Os esboços proféticos do livro de
Daniel alertam com muita clareza sobre as altas estratégias usadas,
especialmente pelos homens insuflados por Lúcifer, para disseminar a ideia de
que não precisamos de Deus para a solução dos nossos problemas e dilemas, aqueles
que ameaçam nossa paz e sobrevivência.
Durante todas as eras, em muitas
ocasiões, imensas ameaças mortais foram enfrentadas pela humanidade. Nestas
ocasiões, a tecnologia humana foi evocada com razoável sucesso, dando a ilusão
de que nossa desenvolvida ciência sempre dará fim aos perigos que enfrentamos e
não necessitamos de ajuda externa ou mística originada nas religiões, porque
estas são também produtos da imaginação humana. Evidentemente, há nas religiões
fatias imensas de filosofia humana, tradições que acabam por cristalizarem-se em
dogmas, os quais são pura imaginação, nada tendo a ver com a realidade.
Qual é a realidade?
Como cidadãos da parte ocidental
do nosso planeta, fomos instruídos nos cânones do modelo filosófico
judaico-cristão. É muito importante ter ciência dessa dimensão construtiva do
nosso pensamento e da nossa ética. Por esse motivo, acreditamos num Deus
supremo e aceitamos a Bíblia como sendo Sua revelação sobre a realidade, a
espinha dorsal da nossa lógica existencial. Através da Bíblia, é-nos desvelada
a cortina do universo e, um fato histórico importante nos conta de uma guerra
no céu (Apoc.12:7-9). A partir dessa informação, nos damos conta de uma
realidade beligerante entre a divindade e o seu arqui inimigo, a chamada luta
entre o bem e mal. Essa realidade não está muito clara para a esmagadora
maioria das religiões. Porém, para judeus e parte dos cristãos sim.
A Bíblia nos informa que Deus
permitiu ao inimigo desenvolver suas ideias, de modo que este pudesse ser avaliado
e julgado com justiça por Deus e pelo universo. A Terra é, neste momento, um
teatro onde são expostos os princípios do governo de Deus e os pressupostos dos
argumentos do inimigo. Não vamos explicar agora por que a Terra, considerando
que isso é, por si só, assunto para um compêndio. Mas, a Terra e seus
habitantes são protagonistas que ensinarão ao universo sobre Deus e seu inimigo
e, segundo a Bíblia, Deus sairá vencedor com reconhecimento de todo universo.
Com esse pano de fundo vamos olhar um pouco a geopolítica durantes as várias
eras da civilização humana.
No processo civilizatório há
sempre um poder humano que, em determinado período, exerce comando sobre as
nações, influenciando-as, educando os jovens, comandando a ética sócio-política,
ditando comportamento socioeconômico, impondo sua cultura especialmente através
de sua língua. Quando observamos a geopolítica através das lentes bíblicas,
é-nos oferecida oportunidade de ver aspectos do grande conflito entre o bem e o
mal.
Há quase três mil anos atrás,
Deus desvelou ao profeta Daniel o panorama geopolítico desde os seus dias até o
final da história terrestre. Importante dizer que a referida revelação se deu
600 anos antes de Cristo, portanto, as informações que foram reveladas ainda
estavam no futuro. Nos capítulos 2, 7, 8, 9, 11, do livro de Daniel, são dadas
sequências históricas explicativas do modo como Satanás operaria através dos
homens a sua guerra contra Deus. Mostra-se nos referidos textos a superioridade
divina por sua onisciência, ao descortinar o que ainda estava encoberto e no
futuro. Para quem está atentamente observando a narrativa e se depara com a
onisciência de Deus, vem inevitavelmente a pergunta: por que Deus, sendo
onisciente, deixou seu inimigo agir? A resposta é inequívoca. Era necessário
que o inimigo revelasse cabalmente sua estratégia e suas intenções, de modo que
o julgamento final fosse justo. Afinal de contas, o universo está também
observando quem está com a razão. Estamos partindo da premissa de que os leitores
conhecem os motivos da guerra no céu.
Os reinos universais, são uma
estratégia para levar os homens para dentro das ideias de Satanás. Tais reinos
são a máxima hostilidade humana contra o governo divino. A essa altura de nossa
conversa, é importante lembrar algumas promessas de Satanás. No Éden, ele
ofereceu a Eva a oportunidade de ser igual a Deus (Gên.3:5). Tal promessa
envolve muita coisa, mas é notável que Eva acreditou que iria ter um aperfeiçoamento
mental (Gên.3:6-7) e, dizem os profetas que ela se sentiu mentalmente superior.
Desde então, os homens, sempre estimulados por Satanás, buscam descobrir os
segredos do universo, na tentativa de controlá-lo e, consequentemente,
tornarem-se deuses. Essa perspectiva é que deve ser focada quando se estuda a
história humana. Os reinos que conquistaram o mundo são a arrogância humana, de
acordo com o plano de Satanás.
O Primeiro grande momento narrado
na Bíblia sobre a arrogância humana está em Gênesis 11, quando os
pós-diluvianos resolveram fazer uma torre que sobressaísse a lâmina de água
resultante das chuvas e assim estariam a salvo. Além disso, propuseram elevar a
torre até as nuvens, onde se formaram as chuvas, deste modo poderiam estudar
como se produz chuva e poderiam interferir no fenômeno impedindo-o. Tal soberba
desafiava a Deus, sendo que houve uma drástica intervenção que os tornou
incapazes de coesões futuras. Nunca mais a humanidade seria capaz de produzir integrações.
As nações atuais resultam dessa incapacidade de coesão.
os reino universais foram
construídos na impossibilidade harmônica. Em cada momento histórico, um poder
esteve protagonizando a arrogância humana contra Deus. Os governos humanos
sempre estiveram em guerras, e tal espírito beligerante é exarcerbado porque
transgridem as leis, mudam os estatutos e quebram as alianças eternas. Porém, “Bem-aventurados
os que guardam os Seus mandamentos” (Apoc. 22:14). Todos os reis, todos os
governadores, todas as nações, são Seus e estão sob o domínio e autoridade do
Senhor Deus onipotente. (Comentários de Ellen G. White, no Comentário Bíblico
Adventista do Sétimo Dia, v. 6 p. 1081). Ainda que sejam os homens arrogantes,
o planeta pertence ao Deus do céu (Salm.24:1).
O primeiro reino universal foi
Babilônia de Nabucodonosor. Foi definido por Deus como “cabeça de ouro”. Sua
influência perdura até os dias atuais, uma vez que a matemática dos caldeus foi
a base para a matemática ocidental. Os estudos em astronomia foram muitíssimos
importantes para ciências aplicadas tais como, agronomia, navegação, entre
outras. Todavia, sua arrogância contra Deus foi fatal. O neto de Nabucodonosor
foi julgado e sentenciado por Deus, sendo substituído em seu domínio pelos
persas e os medos.
O segundo reino foi uma coalisão
entre a Média e a Pérsia. Neste período Daniel com 80 anos foi lançado na cova
dos leões, como consequência de ter desafiado um decreto que colocava o
soberano acima de Deus. Daniel era o responsável por um sistema de auditoria
que desbaratou desvios de recursos no reinado de Dario. Logo, os que foram
prejudicados buscaram apanhá-lo em alguma falta, sem lograrem êxito. Assim,
propuseram um decreto dando ao rei status divino e, espionaram a vida de Daniel
porque sabiam que este orava ao Deus Altíssimo. Conforme vimos acima, tudo está
sob o domínio e autoridade do Senhor dos céus. Numa fantástica demonstração de
onipotência e onipresença, Deus livra Daniel e julga seus acusadores, mortos na
mesma armadilha montada para Daniel. Os medos e persas fizeram grandes
contribuições à ciência ajudando a formar a ideia da arrogância humana. Eram
grandes na medicina, na engenharia, astronomia, matemática. Sua ciência
alcançou o apogeu muito depois no chamado império Bizantino, quando grandes
contribuições em todos os ramos do conhecimentos foram aportados e registrados
na história. Por força do intelecto bizantino, as ciências contemporâneas
alcançaram novas compreensões transformadas em tecnologias em uso atual.
O terceiro reino foi a Grécia, à
qual se dispensa muitos comentários sobre a sua capacidade influenciadora e
formatadora do pensamento ocidental hodierno. A arrogância grega é enorme por
conta da sua influente filosofia. No ocidente são mais conhecidos autores como
Sócrates, Platão e Aristóteles, este último com marcante incursão no pensamento
cristão. Todavia, há importantes nomes de filósofos pré-socráticos que formaram
toda a base lógica da ciência atual. Todo o raciocínio lógico ocidental moderno
ainda é grego, tal a força dessa civilização. Do ponto de vista do conflito
entre o bem e o mal, buscaram destruir a influência judaica criando um conjunto
de crenças na evolução natural, reencarnação, imortalidade da alma, entre
outras questões, numa demonstração de independência cultural distanciada da
Torá judaica. Foram sofisticadamente arrogantes diante dos céus, criando um
raciocínio que torna a filosofia e a ciência suficientes para explicar todas as
causas, dando ao homem uma dimensão de absoluta dominância sobre a natureza.
Tal arrogância determinou seu desaparecimento do cenário da liderança mundial,
sendo a Grécia atual apenas um endereço turístico.
O quarto reino é Roma. Estamos
colocando no presente porque este império está em andamento. Roma antiga
dominou um vasto território que englobava muitas nações. Governava com uma
característica ímpar: não destruía as culturas conquistadas. Todos poderiam
consolidar sua cultura, desde que pagassem impostos ao rei de Roma. Por esse
motivo o povo judeu, conquistado por Roma, manteve seu templo, seu sistema
religioso e político. Roma atual não é a capital do mundo, posto que esta é a
cidade de Washington nos Estados Unidos da América. Mas, em Roma está o
Vaticano, uma espécie de reserva moral para o orbi. Todavia, são os
Estados Unidos da América os que detém a liderança política e econômica no
mundo. Ora, se o quarto reino ainda está vivo, como se explica a liderança
americana?
Os símbolos americanos são os
mesmos de Roma. A águia, por exemplo, era também o símbolo de Roma. O latim
originou muitas expressões inglesas; a diplomacia utilizada por Roma na
vivência com os conquistados é a mesma empregada pelos americanos no processo
civilizatório atual, sendo que os países sob seu domínio diplomático usam a
língua inglesa como idioma comercial, tal qual Roma utilizava o latim.
Atualmente, a arrogância contra Deus se dá na confiança mundial nas tecnologias
geradas nos Estados Unidos, uma sensação de que qualquer problema humano poderá
ser resolvido pelos cientistas americanos. Porém, o sistema religioso criado
por Roma é a referência ética para o mundo. O Papa é igual a Deus, sendo essa
arrogância discutida pelo profeta Daniel. Toda essa construção humana está
destinada à destruição final. Irá prevalecer o reino do Altíssimo Deus,
conforme está demonstrado na Bíblia.
A escritora Ellen White diz que "Na história das nações o estudante da Palavra de Deus pode contemplar o cumprimento literal da profecia divina. Babilônia, fragmentada e por fim quebrantada, passou porque em sua prosperidade seus governantes tinham-se considerado independentes de Deus, atribuindo a glória do seu reino a realizações humanas. O domínio medo-persa foi visitado pela ira do Céu porque nele a lei de Deus tinha sido calcada a pés. O temor do Senhor não encontrou lugar no coração da grande maioria do povo. Prevaleciam a impiedade, a blasfêmia e a corrupção. Os reinos que se seguiram foram ainda mais vis e corruptos; e desceram cada vez mais na escala da dignidade moral. O poder exercido por todos os governantes da Terra é concedido pelo Céu; e seu sucesso depende do uso que fizerem dessa concessão". (Profetas e Reis, p.254)
O livro do profeta Daniel
apresenta o grande conflito entre o bem e o mal em dimensões amplas,
demonstrando também as estratégias de Deus ao lidar com o referido conflito. Os
homens estão em franca adesão à proposta de Satanás. Se articulam a despeito da
não unidade imposta por Deus. Porém, as coalisões humanas são frágeis e
dependem de lideranças impostas pela força, uma forma de impor unidade
improvável. O modelo de liderança humana é inspirado no sistema de competição
pensado por Satanás, como sendo a alternativa ao conceito de governo celeste. A
competição é a base da filosofia humana, ou seja, as explicações sobre as
causas dos fenômenos captados pelo consciente humano. Assim, prevalece o mais
forte e o mais apto. Essa ideia é a que move o comércio, é a base do sistema
educacional humano, é a meta de vida de todos sendo aceita também pelas
religiões. Essa ideia do mais forte fornece a percepção do homo deus aos
habitantes da Terra. Tal ideia ofende o Deus Altíssimo que julgará os homens e
tornará prevalecente o homem justo. O injusto, ou seja, o que é arrogante será
aniquilado. Aqui vimos que Deus tolera a arrogância humana para poder
esclarecer ao universo inteiro sobre a sua justiça e a excelência do seu
sistema de governo. É absolutamente esclarecedor ter essa compreensão a
respeito do meio que nos cerca. A leitura bíblica assume um colorido
deslumbrante, pois elucida sobre as posições assumidas pelos políticos
contemporâneos. Os homens estão envolvidos num conflito inteligentíssimo e
serão obrigados a um posicionamento que dependerá de usarem os óculos corretos
que permitirão discernir de que lado ficarão. O livro de Daniel é uma narrativa
da odisseia humana. Os filhos de Deus capturados pelo inimigo e submetidos a
situações de humilhação e desespero serão finalmente resgatados por Miguel; era
necessária certa demora para que ficasse cabalmente demonstrado o mal; todo
universo se regozijará porque a justiça de Deus será finalmente demonstrada.
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