terça-feira, 9 de março de 2021

A principal habitação de Deus

 

Em 07 de março de 2021, o Pastor Reinaldo Siqueira fez um sermão para a Igreja Adventista da Cachoeirinha, Manaus, Amazonas, onde identificou que existem quatro tabernáculos de Deus. Disse o Pastor que o primeiro tabernáculo é o terrestre (o do deserto e os demais construídos em Israel), o segundo é o tabernáculo celestial, do qual os terrestres eram espelhos, ou edifícios em cuja planta estava o conceito do tabernáculo celeste, o terceiro era o corpo humano e o quarto era um tabernáculo no tempo, definido pela sacralidade do Shabbat.

Desses tabernáculos, o que nos chamou atenção foi o tabernáculo do corpo humano. Usando o texto de Êxodo 25:8  “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”, o Pastor Siqueira explicou que no hebraico há o entendimento de que habitar no meio deve ser melhor entendido como habitar neles ou no interior da pessoa. Tal compreensão traz uma dimensão especial para o tabernáculo, sendo que Deus não quer uma casa, mas, um relacionamento. Quem compreendeu que uma casa não era a solicitação de Deus foi Salomão.

Definitivamente, relacionamentos somente ocorrem quando ideias estão em casamento. Pessoas que pensam de forma semelhante tendem a ter relacionamentos densos. Assim, o fato de terem os israelitas um tabernáculo e dentro dele a presença de Deus, parece ser apenas a motivação para que o edifício fosse um difusor de ideias sobre Deus e sobre a realidade celeste, ideias que deveriam ir, paulatinamente, sendo ensinadas para que fizessem parte do dia a dia dos israelitas, e assim, Deus habitaria neles.

O conceito do tabernáculo como sendo o corpo humano é de profundo entendimento. Deus habitar nos corpos humanos é muitíssimo diferente do comportamento das outras divindades conhecidas pelos pagãos, as quais eram um reflexo da compreensão humana de si mesmo. Eram deuses vingativos, vivendo em lugares proibidos ao homem, tendo que ser apaziguados para se tornarem amistosos e favorecedores para as atividades humanas. O relacionamento entre as divindades e as sociedades humanas era nenhum.

O Deus Altíssimo é completamente antagônico ao raciocínio pagão, vivendo não distante do homem, mas, surpreendentemente dentro do homem. Por isso, o relacionamento é o alvo. Deus não apenas quer fazer prevalecer sua ideia, mas, na liberdade do homem, ele se oferece para morar nele, conforme disse: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apocalipse 3:20).

O apostolo Paulo reitera a ideia do corpo como tabernáculo dizendo: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Coríntios 3:16-17).

 A apreensão dessa dimensão da habitação de Deus é um divisor de águas entre o evangelho eterno e todas as versões teológicas não cristãs. Unicamente Deus habitando nos homens poderia acontecer a santificação dos atos humanos. Então, é bom definirmos o que é santificação. É o adquirir comportamento semelhante ao de Deus.

Durante a guerra fria, os documentos tornaram público a maneira como os Estados Unidos tratavam espiões russos, cooptando-os para ajudarem os americanos. Era necessária uma lavagem cerebral, a qual era realizada com aplicação química de substâncias que arrancavam da memoria todos os pressupostos que originalmente traziam, e depois eram submetidos a seções intermináveis de doutrinamento com repetição exaustiva de outros pressupostos, de modo a criar uma nova maneira de pensar, semelhante a um americano. Embora esse exemplo não seja adequado para fazer um paralelo com o que Deus pretende habitando em nós, pelo menos, demonstra que ideias novas precisam ser gravadas retirando-se as antigas. A conversão de alguém passa por um processo de reeducação, ou seja, a implantação consentida de novas ideias que deverão sobrepujar as que estavam sedimentadas. Em Isaias 55:7 vemos essa ideia: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. O assunto aqui é que o homem deve deixar para traz os seus pressupostos que o levam a comportar-se de forma maligna, fora dos padrões altruístas dos céus, modificando as amarguras e indiferenças em relação ao seu próximo, buscando transformar o seu pensamento, modificando-o pelos conceitos de misericórdia, riquezas encontradas no pensamento divino.

Assim como no santuário físico era vedada a entrada de pessoas comuns, não sacerdotes, tendo como premissa que a contaminação moral carregada por todos os homens contaminaria o santuário, também, no santuário do corpo, a entrada de aberrações morais contamina.  Jesus reiterou essa possibilidade de contaminação do templo do corpo, quando disse: “A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6:22-23).

Porém, além da contaminação moral, há a contaminação física do templo do corpo, realizada através da ingestão de substâncias via alimentação ou outras formas. Não estamos abordando uma questão trivial. Se o santuário é a morada de Deus, qualquer elemento contaminador provocará a inadequabilidade da habitação para Deus, uma vez que Ele é luz e não há nEle treva alguma. É fundamental lembrar que Deus quer um santuário para habitar nele. E por que Deus quer habitar em nós? Porque fomos feitos à sua imagem e o pecado desvirtuou essa essência. Fomos criados para ser os demonstradores dos benefícios de observar a Lei de Deus, através de quem os mundos todos aprenderiam sobre Deus. Mesmo com as consequências da queda, aqueles que compreendem esse papel são estudados pelos mundos não caídos (I Coríntios 4:9).

Se queremos adorar Deus devemos entender que a verdadeira adoração é o diálogo com Deus. Então, tudo o que pode impedir a fluidez do diálogo com Deus deverá ser evitado. Esse diálogo ocorre pela leitura da palavra de Deus e sua correta interpretação. Deus habitará conosco na medida em que lermos e praticarmos suas demandas. Logicamente que interpretações incorretas levarão a comportamentos incorretos. Mentes com obstruções químicas (algumas destroem a mente) certamente provocarão incapacidade cognitiva e impossibilidade para compreender comandos. Os comandos somente poderão ser obedecidos na razão direta da compreensão dos fundamentos que embasam a ordem. Se não os compreendemos, vamos procurar inventar alguma explicação e, neste caso, será o que determinamos e não o que Deus pede. Aí está a razão de tantas religiões e seus credos.

O tabernáculo mais importante é o do corpo. Conforme Paulo disse: “Porque Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho[...]” (Romanos 1:9). Espírito é sinônimo de mente, logo, “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Portanto, é na mente onde ocorre a adoração ou a comunicação e o diálogo com Deus, ou seja, é o lugar onde Deus habita. Todo cuidado com o corpo deve ser considerado dever sagrado, pois é através do corpo que o Deus transcendente se torna imanente.

Finalmente, a imanência de Deus não pode ocorrer através de um edifício, porque não há nenhum que possa conte-Lo, somente a mente humana. Logo, nenhum tabernáculo terrestre poderia servir de morada para Deus. Na oração de Salomão, o sábio expressa: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado” (I Reis8:27). Assim, o santuário terrestre não fora erigido para ser a habitação de Deus com os homens, mas, era o grande centro difusor de conhecimento que, uma vez colocado no cérebro humano, provoca comportamentos, o homem passaria a agir semelhantemente a Deus e, neste aspecto, Deus estaria habitando dentro dos homens, realizando assim a missão dada na criação, qual seja, a de demonstradores ou ensinadores da Lei ao universo.

 

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

O algoritmo para a salvação

 

No livro de Levítico, no capítulo 6 há uma importante informação sobre como ressarcir atos de injustiça: “FALOU mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Quando alguma pessoa pecar, e transgredir contra o SENHOR, e negar ao seu próximo o que lhe deu em guarda, ou o que deixou na sua mão, ou o roubo, ou o que reteve violentamente ao seu próximo, ou que achou o perdido, e o negar com falso juramento, ou fizer alguma outra coisa de todas em que o homem costuma pecar; será pois que, como pecou e tornou-se culpado, restituirá o que roubou, ou o que reteve violentamente, ou o depósito que lhe foi dado em guarda, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo sobre que jurou falsamente; e o restituirá no seu todo, e ainda sobre isso acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua expiação. E a sua expiação trará ao SENHOR: um carneiro sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação, para expiação da culpa trará ao sacerdote; e o sacerdote fará expiação por ela diante do SENHOR, e será perdoada de qualquer das coisas que fez, tornando-se culpada” (Lev.6:1-7).

O texto bíblico é a base teórica para explicar o porquê morremos, além de ser fundamental para explicar a oferta de Deus pelo pecado para salvar o homem.

Há uma verdade garimpada do texto de Levítico pela qual entendemos que qualquer ato de injustiça, ou seja, sempre que se retira de alguém algo que lhe é dado por justo, quem o retirou, seja violentamente ou enganando, será obrigado a restituir em dobro, porque estando em poder de outrem o bem perdia valor pelo desgaste.  Este processo de restituição a língua hebraica chama de expiação.

O sacrifício de Jesus, destacado no capítulo 53 do livro de Isaías, tinha a meta de fazer expiação (ressarcimento) de um roubo cometido contra Deus, ou seja, a apropriação indébita de um bem pertencente a Deus e que fora roubado pela humanidade, na pessoa de Adão. Isaías fala que a vida do Servo seria uma oferta pelo pecado que o Servo não cometera. O raciocínio remete à ideia do uso indevido de algo que pertencia a Deus, e cuja reparação envolvia um sacrifício. O Servo deveria ser levado como ovelha ao matadouro em prol de pessoas. A pergunta que surge é: Qual objeto ou bem está sendo usado pela humanidade indevidamente?

Lembremos do nascimento de Adão.  Em Gênesis 2 lemos que “[...] e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”, significando que a vida não era inerente ao homem, mas, uma doação de Deus. Logo, a vida do homem pertence a Deus, ou seja, há uma aliança feita com o homem para o usofruto da vida.

A queda do homem fez com que a aliança original fosse transferida para o inimigo. Adão tomou a vida que era viera de Deus e entregou-a a Lúcifer. Portanto, desde então a humanidade usa indevidamente um bem que pertence a Deus. Assim, de acordo com a lei levítica, deve haver ressarcimento a quem foi roubado, em outras palavras, deverá ocorrer a expiação. Porém, a previsão legal é que o ressarcimento deverá ser em dobro. Nestas circunstâncias, como a humanidade poderá ressarcir a vida em dobro, se não há vida própria na humanidade?

A morte humana é a maneira de haver compensação pela injustiça realizada. Com a morte, a vida é devolvida a Deus. Salomão diz que: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12:7). Todavia não há justiça nos homens (não nenhum justo; Salmos 143:2) para que possam realizar expiação, assim, seria necessário que a expiação fosse realizada por alguém justo, inclusive possuindo vida. Acontece que roubamos de Deus a vida que dEle recebemos, entregando nosso comportamento ao sistema do inimigo. Nos comportamos de acordo com os padrões injustos de Lúcifer, fazendo obras que são muito diferentes das obras justas do reino do Céu. Arrependimento significa ressarcimento de injustiças. Logo, a resposta de Zaqueu (Lucas 19) demonstra que ele estava disposto a ressarcir a quem de direito, tendo ouvido de Jesus que a salvação chegara à sua casa.

A morte de Jesus pagou o preço justo por nossas injustiças, por nosso roubo a Deus, um preço que não podíamos pagar, pois exigia pagamento em dobro de um bem (a vida) que não possuímos. Jesus, tendo encarnado, mas, sendo Deus, representou Adão, ou a humanidade fazendo o ressarcimento por nós, pois sendo Deus possuía vida inerente. Agora, a humanidade está coberta, mas, necessita oferecer algo de si mesma. Não seria justo que o preço pago caísse somente em alguém inocente, mas, plenipotenciário para efetuar a expiação. Portanto, a humanidade deve seguir, pela fé, a Jesus, materializando a sua fé na execução de boas obras, que são obras de justiça, em favor dos irmãos, criando uma espécie de crédito diante da Lei e diante de Deus, o qual a Bíblia chama de justificação.

A Bíblia está cheia de informações sobre como estimular o céu para que nos ofereça o referido crédito. Os discursos de Jesus estão repletos de ensinamentos sobre o fazer boas obras. Por exemplo, “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil” (Mateus 5:23-26). “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12). Além disso, Salomão (Provérbios 12:21) afirma que “Nenhum agravo sobrevirá ao justo, mas os ímpios (os que cometem injustiças) ficam cheios de problemas”.

Paulo, o apóstolo dos gentios, a quem fora dada a missão de realizar a transição do judaísmo para o cristianismo é enfático em demonstrar como as boas obras são significativas para o cristão, quem recebeu o perdão da dívida para com Deus. Diz Paulo: “Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens” (Tito 3:8). “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras” (Hebreus 10:24).

Nossa justificação gera um crédito positivo dando-nos a chance de fazer a expiação por causa de termos roubado de Deus a vida que era dEle, entregando-a ao inimigo. A eficácia das boas obras, pela fé em Jesus, nos propicia o adjetivo de benditos. Jesus tornou-se propiciação para todos que o receberam, ou seja, todos que creram que o modo de viver demonstrado por Jesus é a verdade. Assim, por fé em Jesus, imitando-o podemos ser justificados, sendo-nos creditado o sacrifício de Jesus como pagamento de nossa dívida com Deus, sendo, portanto, poupados da morte ou do ressarcimento por nós mesmos. As boas obras em favor dos irmãos são consideradas como feitas ao próprio Deus (Mateus 25:40), logo, o processo de expiação realizado por Cristo, bem como o tomar a nossa cruz e seguir a Jesus, são os membros de uma equação que formam o algoritmo para a salvação. Assim foi que Moisés prescreveu: “Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Dize aos filhos de Israel: Quando homem ou mulher fizer algum de todos os pecados humanos, transgredindo contra o SENHOR, tal alma culpada é. E confessará o seu pecado que cometeu; pela sua culpa, fará plena restituição, segundo a soma total, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e a dará àquele contra quem se fez culpado” (Números 5:5-8).

 A questão importante aqui é entendermos que não temos como pagar a “plena restituição, segundo a soma total”, porque a moeda requerida é a vida, e esta não a tem a humanidade. Assim, cabe-nos necessariamente a segunda parte, qual seja, “e lhe acrescentará a sua quinta parte, e a dará àquele contra quem se fez culpado”, que é a concretização de boas obras.