Nos idos dos anos 1990, conheci
em Manaus, Amazonas, o Pastor Selso Kern, um gaúcho carismático que veio
liderar uma igreja em Manaus. Com energia, liderança e delicadeza, começou um
trabalho que envolveria toda a comunidade tornando-a rediviva. Conforme o tempo
passou, pessoalmente, pude avançar conhecendo melhor o Pastor Selso e sua
família (esposa dois filhos e uma filha), e logo solidificamos uma bela amizade
que, por mercê de Deus, perdura até o momento. Muitas experiencias vivemos
juntos, entretanto, por causa das curvas que o mundo dá, outras igualmente nos afastaram
fisicamente. Todavia, os laços de fraternidade nunca enfraqueceram.
No início de 2019, o Pastor Selso
fez contato por telefone convidando-me para estar presente nas comemorações das
suas bodas de ouro, marcadas para 07 de julho de 2019, na cidade de Rio Pardo,
Rio Grande do Sul. Assim que recebi o convite comecei a preparar a viagem, pois
era um acontecimento singular. O Pastor Selso informou que convidaria apenas
alguns amigos, pessoas que ele avaliava terem assinalado sua experiencia
pessoal. Diante dessa informação, tomei o propósito de prestigiar esse momento
e torná-lo marcante para meu amigo e esposa. Assim que, todos os esforços foram
envidados para que pudesse estar ali na data apontada.
Com o passar dos dias, e ao
aproximar-se a data, tudo já estava quase completo para viajar. Assim, saí de
Manaus dois dias antes do evento, pensando em toda logística para chegar em Rio
Pardo. A viagem entre Manaus e Porto Alegre foi realizada em duas etapas.
Manaus-Rio de Janeiro, com saída às 02:00 horas, foi um trecho de três horas e
meia, muito tranquilo. Logo, às 07:30 horas tomamos a conexão para Porto
Alegre, um voo com duas horas de duração. O comandante do voo era muito
simpático e descreveu a viagem apontando os principais pontos de sobrevoo, fato
que tornou aquela etapa muito animadora. Quando começou o procedimento para
descida, o capitão foi descrevendo cada passo, apontando as cidades dentro da
rota e descrevendo o procedimento de aterrisagem. Foi uma viagem muito
divertida e descontraída.
Quando desembarcamos em Porto
Alegre, a temperatura estava em 04°C. Estava preparado para a diferença de
temperatura em relação a origem, mas é sempre um choque. Tinha feito reservas
no hotel IBIS para esperar o Pastor que somente viria na manhã do dia seguinte,
assim que aproveitei o dia para conhecer um pouco a cidade e realizar umas
compras para enfrentar melhor o frio. A noite foi chegando e os termômetros
assinalavam queda de temperatura para 2°C. Dentro do hotel era confortável por
causa da calefação. Quando amanheceu o dia, o vento uivava e o frio castigava.
Esperei a chegada do meu amigo e logo estávamos na estrada percorrendo os quase
200 Km que separam Porto Alegre de Rio Pardo. A paisagem é bonita; há muitos
vales amplos onde plantam-se arroz. Eu ainda não conhecia essa parte do imenso
Brasil, e fui me inteirando das belezas gaúchas. A conversa era agradável e
versava sobre muitos temas; com meu amigo Pastor, o tema imperante era
teologia. Logo chegamos a Rio Pardo. Esse município tem extenso território, mas
a cidade propriamente dita é pequena, porém muito acolhedora. Conta com
infraestrutura suficiente para atender as demandas dos munícipes, mas, nada
muito aprimorado.
O meu amigo mora na zona rural da
cidade, uma bela propriedade de aproximadamente dois hectares. A casa é muito
confortável e aconchegante, com um item importante para enfrentar o frio: uma
lareira. Ali ficamos de sexta-feira (05.07.19) a segunda-feira (08.07.19). Meu
amigo e esposa esmeram-se no acolhimento. Desfrutamos momentos de conversas
amenas e deliciosas lembranças dos momentos passados juntos. Todos os assuntos
foram abordados, especialmente as notícias sobre amigos comuns e
acontecimentos. No sábado (06.07.19) fomos conhecer uma das duas igrejas
locais, onde proferi o sermão sabático. O tema foi o regresso de Jesus; uma
pergunta foi analisada: por que Jesus ainda não voltou? Compreendi que a
pequena comunidade de cerca de 60 pessoas estava sedenta por ouvir. Por outro
lado, os irmãos ali eram muito amáveis e gentis, logo nos enturmaram e nos
sentimos imediatamente ente amigos. Passamos momentos muito aprazíveis e de
aprendizado. Para mim, foi uma experiencia singular; conhecer o interior do Rio
Grande do Sul, sua gente, sua paisagem. E como sói acontecer nos interiores
brasileiros, sempre as pessoas são muito solícitas. À tarde, depois do almoço,
ficamos numa roda de conversa muito animada. Estavam na casa, além do Pastor e
esposa, Eliana Fonseca, Nazaré Mota, e depois chegaram Davi e Maria Luciene,
cinco visitas de Manaus. Rodeando a lareira papeamos a tarde toda em animadas
discussões sobre variados assuntos. Depois fizemos um nutritivo lanche e a
conversa rolava solta. Momentos inesquecíveis regados com abundante e forte amor
fraternal. Com o cair da noite, a temperatura desabou para zero; graças a
lareira suportamos bem. Vale salientar o espírito voluntarioso do povo local.
Os vizinhos do Pastor, sabendo da nossa chegada, ofereceram muitas frutas. A da
época é a bergamota, uma espécie de tangerina que tem a casca solta; esta fruta
não faltou nenhum dia.
No domingo (07.07.19) pela manhã
a temperatura estava em -1°C. Havia nevado na região serrana gaúcha, mas em Rio
Pardo não havia neve. Em tais circunstâncias é dificílimo acordar e tomar
banho. Mas, era o grande dia das bodas de ouro. Havia uma atmosfera de festa e
alegre expectativa. Saliento que a comunidade adventista onde meu amigo
congrega partilha um espírito fraterno muito desenvolvido, uma comunidade
construída no mais amplo sentido cristão. Em uma atitude de união, realizaram
todas as etapas da comemoração das bodas de ouro do meu amigo. Decoraram a
igreja, alugaram um salão onde fora servido o almoço e todos contribuíram com
os pratos do cardápio. Além disso, organizaram toda a dinâmica do almoço, com
apresentação de pequenos filmes e todo cerimonial. Pude observar como amor é
muito superior ao egoísmo. Presenciei uma lição de segurança social, inclusão,
fraternidade, paz e alegria inusitados. Todos os irmãos envolveram-se para
presentear o meu amigo e sua esposa com uma festa sem precedentes. Havia
alegria evidente em todos os que se doavam e alegria ainda mais explícita em
quem recebia. Percebi que uma atmosfera de cooperação é sempre mais
transformadora e saudável, contagiando até aos que não participaram diretamente
na consecução do evento. Em raríssimas ocasiões pude sentir o que o amor, o
compartilhamento e a cooperação são capazes de realizar, muitíssimo diferente
dos ambientes onde há disputa e supremacia. Penso que Deus me brindou com uma
aula viva sobre amor.
A festa aconteceu em dois
momentos. O primeiro se deu na igreja central, onde os irmãos realizaram um
culto em ações de graças, tendo como orador o Pastor Edir Wolf, quem proferiu
um sermão muito adequado. Depois do sermão, uma linda menina, vestida
angelicalmente, trouxe as alianças e, depois da troca das alianças, tive o
privilégio de proferir a oração de benção para a nova de vida do casal; aliás, realizava-se
um jubileu significando mudança de tempo. Foi uma cerimônia simples, mas com um
profundo significado. O segundo momento foi o almoço. Um fartíssimo buffet de
saladas, massas, carnes e pratos regionais, além de sobremesa diversificada.
Uma organização primorosa ordenou tudo. Sempre lembrando que tudo fora realizado
pela comunidade, incluindo todos os custos. A confraternização prolongou-se até
ao final da tarde, quando regressamos para a casa do meu amigo. Ali, presenciei
outro ato oriundo do amor fraternal; parte do alimento que sobejou da festa foi
entregue ao meu amigo, levado pelos irmãos à sua residência. Foi um ato de
carinho e cuidado. Assim, o Pastor e sua esposa, além dos cinco visitantes, tiveram
um jantar que prolongou a festa até à noite. Jogamos muita conversa fora e nos
divertimos com toda aquela demonstração de amizade e cooperação. Pude perceber
a força do amor, a qual, como acima assinalado, é muitissimamente superior ao
egoísmo. Meu cérebro ficou completamente impregnado com tudo o que vi,
quedando-me desejoso de viver tal realidade em minha comunidade no Amazonas, e
de forma contínua.
Na manhã seguinte voltei para
Porto Alegre. A conversa no decorrer do caminho girava em torno daquela
contagiante cooperação que acontecera no dia anterior. A temperatura ambiente
estava em torno dos 4°C. A viagem transcorreu sem nenhum percalço. Logo avistamos Porto Alegre e fomos direto ao
hotel. Depois saímos para almoçar e nos despedimos daqueles agradáveis e
felizes momentos proporcionados pelo amor que vem de Deus.
Dormi aquela noite e, no dia
seguinte, por volta do meio dia, parti para o aeroporto encarando a jornada de
volta a Manaus. A viagem também estava dividida em dois trechos, sendo o
primeiro de Porto Alegre a Brasília. Duas horas de voo tranquilas. No aeroporto
de Brasília buscamos a conexão para Manaus. Esta estava logo à mão num portão
bem próximo do nosso desembarque. O novo aeroporto em Brasília ampliou sua área
embarque, com muitas opções para comidas e compras. Logo tomamos o voo para
Manaus e, como o mundo é pequeno, encontrei vários amigos que também retornavam
a Manaus de outras viagens. Assim, chegamos de volta a nossa querida cidade,
quente e úmida, uma urbe acolhedora que nos abraçou desde o primeiro momento.
Fiquei muito agradecido a Deus por me ter proporcionado uma bela oportunidade
de rever amigos e fazer novos, além da aula prática sobre fraternidade.
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