terça-feira, 15 de novembro de 2022

Se Jesus prometeu regressar sem demora, por que não voltou?


Um pouco antes da ascensão de Jesus aos céus, disse aos discípulos que não permitissem turbações porque logo ele voltaria para receber seus fiéis e estar com eles (João 14:1-3). Outra vez, em Apocalipse 3:11 Jesus repete que viria sem demora. Torna a repetir em Apocalipse 22. Desde que Jesus assuntou já passaram 2022 anos. Cada geração, por seu turno, esperou no seu lapso de tempo, a volta de Jesus. Como explicar a noção de brevidade nas promessas? Os apóstolos e os demais membros da primeira igreja almejavam ver Jesus. A geração que nos trouxe ao mundo também esperava a volta de Jesus, a nossa geração idem. Então, como entendemos a afirmação de Jesus dizendo que voltaria sem demora?

Podemos buscar uma resposta através da 2ª carta de Pedro, no capítulo 3. Ali estão argumentos para erguer a esperança de judeus e gentios que aderiram ao cristianismo na Asia menor. Para os comentaristas, essa epístola é considerada de cunho universal, logo, também infunde esperança à sequência de gerações e, portanto, interessa à igreja atual.

Pedro começa dizendo a todos que devem lembrar “[...] das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador”. Em seguida lembra que “nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” O adjetivo escarnecedor traz consigo, no texto de Pedro, a qualificação destes: andam segundo as próprias concupiscências. Em outras palavras, homens que não têm nenhum domínio sobre si mesmos. Como qualificou Cristo seriam tais como os antediluvianos.

Pedro prossegue descrevendo que Deus criou o céu e a Terra por sua palavra e está preservando-os “[...]pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios”. Depois ele conclui informando que a aparente demorar se dá por nossa incompreensão do tempo, determinando que: “não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia”. Pedro está se apoiando no Antigo Testamento (Salmos 90:4) onde está afirmado que o transcurso do tempo não significa nada para um Deus eterno e que o lapso de uma vida, por mais longevo que seja, não é mais que um dia em comparação com a eternidade de Deus. Portanto, o regresso de Jesus, para cada indivíduo, não demora mais que um breve tempo, o lapso de uma vida. Quando morremos perdem-se todas as percepções porque não há atividade mental. Neste sentido, se Jesus ainda demorar mil anos, e depois ressuscitar os salvos, para estes, a sensação é de que esperaram somente o tempo em que tiveram existência. Porém, durante o período da existência de um fiel, a expectante esperança do encontro com Jesus parece demorar e durar mil anos, em virtude do imediatismo humano. É como se o apóstolo estivesse montando um raciocínio circular. Enquanto esperamos, devemos lembrar do que disseram os profetas e apóstolos.

Ao dizer que viria sem demora, Jesus também afirma que não se deve descurar na manutenção das virtudes essenciais cristãs, considerando que o período da história pertencente a cada geração é demasiadamente solene, porque é única a oportunidade para demonstrar ao universo, de forma singular, a eficácia da lei de Deus. No entanto, muitas gerações passaram desde a ascensão de Jesus. Se considerarmos que cada geração significa 25 anos, então teremos desde Cristo até agora 80 gerações. Muitas pessoas esperaram a volta de Jesus. Então, por que parece retardar, embora a Bíblia diga que não (II Pedro 3:9)? Por qual razão esperamos ainda?

Há uma explicação na parábola das dez virgens. Jesus avisa que o noivo tarda. Consequentemente, as virgens dormem. Quando dormem, o tempo parece não passar, então é anunciada a chegada do noivo.

Depois da ressurreição de Jesus e a ressurreição especial dos mortos de todas as eras representando o penhor da promessa da vida eterna, Jesus apareceu aos discípulos em Jerusalém e lhes ordenou não dispersassem e esperassem pelo batismo do Espírito Santo. A aparência gloriosa de Jesus alimentava nos apóstolos a sensação de que agora o reino físico e político do Messias seria finalmente implantado e perguntaram: “Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” ao que Jesus lhes reponde dizendo: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:7-8).

A resposta de Jesus carrega muita informação. Ele afirma que o tempo é um mistério que pertence a Deus quem mantém o tempo sob seu poder. Aqui está subjacente a luta entre o bem e o mal. O esclarecimento de toda amplitude dos estragos morais provocados pela existência do mal exige um tempo que não pode ser entendido através da nossa compreensão do tempo que é marcado pelos astros que estão no nosso céu. Há interesse universal no esclarecimento do mal, porém, a contagem do tempo não está considerando apenas nosso sistema solar. Há miríades de galáxias e não sabemos quantos planetas habitados há e que sistema de tempo os comanda. Logo, o tempo necessário para que o mal fique patentemente esclarecido de forma universal é um mistério para os homens e foi estabelecido pelo poder e sabedoria do Pai.

Do ponto de vista terrestre, a humanidade que se volta para o bem e para Deus, guardando a lei dos dez mandamentos, será a testemunha dos feitos amorosos de Deus, que para nós se materializaram especificamente por Cristo. A geração que viveu o processo civilizatório no tempo de Jesus tinha um meio ambiente social muito diferente da geração que viveu o segundo século e, sucessivamente, cada geração em séculos subsequentes teve processo civilizatório muito diverso, portanto, o mal também experimentou novos comportamentos sociais e pode adaptar-se de modo a demonstrar nuances e novos tons que não estavam a descoberto para gerações mais antigas. Há aqui uma ideia muito rica da necessidade de gerações para que o mal possa se mostrar sob seus mais variados ângulos. Quanto tempo será necessário para que o universo não caído perceba através da humanidade todas as multiformes maneiras em que o mal pode se apresentar, nos ambientes sociais em sucessão evolutiva nas várias eras? A resposta está na frase de Jesus aos discípulos: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder”.

É importante perceber que o processo civilizatório vai se modificando, com novas tecnologias, e estas sempre induzem a novos crimes. Há aspectos criminalistas que não seriam possível pensar sem a internet, não é verdade? No século XVI, as navegações tornaram possível entrar em regiões da terra que não eram conhecidas até então, como consequência, a pirataria marítima passou a ser um meio de enriquecimento patrocinado, em muitos casos, pelos governos da época,  que consideravam o mar um espaço sem legislação; um crime oficial. Mais recentemente, as viagens espaciais trouxeram novas tecnologias que deixaram à amostra tipos de crimes que não eram cogitados no século XIX, sabotagens, tecnologias espaciais não completamente dominadas e que ceifaram a vida de astronautas, tudo capitaneado pela cobiça. A pandemia do Covid 19 trouxe um aspecto novo da disputa comercial que, publicou a moral imunda dos políticos e escancarou crimes que tiraram a vida de muitos. O mal se mostrou mesclado com a medicina e com vacinas sem eficácia. Quanto tempo ainda será necessário para que o mal apareça com todo o seu séquito de consequências?  Neste contexto, somente o Pai sabe quando todo o mal estará universalmente exposto.

De outro lado, pode-se pensar que Deus poderia estar sacrificando muitas gerações para demonstrar a abrangência do mal. Isso pode soar injusto. Todavia, para cada geração também houve toda exposição dos princípios do bem. Por exemplo, Adão viveu quase um milênio e sua principal atividade foi explicar, às várias gerações (pelo menos 40 gerações), as consequências do mal. Era Adão uma testemunha viva à geração antediluviana. Tal geração se perdeu, mas não por falta de esclarecimento, uma vez que juntamente com Adão, outros patriarcas foram os defensores e pregadores da justiça.

Quando Jesus diz que os discípulos seriam testemunhas, nesta afirmativa está incluído todo o universo que não pecou, mas, ouviu a acusação de satanás. Estamos nós, os humanos, os que aceitamos os princípios celestes, com a responsabilidade de demonstrar a efetividade da obediência à lei de Deus em contraste com a humanidade que escolheu desobedecer. Do mesmo modo como o mal se adapta e alcança novas formas de produzir seus efeitos nos vários processos civilizatórios, o bem também sofre adaptações nos vários ambientes sociais das múltiplaseras da humanidade. Muitas formas novas de demonstrar o bem são encontradas para atender demandas civilizatórias. O Rabino Jonathan Sacks, em sua obra “Uma letra da Torá” explica que a Torá não está concluída, porque cada geração a reinterpreta para utilizar os princípios do bem no ambiente social de cada geração e de cada era. Portanto, se o mal é adaptável e tem muitas formas que somente se mostram na evolução da humanidade, do mesmo modo o bem. Quanto tempo ainda será necessário para que ambos, mal e bem, fiquem cabalmente demonstrados? Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Congregações legitimamente cristãs enobrecerão seus membros

 

A humanidade não percebe, nem de longe, o cruel conflito entre o bem e o mal. O fato de termos origem estruturalmente e moralmente no planeta que protagoniza a rebeldia contra o que o céu chama de bem, torna quase impossível perceber os cinquenta tons de cinza do mal.

A partir da segunda geração de humanos, o homicídio (físico ou moral) tem sido o propelente social mais importante, a crônica que nos faz identificar e reconhecer o que é o sucesso. Neste planeta, o bem-sucedido sempre é o mais suplantador.

Jesus Cristo, quando indagado pelos discípulos sobre qual deles seria o maior no eventual reino terrestre de Cristo, respondeu dizendo: “O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:11-12). A vida do Cristo foi uma vida de serviço. Trabalhou incansavelmente para restauração física e moral dos seus contemporâneos. Na cruz, operou para restauração moral não somente dos homens da sua época, mas, assegurou liberdade moral aos homens das gerações futuras, além de confirmar a redenção àqueles de eras passadas que sofreram opressão moral, porém mantiveram o padrão celeste de liberdade.

Pormenorizando a obra redentora de Cristo: cada pessoa limitada em sua liberdade física por impedimentos anatômicos era sempre libertada pela cura. Os relatos bíblicos sempre descrevem a volta do vigor varonil e do rubor da saúde. Neste contexto, todas as possibilidades se abriam novamente àquele a quem Cristo havia curado. Removidos todos os entraves físicos, estava, portanto, devolvido todo exercício de suas atividades. Por outro lado, a cura da alma (alma significa volição) ou dos impedimentos morais também era oferecida. Na cura de um paralítico em Nazaré, Jesus ofereceu também a cura moral: “Filho, tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados (Mateus 9:2). Seja qual seja a má prática que vem sendo alimentada por longa condescendência que acorrenta a alma, Jesus é capaz de libertar-nos, e anseia fazê-lo comunicando vida à pessoa morta em seus delitos. Libertará qualquer humano fraco e prisioneiro das pesadas cadeias do pecado.

A obra restauradora de Cristo alcançou o zênite no sacrifício da crucificação. Ellen White em sua obra ‘Fundamentos da Educação Cristã’ diz que Cristo: “sofreu tudo isso para que pudesse erguer, purificar, refinar e enobrecer a cada homem, e colocá-los sobre seu trono como coerdeiros Dele mesmo”. Na verdade, uma redenção estruturadora que nos tira de uma situação irremediável, transferindo escravos do pecado à condição de libertos morais.

O cristianismo é uma escola que toma o exemplo de Cristo e transcreve-o como material didático para ser utilizado como código de conduta por aqueles que são formados na referida escola. Há, no entanto, o perigo de haver deriva de conteúdo, uma vez que, no decorrer das eras, o cristianismo como que se transformou numa franquia. Muitas correntes religiosas usam a chancela do cristianismo, mas se utizam apenas  de aspectos estéticos externais sem, contudo, se estribarem nos reais princípios cristãos. Tal qual realizaram os judeus com a Torá, quase que substituindo-a por regras oriundas da tradição humana, tornando sem eficácia os ritos e as cerimônias exigidas na Torá, assim também, muitas alas religiosas ditas cristãs estão atulhadas de tradições distantes do conceito central do cristianismo, qual seja, observar o comportamento de Cristo e imitá-lo.

Em sua maioria, os ramos cristãos veem realizadas ou cumpridas as promessas bíblicas totalmente e somente nesta vida cotidiana. Entendem que recompensas materialistas são a realização das promessas. Mas, o cristianismo primitivo não esperava por recompensas materiais, mas, a ressurreição e a esperança de poder viver aqui um sistema social justo e, no futuro, uma nova terra onde habitará a justiça.

O sistema social justo aqui pressupõe que as pessoas devem ter a liberdade para acessar os meios que lhe permitam ter igualdade de oportunidades. Não existe nenhum outro modo de alcançar essa esperança se não for através de um processo de aprimoramento das pessoas.

Vimos acima que Jesus se sacrificou para erguer, purificar, refinar e enobrecer a cada homem. Essas são ações virtuosas que o cristianismo demanda dos seus prosélitos, e não o auferir de recompensas materialistas. Sistemas religiosos que estimulam rituais que prometem a salvação, explicando que a salvação advém de atos que o indivíduo deve realizar, desde que sejam beatos e repetitivos, estão advogando a negação dos princípios fundamentais do cristianismo, a abnegação, com outrem em seu foco de preocupações e não consigo mesmo.

Neste raciocínio, todo cristão bem formado terá consciência de que sua tarefa é a de erguer, purificar, refinar e enobrecer seu semelhante (Tiago 1:27). Este é necessariamente o comportamento daquele que vive em liberdade, defendendo-a. A melhor apologia à liberdade é promover a liberdade do outro. Todo ramo verdadeiro do cristianismo sempre estruturará um vigoroso sistema educacional. E toda congregação local legitimamente cristã procurará enobrecer seus membros.   

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

A morte nivela a todos, mas a ressurreição é específica


Uma das questões mais intrigantes é a discussão sobre qual a diferença entre o destino humano e destino dos animais. Ambos morrem. Ambos têm seu corpo degradado e nada sobra de ambos. O que sucede a um sucede ao outro. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó. No livro de Eclesiastes, Salomão questiona se o destino humano é diferente do dos animais (Eclesiastes 3). Ele inquire da seguinte maneira: “quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?”. No entanto, Salomão percebe que a morte (Eclesiastes 4) pode ser uma benção porque cessam “todas as opressões que se fazem debaixo do sol”; Salomão vê que a vida tem mais lágrimas do que consolos, porque a “força estava do lado dos seus opressores”; os oprimidos não tinham consolador. Assim, Salomão conclui que a situação dos mortos pode ser melhor do que a dos vivos, que têm uma experiencia quase miserável, ajuizando que melhor ainda é a situação dos que não nasceram e, portanto, não conheceram as más obras que se fazem debaixo do sol.

Se nossa perspectiva for apenas construída através da janela desta vida terreal, melhor é não nascer. Porém, a vida é muito diferente na perspectiva do criador da vida.

É certo que a morte nivela a todos, mas a ressurreição torna notável o destino dos mortos justos. Embora tenhamos experimentado opressões que podem causar injúrias deformadoras ou desfigurações morais e físicas, ao Deus ressuscitar seus escolhidos, estes virão à vida no corpo ressurreto e glorioso, não mais sujeito às deformidades morais de agora, mas, perfeitamente capazes de viver num ambiente justo sem opressões; a deformidade moral que os aprisionava está vencida pela morte. O pecado é como a síndrome de Down, não há como livrar-se, a não ser morrendo.  Na segunda vinda os mortos em Cristo, que lutaram com auxílio divino para vencer a escravidão moral ouvirão a voz de Deus, saindo para uma vida imortal e gloriosa. Esta perspectiva real está assegurada por causa da ressurreição de Jesus.

A deformidade moral adquirida pelo pecado tem sua cura assegurada porque Jesus, o cordeiro de Deus, foi morto desde a fundação do mundo. O problema moral que aflige a humanidade, se tratado pelo próprio homem, torna-se incurável. Nada que possamos fazer muda nossa situação (pode um leopardo mudar as suas manchas?), porque nascemos com distorção congênita. Porém, a morte e a ressurreição de Jesus, trouxe uma medicação que melhora nossa condição.

Jesus explicou a Nicodemos como nossa deformidade congênita poderia ser minorada: Necessitamos nascer outra vez. Nascer da água e do Espírito e não mais da carne. Claramente, Jesus advoga a necessidade do batismo por imersão, um simbolismo muito crítico que implica na morte moral para os erros anteriores, o abandono dos padrões pecaminosos mundanos e o ressurgimento para assumir o padrão moral celeste.

Por causa da degradação trazida pelo pecado, tornou-se impossível à humanidade andar em harmonia com a pureza e a bondade. O egoísmo é o resultado da desobediência à lei dos dez mandamentos. Por Adão ter aderido à rebelião da serpente, é possível se pensar que experimentou alterações no DNA, as quais foram transferidas à descendência. Se um problema moral afeta o DNA, então, um bom exemplo moral sadio também pode afetar o DNA.

Por essa razão, Jesus, que era igual a Deus, encarnou para completar duas missões: i) demonstrar aos doentes como era Deus que criou os homens semelhantes a Ele; ii) através da sua vida humana, ensinar como obedecer a lei dos dez mandamentos que fora contestada e comunicar força divina para se unir com o esforço humano.

A imanência de Deus foi também materializada através do santuário terrestre, um edifício portátil que se destinava à morada do Altíssimo entre os humanos. A partir do santuário eram emanados comandos que os fariam moralmente diferentes propondo recuperação e conduzindo os homens à expiação ou à colocação de ordem no caos das relações entre Deus e os homens. O tabernáculo prefigurava a vinda do Messias que habitaria conosco, o Emanuel.

Ao viver entre a humanidade, Jesus oferece um modelo de vida muitíssimo diferente do modelo mundano. Jesus derrota toda opressão causada pelas injustiças (iniquidades) vivendo para servir, um modelo de vida que contraria o egoísmo e demonstra como Deus é em seu dia a dia no comando do universo. Se a humanidade observasse Jesus, chegaria ao arrependimento e, pela fé no modelo Jesus, os caídos filhos de Adão poderiam mais uma vez tornarem-se filhos de Deus.

O batismo das águas é a porta que se abre para que deixemos a condição de filhos de Adão e passemos à condição de filhos de Deus. Há em Deus amor e bondade tais que jamais compreendemos, em virtude de nossa incapacidade de ver e conhecer locais no universo nos quais a justiça é o motor das ações dos seres inteligentes criados. O batismo nas águas simboliza a morte do homem que é segundo a carne ou filho de Adão. Ao ressurgir das águas, o novo homem está livre da imposição do egoísmo e pode, por cópia do exemplo de Jesus, o Emanuel, tornar-se semelhante a Deus, ou filho de Deus, o que significa nascido do Espírito. É bom lembrar que a obra do Espírito é: “quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim” (João 15:26).

Toda humanidade, ainda está sujeita à morte. Porém, os que morrem na condição acima, segundo Jesus, não estão mortos, mas, dormem. A ressurreição de Jesus garante a ressurreição dos que dormem. Agora, devemos entender a razão da ressurreição e da promessa da vida eterna. Jesus encarnou, viveu entre nós, morreu evitando a nossa morte eterna. Para que?

Não sabemos, por absoluta ignorância, qual o significado da vida eterna (no contexto celeste parece estar além da simples ausência da morte) no planejamento governamental de Deus. Morre uma pessoa humana e nós lamentamos, mas, entendemos que ela poderá e deverá ser substituída por outra pessoa. O valor de uma vida, nas circunstâncias deste mundo, não é visto como imprescindível, porque na visão egoísta, uma vida a mais sempre concorre com nossos interesses. Porém, se pensarmos que cada ser humano é produto de uma combinação genética única, jamais ocorrendo de novo, e que essa individualidade carrega uma capacidade única para desempenhar propósitos que ninguém poderá satisfazer de forma semelhante, em virtude daquela combinação única que produz DNA exclusivo, portanto, capacidade individual criticamente única, com dons peculiares. O que deve ser visto é que uma pessoa sempre fará, de forma individual, tarefa que outros também podem fazer, mas, nunca da forma como aquela única combinação de DNA pode desempenhar. Um exemplo do que se está discutindo é o profeta Jonas. O poder de persuasão dele era único. Deus não contava com outro ser humano com esse dom tão devidamente explorado. Jonas não podia ter morrido sem cumprir a missão que somente ele poderia desempenhar a contento. O poder de persuasão de Jonas pode converter 120 mil pessoas em três dias. Qual orador conhecemos hoje que usa a argumentação com o mesmo poder?

Todos nós temos individualidade vertiginosamente única. Há, nos planos de Deus, um propósito que somente a nossa mistura de DNA poderá satisfazer. Se usarmos nossa individualidade para satisfazer nossos interesses egoístas estaremos nos aprisionando na condição de filhos de Adão. No entanto, se usarmos nossa individualidade para servir a outros, no sentido de construir seres humanos, transcenderemos a condição de filhos de Adão, nos assemelhando aos filhos de Deus.

A morte e ressurreição de Jesus assegurou que poderemos nascer, ainda neste mundo, no reino de Deus. Porém, a dimensão da vida eterna nos remete para outro patamar no uso das nossas individualidades. Uma pessoa, que é única, produto de uma combinação exclusiva de DNA, e que carrega, por consequência, dons particulares, tende a melhorar sua capacidade, na medida em que passa o tempo. Podemos imaginar o poeta Davi, com seu dom singular de escrever salmos, vivendo eternamente. se a vida fosse eterna, quanta sabedoria ainda poderia adquirir para escrever com cada vez mais capacidade e precisão sobre como as criaturas devem louvar a Deus.

À humanidade, no futuro, quando todo pecado for superado, caberá a tarefa de garantir a estabilidade do governo de Deus. Como assim? Aos salvos está reservada a missão de ensinar sobre o amor de Deus e demonstrar os efeitos do pecado, para quem jamais experimentou a situação de opressão e desilusão que só a humanidade salva conhece. Nossa tarefa pela eternidade será educar sobre o sistema de Deus que deve permanecer para felicidade do universo. A vida eterna nos dará a oportunidade de ensinar cada vez mais e melhor sobre o amor de Deus. Isaias (65:20) explica que na nova terra, quem tem cem anos é menino. Nenhum outro conjunto de seres inteligentes diferentes dos humanos, têm o dom de ensinar essa dimensão do amor de Deus. Um dom específico.