Nos conhecidos Diálogos de Platão, literatura quase obrigatória para quem usa a argumentação como infantaria, o autor estabelece imediatamente antes de cada assunto, ou seja, a priori, os parâmetros e as definições dos alvos a serem discutidos, para evitar interpretações inconvenientes e dubiedades semânticas. No diálogo entre Deus e Jó (Jó 38) também são colocados os parâmetros e as definições daquilo que importa para as explicações. Ao dizer Deus “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” está identificando a falta de saber que torna o diálogo quase impossível. Mas, tal qual um educador, pede que Jó “cinja os seus lombos, como homem”; coloque-se na posição de aprendiz para que Ele possa perguntar e, na tentativa de responder-lhe Jó possa construir o seu próprio conhecimento.
Em seguida Deus pergunta: “Onde
estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem
lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de
esquina, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os
filhos de Deus jubilavam?
As perguntas acima querem mostrar
ou desvelar a importância capital para os seres humanos saberem sobre os
mistérios envolvidos na semana da criação. As medidas ou o cordel com que foram
realizadas as medidas, ou quem assentou a pedra de esquina indicam perguntar em
quais princípios a Terra foi construída, ou quais os motivos determinantes ou
ações motrizes que fundamentaram a criação da maneira como foi efetuada, tudo
cercado por uma atmosfera de júbilo mantendo todos os filhos de Deus (aqueles
que parecem com Ele) em regozijo. É intuitivo entender que o que dá júbilo aos
filhos de Deus é a Lei eterna em funcionamento, logo, a criação da Terra
espelhava o pleno domínio da Lei.
A semana da criação pode ser
dividida em duas etapas. Na primeira, compreendida pelos quatro primeiros dias,
Deus constrói os domínios, ou os locais apropriados para apoiarem as outras
criações vindouras. Sempre que terminava um dia Deus examinava e definia que
era bom. A teologia hebraica afirma que a frase “viu que era bom” significava
bom para o que haveria de vir. Assim, os domínios eram perfeitos para sustentarem
os animais, os quais vieram à existência na segunda etapa da semana da criação
(5º e 6º dias). Quando o povoamento dos domínios estava completo, Deus cria em
seguida o homem, evidenciando que tudo o que fora criado anteriormente ao
homem, o fora para apoiar a própria existência humana. Na semana da criação
está explicitado todo caráter de Deus. Assim como um dia mostra sabedoria a
outro dia, nenhuma criatura vive para si mesma. Silenciosos, mas incessantes,
os objetos criados fazem seu trabalho designado de cooperação, uma benção de
utilidades, do mesmo modo como Jesus encarnado operou seu trabalho terrestre
fazendo o bem a todos e em todo tempo (Mateus 6:30).
Após o surgimento do homem, no
sexto dia, Deus o submete, no sétimo dia, ao descanso. Não porque estivesse
cansado, mas, porque nada lhe faltara e por esse motivo poderia descansar sem
preocupações por quaisquer motivos, uma vez que tudo estava pronto para o seu
apoio. Entretanto, o descanso sabático tem sua base não na criatura, mas, no
criador, no autor da natureza, quem garante que tudo irá operar em favor do
homem, pois é quem fez e mantém tudo.
O primeiro sábado foi vivido na
companhia do criador, aprendendo os fundamentos da Terra. A semana inteira da
criação é um grande painel demonstrativo dos princípios do Reino de Deus. Cada
ato criador antecede apoio ao que virá. Essa é a noção que foi perguntada a Jó.
Na semana da criação encontramos o pensamento de Deus e base do deu governo de
forma física, qual fio de ouro, onde cada domínio e cada criatura, em cada
associação da vida, ensinam lições da grande verdade divina. O percebível
sistema de cooperação que está em toda a criação é o grande fundamento Terra.
No primeiro sábado Adão foi levado pelo criador a perceber o referido
fundamento. O descanso sabático naquele primeiro sétimo dia objetivou levar
Adão a reconhecer que poderia descansar no Deus todo poderoso, quem criara tudo
para o bem e o deleite do homem e, portanto, sustentaria tudo ad infinitum.
Por essa razão, passados tantos
séculos daquele primeiro sábado, os homens necessitam entender os fundamentos
da Terra para alcançarem o descanso. Cada término de semana deveríamos sair das
cidades ou nos retirarmos a lugares mais à natureza, para vermos a face de Deus
na criação, e assim aprender sobre o Seu caráter, enchendo nosso pensamento
sobre o sistema de cooperação para que pudéssemos entretecer os dias da semana
com o sistema de Deus.
Quando os hebreus são retirados
do Egito, ao atravessarem o mar Vermelho encontraram-se do outro lado no sábado;
deveriam descansar depois de todo estresse pré travessia, confiando
inteiramente no Deus todo poderoso. Foram levados ao Sinai onde lhes foi dada a
Lei. Ali, Deus lhes alerta que estavam saindo da escravidão do Egito, retirados
por Sua forte mão (Êxodo 20:2). Sair da escravidão foi um ato de misericórdia
que somente aconteceu porque Deus atuou. Agora estavam sob a jurisdição do
domínio de Deus. Outros costumes, outra cultura, outros
resultados, outros interesses. Ato contínuo foi a descida do maná. Este
fato tem a ver com a primeira noção dada a Adão; Deus é o criador de tudo o que
apoia a humanidade, portanto, deveriam celebrar o descansando Nele. No deserto,
sem comida e sem água, sem comércio, sem mercados, a sobrevivência dependia da
fé no criador. Durante quarenta anos nada lhes faltou, a não ser quando lhes
desfalecia a fé.
Do mesmo modo, os cristãos ao
serem batizados atravessam o mar Vermelho e devem entrar no descanso; outros
costumes, outra cultura, outros resultados, outros interesses. Chamamos a
atenção ao quarto mandamento (Êxodo 20:8-11): “Lembra-te do dia do sábado, para
o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia
é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho,
nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR
os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou;
portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou”.
Deus dá ao homem seis dias para
que realize toda a sua obra. Depois ordena que também descanse, porque Ele
descansou, porque descansando santificam o Sábado. O que está exposto neste
comando é que há um trabalho humano que deverá ser totalmente concluído antes
do descanso. A pergunta que deve ser feita é: qual trabalho deverá ser
concluído?
É na semana da criação que vemos
a resposta. Se todas as obras cooperam, então a obra humana também deve ter o
caráter cooperativo. Em cada novo dia que nos entrega a semana, ou seja, nos
seis sétimos que nos são dados, as obras realizadas devem cooperar. Se todos os
domínios e seu povoamento foram realizados para apoiar o homem, então nossa
obra deverá seguir o modelo original; iremos construir domínios e povoá-los com
objetos para apoiar outros humanos. Essa obra traremos diante Deus no Sábado.
Santificaremos o Sábado porque participamos, nas obras da semana, da natureza
divina, nos tornamos semelhantes a Deus.
Enquanto o sistema mundano nos
instila a trabalhar para nós mesmos, tornando-nos escravos idólatras porque
dependemos do nosso braço para superar outros humanos e acumular energia
causadora de entropia, o sistema de Deus promete liberdade porque não estaremos
escravos dos nossos desejos, nem sujeitos ao que outros nos dizem, mas libertos
da concupiscência e titulares da nossa própria razão, vivendo um nível mais
elevado de sociedade, no qual o acréscimo social do semelhante é a meta.
O Sábado é o êxtase da fé porque
ratificamos que Deus é o criador e entendemos que nada nos faltará. Por essa
razão, não nos é necessário trabalhar. Não dependemos do nosso braço para
sobreviver, pois entendemos que assim como no deserto o maná não estragava no
sábado, Deus nos assegurará a sobrevivência. A semana da criação foi a
demonstração da forma como Deus estruturou tudo, para que pudéssemos chegar,
trabalhar e descansar. Devemos operar nos seis dias para descansar no sétimo,
no sentido de obra terminada.
A noção acima está na sequência
de ideias do capítulo 58 do livro de Isaías. O trabalho em favor dos
necessitados, ou seja, a prática da justiça antecede o descanso sabático. Se
tão somente atendermos aos nossos semelhantes teremos saúde e estaremos
voltados à direção das bençãos de Deus. A celebração do sábado, de acordo com
Isaías 58 somente se dará se durante os seis dias realizarmos toda a nossa
obra. Reiteramos que cada dia dos seis que temos deverá construir as bases para
os outros dias visando o soerguimento dos semelhantes. Era assim que Jesus
operava a semana e no Sábado ia à Sinagoga, onde descansava no Pai. A última
benção do capítulo 58 de Isaías é uma promessa de sucesso terreal.
No contexto atual, o sábado
significa mais do que nunca a celebração da nossa liberdade. Vivemos a mais
densa era do assédio do inimigo de Deus que, demonstrando habilidade quase
insuperável enreda quase todos no sistema egoísta dos prazeres da carne. Em
todos os lugares há armadilhas para que o egoísmo seja desenvolvido. As cidades
são consideradas desenvolvidas na medida em que possuem infraestrutura para o
consumo. Nosso conceito de boa vida está definido na possibilidade de sentir
sensações, quer adquirindo bens, quer usufruindo diversões. Em outras palavras,
viver bem significa aproveitar do consumo e dos prazeres. Todavia, a Bíblia
define a vida conforme Paulo diz: “portanto nós também, pois que estamos
rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o
pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos
está proposta” (Hebreus 12:1). A carreira que nos está proposta é a mesma do
capítulo 58 de Isaías. Mas, nosso processo civilizatório comanda egoísmo,
embora nos prometa liberdade enquanto nos submete à corrupção e nos sujeita ao
sistema do inimigo, conforme 2 Pedro 2:19. Os cristãos no ambiente das igrejas
deveriam ser educados para o serviço, para que possam apresentar-se a Deus em
liberdade.
Um comentário:
Texto excelente, que o Senhor 🙏 te abençoe. 👏👏👏
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