Em 07 de março de 2021, o Pastor
Reinaldo Siqueira fez um sermão para a Igreja Adventista da Cachoeirinha,
Manaus, Amazonas, onde identificou que existem quatro tabernáculos de Deus.
Disse o Pastor que o primeiro tabernáculo é o terrestre (o do deserto e os
demais construídos em Israel), o segundo é o tabernáculo celestial, do qual os
terrestres eram espelhos, ou edifícios em cuja planta estava o conceito do
tabernáculo celeste, o terceiro era o corpo humano e o quarto era um
tabernáculo no tempo, definido pela sacralidade do Shabbat.
Desses tabernáculos, o que nos
chamou atenção foi o tabernáculo do corpo humano. Usando o texto de Êxodo
25:8 “E me farão um santuário, e
habitarei no meio deles”, o Pastor Siqueira explicou que no hebraico há o
entendimento de que habitar no meio deve ser melhor entendido como habitar
neles ou no interior da pessoa. Tal compreensão traz uma dimensão especial para
o tabernáculo, sendo que Deus não quer uma casa, mas, um relacionamento. Quem compreendeu
que uma casa não era a solicitação de Deus foi Salomão.
Definitivamente, relacionamentos
somente ocorrem quando ideias estão em casamento. Pessoas que pensam de forma
semelhante tendem a ter relacionamentos densos. Assim, o fato de terem os
israelitas um tabernáculo e dentro dele a presença de Deus, parece ser apenas a
motivação para que o edifício fosse um difusor de ideias sobre Deus e sobre a
realidade celeste, ideias que deveriam ir, paulatinamente, sendo ensinadas para
que fizessem parte do dia a dia dos israelitas, e assim, Deus habitaria neles.
O conceito do tabernáculo como
sendo o corpo humano é de profundo entendimento. Deus habitar nos corpos
humanos é muitíssimo diferente do comportamento das outras divindades
conhecidas pelos pagãos, as quais eram um reflexo da compreensão humana de si
mesmo. Eram deuses vingativos, vivendo em lugares proibidos ao homem, tendo que
ser apaziguados para se tornarem amistosos e favorecedores para as atividades
humanas. O relacionamento entre as divindades e as sociedades humanas era
nenhum.
O Deus Altíssimo é completamente
antagônico ao raciocínio pagão, vivendo não distante do homem, mas,
surpreendentemente dentro do homem. Por isso, o relacionamento é o alvo. Deus
não apenas quer fazer prevalecer sua ideia, mas, na liberdade do homem, ele se
oferece para morar nele, conforme disse: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém
ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e
ele comigo” (Apocalipse 3:20).
O apostolo Paulo reitera a ideia
do corpo como tabernáculo dizendo: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e
que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus
o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Coríntios 3:16-17).
A apreensão dessa dimensão da habitação de
Deus é um divisor de águas entre o evangelho eterno e todas as versões teológicas
não cristãs. Unicamente Deus habitando nos homens poderia acontecer a
santificação dos atos humanos. Então, é bom definirmos o que é santificação. É
o adquirir comportamento semelhante ao de Deus.
Durante a guerra fria, os
documentos tornaram público a maneira como os Estados Unidos tratavam espiões
russos, cooptando-os para ajudarem os americanos. Era necessária uma lavagem
cerebral, a qual era realizada com aplicação química de substâncias que
arrancavam da memoria todos os pressupostos que originalmente traziam, e depois
eram submetidos a seções intermináveis de doutrinamento com repetição exaustiva
de outros pressupostos, de modo a criar uma nova maneira de pensar, semelhante
a um americano. Embora esse exemplo não seja adequado para fazer um paralelo
com o que Deus pretende habitando em nós, pelo menos, demonstra que ideias
novas precisam ser gravadas retirando-se as antigas. A conversão de alguém
passa por um processo de reeducação, ou seja, a implantação consentida de novas
ideias que deverão sobrepujar as que estavam sedimentadas. Em Isaias 55:7 vemos
essa ideia: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus
pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o
nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. O assunto aqui é que o homem deve
deixar para traz os seus pressupostos que o levam a comportar-se de forma
maligna, fora dos padrões altruístas dos céus, modificando as amarguras e
indiferenças em relação ao seu próximo, buscando transformar o seu pensamento,
modificando-o pelos conceitos de misericórdia, riquezas encontradas no
pensamento divino.
Assim como no santuário físico era
vedada a entrada de pessoas comuns, não sacerdotes, tendo como premissa que a
contaminação moral carregada por todos os homens contaminaria o santuário,
também, no santuário do corpo, a entrada de aberrações morais contamina. Jesus reiterou essa possibilidade de
contaminação do templo do corpo, quando disse: “A candeia do corpo são os
olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se,
porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a
luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6:22-23).
Porém, além da contaminação
moral, há a contaminação física do templo do corpo, realizada através da ingestão
de substâncias via alimentação ou outras formas. Não estamos abordando uma
questão trivial. Se o santuário é a morada de Deus, qualquer elemento contaminador
provocará a inadequabilidade da habitação para Deus, uma vez que Ele é luz e não
há nEle treva alguma. É fundamental lembrar que Deus quer um santuário para
habitar nele. E por que Deus quer habitar em nós? Porque fomos feitos à sua
imagem e o pecado desvirtuou essa essência. Fomos criados para ser os
demonstradores dos benefícios de observar a Lei de Deus, através de quem os
mundos todos aprenderiam sobre Deus. Mesmo com as consequências da queda,
aqueles que compreendem esse papel são estudados pelos mundos não caídos (I
Coríntios 4:9).
Se queremos adorar Deus devemos
entender que a verdadeira adoração é o diálogo com Deus. Então, tudo o que pode
impedir a fluidez do diálogo com Deus deverá ser evitado. Esse diálogo ocorre
pela leitura da palavra de Deus e sua correta interpretação. Deus habitará
conosco na medida em que lermos e praticarmos suas demandas. Logicamente que
interpretações incorretas levarão a comportamentos incorretos. Mentes com
obstruções químicas (algumas destroem a mente) certamente provocarão incapacidade
cognitiva e impossibilidade para compreender comandos. Os comandos somente
poderão ser obedecidos na razão direta da compreensão dos fundamentos que
embasam a ordem. Se não os compreendemos, vamos procurar inventar alguma explicação
e, neste caso, será o que determinamos e não o que Deus pede. Aí está a razão
de tantas religiões e seus credos.
O tabernáculo mais importante é o
do corpo. Conforme Paulo disse: “Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no
evangelho de seu Filho[...]” (Romanos 1:9). Espírito é sinônimo de mente, logo,
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação
do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e
perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Portanto, é na mente onde ocorre a
adoração ou a comunicação e o diálogo com Deus, ou seja, é o lugar onde Deus
habita. Todo cuidado com o corpo deve ser considerado dever sagrado, pois é
através do corpo que o Deus transcendente se torna imanente.
Finalmente, a imanência de Deus
não pode ocorrer através de um edifício, porque não há nenhum que possa
conte-Lo, somente a mente humana. Logo, nenhum tabernáculo terrestre poderia
servir de morada para Deus. Na oração de Salomão, o sábio expressa: “Mas, na
verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te
poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (I Reis8:27). Assim,
o santuário terrestre não fora erigido para ser a habitação de Deus com os
homens, mas, era o grande centro difusor de conhecimento que, uma vez colocado
no cérebro humano, provoca comportamentos, o homem passaria a agir semelhantemente
a Deus e, neste aspecto, Deus estaria habitando dentro dos homens, realizando
assim a missão dada na criação, qual seja, a de demonstradores ou ensinadores
da Lei ao universo.