Olhando o modo como Deus lidou
inicialmente com o pecado pode-se ter uma ideia sobre como fazer para salvar
pessoas.
A primeira atitude de Deus após a
queda do homem não foi criar uma igreja e incentivar adesão religiosa, mas
constituir exemplos morais essenciais para serem imitados. Assim, os patriarcas
fizeram um papel importante na formação moral do mundo antigo. A Bíblia sempre
se refere a eles com muito respeito, ainda que tenham cometido erros. Não há
registros de que qualquer patriarca tenha pensado em criar algum movimento
religioso, apenas figuravam com exemplos morais dignos. Todos foram unânimes em entender o sistema de Deus e viveram o mais
próximo possível do ideal divino. Alguns deles, como é o caso de Enoque, não
experimentaram a morte, por não pertencerem absolutamente ao sistema
desenvolvido após o pecado.
Depois dos patriarcas, Deus pede
a Abraão que faça uma viagem, saia da sua terra, e vá para onde Ele indicaria.
Nesse caminho até a chamada terra prometida Abraão faz uma extensa demonstração
do sistema divino a muitos por onde passava e, até mesmo nas situações de
conflito familiar Abraão demonstrou ser altruísta cedendo sempre, como o fez no
caso com o sobrinho Lot. A razão é que o sistema de Deus e o sistema do pecado
são diametralmente opostos. Deus reina em absoluta justiça que, por sua vez, gera a paz; este sistema Ele implantou quando criou a Terra e todo conjunto de
fatos que estão unidos à criação. Em tudo, conforme diz o salmista, pode-se ver
a justiça (Sl. 35:5) como o motor da cooperação que passou a existir. Tudo como decorrência
do Lei que é a lei do céu.
Por Abraão veio Isaac depois Jacó
e seu descendentes, a raiz dos israelitas. Israel foi a nação escolhida para
demonstrar o sistema divino de justiça. Em Deuteronômio capítulo 4 encontramos
o modo como Deus gostaria que fosse demonstrado processo de salvação daqueles
envolvidos no sistema pecaminoso, ou seja, a injustiça: “[...] os povos dirão:
em verdade esta grande nação é constituída de um povo sábio e inteligente [...]”(Dt.4:6).
Isto seria verdadeiro se Israel observasse a Lei da justiça dada por intermédio
de Moisés. Deus não pensou numa religião. Porém, por causa da ambiguidade
observada nos israelitas, ora no sistema de Deus ora fora dele, foi necessário
estabelecer um protocolo para o perdão e o restabelecimento do sistema divino,
o qual é chamado no Antigo Testamento de processo da expiação. A utilização
desse protocolo ensejou, por parte dos sábios de Israel, incrustações de
percepções humanas que desfiguraram a base conceitual dada por Deus e, uma
série de ritos foram tomados como meios suficientes de alcançar favores de
Deus, transformando o protocolo primário em religião repleta de tradições
humanas, derivando para um sistema de exclusividade para Israel. Com isso,
mesmo que os povos observassem sabedoria na sociedade israelita, não lhes era
permitida adesão simples ao sistema de Deus através da observação, somente se
cumprissem rituais impostos pelos homens. Por causa desse sistema religioso
hebraico foram necessários profetas – estes não eram palradores religiosos, mas
porta vozes de Deus – para orientação à norma celeste. Salomão referiu-se à
orientação da profecia dizendo: “Onde não há profecia, o povo se corrompe; mas
o que guarda a lei esse é bem-aventurado” (Prov. 29:18).
Com a chegada do Messias, embora
Jesus Cristo fosse judeu e pregasse nas sinagogas, a principal preocupação do
Messias era o ensinamento dos princípios de justiça, os quais o mundo não tinha
mais conhecimento, portanto não os praticava. Apesar da Torá (cinco primeiros
livros do Antigo Testamento) esclarecer o sistema de justiça nas leis que demarcavam
a sociedade israelita, os judeus da época de Jesus haviam perdido todas as
noções do sistema cooperativo de Deus. Há exemplos tais como o de Zaqueu que
sendo judeu, era corrupto e que ao compreender os ensinos de Jesus, fez uma
conversão de 180 graus, devolvendo, de acordo com Levítico, quatro vezes mais o
que havia usurpado, ao que Jesus exclamou: “Hoje entrou a salvação nesta casa...”(Lc.19:9),
no entanto, não referiu-se a um retorno religioso, mas a resposta de Zaqueu ao
sistema da justiça. Outro exemplo foi o do moço rico que ao ser instado ao
sistema de cooperação e justiça, entristeceu-se porque era dono de muitos bens,
neste caso não ocorreu resposta positiva à justiça. Na realidade, Jesus não
estabeleceu nenhuma igreja enquanto esteve conosco, mas utilizou todo o Seu tempo ensinando e demonstrando
a justiça, ou seja, o sistema divino, para qualquer que quisesse ouvir e crer.
Com o transcorrer do tempo, após
a ascensão, o sistema de justiça ensinado por Jesus foi se transformando em
cristianismo e logo em igreja cristã. Do mesmo modo como no antigo Israel, os
protocolos para expiar os erros foram sendo transformados em ritos, e a esses
foram sendo incrustadas filosofias humanas, desembocando num mar de religiões
cristãs, até com derivações não cristãs (ex. muçulmanos), cuja principal
preocupação é fazer prosélitos. A premissa que embasa tal ação é a salvação dos
homens à qual, somente terão acesso se a buscarem através dos ritos de cada
religião. O reino dos céus é, no conceito cristão atual, um lugar geográfico
mítico onde os salvos que praticaram os ritos (o bem) viverão eternamente em
êxtase, onde não terão mais as aflições sofridas na Terra, gozando de inúmeros
privilégios. Tal concepção é equivocada por carregar enorme julgamento de
injustiça. O reino dos céus é um conceito. Onde quer que se estabeleçam
princípios de justiça, ali estará o reino dos céus. Aliás, um poeta já falou
que o céu é Jesus, ou seja, onde os princípios ensinados por Ele estiverem
prevalecendo ali será o céu.
Neste sentido, as igrejas erram
por desviarem as mentes dos seus membros do conceito de justiça de Deus. A
começar pelo raciocínio exclusivista que cada religião apregoa, dizendo-se,
cada qual, mais detentora da verdade. Exclusividade significa injustiça. Se
alguma religião for a detentora da verdade deverá necessariamente ensinar a
justiça, consumirá investimento de tempo e dinheiro construindo pessoas
moralmente justas. No entanto, o que mais se promove no ambiente cristão são
eventos ritualísticos que agenciam a sensação de exclusividade, envolvendo os
fiéis numa atmosfera mística profundamente enganadora, de inaplicabilidade
prática, mas muito divertida. Qualquer movimento religioso que esteja mesmo
preocupado com o reino dos céus tratará de cultivar melhorias morais através de
processos para construção de um mundo social justo. Isto não permite a exclusividade. Essa era a preocupação de
Deus a partir do Éden. Foi a preocupação do Messias. Igrejas são centros
cognitivos onde são ensinados e praticados os princípios de justiça imitáveis
por quem quer ser salvo.
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