(Este artigo foi publicado em 17/11/2020 no Blog Brasil Amazônia Agora)
A população amazônida, sem saber por certo os seus benefícios diretos e indiretos, sem métricas que possam indicar o cumprimento das suas expectativas, carecem de motivações plenas para participar ativamente em uma empreitada que possa, de fato, lhe trazer benefícios.
Estevão
Monteiro de Paula
Cláudio
Ruy Fonseca
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Esquecem de combinar com o Russos
Era um dia de 1958. Feola, grande técnico da seleção de futebol
brasileira, explicava à sua seleção como vencer a mais recente e mais forte
adversária do campeonato, a seleção russa. A estratégia de Feola era complicada
mostrando como o time marcaria seus gols. Na explicação Feola descrevia os
passes de jogador para jogador que deviam ser feitos considerando as posições
dos jogadores adversários. Quando acabou a sua explicação, o Garrincha,
um dos melhores jogadores da história do futebol do Brasil, pergunta: “Tá
legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?”
Assim, são as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável na
Amazônia. Intelectuais, formadores de opiniões e tantos outros dos mais
diferentes lugares do mundo discutem essas questões sem combinar com as
populações locais. Tentativas de implementação de receitas prontas já ocorreram
sem considerar-se quais são os anseios destas populações – esquecem-se de
combinar o futuro da Amazônia com os Amazônidas!
Que sem saber por certo os seus benefícios diretos e indiretos, sem métricas
que possam indicar o cumprimento das suas expectativas, carecem de motivações
plenas para participar ativamente em uma empreitada que possa, de fato, lhe
trazer benefícios.
Racionalidade ambiental clarificada
pela fé
Os fatores motivacionais do ser humano, impulsionados pela satisfação de
suas necessidades, de acordo com a teoria das necessidades de Maslow
(1907-1970), e depois aperfeiçoada pelo Alderfer (1973) como a teoria ERG,
baseiam-se em 3 grupos motivacionais: existência, relacionamento e crescimento.
A existência, são as necessidades psicológicas e materiais; o relacionamento,
trata do compartilhamento mútuo de ideias e sentimentos; o crescimento, é o
desejo de ter influência criativa e produtiva.
Para isto, é preciso dar musculatura aos indivíduos através do coletivo
por meio do compartilhamento dos desejos baseados em princípios éticos e
valores morais. Neste sentido, a religião pode ter um papel importante na
promoção de autonomia social, na sobrevivência do indivíduo e na construção de
subsídios para sua existência.
A racionalidade ambiental clarificada pela fé pode ser um elemento
motivador para a construção de modelos econômicos de desenvolvimento
sustentável, tendo como pressuposto que a fé, através da religião, pode
unificar os indivíduos no fortalecimento de comunidades e no compartilhamento
de trabalhos por causa de princípios éticos e valores morais universais.
O saber teológico e os processos
sociais com a problemática ambiental
O lado ocidental do planeta teve, em seu processo civilizatório, forte
influência dos princípios judaicos, os quais estão plasmados, de forma
indelével, na formação da igreja cristã, a mesma que formatou o que entendemos
ocidentalmente por moralidade. Nem poderia ser diferente, uma vez que a igreja
cristã deriva necessariamente do judaísmo. Assim, todos os conceitos
judaicos sobre moral individual e coletiva estão nos catecismos e manuais
cristãos, por força da base de tudo, a qual é a Bíblia, e nesta estão incluídos
a Torá (os cinco primeiros livros mosaicos: Gênesis, Êxodo, levítico, Números e
Deuteronômio), os profetas e os escritos, sendo esse conjunto conhecido como
Velho Testamento (VT), além do Novo Testamento (NT) que inclui os evangelhos e
os escritos paulinos e mais algumas cartas de Pedro, João e Judas, terminando
com o Apocalipse ou revelação. O NT trata da transição do judaísmo para a
igreja cristã, mas, os conceitos do VT deram formato ao moralismo do NT.
Moralismo considera a moral como valor universal e necessário à
percepção da realidade. Assim, a Torá é a fonte moral, e nesta condição,
orienta o conjunto de valores compartilhados que constituem o senso coletivo do
que é correto. Para o cristianismo, o indivíduo tem responsabilidades com os
direitos alheios, os quais deverão ser considerados com mais empenho do que os
do próprio indivíduo. Essa percepção torna a família, as comunidades, os
bairros, as cidades, muito mais seguras, em virtude da preservação dos direitos
alheios. Se a preocupação está no bem estar do próximo, então cessam ações
violentas.
As bases teológicas da civilização
O ocidente produziu um arcabouço legal baseado no princípio judaico do
amor ao próximo. Em todos os marcos legais nos diversos países há preceitos e
impedimentos que determinam o respeito pelo bem estar do outro, sob pena de
punições asseguradas pelos Estados.
No que diz respeito ao desenvolvimento sustentável, a Torá indica que
deverão ser realizadas ações que tornem evidente a materialização da justiça,
esta, sendo imprescindível à diminuição das desigualdades. Por exemplo, a cada
sete dias, portanto no sábado (shabat), as fazendas deveriam permitir que os
pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros colhessem alimentos para seu
sustento. Também era costume, durante a época da colheita de alguma lavoura,
que não se fizesse a coleta dos alimentos nos cantos dos terrenos, para que os
desafortunados acima descritos pudessem colher também. Eram contornos sociais
para diminuir as desigualdades. Além disso, as dívidas assumidas eram perdoadas
a cada sete anos e, a cada 50 anos, todas as terras vendidas voltavam ao seu
dono original.
O sistema acima não veio para igreja cristã atual, embora tivesse sido
praticado pela igreja cristã primitiva, aquela do primeiro século DC. O
discurso de igualdade, fraternidade e liberdade é apenas retórico. Fala-se em
desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade, como sendo um processo de
transformações e mudanças, em aperfeiçoamento contínuo, envolvendo múltiplas
dimensões (econômica, social, ambiental), que visam diminuir as desigualdades,
mas, na realidade, o acesso a bens e serviços essenciais não está disponível
indiscriminadamente, daí a violência social dos nossos dias.
A ascensão do individualismo
A igreja cristã tem responsabilidade direta na manutenção das desigualdades,
por consequência das interpretações dos textos e posições dos seus líderes. Na
reforma empreendida por Lutero, tendo em vista desfazer o totalitarismo
eclesiástico, ele teve a intenção de realocar a autoridade de uma instituição
externa, para o crente individual e seu encontro direto com Deus através de
leitura particular de textos sagrados e abertura pessoal para a graça divina.
Logo, os teólogos que os sucederam viram no individualismo algo que poderia ser
aplicado na liberdade em relação às instituições, assumindo que ninguém pode
impor aos indivíduos qualquer decisão. Nada, na cultura ou estrutura social
pode aliviar a pessoa de sua responsabilidade final de decidir como viver e no
que acreditar. Tudo depende do indivíduo. Este é um ponto decisivo. Formava-se
a consciência de que o eu era superior ao nós.
Descartes (1596-1650), pai da filosofia moderna, em sua tentativa de
construir uma narrativa da ciência humana sobre a base de ceticismo radical,
impôs o questionamento sistemático de tudo. Ele concluiu que o indivíduo era
dominante: Penso, logo, existo. O Rabino Jonathan Sacks, em sua obra Morality argumenta que o que tornou isto um ponto decisivo foi a herança
religiosa do ocidente que tinha, como um dos seus fundamentos, o momento em que
Moisés, diante da sarça ardente, perguntou o nome de Deus, e Deus replicou, Eu
Sou o que Sou. A natureza revolucionária do método cartesiano está embasada no
movimento do divino “Eu sou” para o humano “Eu sou” – da visão da realidade do
teocentrismo para o antropocentrismo. Esta mudança de visão teve implicações
que seriam mais tarde articuladas com força despedaçadora por Friedrich
Nietzsch (1844-1900).
Transvalorização
Nietzsche, é diretamente lembrado como o iminente genitor do
pós-modernismo. Seus escritos permitem uma infinita gama de interpretações, mas
o centro do seu trabalho foi sua percepção de que a completa visão da
moralidade, como tem sido compreendida através da história do cristianismo,
deveria ser substituída pelo que ele chamou de “transvalorização de valores”.
Sua visão era de que a herança moral judaico-cristã não passava de uma
vingança dos sem poder contra os poderosos; a retribuição exigida pelos
escravos contra os seus antigos senhores; um exercício sustentável pelo
ressentimento. Tudo o que fora reputado como virtude, compaixão, bondade, era,
de fato, uma maneira de castrar a realidade, moldada e dominada pela vontade do
poder. Tal interpretação é um verdadeiro vitupério à Torá.
Na competição por poder, muitas pessoas falham, mas algumas obtém
sucesso e impõem sua vontade sobre outros. A tais pessoas Nietzsche chamou de
um Ubermensch (super homem). O cristianismo se opõe à competição, uma vez que
esta estimula injustiça e desigualdade. Mas, Nietzsche não disse o que
aconteceria com o resto da humanidade num mundo governado por super homens.
Para Nietzsche, os vencedores contam, perdedores não. Um mundo governado pela
vontade de poder não é um mundo moral como o reconhecemos.
A influência de Nietzsche no mundo contemporâneo é devastadora. Ele foi
um dos primeiros a crer que a linguagem e as ideias eram meramente uma máscara
escondendo numa subjacente batalha de vontades, uma luta pelo poder. Assim, ele
se tornou o originador, mais tarde seguido por Marx e Freud, da
hermenêutica da suspeita. Não há verdades, disse
ele, apenas interpretações.
Fundamentos de uma outra moral
Nietzsche destruiu, eficientemente, os fundamentos da moralidade tal
como concebidos e mantidos no ocidente através dos séculos. Propôs em seu lugar
uma visão profundamente subjetiva da vida moral, na qual a escolha particular
era a essência. O indivíduo tornou-se a figura marcante do drama moral, mas
também seu autor, o escritor das regras.
Isto foi incluído, de muitas formas, em diferentes culturas. Na França
tornou-se o existencialismo, como explicado por Sartre e Camus. Nós estamos
aqui para ser nós mesmos, não atores dirigidos pela consciência coletiva. Mais
tarde, isto se tornou o movimento conhecido como pós-modernismo, liderado por
Foucault, Derrida e outros.
Moralidade assim cessou de ser o que tinha usualmente sido percebido
como um bem, ou seja, o compartilhado código pelo qual se regulam os membros de
um grupo, para tornar-se uma mera questão de gosto pessoal.
O resultado foi uma ética sem princípios acordados ou verdades
objetivas. O mundo do relativismo, subjetivismo, e uma nova ideia dominante,
chamada autenticidade, ou como é, às vezes chamada, individualismo expressivo.
A moral imperativa, diferente em substância para cada um de nós, é o que chamam
de tornarmo-nos nós mesmos.
Moral individualista e os limites da
democracia
O atual conceito de moralidade torna-se um perigo às democracias, pois,
as pessoas simplesmente deixaram de se interessar pelo bem estar dos outros,
transferindo essa responsabilidade para o Estado, que cresce, cada vez mais,
até se tornar uma espécie de tirania benigna. Decisões coletivas são
terceirizadas para o Estado, dando ensejo ao surgimento de regimes de exceção.
Vivendo à parte, as pessoas se tornam como estranhas em relação ao
destino de todos os outros; a humanidade fica restrita aos seus filhos e seus
amigos particulares. Quanto ao resto dos seus concidadãos, estão perto, mas não
os veem; podem tocá-los, mas não os sentem, porque só existem para si mesmas.
Neste caso, é como se o país estivesse dissolvido, não havendo o sentido da
comunidade nacional, do patriotismo, da luta pelo ideal compartilhado. Esse é o
meio ambiente para o surgimento de tiranias.
O perigo da terceirização é que ao se deixar o que não nos concerne
pessoalmente para responsabilidade do Estado, assumimos o risco do sequestro da
liberdade democrática. A única coisa que nos protege deste resultado é o
fortalecimento das famílias, comunidades, igrejas e organizações de caridade.
Em outras palavras, no ambiente moral compartilhado as pessoas ativamente
cuidam umas das outras. Perder os ambientes do encontro face a face, onde o
senso moral é exercitado levará à perda da liberdade.
O ocidente construiu um pano de fundo social que frustra iniciativas que
obrigam cooperação. Por esse motivo, qualquer planejamento para alcançar níveis
superiores de sustentabilidade tende a não se concretizar. Sustentabilidade
requer ação conjunta social, política, educacional, religiosa, entre outras. Na
medida em que a sociedade pós-moderna aprimora o individualismo, não há como
pensar em cooperacionismo. Essa impossibilidade se dá nos níveis
internacionais, mas, também no nível nacional, estadual, municipal, etc.
(assistimos hoje a descoordenação dos países, dos estados no caso brasileiro, no
enfrentamento ao covid 19).
A individualidade na produção do
conhecimento
O sistema filosófico atual é o grande empecilho ao desenvolvimento
sustentável. Será necessária a superação desse modelo. Os jovens cientistas brasileiros terão que entrar em contato com a realidade da operação
coletiva, sob pena da permanência do sonho do desenvolvimento sustentável
continuar no discurso.
Os conflitos sociais existentes, as polaridades das crenças e da
política, os ceticismos nas informações recebidas e a individualidade crescentemente
alimentada pelo isolamento social do ser humano, dificultam a produção de
conhecimentos robustos que possam atender aos anseios de uma sociedade ávida
para desenvolver-se de forma sustentável.
Atualmente, muitas entidades representativas do setor empresarial, da
academia e pensadores têm se manifestado sobre o fato de que o ser humano deve
aprender a trabalhar em grupo e ter inteligência emocional. Isto provoca certa
agitação em alguns setores científicos acostumados ainda ao isolamento nas suas
pesquisas.
A multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade são imprescindíveis na produção de conhecimentos
científicos voltados ao ser humano, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Atento a esta postura, os
editais publicados pelos fomentadores oficiais, visando o financiamento de
projetos de pesquisas exigem parcerias. O ambiente científico passou a dar mais créditos às publicações com grande número de
pesquisadores e o pensamento holístico começou a ser internalizado na comunidade
científica. Interessante exemplificar os Programas de Pesquisas
Translacionais inicialmente utilizados na área da saúde, mas, atualmente este tipo de programa está sendo aplicado nas mais
diferentes áreas. Este programa integra cientistas das de diferentes áreas de
conhecimento, instituições de desenvolvimento e de produção de insumo. Em
outras palavras, aplicação de cadeia de conhecimento na cadeia de produção.
Toda a cadeia de produção é estudada simultaneamente. Isto é, a ciência atual
persegue a diminuição entre o tempo para a produção de conhecimento e a sua
apropriação pela humanidade, almejando que, num futuro próximo, o conhecimento
seja convertido em bem de consumo imediatamente. Por esta razão, pode-se
esperar que o remédio para COVID-19 seja encontrado e implantado em um tempo
bastante rápido.
O Desenvolvimento depende da Ciência
Na área médica a informação e disseminação do conhecimento cresce
exponencialmente; a estimativa diz que em 2012 foram publicados mais de 1
milhão de artigos científicos no espaço de um ano. Além disso a velocidade em que as descobertas
médicas têm alcançado a prática médica nos últimos dois mil anos é de
impressionar. Pesquisadores estudaram a velocidade com que o conhecimento
chega a aplicação medica nos últimos 150 anos, e chegaram a uma relação linear
decrescente; de acordo com a pesquisa, a continuar essa linearidade (é o que se
espera), nos próximos 20 anos a translação entre a descoberta médica e sua
aplicabilidade será praticamente imediata. Isto se dará devido progresso
computacional observado com a Lei de Moore e o crescimento das arquiteturas de
computação que, de acordo com Ray Kurzweil, em 2045, o ano da singularidade,
haverá uma “explosão de inteligência”. Portanto, não acreditamos ser temeroso
utilizar remédios desenvolvidos rapidamente para combater pandemias.
Nas academias brasileiras há tentativas para construir trabalho
coletivo, todavia, as expectativas não foram satisfeitas. O Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia, por exemplo, redesenhou sua estrutura orgânica para que seus pesquisadores
trabalhassem em grupos de pesquisas. Entretanto, toda a geração atual de
pesquisadores aprendeu com seus mestres o trabalho individual. Como
consequência, formaram-se grupos artificiais de pesquisas que sequer produzem
projetos coletivos e, as publicações permanecem individuais, determinando
resultados com aplicabilidade restrita, por causa da deficiência de
interpretações transdisciplinares dos fatos.
Assim como na área da saúde as demais áreas de conhecimentos terão disponibilizados aparatos
tecnológicos capazes de armazenar quantidades significativas de informação, com
capacidade computacional jamais imaginadas pelo ser humano. Portanto, será
imprescindível que o sucesso de quaisquer empreitadas cientificas sejam
dependentes de grupos de pesquisadores e outros atores importantes no processo.
No campo da teologia aparece uma disciplina denominada de ecoteologia, a
qual objetiva novas leituras a respeito dos relatos da criação, com reflexões
teológicos em diálogo com a ciência, em um novo paradigma pós-antropocêntrico.
A racionalidade ecológica das igrejas
A carência das lideranças políticas e referências econômicas e
sociais, o ceticismo em relação à probidade e honestidade das lideranças
políticas são fatos que desagregam a sociedade, polarizam a ideologia e
promovem o crescimento da individualidade; é provável que, nos dias de hoje,
uma das poucas realidades que oportunizam a união, com capacidade para
estabelecer foco, construir padrões de comportamentos sociais únicos seja a
igreja. Como diz o Papa na sua carta relativa as questões ambientais:
“Todavia, para se resolver uma situação tão complexa como esta que
enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. Os indivíduos
isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão
instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social
e ambiental. Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens
individuais, mas com redes comunitárias:”
As mais diferentes religiões estão se manifestando quanto às questões
ambientais, estabelecendo percepções sobre a relação e reponsabilidade do ser
humano com o meio ambiente. A mais recente foi da religião católica que resultou em um documento
chamado CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE O CUIDADO DA
CASA COMUM editado pela Santa Sé. Nela a igreja recomenda a “conversão
ecológica” que alerta a reponsabilidade atribuída à fé, para as questões
sociais e ambientais. Assim, o documento manifesta-se: “Convido todos os
cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e
a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e
com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação
inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis.”
“Ser Cristão é ser Sustentável”?
As preocupações ambientais também chegaram nas igrejas evangélicas. No
ano de 2010 a igreja luterana realizou oficinas para discutir a
responsabilidade ambiental no 42º Congresso Nacional da Juventude Evangélica
Luterana do Brasil (JELB). Três anos depois inaugura em Porto Alegre o
Instituto Sustentabilidade. No ano de 2013, a igreja Metodista da Terceira Região Eclesiástica de
São Paulo lançou a cartilha “Ser Cristão é ser Sustentável”.
Nem todas as linhas das igrejas evangélicas estão preocupadas com as
questões ambientais. Alguns líderes pastores alertam que a terra será destruída
por Deus; portanto, envolver os crentes em projetos de sustentabilidade é um
erro; como disse o Pastor americano Mark Driscoll “que os cristãos não devem se
preocupar com o meio ambiente ou com o aquecimento global porque Jesus estaria prestes a
arrebatar a Igreja.”
Posição contrária a manifestação de Driscoll se observou com o encontro
de aproximadamente 4000 líderes evangélicos de 200 países, na cidade do Cabo em
2010, quando escreveram e assinaram o Pacto de Laussane III assumindo o
compromisso das igrejas com a preservação da criação de Deus, a natureza.
Força Política das Igrejas
Os adventistas expressaram seu posicionamento em documento desde 1996.
Em nível mundial, reiteram que a humanidade foi criada à imagem de Deus,
portanto, Deus a responsabilizou quanto ao domínio do planeta, para administrar
o ambiente natural como mordomos, ou seja, tendo apenas o usufruto, com a
responsabilidade de garantir às gerações futuras, o uso das facilidades feitas
por Deus. Também entendem que preservar a natureza pereniza o segundo livro (o
primeiro é a Bíblia) onde o caráter de Deus está revelado, assim, as gerações
futuras aprenderão a confiar em Deus. A questão maior a entender é: qual a
percepção das igrejas em relação ao meio ambiente? Como se manifestarão os cristãos nos próximos anos em relação aos
recursos naturais? Como o chamado evangelho pode interferir na sustentabilidade e na segurança social?
Qual será o reflexo na economia, na qualidade de vida do cidadão
da Amazônia se seguirem rigorosamente a recomendação da cartilha Ser Cristão é ser
Sustentável, quando afirma que: “cabe a cada um fazer sua parte para que o
mundo que conhecemos permaneça por muitas e muitas gerações o mais intacto
possível evitando, assim, que muito do que hoje existe não se transforme em
peça de museu ou extinto da face da Terra por falta de uma preocupação com o
que nos cerca”. Todavia, a ressalva “[….] o mais intacto possível” pode parecer
utópica.
É indiscutível a força política das Igrejas nos dias de hoje. São
capazes de eleger políticos e têm forte liderança em todas as esferas
governamentais do Brasil. Além disso, é provável que a igreja seja,
hodiernamente, a única referência que, grande parte da população brasileira
acompanhada por iniciativa própria. Assim, é de se acreditar que construir
projetos de desenvolvimento sustentável com as igrejas nas suas áreas de
influência, respeitando seus valores e princípios morais, possa constituir uma
iniciativa promissora e de sucesso para melhoria da qualidade vida do cidadão
da Amazônia.
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