O grande conflito que se
desenvolve em toda orbe possui formatos que podem não estar perceptíveis a
todos os envolvidos. A questão religiosa está formatada em de dois sistemas contemplativos,
os quais são os portais utilizados, pelos humanos, para interação com elementos
considerados transcendentais. Há o sistema proposto por Deus, com dispensações
que abrangeram os chamados patriarcas bíblicos, depois o judaísmo e por fim o
cristianismo. Também há o sistema que faz a contrafação ao sistema de Deus,
dissimulado e de difícil demarcação. Para as duas últimas dispensações, o
conflito aparece em nuances que, quando analisadas cuidadosamente, permitem ver
estratégias semelhantes a ambas dispensações para descaracterizações das ordens
de Deus.
A principal estratégia do segundo
sistema é a introdução de confusão na interpretação bíblica, causando a simplificação
para introdução de tradições humanas no sistema de Deus, tirando a pureza das
ordens divinas, descentralizando Deus e colocando homens como mediadores, dando
às tradições humanas como que força divina, tornando o sistema religioso
centrado na Terra e não no céu. E nem poderia ser diferente, uma vez que o
inimigo está restrito ao planeta desde a sua precipitação, conforme Apocalipse
12:9.
É também muito
importante verificar como esse conflito ocorreu em tempos anteriores ao
judaísmo. Uma das maneiras de analisar é buscando ver os acontecimentos da
torre de Babel. Depois que as águas do dilúvio secaram, algum tempo após, os
homens planejaram superar qualquer futura ameaça de inundação construindo uma
torre, cuja altura deveria ultrapassar a altitude à qual as águas alcançaram no
dilúvio (Gênesis 11). Porém, resolveram que isso não era suficiente, e
propuseram alcançar as nuvens, uma vez que a chuva veio das nuvens, logo,
poderiam estudar como conter as chuvas e, consequentemente, surpreender Deus
impedindo outro dilúvio. Aliás, essa é a razão por que as nações investem em
pesquisas científicas. Sabendo das causas, poderão administrar a natureza, ou
seja, poderão antever desvantagens, mas também, aproveitar fenômenos benéficos
provocando as suas causas. Essa arrogância humana é uma das consequências do
pecado, pois a inobservância da Lei de Deus significa independência Dele. E
assim caminha a humanidade. O sistema científico mundial busca dar à humanidade
capacidade para transgredir as ordens divinas. Porém, a concepção da filosofia
científica inebria a humanidade quando quer garantir que os humanos devem e podem,
por si mesmos, buscar as soluções para suas mazelas. Em muitos casos, a ciência
tem se mostrado, em sua altivez, ser capaz de resolver muitas questões, sendo
que está até mesmo propondo a imortalidade para 2050 (https://canaltech.com.br/saude/imortalidade-sera-alcancada-em-2050-dizem-cientistas-108478/).
Porém, no caso da torre de Babel,
a arrogância humana foi abatida pela onipotência divina. Os sábios da época
foram tolhidos na sua mais importante ferramenta, a fala ou a capacidade de comunicação.
É importante lembrar que a fala é uma das características próprias de Deus, com
a qual Ele abençoou a coroa da criação, mas foi na fala que Deus interferiu para
mostrar que os homens não possuem nada de si mesmos e que estão sob controle
divino. Desde esse episódio em diante, não mais a humanidade obteve
unanimidade. Tal fato, conteve a arrogância, em muitos aspectos.
Durante a dispensação judaica,
mesmo que a Torá estivesse em domínio de Israel, a chamada consciência
coletiva, ou seja, as tradições próprias somadas às tradições dos povos
vizinhos, atuaram como óculos que vedaram uma visão pura das ordens divinas. As
tradições acabaram por colimar interpretações da Torá eivadas de egoísmo (a
principal “virtude” do sistema do inimigo), transformando os ritos em
obrigações que objetivavam aplacar a ira de Deus e conceder méritos aos
usuários. Os ritos são interfaces de ensino sobre como transpor o impedimento
(devido ao pecado) entre Deus e a humanidade, além de demonstrações humanas de
fé e humildade no trato com os céus, nada concedendo em relação ao mérito
humano e consequente salvação.
Assim, os judeus criaram um
sistema religioso com abundância de regras, as quais eram ensinadas pelos
sábios, mas que somente eles as entendiam. O povo ficava aturdido e errava, por
exemplo, em achar que o sistema sacrifical, o próprio templo com suas cerimônias
e ritos eram suficientes para expiar seu pecaminoso procedimento. Foi
exatamente contra essa situação que Jesus se colocou, ofendendo aos sábios que
buscaram matá-lo. Todo o sistema judaico estava contaminado com as tradições
humanas, um resultado da sutil introdução dos princípios egoístas do sistema
religioso criado pelo inimigo, dando a este desafortunada supremacia.
Jesus ensinava e demonstrava,
através do seu comportamento, os princípios altruístas da Torá e, como
consequência, a partir dos doze discípulos, surgiu a igreja cristã. Porém, na
medida em que o tempo avançou, novamente as tradições humanas se impuseram. No
capítulo 8 do livro de Daniel aparece um chifre pequeno que falava como homem e
que tinha como meta mudar os tempos e a lei. Se Deus é o Senhor do tempo e a
Sua lei é a base do Seu governo, quando o homem tenta ostentar tais
responsabilidades, necessariamente afronta Deus. Logo, as tradições humanas que
se elevam sobre a Torá, e as mudanças nas ordenanças legais de Deus conformam
um sistema que tira de Deus o comando e a autoridade para salvar colocando o
homem no centro, no lugar de Deus. Essa estratégia tem sido exitosa em todos os
tempos.
A igreja cristã atual está
dividida em muitos ramos, os quais foram surgindo exatamente por causa dos
óculos das tradições humanas. A igreja adota a Palavra de Deus; mas as
tradições transmitidas de geração a geração, e as interpretações humanas das
Escrituras ocultam a verdade como é em Jesus. Perdeu-se a significação
espiritual das Sagradas Escrituras. O tesouro de todo o conhecimento está revelado,
mas os cristãos não o sabem.
Durante o percurso da história,
Deus tem buscado descontaminar a verdade. Na era pós Jesus Cristo, no século
XVI, Deus levantou o movimento da reforma, o qual teve Lutero como seu ícone.
Ali verdades que estavam sepultadas pelo entulho das tradições foram resgatadas.
Mas, outra vez o inimigo logrou êxito, por força da reintrodução das tradições
humanas. Como consequência, apareceram as igrejas protestantes entulhadas de
tradições. O inimigo assediou os crentes com a ideia de que o Antigo Testamento
deveria ser entendido como válido para dispensação judaica e, os protestantes
focaram no Novo Testamento. Porém, a interpretação das escrituras do Novo
Testamento sem o auxílio e sem os conceitos da Torá e dos profetas, torna muito
propício o ambiente para a entrada de interpretações humanas que sofrem
reinterpretações a cada geração. Com êxito o inimigo transformou a limpeza
realizada pelos reformadores em monturos de ensinamentos bíblicos entulhados
com interpretações humanas. É importante que se diga que a Bíblia interpreta a
si mesma. Para evitar a interpretação humana, Deus levantou os profetas, assim
devemos nos concentrar na Torá e nos profetas e nada mais (Mateus 7:12; Atos
24:14; Romanos 3:21).
Em 1844, depois de quase três
séculos de contaminação doutrinária, Deus levanta um novo profeta, a quem fora
dada a tarefa de limpar a verdade da contaminação protestante acumulada. Deus
concede a Ellen White o privilégio do dom profético. Todos os seus escritos são
uma advertência aos cristãos em relação às tradições e interpretações da
verdade. Ela escreve dizendo “[...] Pouco a pouco, a princípio de forma
discreta e silenciosa e depois mais às claras, à medida que crescia em força e
conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniquidade levou
avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente, os costumes do
paganismo ingressaram na igreja cristã. [...]E entrando o cristianismo nas
cortes e palácios dos reis, ele deixou de lado a humilde simplicidade de Cristo
e de Seus apóstolos em troca da pompa e do orgulho dos sacerdotes e
governadores pagãos; e, em lugar das ordenanças de Deus, colocou teorias e
tradições humanas. [...] A obra de corrupção progredia rapidamente. Embora
parecesse que o paganismo tinha sido derrotado, tornou-se o vencedor. Seu
espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições
incorporaram-se à fé e ao culto dos professos seguidores de Cristo (O Grande
Conflito, p. 49, 50).
Há atualmente dois sistemas
através dos quais os cristãos buscam a salvação: o sistema puro, no qual os
homens são salvos pela fé em Jesus, sendo que a fundamentação da vida do
cristão é o comportamento demonstrado por Jesus, quando andou entre os homens.
A cópia desse comportamento origina nos homens as boas obras. Estas serão examinadas
no juízo final e serão alegadas como atenuante diante das exigências da Lei de
Deus. Mas, é a fé em Jesus que na verdade salva, ou seja, acreditar nele,
copiando o seu caráter, sendo que no juízo final, Jesus nos representará e nos
aplicará as suas obras, daí a necessidade da fé Nele. De outro lado há o
sistema contaminado, no qual os homens buscam ser salvos por seus méritos e sem
mudança nenhuma nos seus caracteres. Quem pratica perseverantemente ritos
tentando aplacar a ira de Deus, ou quem ajuda seus semelhantes em troca da
salvação, ou quem paga para sistemas religiosos para obter perdão, todos estão
no segundo sistema de salvação. O mais malévolo e agravante desse segundo
sistema é a tentativa de transferir para a terra prerrogativas exclusivas de
Deus, como por exemplo sacerdotes que podem perdoar pecados. “Quando as
Escrituras são suprimidas e o homem passa a se considerar supremo, só podemos
esperar fraudes, enganos e injustiça degradante. Com a elevação das leis e
tradições humanas, ficou evidente a corrupção que sempre resulta de se deixar
de lado a lei de Deus” (História da Redenção, p. 331, 332).
“A única segurança agora, é
procurar como a tesouro escondido a verdade, exatamente como se acha revelada
na Palavra de Deus. Os assuntos do sábado, da natureza do homem, e do
testemunho de Jesus, eis as grandes e importantes verdades a ser compreendidas;
estas se demonstrarão qual âncora para firmar o povo de Deus nestes tempos
perigosos. A massa da humanidade, porém, despreza as verdades da Palavra de
Deus, e prefere as fábulas. Porque não receberam o amor da verdade para se
salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a
mentira” (2Ts 2:10,11; Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 300).
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