sexta-feira, 21 de março de 2025

Pensar, Obedecer e Vencer: O Caminho dos Preceitos

 

O uso parcial da língua — ou seja, o uso limitado, superficial ou desorganizado da linguagem — tem impactos profundos sobre o pensamento, o entendimento de conceitos e até mesmo a capacidade de seguir comandos essenciais para o bem-estar e o sucesso pessoal e social. A língua não serve apenas para comunicar ideias — ela é o meio pelo qual pensamos. Quando nosso vocabulário é pobre ou usamos a linguagem de forma imprecisa, nossa capacidade de pensar claramente também é afetada. Conceitos como justiça, amor, honra, responsabilidade, autoridade ou propósito só existem porque há palavras que os nomeiam e descrevem.

Quando a linguagem é usada de forma rasa (slogans, gírias genéricas, frases feitas), ela empobrece os conceitos. Isso dificulta: 1) Distinguir o que é certo do que é errado; 2) Compreender o valor de um princípio; 3) Julgar situações complexas com clareza moral e intelectual.

Deus, por exemplo, não dá comandos sem propósito. Seus comandos são convites à vida e à prosperidade (Deuteronômio 30:19). Mas para obedecer a um comando divino como “honra teu pai e tua mãe” ou “não cobiçarás”, é necessário mais do que saber ler — é preciso entender o conceito, refletir sobre ele, e integrá-lo à vida.

Em muitos livros e passagens bíblicos estão informações importantes que, se mal compreendidas podem gerar desordem e desconforto pessoal. Abaixo, estão algumas informações bíblicas nas quais a palavra preceitos aparece em vários contextos:

Salmos 19: 8 - Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos.

Salmos 89:31 - Se profanarem os meus preceitos, e não guardarem os meus mandamentos,

Salmos 119:15 - Meditarei nos teus preceitos, e terei respeito aos teus caminhos.

Lucas 1:6 - E eram ambos justos perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.

A palavra "preceito" vem do latim praeceptum, que significa literalmente "ordem, regra, ensinamento". Essa palavra é derivada do verbo praecipere, que significa "ordenar, aconselhar, ensinar, instruir", e é composta por duas partes:

  • prae = "antes"
  • capere = "tomar, pegar"

Portanto, etimologicamente, praecipere pode ser entendido como "tomar antecipadamente" ou "dar instruções previamente", e praeceptum (preceito) seria algo que foi ensinado ou ordenado de antemão, uma norma ou princípio dado como guia de conduta.

A expressão "preceitos da lei" refere-se às normas, regras ou mandamentos específicos que compõem um sistema legal — seja ele religioso, moral ou civil.

O significado básico: Preceito: como vimos, é uma instrução, ordem ou mandamento. Lei: é o conjunto de princípios ou normas que regulam comportamentos dentro de uma sociedade ou religião.

Logo, preceitos da lei são os detalhamentos práticos daquilo que a lei exige, ou seja, os deveres específicos que devem ser observados para cumprir a lei como um todo.

No contexto jurídico, os "preceitos da lei" são os artigos e incisos que descrevem condutas obrigatórias ou proibidas. Exemplo: o Código Penal contém preceitos que proíbem o homicídio, o roubo etc.

No contexto bíblico/religioso, os "preceitos da Lei de Deus" são os mandamentos e orientações específicas dados por Deus para guiar o comportamento moral e espiritual do povo. Exemplo: os Dez Mandamentos são preceitos da Lei divina (amor a Deus e amor ao próximo), assim como várias instruções dadas na Torá.

Em sentido mais profundo, chamar algo de “preceito da lei” não é só dizer que é uma regra, mas destacar que tem autoridade normativa, foi ordenado por uma instância superior (Deus, o Estado etc.) e deve ser obedecido como parte do cumprimento da justiça ou da vontade dessa autoridade.

Vamos aprofundar o significado de “preceitos da lei” à luz da teologia bíblica, especialmente em sua relação com a graça, a salvação e o caráter de Deus.

Na Bíblia, os preceitos da Lei não são apenas regras externas ou arbitrárias; eles expressam o próprio caráter de Deus. Por exemplo, “Sede santos, porque Eu sou santo” (Levítico 19:2). Os mandamentos revelam atributos como justiça, amor, fidelidade, misericórdia e verdade. Assim, obedecer aos preceitos da Lei é refletir a imagem de Deus, e desobedecer é distorcer essa imagem.

À primeira vista, pode parecer que graça (favor imerecido) e lei (mandamentos e exigências) estão em conflito. Mas biblicamente, elas são complementares. A Lei revela o padrão de justiça de Deus. A Graça oferece o meio pelo qual o ser humano pode alcançar esse padrão, não por méritos próprios, mas pela ação divina no coração (ver Ezequiel 36:26-27; Hebreus 8:10). Ou seja, os preceitos da Lei mostram o ideal, e a graça capacita o homem a viver esse ideal.

A salvação não é conquistada por guardar os preceitos da Lei (Efésios 2:8-9), mas a salvação leva o ser humano à obediência como fruto da transformação operada por Deus (Tiago 2:17, Romanos 3:31). Jesus afirmou: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). Aqui, os preceitos da Lei são evidência de um relacionamento de amor, não o caminho para obter esse relacionamento.

Paulo afirma que a Lei é como um “aio” ou pedagogo (Gálatas 3:24), que conduz o ser humano a Cristo, revelando a pecaminosidade do coração (Romanos 7:7) e a necessidade de um Redentor.

Os preceitos da Lei, no contexto bíblico, são mais do que mandamentos frios. Eles são uma expressão do caráter de Deus, um espelho que revela nossa condição, um mapa moral para uma vida plena e um resultado natural da obra da graça no coração humano. Portanto, quando alguém, pela fé, aceita a salvação e se rende ao Espírito, a obediência aos preceitos da Lei deixa de ser um fardo e se torna um prazer espiritual, uma resposta de amor e gratidão a Deus.

Preceitos da Lei no centro do conflito final

A Bíblia apresenta, especialmente no Apocalipse, a ideia de que os preceitos da Lei de Deus (particularmente os Dez Mandamentos) serão um ponto de divisão entre os verdadeiros adoradores e os enganados por Babilônia.

  • Apocalipse 12:17: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus."
  • Apocalipse 14:12: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus."

Esses textos indicam que, no fim dos tempos, o remanescente fiel será reconhecido por duas marcas: Obediência aos preceitos da Lei; fé viva e confiante em Cristo.

Nos escritos de Ellen G. White, os preceitos da Lei — em especial o quarto mandamento (o sábado) — serão o centro da prova de lealdade a Deus nos últimos dias. “A Lei de Deus é tão sagrada como o próprio Deus. É uma revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter...” (O Grande Conflito, p. 434). Assim, atacar os preceitos da Lei é, em última instância, atacar o próprio caráter e governo de Deus.

“A questão decisiva será a obediência aos mandamentos de Deus ou aos mandamentos dos homens.” (O Grande Conflito, p. 604). A fidelidade aos preceitos da Lei será o teste que separará os fiéis dos rebeldes, não como meio de salvação, mas como sinal de quem está do lado do governo de Deus.

O sábado, como preceito do quarto mandamento, é descrito por Ellen White como o selo de Deus — o sinal externo de uma lealdade interna: “O selo da Lei de Deus se encontra no quarto mandamento. Somente esse, dos dez, contém o nome e título do Legislador...” (O Grande Conflito, p. 452)

Mesmo em meio ao conflito, a salvação continua sendo pela graça e mediante a fé em Jesus. A obediência aos preceitos da Lei não é legalismo, mas é a evidência do reinado de Cristo no coração.

Assim como Abraão obedeceu porque creu (Hebreus 11:8), o povo de Deus no fim dos tempos será obediente porque confia, porque ama, porque foi transformado.

Síntese escatológica-teológica é:

  • Os preceitos da Lei são eternos princípios morais, não abolidos nem relativizados pela graça.
  • No fim dos tempos, Deus terá um povo que reflete Seu caráter por meio da obediência voluntária.
  • A crise final será entre a adoração verdadeira (fundada na Lei de Deus) e a adoração falsa (fundada em tradições humanas).
  • Os mandamentos se tornam marcas visíveis de identidade espiritual, mas apenas aqueles que têm a fé em Jesus e estão selados pelo Espírito permanecerão fiéis.

Referências Bibliográficas

A Bíblia Sagrada. Diversas passagens utilizadas ao longo do texto, especialmente dos livros de Salmos, Levítico, Êxodo, Romanos, Gálatas, Efésios, João e Apocalipse. Tradução recomendada: Almeida Revista e Atualizada ou Almeida Corrigida Fiel.

WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012.

WHITE, Ellen G. Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

STOTT, John. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU Editora, 1996.

VINE, W. E. Dicionário Vine: Expositivo de Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.