domingo, 7 de maio de 2023

Nossa entrada no futuro sem o pecado

 

A profecia das 2.300 tardes e manhãs guarda informações preciosas que podem esclarecer aspectos ainda pouco explorados por estudiosos e interessados. Um deles está ligado ao interesse divino em salvar. Não é apenas uma questão ligada à hegemonia do governo divino, mas, um interesse vertiginosamente crítico em demonstrar a todos que salvar pessoas está muito além de interesses menores ligados à dicotomia do ganhar ou perder, por exemplo.

Para compreender a profecia das 2.300 tardes e manhãs é necessário tomar a relação dia/ano que está explícita em Números 14:34 e Ezequiel 4:6. Com essa relação, pode-se dividir a profecia em duas partes: 70 semanas (490 anos) separadas para o povo judeu, segundo a explicação do anjo a Daniel. E se diminuirmos 490 de 2.300 sobram 1.810 anos, estes destinados aos cristãos. Depois dos 2.300 anos, o anjo explica que o santuário celeste seria purificado; seria iniciado o juízo final. 

Quando estudamos a primeira parte da profecia, os 490 anos dados ao povo judeu, vemos que Deus enviou os profetas Joel, Obadias, Ageu, Zacarias, os quais, no período pós-exílio advertiram os judeus sobre o dia do Senhor e quais seriam os cuidados para não serem achados em falta. No livro de Joel há um chamado: “Ainda assim, agora mesmo diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal” (Joel 2:12-13). Joel ainda anuncia eventos que estão muito no futuro; fala do escurecimento sol e da lua e da queda das estrelas. Também menciona a adesão dos gentios ao sistema de Deus. Os profetas Ageu e Zacarias fizeram profecias que elevaram o moral do povo incitando-os a confiarem em Deus. As mensagens de Ageu foram idealizadas para despertar o abatido espírito do povo e inspirá-lo a realizar grandes coisas para Deus.

Estas situações históricas evidenciam a preocupação específica de Deus querendo tirar o povo de uma escravidão moral absurda e de uma ineficácia intelectual que os fazia andar para trás. Não era apenas o desejo de salvá-los, mas, além disso, a vontade de levá-los a um patamar de ação e de realizações próprias, ainda mais superior. É importante que se veja o destino pensado por Deus à família humana. Haviam sido criados para grandes consecuções, seu destino era a glória de Deus, ou seja, representar a Deus, logo, a obra de Deus não é somente salvar, mas, educar para realizações superiores.

Voltando às 70 semanas destinadas aos judeus (490 anos) na profecia das 2.300 tardes e manhãs, verificamos que nesse período o povo recebeu avisos, admoestações, súplicas para arrependerem-se, tiveram informações sobre como Deus trataria seus inimigos, se permanecessem fiéis, e qual deveria ser o seu comportamento diante de Deus. No final das 70 semanas aparece o Messias, o ungido que vai para o batismo e inicia seu ministério. Jesus passa a demonstrar, per si, o caráter de Deus. Disse ele: “quem vê a mim vê o Pai”. Assim, por contraste, curando as mazelas humanas, quer fossem problemas morais resolvidos através do perdão de pecados, quer fossem problemas físicos, curando doenças, Deus expõe a crueldade de satanás em oposição à bondade de Deus.

Aos judeus, as demonstrações do interesse divino no soerguimento da família humana para que alcançassem seu destino glorioso, duraram quase meio milênio. No final desse período, veio o esforço para explicar o processo salvífico, com ministração de aulas pessoais realizadas pelo próprio Messias, foi exaustivo. A principal instrução era o método para elevar vidas a um patamar não mais dependente de ajuda, mas, tornando-as vidas fomentadoras de benção aos demais, método lecionado diretamente por Jesus. Israel tinha ao seu favor todas as disposições divinas para ajudá-los. Fora estabelecida uma aliança. Adicionalmente, receberam dotações intelectuais que os capacitou para tornarem-se modelos ao mundo. Então, por que os judeus não atenderam?

A escritora Hellen White diz: “Foram tomadas amplas providências para que o homem finito e decaído possa estar tão ligado com Deus por meio da mesma Fonte pela qual Cristo venceu em Sua natureza humana [...]. É nosso privilégio possuir os mais altos atributos de Seu Ser, se por meio das providências tomadas por Ele nos apropriarmos dessas bênçãos e diligentemente cultivarmos o bem em lugar do mal. Temos razão, consciência, memória, vontade, afeições — todos os atributos que um ser humano pode possuir. Mediante a providência tomada quando Deus e o Filho de Deus fizeram um concerto para libertar o homem da escravidão de Satanás, foram providos todos os meios para que a natureza humana se unisse com a Sua natureza divina” (Mensagens Escolhidas v.3 p.130). Esta citação indica que não há razão à rejeição judaica.

Deus dotou a família humana com o atributo da razão. Então, todos temos duas dimensões relativas à razão: racionalidade e racionalização. A racionalidade, segundo estudiosos, nos habilita a sistematizar tudo o que nos rodeia e criar modelos que nos permitem pressentir, organizar colocando nexos em tudo que vemos. A racionalização significa a utilização de metodologias pré-estabelecidas para testar e comprovar o que fundamentamos através da nossa racionalidade; o fazemos através da dedução ou da indução. Muito do que submetemos à racionalização pode conter erros ou equívocos, pois partimos de premissas que, se não estiveram corretas, ou não nascerem de verdades incontestáveis, desembocarão inevitavelmente em erros. Os mestres judeus interpretavam as profecias relativas ao Messias através das tradições criadas pelos próprios sábios judaicos e não da interpretação dos profetas. Há na literatura humanística a figura do ‘imprinting’, significando que nascemos com o cérebro em branco, as primeiras impressões causadas pelos pais modelarão, de forma indelével, nossa maneira de ver e interpretar o mundo. O imprinting é um limite difícil de transpor, um impedimento intelectual que exerce poder sobre o que racionalizamos. O imprinting dos judeus era um Messias materialista e temporal que governaria com mão de ferro e conquistaria todos os opressores do povo judeu. Tal imprinting impediu de ver o Messias encarnado e homem de dores, conforme descreveu o profeta Isaías.

Conforme já mencionado, 2.300 anos menos 490 dado aos judeus, deixam 1.810 para a igreja cristã (judeus convertidos ao cristianismo + não judeus também convertidos ou gentios) que, segundo o anjo Gabriel disse ao profeta Daniel (Daniel 8 e 9), encerraram em 1844. Depois desta data, o Santuário seria purificado. Pelos cálculos percebemos que o período dado aos não judeus, ou seja, aos cristãos, é ainda mais elástico do que o que fora dado aos judeus. A igreja cristã passou por muitas provas e aflições, mas, já contava com o período histórico do Messias, que se tronara o modelo celeste, o Deus conosco, e ainda deixou o testemunho dos apóstolos e, adicionado a isto, ao longo da idade média e idade moderna tivemos o exemplo dos reformadores. O céu tomou providências de todas as ordens para que os cristãos pudessem aprimorar a sua própria experiência; ofereceu ajuda celeste adicionalmente às profecias marcadas pela cronologia histórica. “Fazemos parte da grande teia da humanidade, e mútua influência passa de um para outro, não somente na igreja, mas a família no Céu e a família sobre a Terra se unem, a fim de que Cristo Se torne um poder no mundo. Todas as joias da verdade transmitidas a patriarcas e profetas, que se têm acumulado no decorrer dos séculos e de geração a geração, devem ser reunidas como depósitos hereditários” (Hellen White, Este dia com Deus, 10 de junho).

Para os cristãos está dada a maior oportunidade para que alcancemos níveis superiores de racionalidade. Juntamente com isto, o céu traçou metodologias para interpretação das profecias e dos rituais, ou seja, deixou padrões de racionalização com a finalidade de tronar, mais que possível, nossa entrada no futuro sem o pecado. A questão que deve ser urgentemente equacionada é: quais racionalizações estamos adotando e quais imprintings estão nos impedindo? Não estamos falando de quais teólogos seguir quantos as interpretações sobre as 2.300 tardes e manhãs, mas, de como estamos nos posicionando por saber sobre a cronologia, uma vez que sabemos dos tempos e que é chegada a hora do juízo. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Tremendo! Cada geração leva nos ombros sua responsabilidade de escolha e decisões, a cada geração Deus revelou e revela seus propósitos através de sua palavra escrita, de sua palavra encarnada e da ação poderosa do Espírito Santo (O Consolador) que nos convence do pecado, da justiça e do juízo.