Era o final de uma viagem a Belém do Pará, quando enfrentei
uma maratona muito cansativa como candidato ao posto de diretor do Museu
Paraense Emílio Goeldi. Fora uma semana de muita adrenalina e muita tensão,
considerando os eventos que ocorreram. Minha candidatura ao referido cargo fora
estimulada por um grupo de pessoas lideradas pelo Dr. José Seixas Lourenço,
nome muito experimentado e reconhecido como um dos mais importantes lideres da
academia amazônica, com incomensurável contribuição ao sistema de ciência e
tecnologia regional e nacional. O fato de ter sido estimulado pelo Dr. Lourenço
me deu muito ânimo e, deste modo, me lancei na empreitada. Também enfrentei
oposição pouco elegante e leal. O que resultou foi minha inclusão numa lista
tríplice, encabeçando a referida lista por determinação de uma comissão composta
por 4 experts definidos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e
Comunicação do governo brasileiro.
Era o dia 10 de fevereiro de 2018. Um dia que amanheceu com
muito sol. Havia feito arranjos para retornar num voo da Força Aérea. Estava
com a sensação do dever cumprido. Assim, cheguei a base aérea de Belém com
bastante antecedência. Os voos militares são muito incertos para civis e a antecedência
pode dissolver muitos problemas. Depois de confirmado o embarque, despachadas
as bagagens, esperava pacientemente a hora da decolagem.
O voo foi autorizado e decolamos com destino a Manaus
brindados com um céu muito limpo. A aeronave militar não oferece qualquer
conforto, mas a tripulação que comandava o voo era muito solícita. Belém foi
diminuindo sob nós e avançamos rumo a Santarém, uma escala necessária para
reabastecimento. Éramos uns vinte passageiros. A conversa enchia o ar enquanto
o avião ganhava altitude e prosseguíamos ao nosso destino intermediário. Tomei
meu tablet e abri um livro que estivera lendo, para concluir seu conteúdo.
Todos estavam muito animados e logo as primeiras duas horas do voo passaram e estávamos
sobrevoando Santarém. Fizemos um pouso tranquilo.
Após as dinâmicas corriqueiras, estávamos outra vez voando
para nosso destino. Nesta etapa também o céu estava limpo e nosso voo
transcorreu sem anormalidades. A tripulação buscou maior conforto para os
passageiros oferecendo café e a chance para ver a cabine de comando. Eu como
sou piloto aviador não quis ir até a cabine, mas quase todos foram. Considerei
uma atitude muito positiva da tripulação, uma interação oportuna. Assim, passadas
mais duas horas e já estávamos sobre Manaus. A paisagem próxima de Manaus é
muito impressiva. Muitos lagos ao longo do caudaloso Amazonas. Os lagos são como
fazendas onde os peixes encontram alimento e proteção, usando o rio apenas para
mudar de lago. Assim, pode-se ver nas proximidades de Manaus a bondade de Deus
disponibilizando lagos e muito peixe.
Manaus é uma bela cidade localizada num dos rios mais
bonitos que conheço. O sobrevoo feito pela aeronave militar foi muito diferente
daqueles realizados pelos voos comerciais. Da janela apreciamos um panorama
completo da orla da cidade a uma altitude reveladora de uma face manauara da qual
não tinha conhecimento. A cidade estava banhada pelo sol da tarde e suas cores
e contornos estavam à mostra. Ver a face de Manaus por aquele novo ângulo causou-me
uma sensação de alegria e de agradecimento por estar vivo e desfrutando daquela
cidade tão singular. Ainda voávamos sobre o rio Negro, passando por sobre a
majestosa ponte tendo a impressão que a terra crescia ante nossos olhos. A
aproximação à cabeceira da pista de pouso foi tranquila e finalmente tocamos no
solo. Meu cérebro assinalou aquela experiência e provocou em mim um tipo de
emoção muito feliz reconhecendo a benção de Deus por me ter dado uma cidade
para morar.
Havia eu participado de um certame para tornar-me o novo
diretor do Museu Goeldi. Agora, ao ver minha cidade novamente, estava cheio de
dúvidas se seria uma boa estratégia sair de Manaus, a cidade onde vivera muitos
e bons momentos. Orei a Deus entregando-lhe meu futuro.
A escolha do Diretor dependia agora da escolha do Ministro
pautada na indicação da lista tríplice entregue pela comissão acima referida.
Meu nome havia sido o primeiro e, pela lógica da meritocracia, eu deveria
assumir a direção do museu. Passaram-se os dias e finalmente saiu a decisão do
Ministro. Por força das negociações partidárias, a pessoa que estava em segundo
lugar fora a indicada. Ao receber a notícia agradeci a Deus por ter cuidado do
meu futuro e me permitido ficar na minha morena cidade.
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