domingo, 4 de outubro de 2020

Virtudes cardinais

 

Na sua segunda carta (2 Pe.1:5-7) o apóstolo Pedro apresenta perante os crentes a escada do progresso: “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade”.

O item mais fundamental em nosso relacionamento interpessoal é a fé, pois sem confiança não há amizade. Isto é absolutamente verdadeiro em nosso relacionamento com Deus. Fé é uma confiança de coração e mente em Deus e seus propósitos que nos leva a agir em acordo com sua soberana vontade. Tal fé não está baseada em obediência cega, não inteligente, mas na crença ancorada na confiança suprema, na habilidade e integridade de Deus. Essa qualidade de fé é o pré-requisito para qualquer aproximação a Deus.

A fé não pode ser passiva, mas é manifestada em obras. Assim, todo cristão começa sua trajetória crendo em Jesus Cristo, o seu salvador, sendo Ele o modelo que o levará a sair da degradação moral na qual o mundo mergulhou a humanidade (Fil.3:9).

Na razão direta da observação do modelo são reveladas as virtudes de Cristo Jesus, mas também vão sendo desvelados os deméritos e defeitos do proceder humano e, como consequência, naquele que imita o modelo vai crescendo a vontade de possuir as virtudes do padrão. Começa, então, um exame pessoal buscando a excelência moral. Dá-se início ao enriquecimento íntimo do crente (1Cor.1:5) administrado por ação do Santo Espírito (1Cor.12:8). Tal enriquecimento vai além do conhecimento intelectual, o qual é o fundamento da fé; passa-se a entender os fatos básicos relativos à existência de Deus e ao plano da redenção (SDA Bible Commentary, v.6, p.729).

Logo, a cópia do modelo tornará evidente que se deve levar uma vida de sobriedade, ou seja, temperança, sem a qual não será possível manter o controle sobre as paixões carnais; o controle da razão prevalecendo sobre os impulsos, significando a regência da lei de Deus. Um diligente esforço auxiliado pelo Santo Espírito no sentido da temperança, produzirá paciência, significando resistência constante, na expectativa confiante de algum fim desejado, a despeito das dificuldades, desencorajamentos, desapontamentos circunstanciais e até mesmo eventuais sofrimentos. A entrada no reino de glória vindouro envolve longos períodos de espera, logo, paciência deve ser adquirida como virtude cardinal (Heb. 10:36).

A essa altura do desenvolvimento cristão a piedade ou reverência para com Deus irá prevenir o cristão de tornar-se como os fariseus, fundamentalistas que buscavam a salvação por obras. A piedade manterá a humildade ou submissão a Deus, sem a qual se dará mais atenção às tradições e não às ordens divinas. Como resultado da obediência virá o amor fraternal, virtude que completa ou preenche os requisitos da lei de Deus. Para a igreja cristã rodeada de paganismo e idolatria, rodeada pelo sistema mundano do individualismo, o genuíno amor fraternal é a sua grande necessidade. A falta de simpatia deve ser ultrapassada por um espírito de lealdade, generosidade e amor fraternal, ambiente onde as contribuições liberais tornam possível a tranquila consciência do dever cumprido. “Tendo recebido a fé do evangelho, o trabalho do crente é acrescentar virtude ao seu caráter, e assim purificar o coração e preparar a mente para a recepção do conhecimento de Deus. Esse conhecimento é a base de toda educação e serviço verdadeiros” (Atos dos Apóstolos, 279).

As virtudes listadas pelo apóstolo Pedro são a consecução abrangente da lei. A questão que se está mirando é o juízo final que está em andamento. Aqueles que desejam a justificação pela fé deverão entender e buscar as virtudes acima, porque a soma delas representa a guarda da lei. A pergunta que salta é: estariam as igrejas cristãs realizando um processo educacional que permite aos crentes alcançar o topo da escada de Pedro? As crianças e os jovens, no ambiente das igrejas cristãs estariam recebendo educação suficiente para garantir a evolução requerida pelo Céu?

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