Dias atrás ouvi uma equipe de
pessoas comentando em um canal de mídia, sobre o livro de Isaías. Era um
programa que tinha o objetivo de levar esclarecimentos sobre a verdade bíblica,
com foco missionário. Da explanação participavam vários interlocutores, um deles com
ares professorais, emitia conceitos vagos e muito propícios a não
exigirem sacrifícios morais de quem os ouvia. Numa das infelizes afirmativas, advogou a tese de que é quase impossível adquirir excelência
moral, uma vez que somos pecadores. Dizia o confiante e quase arrogante
professor, que a santidade é inalcançável por conta da nossa incapacidade de
praticar obras justas. Além disso, o modelo Jesus, segundo a interpretação
daquele mestre crente, era muito diferente de nós, uma vez que ele não tinha
tendência para pecar. Já nós, por nosso turno, somos inferiores, deixando implícito
na sua argumentação, sermos quase predestinados ao pecado.
Esta compreensão sobre a humanidade de Jesus é erroneamente imperdoável,
pois o apóstolo Paulo afirma que “Por isso convinha que em tudo fosse
semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo
que é de Deus, para expiar os pecados do povo” (Hebreus 2:17). Outra vez, o
mesmo Paulo informa: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado” (Hebreus 4:15). O problema está na última frase, sem
pecado, a qual gera interpretações como a deste mestre.
Ora, se em tudo Jesus era
semelhante a nós, sendo tentado em tudo, a vantagem enxergada pelo professor
que explanava evidentemente não existe. Logo, não temos qualquer inferioridade
moral que nos imponha limites em relação ao padrão exigido pelo Céu. Essa noção
vem do catolicismo, o qual informa e insiste na superioridade do clero, sendo o
Papa santo, mas, o restante da humanidade é inferior e dependente dos favores clericais.
A exigência bíblica não é evasiva,
mas sim, direta: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes:
Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2).
Outra vez diz, “Portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR
vosso Deus” (Levítico 20:7). Este comando não contém qualquer argumento dúbio,
do tipo procurai ou fazei o possível para serdes santos. É uma afirmação categórica.
Uma exigência de Deus, quem sabe perfeitamente ser possível alcançar aquele
nível moral, considerando que os homens são semelhantes a Deus, têm independência
moral.
A pergunta que devemos fazer é:
como operar o requerido nível moral? Jamais hesitar com ideias limitantes ou pretensas
imposições por força da nossa natureza pecaminosa. Advogando a impossibilidade
da santidade estamos atribuindo a Deus injustiça, porque nos demanda o que não
nos é possível. Então, como adquirir a força moral que havia em Jesus?
Deus não nos deixou lutando como
cegos. Desde que o pecado entrou no mundo tem Deus procurado trazer a humanidade
ao estado em que Adão estava antes da queda. Entendamos essa questão. Nossa
fonte de conhecimento sobre o estado inicial do homem é a Bíblia. No capítulo primeiro
de Gênesis estão as bases para entendermos como era moralmente Adão ao ser criado.
Toda a narrativa da criação foi construída para que entendamos o sistema
cooperativo de Deus utilizado para construir a Terra. O livro dos Salmos,
no capítulo 19, faz referência ao sistema de cooperação quando explica que “Os
céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um
dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite”. O SDA
Bible Commentary
explica que “[...] um dia transmite ao dia seguinte o relato do poder de Deus.
O testemunho infindável impressiona: sem pausa nem mudança a história maravilhosa
segue”, significando a continua relação de cooperação entre os domínios e o
povoamento destes. Então, o homem foi trazido ao mundo e envolvido pelo sistema
cooperativo de Deus, o qual estava explícito no Éden, para que aprendesse e se
mantivesse em tal estado. Logo, a queda foi a escolha moral de um sistema
diferente daquele no qual fora trazido à vida.
A santidade é um estado moral no
qual os seres humanos voltam ao estado inicial de Adão. Na situação em que se
encontrava Adão ao surgir para a vida, não havia tendência para o pecado, uma
vez que o sistema moral no qual estava vivendo o mantinha cooperativo. Então,
se não havia tendência para o pecado, por que pecou? Pecou porque era um ser
moral livre. Tinha liberdade para escolher outro sistema moral. Assim,
escolheu. No novo sistema moral, todos os atos são contrários ao sistema no
qual estivera antes. Portanto, sua nova tendencia era sempre pecar em relação
ao sistema moral anterior. Por essa razão, todos os que nasceram através de
Adão no pós-queda, aprendem a pecar porque imitam seus pais. A pergunta que surge
é: não podemos escolher não viver no sistema em que nos colocou Adão?
A resposta está em Jesus Cristo.
Ele nasceu de uma mulher e, na condição humana, para Ele estavam disponíveis os
dois sistemas, o de Deus e o deste mundo, assim como estão disponíveis para todos
os humanos.
Como podemos escolher?
Desde a queda, ou seja, desde que
Adão pecou, o Céu vem buscando trazer de volta o homem para o sistema de Deus. O
próprio Deus ensinou o caminho para regressar ao sistema cooperativo, imolando
um cordeiro. O sacrifício tornou-se imprescindível porque o sistema moral para
onde caíram os homens requer a competição e a cobiça. O sistema sacrifical
ensinava o caminho moral para evitar a competição e a cobiça. Especificamente,
doação, sacrifício sempre implica em negação do eu, abnegação. O sistema da competição exalta
o eu porque rivalizamos.
Todos os patriarcas do Antigo
Testamento usaram o sacrifício como a forma para dizer a Deus da sua opção
moral pelo sistema de Deus. Deveriam praticar atos que fossem confirmando a sua
escolha, logo, separaram-se dos chamados filhos dos homens para evitar o
aprendizado moral da competição e da cobiça, o qual era praticado nas cidades. Então,
na natureza, onde o sistema de Deus está operando, mesmo a despeito da queda, seria
o ambiente escola onde os patriarcas veriam a cooperação em andamento, em operação.
Conforme crescia a população
humana, foram sendo criados agrupamentos humanos e, nestes ambientes, os jovens
aprendiam com os adultos a viver o sistema da competição, logo, tendiam a pecar
em relação ao sistema da cooperação. Porém, não lhes estava proibido a prática
do sistema da cooperação. Reitero que a tendência para o pecado é, na verdade,
o estar mergulhado no sistema antagônico ao de Deus.
Com a vinda do Messias, nascido de
mulher, portanto, homem sujeito a todas as circunstâncias humanas, e tendo Ele
escolhido não estar no sistema da competição, mas, no da cooperação, teve em
sua mãe sua professora. Jesus nasceu numa cidade, onde o sistema da competição comanda
moralmente a população. Mas, escolheu não ser educado e nem se utilizar deste
sistema. Obviamente, para nós esta possibilidade de escolha de um dos sistemas
também existe. No entanto, Jesus não frequentou a escola dos rabinos, portanto,
sua educação foi no sistema de Deus. Logo, viveu moralmente de forma muito
diferente da dos seus contemporâneos. Por essa razão, Ele é o nosso exemplo.
Para aqueles que nasceram e foram
educados no sistema da competição, Jesus ensina como sair e ser reeducado. Na
entrevista com Nicodemos Ele enfatiza o novo nascimento. É necessário que seja
oferecida a liberdade para que possamos escolher em qual sistema queremos
estar. Assim, o batismo nos oferece a grande oportunidade de, em liberdade
moral, escolher estar no sistema de Deus. Nascemos no sistema oposto. Uma vez
escolhido, iniciamos a reeducação para permanecer no sistema de Deus. Nestas
circunstâncias, a igreja deveria ser a escola, para quem está nas cidades.
Acrescentamos aqui algo curioso. As sinagogas foram pensadas enquanto os
israelitas estavam em Babilônia, com a finalidade de manter a tradição e a Torá,
fatos que conservariam a identidade dos judeus. Do mesmo modo, a igreja objetiva
manter a tradição do sistema de Deus para que seja criada uma identidade
celeste nos membros.
Por que a igreja não efetiva a educação no sistema de Deus?
Vários são os fatores. Um deles é
que não é do conhecimento de todos que podemos escolher estar no sistema moral
de Deus. Esta noção escapa até mesmo da liderança. Vejam novamente o dialogo com Nicodemos. Jesus lhe advertiu que sendo um mestre não sabia dos fundamentos.
Assim, a liderança da igreja não pode educar porque também, em muitos casos,
não conhece. O sistema de competição assume vantagem nas igrejas. A vida de
Jesus é mostrada, mas, a essência do comportamento de Jesus não é apreendida e
nem ensinada. Jesus, quem nunca viveu no sistema da competição, é o modelo cujo
viver, segundo alguns crentes, não pode ser copiado pelos homens porque Ele não
tinha tendência para pecar, enquanto os homens comuns, a quem foi ensinado o
sistema da competição, estão sempre a pecar em relação ao sistema de Deus, e a
isso é usual chamar de tendencia ao pecado. Esse erro de abordagem determina
que a santidade é inatingível. As exigências de Deus, quanto a santidade, são
demasiadas e impossíveis, logo, Deus é injusto.
Todavia, a Bíblia está ensinando
que é nossa a tarefa de operar a salvação. O conselho é este: “Fiel é a
palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que creem em Deus
procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos
homens” (Tito 3:8). Paulo reitera nossa participação no sistema de Deus aconselhando:
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de
misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Colossenses
3:12), exatamente o oposto à competição. E outra vez afirma: “Porque somos
feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou
para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). Também o sábio nos adverte para que
guardemos as veredas do juízo, ou seja, sejamos justos e não competidores, e em
assim procedendo, o Senhor preservará o caminho dos seus santos (Provérbios 2:8).
Então, a santidade não é uma demanda absurda, mas, perfeitamente factível, o
que nos obstaculiza é não estar no sistema de Deus. A queda do homem está conexa
com a competição, assim, se não for dada a oportunidade para o renascimento no
sistema de Deus, não haverá chance para santidade. Finalmente, o salmista pede
que sejam buscados os santos, aqueles que fizeram com Deus uma aliança com
sacrifícios (Salmos 50:5).
2 comentários:
Vejo que a santidade avaliada pelos olhos de Deus é infinitamente diferente da visão avaliativas e pecaminosa do homem que diz que nenhum chegará a ser santo.
Afrânio, o catolicismo nos atrapalha para racionar com a Bíblia. Teríamos que esquecer o cristianismo popular
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