareza, os textos acima indicam
que nosso pensamento é o produtor da tendência. A vontade ou a alma do homem é
ativa e constantemente luta por aplicar todas as coisas a seus fins. Se estiver
arregimentada ao lado de Deus e do bem, aparecerão na vida os frutos do
Espírito; e Deus designou “glória, honra e paz a todos os que fazem o bem” (Romanos
2:10).
“Quando se permite a Satanás
controlar a vontade (ele é o inimigo das nossas almas (acréscimo nosso)),
ele a usa para realizar seus fins. Instiga teorias de incredulidade e incita o
coração humano a guerrear contra a Palavra de Deus. Com persistente e
perseverante esforço, procura inspirar os homens com suas próprias energias de
ódio e antagonismo contra Deus, e dispô-los em oposição às instituições e
exigências do Céu e à atuação do Espírito Santo. Alista sob seu estandarte
todas as forças más, e leva-as para o campo de batalha sob seu comando, a fim
de opor o mal ao bem” (Mensagens aos Jovens, p.54).
Deus pede aos homens que se
oponham aos poderes do mal. “Nós não estamos lutando contra seres humanos, mas
contra as forças espirituais do mal que vivem nas alturas, isto é, os governos,
as autoridades e os poderes que dominam completamente este mundo de escuridão” (Efésios
6:12). Forças espirituais sugerem a forma como devemos pensar. Logo, formatam a
alma ou a volição humana. Não há neutralidade, pois estamos entre dois
conjuntos de forças espirituais: as forças espirituais do bem e as do mal. “Nesse
conflito da justiça contra a injustiça, só podemos ser bem-sucedidos através do
auxílio divino; a vontade humana deve fundir-se com a divina. Isso trará o
Espírito Santo em nosso auxílio; e cada conquista tenderá para o
restabelecimento da possessão adquirida de Deus e a restauração de Sua imagem
na alma” (Mensagens aos Jovens, p.55). Portanto, admitindo o modelo correto,
cuidando das entradas da alma, está-nos prometida a vitória sobre a propensão
ao pecado e não apenas um arranjo que nos dará alguma possibilidade de ir
vivendo, aqui e ali, sem cometer erros. Definitivamente não. Haverá a
restauração, ainda aqui, da imagem de Deus na alma (veja o exemplo de Enoque e
Elias), sendo então que nossa pecaminosidade ficará dominada. O crente não é
salvo no pecado, mas recebe poder de abandonar o pecado, escapar de suas garras
e viver livre de sua influência corruptora. A participação na natureza divina
só pode ocorrer depois que o cristão passa a fugir da corrupção. Aliás, de
Jesus é dito que “ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21). Logo,
não os manterá perdidos e pecaminosos.
A compreensão deste assunto lança
luz sobre o final da história do grande conflito. Alguns argumentam que sem a
ação do Espírito Santo, o homem sempre voltará à sua pecaminosidade. Depois que
Jesus terminar sua obra no santuário celestial, não haverá mais interseção,
também estará fechada a porta da graça, ou seja, todo conhecimento para as
devidas correções relativas aos crentes já estará dado. As mentes dos crentes
fiéis estará completamente sob a influência da verdade celeste e nada do
conhecimento mundano terá qualquer influência. Então, haverá um período no qual
os justos não contarão com ajuda do céu, no sentido do padrão que deverão
adotar. No entanto, manter-se-ão justos. Se houvesse a incontrolável tendência
ao pecado, nesse período sem intermediação, certamente cairiam; mas, não
cairão. Suas tendências continuarão a ser para o bem, porque as suas mentes
conterão os pressupostos do bem, e as suas almas produzirão desejos
justos.
Há incompreensão sobre a forma da
ação do Espírito Santo nas mentes humanas. Alguns raciocinam que o Espírito
toma posse da mente e sem isso não há como coibir a tendência pecaminosa.
Vejamos o que Ellen White diz sobre o assunto: “O Senhor Jesus age por meio do
Espírito Santo; pois Este é Seu representante. Por meio dEle, infunde na alma
vida espiritual, vivificando as energias para o bem, purificando-a da corrupção
moral e habilitando-a para Seu reino. Jesus tem grandes bênçãos a conceder,
ricos dons a distribuir entre os homens. É o Maravilhoso Conselheiro, infinito
em sabedoria e força; e, se reconhecermos o poder de Seu Espírito e nos
sujeitarmos a ser por Ele moldados, estaremos perfeitos nEle. Que pensamento é
este! Em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus, e, por
estarem unidos com Cristo, vocês também têm essa natureza” (Colossences 2:9, 10).
Há muita informação acima. A
submissão ou sujeição ao Espírito, para que sejamos moldados, por si só, já
indica que não se trata de possessão mental, mas, educação. A submissão ou o
prestar atenção, aceitar o que é ministrado, nos educará para termos a mesma
natureza de Jesus. O processo educacional purificará da corrupção moral
habilitando-nos para o seu reino. O termo ‘habilitação para’ é muito diferente
de possessão mental. Significa independência individual, porém, sob a sabedoria
lecionada, o que nos tornará submissos e não possessos. Portanto, a origem do
pecado na mente humana deve ser vista como uma consequência do livre-arbítrio e
da tentação externa.
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