segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

De volta para o futuro

 


Dias atrás ouvi uma equipe de pessoas comentando em um canal de mídia, sobre o livro de Isaías. Era um programa que tinha o objetivo de levar esclarecimentos sobre a verdade bíblica, com foco missionário. Da explanação participavam vários interlocutores, um deles com ares professorais, emitia conceitos vagos e muito propícios a não exigirem sacrifícios morais de quem os ouvia. Numa das infelizes afirmativas, advogou a tese de que é quase impossível adquirir excelência moral, uma vez que somos pecadores. Dizia o confiante e quase arrogante professor, que a santidade é inalcançável por conta da nossa incapacidade de praticar obras justas. Além disso, o modelo Jesus, segundo a interpretação daquele mestre crente, era muito diferente de nós, uma vez que ele não tinha tendência para pecar. Já nós, por nosso turno, somos inferiores, deixando implícito na sua argumentação, sermos quase predestinados ao pecado.

Esta compreensão sobre a humanidade de Jesus é erroneamente imperdoável, pois o apóstolo Paulo afirma que “Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo” (Hebreus 2:17). Outra vez, o mesmo Paulo informa: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4:15). O problema está na última frase, sem pecado, a qual gera interpretações como a deste mestre.

Ora, se em tudo Jesus era semelhante a nós, sendo tentado em tudo, a vantagem enxergada pelo professor que explanava evidentemente não existe. Logo, não temos qualquer inferioridade moral que nos imponha limites em relação ao padrão exigido pelo Céu. Essa noção vem do catolicismo, o qual informa e insiste na superioridade do clero, sendo o Papa santo, mas, o restante da humanidade é inferior e dependente dos favores clericais.

A exigência bíblica não é evasiva, mas sim, direta: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2). Outra vez diz, “Portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR vosso Deus” (Levítico 20:7). Este comando não contém qualquer argumento dúbio, do tipo procurai ou fazei o possível para serdes santos. É uma afirmação categórica. Uma exigência de Deus, quem sabe perfeitamente ser possível alcançar aquele nível moral, considerando que os homens são semelhantes a Deus, têm independência moral.

A pergunta que devemos fazer é: como operar o requerido nível moral? Jamais hesitar com ideias limitantes ou pretensas imposições por força da nossa natureza pecaminosa. Advogando a impossibilidade da santidade estamos atribuindo a Deus injustiça, porque nos demanda o que não nos é possível. Então, como adquirir a força moral que havia em Jesus?

Deus não nos deixou lutando como cegos. Desde que o pecado entrou no mundo tem Deus procurado trazer a humanidade ao estado em que Adão estava antes da queda. Entendamos essa questão. Nossa fonte de conhecimento sobre o estado inicial do homem é a Bíblia. No capítulo primeiro de Gênesis estão as bases para entendermos como era moralmente Adão ao ser criado. Toda a narrativa da criação foi construída para que entendamos o sistema cooperativo de Deus utilizado para construir a Terra. O livro dos Salmos, no capítulo 19, faz referência ao sistema de cooperação quando explica que “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite”. O SDA Bible Commentary explica que “[...] um dia transmite ao dia seguinte o relato do poder de Deus. O testemunho infindável impressiona: sem pausa nem mudança a história maravilhosa segue”, significando a continua relação de cooperação entre os domínios e o povoamento destes. Então, o homem foi trazido ao mundo e envolvido pelo sistema cooperativo de Deus, o qual estava explícito no Éden, para que aprendesse e se mantivesse em tal estado. Logo, a queda foi a escolha moral de um sistema diferente daquele no qual fora trazido à vida.

A santidade é um estado moral no qual os seres humanos voltam ao estado inicial de Adão. Na situação em que se encontrava Adão ao surgir para a vida, não havia tendência para o pecado, uma vez que o sistema moral no qual estava vivendo o mantinha cooperativo. Então, se não havia tendência para o pecado, por que pecou? Pecou porque era um ser moral livre. Tinha liberdade para escolher outro sistema moral. Assim, escolheu. No novo sistema moral, todos os atos são contrários ao sistema no qual estivera antes. Portanto, sua nova tendencia era sempre pecar em relação ao sistema moral anterior. Por essa razão, todos os que nasceram através de Adão no pós-queda, aprendem a pecar porque imitam seus pais. A pergunta que surge é: não podemos escolher não viver no sistema em que nos colocou Adão?

A resposta está em Jesus Cristo. Ele nasceu de uma mulher e, na condição humana, para Ele estavam disponíveis os dois sistemas, o de Deus e o deste mundo, assim como estão disponíveis para todos os humanos.

Como podemos escolher?

Desde a queda, ou seja, desde que Adão pecou, o Céu vem buscando trazer de volta o homem para o sistema de Deus. O próprio Deus ensinou o caminho para regressar ao sistema cooperativo, imolando um cordeiro. O sacrifício tornou-se imprescindível porque o sistema moral para onde caíram os homens requer a competição e a cobiça. O sistema sacrifical ensinava o caminho moral para evitar a competição e a cobiça. Especificamente, doação, sacrifício sempre implica em negação do eu, abnegação. O sistema da competição exalta o eu porque rivalizamos.

Todos os patriarcas do Antigo Testamento usaram o sacrifício como a forma para dizer a Deus da sua opção moral pelo sistema de Deus. Deveriam praticar atos que fossem confirmando a sua escolha, logo, separaram-se dos chamados filhos dos homens para evitar o aprendizado moral da competição e da cobiça, o qual era praticado nas cidades. Então, na natureza, onde o sistema de Deus está operando, mesmo a despeito da queda, seria o ambiente escola onde os patriarcas veriam a cooperação em andamento,  em operação.

Conforme crescia a população humana, foram sendo criados agrupamentos humanos e, nestes ambientes, os jovens aprendiam com os adultos a viver o sistema da competição, logo, tendiam a pecar em relação ao sistema da cooperação. Porém, não lhes estava proibido a prática do sistema da cooperação. Reitero que a tendência para o pecado é, na verdade, o estar mergulhado no sistema antagônico ao de Deus.

Com a vinda do Messias, nascido de mulher, portanto, homem sujeito a todas as circunstâncias humanas, e tendo Ele escolhido não estar no sistema da competição, mas, no da cooperação, teve em sua mãe sua professora. Jesus nasceu numa cidade, onde o sistema da competição comanda moralmente a população. Mas, escolheu não ser educado e nem se utilizar deste sistema. Obviamente, para nós esta possibilidade de escolha de um dos sistemas também existe. No entanto, Jesus não frequentou a escola dos rabinos, portanto, sua educação foi no sistema de Deus. Logo, viveu moralmente de forma muito diferente da dos seus contemporâneos. Por essa razão, Ele é o nosso exemplo.

Para aqueles que nasceram e foram educados no sistema da competição, Jesus ensina como sair e ser reeducado. Na entrevista com Nicodemos Ele enfatiza o novo nascimento. É necessário que seja oferecida a liberdade para que possamos escolher em qual sistema queremos estar. Assim, o batismo nos oferece a grande oportunidade de, em liberdade moral, escolher estar no sistema de Deus. Nascemos no sistema oposto. Uma vez escolhido, iniciamos a reeducação para permanecer no sistema de Deus. Nestas circunstâncias, a igreja deveria ser a escola, para quem está nas cidades. Acrescentamos aqui algo curioso. As sinagogas foram pensadas enquanto os israelitas estavam em Babilônia, com a finalidade de manter a tradição e a Torá, fatos que conservariam a identidade dos judeus. Do mesmo modo, a igreja objetiva manter a tradição do sistema de Deus para que seja criada uma identidade celeste nos membros.

Por que a igreja não efetiva a educação no sistema de Deus?

Vários são os fatores. Um deles é que não é do conhecimento de todos que podemos escolher estar no sistema moral de Deus. Esta noção escapa até mesmo da liderança. Vejam novamente o dialogo com Nicodemos. Jesus lhe advertiu que sendo um mestre não sabia dos fundamentos. Assim, a liderança da igreja não pode educar porque também, em muitos casos, não conhece. O sistema de competição assume vantagem nas igrejas. A vida de Jesus é mostrada, mas, a essência do comportamento de Jesus não é apreendida e nem ensinada. Jesus, quem nunca viveu no sistema da competição, é o modelo cujo viver, segundo alguns crentes, não pode ser copiado pelos homens porque Ele não tinha tendência para pecar, enquanto os homens comuns, a quem foi ensinado o sistema da competição, estão sempre a pecar em relação ao sistema de Deus, e a isso é usual chamar de tendencia ao pecado. Esse erro de abordagem determina que a santidade é inatingível. As exigências de Deus, quanto a santidade, são demasiadas e impossíveis, logo, Deus é injusto.

Todavia, a Bíblia está ensinando que é nossa a tarefa de operar a salvação. O conselho é este: “Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens” (Tito 3:8). Paulo reitera nossa participação no sistema de Deus aconselhando: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Colossenses 3:12), exatamente o oposto à competição. E outra vez afirma: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). Também o sábio nos adverte para que guardemos as veredas do juízo, ou seja, sejamos justos e não competidores, e em assim procedendo, o Senhor preservará o caminho dos seus santos (Provérbios 2:8). Então, a santidade não é uma demanda absurda, mas, perfeitamente factível, o que nos obstaculiza é não estar no sistema de Deus. A queda do homem está conexa com a competição, assim, se não for dada a oportunidade para o renascimento no sistema de Deus, não haverá chance para santidade. Finalmente, o salmista pede que sejam buscados os santos, aqueles que fizeram com Deus uma aliança com sacrifícios (Salmos 50:5).

 

2 comentários:

MARCOS AFRANIO ARAUJO DA SILVA disse...

Vejo que a santidade avaliada pelos olhos de Deus é infinitamente diferente da visão avaliativas e pecaminosa do homem que diz que nenhum chegará a ser santo.

Claudio Ruy Vasconcelos da Fonseca disse...

Afrânio, o catolicismo nos atrapalha para racionar com a Bíblia. Teríamos que esquecer o cristianismo popular