As iniquidades foram o alvo da atuação de Jesus para destruir a obra do inimigo (1 João 3:8). “Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia” (Salmos 103:3-4). Na poesia hebraica, os quiasmas ou elementos dispostos de forma cruzada, são utilizados para explicar ideias, tal como é o caso da citação acima. Ali está a afirmação de que ele perdoa as iniquidades, ligando-as com as enfermidades e, de forma cruzada, confirma que as iniquidades são a perdição, sendo que a sua retirada promove a benignidade e a misericórdia.
Iniquidades são intolerâncias que
fazem parte do aprendizado ou do processo educacional mundano, cuja finalidade
é a competição que prepara os homens para serem vencedores no mundo, sendo tal
competição o motor da coletividade. Tais intolerâncias podem estar de forma
velada. A maneira como falamos e como nos vestimos pode demonstrar quão
intolerantes somos.
No Brasil verificamos que há
intolerância, por exemplo, por parte dos sulistas em relação aos que vivem mais
ao norte. Sempre que famílias migram de regiões meridionais para latitudes mais
baixas, os pais instilam nas crianças preconceitos que se exteriorizam logo no
sotaque; as crianças sulistas não perdem o jeito de falar meridional e
cristalizam a ideia de que aquele sotaque é mais elaborado, logo, perdê-lo
significa involução. No entanto, a evolução na linguagem não está relacionada
com o sotaque, mas, com a profundidade do encadeamento das ideias, de modo a
tornar mais explícitos conceitos que demonstram uma visão de mundo mais ampla.
Obviamente, os filhos imitam os pais, sendo que na linguagem é inevitável,
porém, crianças absorvem naturalmente a cultura que os cerca, e na questão do
sotaque, se não há absorção daquilo que é comunitário, significa a existência
de filtros preconceituosos.
Se para Deus iniquidades são
disfuncionalidades em relação ao sistema divino, então, os pais deveriam
observar com muita prudência como educam seus filhos, de modo a evitar que
sejam iníquos sem que o saibam. Muitas intolerâncias são consideradas inocentes
e vão se transferindo de geração em geração. Nos anos 70 do século passado,
muitos sulistas brasileiros buscaram alcançar seus objetivos educacionais
migrando para a região Norte. Em Belém do Pará, a universidade Federal atraiu
muitos estudantes que após sua formação universitária voltaram às suas regiões
ou permaneceram no Norte e construíram carreiras, em muitos casos, com
brilhantismo. Porém, naqueles idos, os sulistas faziam questão de não absorver
quase nada da cultura local. O açaí, a bebida tipicamente paraense, era
rechaçada pelos sulistas porque, diziam alguns, tinha gosto de mato. No
entanto, alguns sulistas da classe média, que voltaram para suas regiões, e até
mesmo estrangeiros que estiveram em Belém, levaram o costume da bebida paraense
e forçaram a comercialização do açaí fora do Pará. O açaí ganhou o mundo e
hoje, japoneses e americanos, bem como os brasileiros do sul, tomam e estimulam
o uso do açaí, fato que tornou o preconceito sulista inicial nulo. Tal episódio
exemplifica que iniquidades são puros preconceitos. Desigualdades são oriundas
da vontade ser diferente, mas podem ser plenamente superadas.
A proposta do cristianismo é que afastemos
as iniquidades influenciando pessoas a um nível de convivência mais elevado.
Sempre que são permitidas as iniquidades também são perdidas oportunidades.
Misturas culturais podem acrescentar visões de mundo mais inteligentes.
Preconceitos somente levantam barreiras que produzem separação e litígio.
A principal premissa do reino de
Deus é o relacionamento fluido entre os seres humanos. Em Lamentações 4:6 vemos
como Deus enxergou o preconceito ou iniquidade em Israel: “Porque maior é a iniquidade
da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, a qual foi subvertida como num
momento, sem que mãos lhe tocassem. Também, em Ezequiel 16:49 aparece o profeta
ratificando a consequência da iniquidade quando diz: “Eis que esta foi a
iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de
ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do
necessitado”. A primeira advertência é contra a soberba que enraíza a
iniquidade. Quanto mais iniquidades, mais problemas e mais juízos. A segunda
advertência vem pelo excesso de comida; não há problemas em colheitas fartas,
mas, em armazená-las para si, pois o texto termina informando o desprezo pelos
necessitados como o motivo da destruição.
As iniquidades são de vários
matizes, os quais deverão ser evitados pelos cristãos. Aliás, ao invés de serem
assimilados pela sociedade desigual deveriam liderar uma tomada de posição por
uma sociedade melhor, porque Deus deseja que os cristãos formatem a sociedade
sem iniquidades, e punirá os cristãos se falharem, tal qual está na história
sagrada. Há intolerância racial, intolerância regional, intolerância religiosa,
intolerância laboral por causa do sexo, intolerância cultural, intolerância
social, intolerância de aparência, entre outras. Todas são formas de
iniquidades. O dever de cada cristão é operar em sua esfera de influência para
diminuí-las.
A principal tarefa do cristianismo
é tornar mais similares todos os seres humanos que o pecado desfigurou e que
foram criados à semelhança de Deus. O fator de risco que produz a disfuncionalidade
social é a desigualdade educacional. Não é suficiente matricular
crianças em escolas, mas garantir-lhes educação equivalente qualquer que seja a
escola. Além disso, assegurar não somente qualidade acadêmica, mas, que os
princípios do cristianismo não sejam suplantados pelo ensino humanista que submete
nosso sistema educacional. O sistema humanista prega isonomia social, mas, em
nome da igualdade descarta os valores cristãos que necessariamente levam ao
equilíbrio social, pois o humanismo reforça o sistema predador da competição.
Escolas cristãs são instâncias de formação que preparam quem dominará o mundo;
se estiverem preocupadas somente com a qualidade acadêmica falharão na sua
missão de conduzir o mundo ao equilíbrio social, o qual somente é alcançado na
ausência das iniquidades.
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