A história humana está marcada
por uma sucessão de eventos políticos e sociais que, na sua grande maioria,
culminam com supremacia de grupos humanos sobre outros grupos humanos. Quando um
grupo se torna dominante, a força exercida acontece de muitas formas, sendo uma
delas a sujeição de grupos humanos a um regime escravagista. Nesse caso,
tornar-se escravo determina que serão apagadas tradições, todas as volições,
todas as liberdades, sendo que até mesmo escolhas pessoais não contarão. Tal
situação é a mais arbitrária e contrária ao propósito da criação humana. A libertação
de escravos, quando ocorre, é um processo muito difícil, o qual conta com a má
vontade dos opressores e dos que lucram com a escravidão. Se um escravo foi
submetido a uma longa e severa opressão, não saberá lidar prontamente com a
liberdade. Dá-se, em muitos casos, a degradação moral em níveis mais
aviltantes. Somente um processo de educação visando a reconstrução moral poderá
ajudar.
Há, no entanto, outro tipo de
escravidão tão severa e cruel como a acima descrita; aquela que escraviza as ideias,
a vontade, a liberdade, sem, contudo, usar força coercitiva. Esse tipo de
escravidão é atualmente a mais usual, sendo que as nações poderosas, no atual
cenário geopolítico, submetem nações mais vulneráveis sem nenhum uso de armas
ou opressão política; simplesmente empregam a força da sua cultura e do seu
comércio. Tal sistema força o surgimento de novas e modernas necessidades, por
indução mental, que levam populações a se utilizarem das tradições e costumes
dos opressores, dispensando as tradições locais através da imposição efetuada
pelo chamado marketing.
Um caso típico da situação acima,
no Brasil, é o Black Friday e o
Halloween, que já forçaram entrada no imaginário local, e ambas as efemérides estão
agora como que figurando tradicionais aos brasileiros. Os USA escravizam as mentes
com sua potência intelectual e sua força econômica. Contra esse tipo de
escravidão quase não há remédio. Mas, uma nação se diferencia, principalmente,
por sua língua e sua moeda. Se assim, o mundo é escravizado pela língua inglesa
e pelo Dólar americano. É um sistema de escravidão mental, uma opressão que o
mundo julga sendo necessária e benigna. No caso brasileiro, nossa juventude não
está sendo educada para pensar, sentir e se comportar como nativos; comem hamburgueres,
pizzas, batatas fritas, bebem Coca Cola, ao invés de feijão com arroz e suco de
maracujá ou guaraná, vestem-se como americanos, consomem cultura alienígena, matriculam-se
voluntariamente em cursos para língua inglesa, não dando-se conta que estão
submetidos a uma escravidão mental. Essa escravidão é quase incurável.
A cosmovisão bíblica exige que reconheçamos
Deus como único Senhor (Marcos 12:29-31). Em outras palavras, se consentirmos
na escravidão, sirvamos ao Senhor. Todavia, a escravidão ao Senhor não retira o
alvedrio, ou seja, o juízo, pois não se trata de um cerceamento de volição, mas
exige que sirvamos ao Senhor de todo o nosso coração, ou seja, não devemos nos
submeter sem assentimento intelectual, de toda a nossa alma, ou com exercício pleno
de nossa vontade, de todo nosso entendimento, terá que existir a informação e a
sabedoria.
A situação acima é diametralmente
oposta à escravidão mental dos sistemas políticos do mundo. Todavia, o serviço
a Deus também exige disciplina e interesse pelo próximo, no sentido de enriquecê-lo.
Há ordem, sendo declarado que “Vocês não agirão [...] cada um fazendo o que bem
entende; mas “tenham o cuidado de obedecer a todos os mandamentos” (Deuteronômio
12:8,28). Toda influência que o Reino de Deus exerce é através do vínculo do
amor. Os servos imitam o Senhor em submissão voluntária, sendo a mente unida à
do Senhor, ocorrendo assim o processo mais elevado de educação, ou seja, o
desenvolvimento físico, mental e espiritual. O progresso que deverá resultar é
a educação de jovens e adultos transformando-os em cooperadores de Deus. Neste
sentido, não estamos num regime de escravidão coercitiva, mas, num sistema de
abnegação onde cada atributo ou dom será utilizado para erguer os semelhantes.
Por outro lado, há um esforço
constante no processo civilizatório humano, no sentido de evidenciar ser o
serviço ao Senhor uma alucinação, dando crédito ao saber dos homens, à
cosmovisão da ciência humana, a qual explica que a natureza é obra do acaso ou procedente
de causas naturais. Todavia, os estudos científicos não passam de
interpretações, logo suposições, sendo muito estranho que os homens confiem
avidamente em suposições ao invés de aceitarem o relato dado por Deus, ao qual
o apóstolo Paulo adiciona que “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em
justiça” (II Timóteo 3:16).
As mentes humanas estão
submetidas (incluindo a dos cristãos) a um sistema escravizador não perceptível
que impõe comportamentos e aprisiona vontades, educando a população para agir
contrariamente ao exigido nos princípios da lei de Deus (Amor a Deus e amor ao
próximo). O chamado marketing submete os intelectos, influencia
incontrolavelmente pessoas ao consumo em relação aos costumes e utensílios,
atos desfavoráveis às ordens divinas. O marketing cria um ambiente educacional
que escraviza, sem que a população tenha consciência. Além disso, vai
conformando a infraestrutura da cidadania, de maneira que todos os cidadãos
sejam forçados a usar tal infraestrutura, concebendo ser indispensável para uma
vida com qualidade. Nada é mais prosaico do que passear no shopping, onde há suposta
segurança, além de ser conveniente, mas é uma armadilha mental favorável ao desenfreado
consumo. Se a abnegação e a preocupação com o crescimento do próximo são o alvo
da educação no reino de Deus, o consumo carregado no hedonismo, é o auge do comando
escravagista no reino do inimigo de Deus.
Todas as ordenações jurídicas que
facilitem o crescimento comercial carregam o princípio do hedonismo em sua face
mais injusta e cruel. Injusta porque nem todos podem consumir, e cruel porque o
consumo vicia; é parte da estratégia do inimigo das nossas almas para aprisionar
nossa liberdade. Se a busca pela felicidade reside no ter, quando tivermos
tudo, como faremos para ser felizes? O consumismo nos afoga em objetos, nos
aprisiona num sentimento que propõe não poder viver sem os objetos, nos afasta
completamente do amor a Deus e ao semelhante, portanto, nos afasta de Deus.
Em Mateus 24:24, Jesus adverte que falsos
mestres com mentes prodigiosas enganariam e, se possível fora, enganariam até
os escolhidos. Obviamente, o texto não está falando apenas de teologia. A luta
entre o bem e o mal dá-se num nível de altíssima cognição. As estratégias são muitíssimas
e sofisticadas e as mentes humanas são como presas inocentes. Há milhares de
obras escritas por autores respeitados, indicando o caminho da felicidade no
poder, no aplauso e no consumo. Para os cristãos, a Bíblia recomenda que a
imparcialidade moral somente pode acontecer no ambiente da Lei de Deus. Há
caminhos que ao homem parecem direitos, mas ao cabo dá em caminhos de morte
(Provérbio 14:12). Para resistir o ambiente do marketing os homens terão que
estar influenciados pela áurea corrente da amorosa obediência. Devem curvar-se
em submissão à vontade de Deus para saírem do reino hedônico deste mudo e se
tornarem filhos de Deus.
A lei de Deus é o antídoto a essa
situação. Ela é a regra moral que funciona como o antibiótico às ideias humanas
de bem estar.
Felicidade tem sido assunto de
pesquisa em alguns trabalhos científicos (Sonja Lyubomirsky – Universidade da
California, USA; Stephen Post – Case Western Reserve University, USA; Neal
Krause – Universidade do Michigan, USA; por exemplo) que concluíram que
felicidade é encontrada no suporte a outras pessoas, ajuda social efetiva, que
trazem sentimento de exultação ou contentamento, o que torna o ser humano mais
forte e com mais energia. Assim, felicidade está ligada ao fortalecimento de
nossas conexões sociais, nossas relações com nossa família e nossos amigos, ou
seja, pessoas felizes têm melhores relações, tendem a ser boas companhias, têm um
amplo círculo de amigos, amam se relacionar e dar amor e suporte social.
Relações sociais, mais do que dinheiro, ou fama, são o que mantém pessoas
felizes através de suas vidas.
O sábio Salomão chegou à
conclusão que adquirir não satisfaz: “Fiz para mim obras magníficas; edifiquei
para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, e
plantei neles árvores de toda a espécie de fruto. Fiz para mim tanques de
águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Adquiri
servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões
de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Amontoei
também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de
cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de
música de toda a espécie. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas
mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que
tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do
sol” (Eclesiastes 2:4-8,11).
O sábado é, entre outros
significados, uma estratégia poderosa para felicidade, uma vez que é dedicado a
efetuação de coisas que têm um valor, mas não um preço. É o dia supremamente
contrário ao marketing. Não podemos comprar e nem vender. Não podemos trabalhar
e nem pagar outros para trabalharem por nós. É um dia quando celebramos
relacionamentos. Pais abençoam suas famílias. Tomamos tempo para ter uma refeição
com a família e, às vezes, convidamos amigos. Na igreja renovamos nosso senso
de comunidade. Pessoas compartilham suas alegrias com outras. Os enlutados
encontram conforto para suas dores. Estudamos a Bíblia juntos e cantamos os
mesmos hinos, lembrando-nos da história da qual fazemos parte. Oramos juntos,
agradecendo a Deus por nossas bençãos. O sábado é uma instituição
transformativa, convertemos o trabalho em celebração do espírito humano; um dia
de gratidão, quando descansamos da lida semanal e encontramos refúgio num oásis
de repouso. Finalmente, o Rabino Jonathan Sacks afirma, em seu livro Morality
que: “o sábado é a estratégia divina que coloca limite no marketing e sua
escravidão mental. Valores como lealdade que não são sacrificados para buscar o
lucro; aspectos de felicidade que derivam não do que compramos ou ganhamos ou possuímos,
mas, do que contribuímos para a vida de outrem; gratidão pelo que temos em vez de
anseio pelo que não temos. Os valores do marketing não são os únicos que contam.
Há outros necessários para felicidade pessoal e a beatitude coletiva que constitui
uma boa sociedade. Casamento não é uma transação. A paternidade não é uma forma
de propriedade. Universidades não são maquinas de venda intelectual. A saúde é
distinta dos cuidados com a riqueza. A política não deve ser uma forma de poder
à venda”.
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