Por estarmos vivendo no
planeta rebelde, o sistema moral aqui fixado nos escraviza. Não conhecemos a cooperação,
somente a competição. Em tal circunstância, todas as nossas concepções morais
estão afetadas pela competição.
No seio familiar, há
sempre a sensação de que irmãos não são estimados de forma semelhante, o que
provoca conflito entre irmãos. Na relação matrimonial sempre há competição,
quer seja por supremacia de comando, de prestígio, até competição por favorecimento
econômico quando um dos cônjuges busca vantagens.
O sistema educacional mundial
está delineado para a competição. Os pais educam os filhos para rivalizarem. O
conceito de sucesso está ligado à capacidade de concorrer por posições e por benefícios
econômicos; nesta escalada, muitos ficam para trás, com surgimento de desigualdades
sociais, às vezes profundas e perigosas. Escolas promovem o ranqueamento dos
alunos, havendo sempre vantagem para os que são mais competitivos, e sem muita
preocupação com percepções individuais que oportunizem àqueles com ritmos menos
concorrentes. Esse aprendizado desemboca em aviltamentos posteriores, quando no
mercado de trabalho pessoas traem ou atropelam para conseguir liderança. Sempre
enxergamos a competição como algo benéfico, mas, na maioria dos casos, essa
estrutura moral causa conflitos. A consequência é a incerteza, a desconfiança,
a insegurança, a dor, a morte.
Apesar de que na Bíblia o
sistema moral seja o da cooperação, as religiões desenvolveram seus credos
baseados na competição. Enxergam as bençãos como negócios, alimentando o
imaginário dos fiéis com ideias de que é necessário concorrer para ganhar a
salvação. O sistema econômico nos templos ensina que quem mais pode mais chance
tem, logo, mais atuação monetária, mais aplicação aos ritos e mais presença aos
cultos provocam o olhar positivo da divindade, a qual é compreendida como muito
aborrecível e sempre esperando que os mais fiéis atuem para satisfazer seus
padrões de exigências, sob pena de a divindade desencadear desgraças.
A infeliz concepção acima
está demonstrada num artigo publicado em uma revista religiosa, onde autor
(Pastor) diz que “crer em Deus é um risco calculado para tempos de certeza...”.
Claramente, este líder anuncia que o sistema é o da competição, já que o crer é
um risco.
Todavia, Paulo falando de
fé diz que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se
não veem”. Logo, no sistema moral da cooperação, incertezas são substituídas
por enriquecimento de vidas, resultando em equilíbrio social, diminuição da
desconfiança e da concorrência, ausência de infelicidade (esta provocada pela
insegurança), mais vida e em abundância.
No sistema da cooperação,
a divindade não é aborrecível, “Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro”
(I João 4:19). A divindade não está esperando que corramos em busca de atender
as suas exigências. Muito pelo contrário, já estamos recebendo o amor da
divindade e, consequentemente, ela nos ajudará enriquecendo (oferecendo sua
sabedoria ou graça) a nossa vida até que alcancemos os padrões muito altos do
sistema moral divino. Se percebemos essa metodologia, traremos à divindade
nossa gratidão traduzida em assiduidade aos ritos, alegria nas ofertas, amor
aos nossos irmãos, na direção de esclarecê-los das vantagens da cooperação.
Neste sentido, assim como a divindade nos enriqueceu a vida, também enriqueceremos
outras vidas.
A incerteza e ansiedade provocadas
pelo sistema moral da competição devem ser cambiadas pela harmonia e
estabilidade do sistema da cooperação. Não devemos aceitar que a vivência humana
tenha como decorrência a ansiedade, e esta como parte inevitável da vida, sendo
necessário desenvolver resiliência e bem-estar em meio a incerteza.
O sistema moral
cooperativo é muitíssimo estável, o próprio Jesus afirmou, “Mas, buscai
primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas” (Mateus 6:33), significando que não haverá necessidade de
desenvolver resiliência para aceitar incertezas.
Por estarmos com limites
visuais compactos provocados pelo degenerado sistema moral da competição, enxergamos
que é pelo trauma que crescemos. Os teólogos usam até as histórias traumáticas
de José e de Jó, por exemplo, para confirmar a teoria de que os embates
(competições) nos fortalecem. Porém, essa não é a verdade bíblica. O profeta
Isaías informa que o alívio dos sofrimentos e opressões alheios, o repartir o
pão com o faminto (cooperar), o encobrir a nudez do desamparado sempre
resultará em cura, em estabilidade emocional e bençãos divinas que garantem
permanência e solidez quando afirma que “[...] e a tua justiça irá adiante de
ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda” (Isaías 58:6-8).
Os embates somente serão
uteis se o sistema moral assumido for aquele oriundo da árvore da ciência do
bem e do mal. O sistema da árvore da vida é o da paz. “Deixo-vos a paz, a minha
paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem
se atemorize” (João 14:27).