Hoje escrevo porque Deus me
concedeu a subida honra de completar mais um ano. À medida que passa o tempo,
espera-se que a vida force aparecer mais tolerância, sensatez e sabedoria. Mas,
essas coisas não acontecem naturalmente, tolerância se pratica e se adquire
praticando, sensatez vem pela experiência vivida, pelos embates, porém se não
houveram embates e a vida foi vivida atoa, é pouco provável a aquisição de
sensatez. A sabedoria é ainda mais difícil, considerando que é necessária
adição de informação, e esta não é aditada automaticamente. Assim, viver é um a
aventura que pode ser calculada e pensada.
Minha vida tem sido uma grande
aventura com altos e baixos. Muitos altos e uns poucos baixos. Hoje, vivendo a
experiência da década dos sessenta, posso olhar para trás e ver, com muita
nitidez, o quanto fui dirigido por um Deus que tem se esforçado em dar-me o que
eu não teria pensado por mim mesmo.
Nasci numa família de classe
média, meu pai era um excelente Pastor e Professor, um homem muito culto que me
ensinou a olhar para o elevado e sofisticado. Em casa ouvíamos música clássica
e líamos livros biográficos para termos exemplos edificantes. A mim,
especificamente, minha mãe impunha a leitura bíblica onde histórias como a de
José e Daniel eram estudadas antes dos folguedos. Como qualquer jovem, às vezes
achava um pouco exagerado o jeito de minha mãe educar e, talvez, não tenha
aproveitado melhor o ambiente em casa. Minha mãe tinha paixão por música e
queria que os filhos fossem grandes músicos. Deu-nos o apoio para estudar
música, mas eu mesmo não compreendia totalmente o interesse de minha mãe.
Todavia, percebia que eu era dotado de dom musical, pois qualquer instrumento
me parecia fácil manusear. Mesmo assim, não dominei completamente nenhum.
Frustrei minha mãe.
Presentemente sei que Deus foi
muito generoso conosco. A mim deu-me mais que eu podia ter e deu-me estrutura
emocional e logística para desenvolver minhas capacidades. Sei que me deu boa
dose de aptidão para línguas e sempre soube que sabia lecionar. Deus foi mesmo
muito generoso.
Quando cheguei à idade de 17 anos
senti vontade de aprender a pilotar aviões. Eu sempre tive muita facilidade
para dominar máquinas, andava muitíssimo bem de bicicleta, motoneta e aprendi a
dirigir carros sem nenhum professor. Queria aprender a voar e matriculei-me no Aeroclube
do Pará, onde comecei as aulas teóricas e práticas e finalmente tornei-me um
piloto aviador. No avião nunca senti dificuldades, achava as manobras fáceis de
realizar e tinha imensa satisfação em pilotar. Minha coordenação motora sempre
foi muito boa e tornei-me um excelente piloto. Parti então para o curso de
piloto comercial, o aprendizado que daria possibilidades para assumir o comando
de aeronaves comerciais. Viajei a São Paulo para os exames médicos
obrigatórios, realizados pelo hospital da aeronáutica. Quando terminei os
exames, o médico que nos acompanhou me chamou ao seu gabinete para comentar os
resultados dos exames psicológicos e de saúde. O médico começou a entrevista
perguntando se eu sabia o que era ser um piloto. Fiquei intrigado com a
pergunta, mas não senti maldade na voz do médico, apenas um desejo de orientar.
Perguntei-lhe a razão da indagação. Ele respondeu-me afirmando que ser um
piloto não era essencialmente diferente de ser um motorista. Então mostrou-me o
resultado dos meus testes. Eu havia errado nove vezes. Normalmente, os que saíam
da média para cima, naqueles exames, erravam doze vezes; o meu resultado significava
que eu estava apto para tarefas mesmo mais complexas. Incentivou-me o doutor a
buscar realizar coisas ainda mais altas. Saí daquela entrevista com a sensação única
de vitória inesquecível. Minha vida como piloto não foi vivida como planejara,
mas sabia que poderia pensar em outras possibilidades.
Minha família não sonhava que eu
ingressasse na aviação, mas meu pai custeou inteiramente o curso de aviação, ou
seja, não tolheu meus sonhos dando-me asas para voar o quanto quisesse.
Logo veio a minha entrada na
universidade. Acabara de acontecer uma profunda reforma nacional no ensino superior
e tudo estava diferente. Fiz opção por medicina e quando cheguei para o curso,
logo compreendi que não era vocacionado para ser médico; não me via em
hospitais e nem passando a vida inteira com doentes. Desde muito cedo pensava
em pesquisa científica e minha entrada no curso de medicina tinha uma razão:
buscar o background para entender biologia e encontrar uma carreira de
pesquisas em patologia ou parasitologia, ou alguma linha correlata.
Quando alcancei o sexto período,
a universidade implantou o curso de Biologia. Então pensei em mudar de curso e
realizar meu sonho. Foi muito difícil, pois era senso comum que medicina era
uma carreira de elite e, no meu caso, não estar interessado era como se
sofresse de desequilíbrio. Assim, depois de uma intensa luta interior decidi
cursar Biologia. Nem preciso dizer que no seio da minha família a notícia caiu
como um raio. Causei muita tristeza e decepção, mas persisti no meu sonho. Meu
pai recomeçou a orgulhar-se quando assistiu minha defesa de tese de mestrado,
momento de grande contentamento e realização, quando logrei a nota dez com
louvor e distinção. Somente então passei da posição de vergonha para família,
para a de vencedor. Minha performance durante o mestrado fora muito boa, tendo
sido convidado a permanecer no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia –
INPA, ocupando uma posição como pesquisador. Meus planos não eram esses,
almejava ir para os USA onde pretendia fazer o doutorado. No entanto, aceitei e
comecei meu caminho como profissional da ciência.
Imediatamente saí para meu
doutoramento na Universidade de São Paulo – USP capital, (como afirmei, não
estava nos meus planos, mas nos de Deus) e em quatro anos defendia minha tese
doutoral na área de Zoologia, e novamente lograra nota dez com louvor e distinção.
Deus havia me abençoado de forma generosa. Neste período tive o privilégio de realizar
parte do doutoramento nos USA, na maior e melhor instituição de pesquisas do
mundo, o Smithsonian Institution, em Washington D.C.. Ali pude ver que Deus
estava no comando de tudo e que me levara para São Paulo com muita razão. Minha
formação pode alcançar densidade e ser refinada junto a uma das mais
importantes autoridades em Zoologia do mundo, o mesmo que insistiu para que eu fosse
para a USP. Percebi ali nos USA que se tivesse ido para lá e não para a USP,
não teria tido as mesmas oportunidades de aprender com profundidade.
Não passei por grandes
dificuldades em minha vida; sempre consegui ser fiel aos princípios religiosos
aprendidos no meu lar paterno e seguindo em frente com segurança, retornei à
Manaus, ao INPA, onde passei os melhores anos de minha existência. Pude viajar
muito, conhecer novas realidades científicas, novas culturas, fazer grandes
amizades, ser reconhecido como pesquisador no cobiçado cenário acadêmico,
tornando-me assessor da direção da minha instituição e depois ocupando posições
com projeção nacional e internacional. Deus me abençoou com capacidade
cognitiva, liderança, respeitabilidade. Agora, quando completo mais um ano de
vida, reconheço que sempre a mão do altíssimo esteve sobre minha vida, e por
essa razão louvo ao meu bom Deus por tudo que me permitiu viver até a presente
hora.
Hoje, depois ter caminhado por
essa estrada chamada vida, posso retro ver que fui capaz de abençoar muitos que
passaram pelo meu caminho. Formei mais de uma vintena de doutores e tenho, em
todos, grandes amigos. Mas, olhando para o futuro, quero continuar sendo bênção,
cada vez mais, de modo que o mundo possa sentir que estou nele. Meu grande
sonho é continuar me desenvolvendo, para alcançar compreensão ainda mais aguda
e profunda da realidade e, como consequência, poder ajudar ainda mais. Quero
ajudar na transformação de pessoas, especialmente aquelas que me permitem o
privilégio de sua amizade. É meu desejo poder catapulta-las a níveis de
consecuções mais elevados e ter a certeza de que o mundo também melhorou por
causa da existência dessas pessoas. Assim, vou continuar aprendendo e
desenvolvendo o meu pequeno potencial para que compreendendo melhor nosso
universo possa contribuir melhor para que outros vejam ainda mais perfeito que
eu mesmo.
Senhor meu Deus, agradeço
emocionado e com toda a minha capacidade de coração e alma, por todos os
benefícios recebidos das Suas bondosas e poderosas mãos. Reconheço que se não
fora a Sua presença constante, possivelmente meu caminho teria sido muito
diferente. Por Sua interferência, às vezes, muito direta, o Senhor foi traçando
a minha vida. Tudo o que sou e o que ainda serei, não dependeu e nem dependerá
de mim, mas a Sua graça foi suficiente para que eu vivesse e me tornasse
adulto. Meu desejo sincero é servir ao meu Deus todos os dias que ainda me
restarem. Quero seguir as ordens do meu Deus e quero obedecer voluntariosamente
ao que o Senhor ordenar. Obrigadíssimo Senhor por ter arquitetado minha estrada
e estou pronto para seguir nas Suas mãos. Amem.
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