O uso parcial
da língua — ou seja, o uso limitado, superficial ou desorganizado da
linguagem — tem impactos profundos sobre o pensamento, o entendimento de
conceitos e até mesmo a capacidade de seguir comandos essenciais para o bem-estar e o sucesso pessoal e social. A língua não serve apenas para comunicar ideias — ela é o meio pelo qual pensamos. Quando nosso
vocabulário é pobre ou usamos a linguagem de forma imprecisa, nossa capacidade de pensar claramente também é
afetada. Conceitos
como justiça, amor, honra, responsabilidade, autoridade ou propósito só
existem porque há palavras que os nomeiam e descrevem.
Quando a
linguagem é usada de forma rasa (slogans, gírias genéricas, frases feitas), ela
empobrece os conceitos. Isso dificulta: 1) Distinguir o que é certo do
que é errado; 2) Compreender o valor de um princípio; 3) Julgar situações
complexas com clareza moral e intelectual.
Deus, por exemplo, não dá comandos sem
propósito. Seus comandos são convites à vida e à prosperidade
(Deuteronômio 30:19). Mas para obedecer a um comando divino como “honra teu pai
e tua mãe” ou “não cobiçarás”, é necessário mais do que saber ler
— é preciso entender
o conceito, refletir sobre ele, e integrá-lo à vida.
Em muitos livros e passagens bíblicos estão
informações importantes que, se mal compreendidas podem gerar desordem e
desconforto pessoal. Abaixo, estão algumas informações bíblicas nas quais a
palavra preceitos aparece em vários contextos:
Salmos 19: 8 - Os preceitos do
Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina
os olhos.
Salmos 89:31 - Se profanarem os
meus preceitos, e não guardarem os meus mandamentos,
Salmos 119:15 - Meditarei nos
teus preceitos, e terei respeito aos teus caminhos.
Lucas 1:6 - E eram ambos justos
perante Deus, andando sem repreensão em todos os mandamentos e preceitos do
Senhor.
A palavra "preceito"
vem do latim praeceptum, que significa literalmente "ordem,
regra, ensinamento". Essa palavra é derivada do verbo praecipere,
que significa "ordenar, aconselhar, ensinar, instruir", e é
composta por duas partes:
- prae = "antes"
- capere = "tomar, pegar"
Portanto,
etimologicamente, praecipere pode ser entendido como "tomar
antecipadamente" ou "dar instruções previamente", e praeceptum
(preceito) seria algo que foi ensinado ou ordenado de antemão, uma norma
ou princípio dado como guia de conduta.
A expressão
"preceitos da lei" refere-se às normas, regras ou
mandamentos específicos que compõem um sistema legal — seja ele religioso,
moral ou civil.
O significado básico: Preceito: como vimos, é uma instrução, ordem ou mandamento. Lei: é o
conjunto de princípios ou normas que regulam comportamentos dentro de uma
sociedade ou religião.
Logo, preceitos
da lei são os detalhamentos práticos daquilo que a lei exige, ou
seja, os deveres específicos que devem ser observados para cumprir a lei
como um todo.
No contexto jurídico, os
"preceitos da lei" são os artigos e incisos que descrevem
condutas obrigatórias ou proibidas. Exemplo: o Código Penal contém preceitos
que proíbem o homicídio, o roubo etc.
No contexto bíblico/religioso, os
"preceitos da Lei de Deus" são os mandamentos e orientações
específicas dados por Deus para guiar o comportamento moral e espiritual do
povo. Exemplo: os Dez Mandamentos são preceitos da Lei divina (amor a Deus e
amor ao próximo), assim como várias instruções dadas na Torá.
Em sentido mais profundo, chamar algo
de “preceito da lei” não é só dizer que é uma regra, mas destacar que tem
autoridade normativa, foi ordenado por uma instância superior (Deus,
o Estado etc.) e deve ser obedecido como parte do cumprimento da justiça ou
da vontade dessa autoridade.
Vamos
aprofundar o significado de “preceitos da lei” à luz da teologia
bíblica, especialmente em sua relação com a graça, a salvação e o
caráter de Deus.
Na Bíblia,
os preceitos da Lei não são apenas regras externas ou arbitrárias; eles
expressam o próprio caráter de Deus. Por exemplo, “Sede santos,
porque Eu sou santo” (Levítico 19:2). Os mandamentos revelam atributos como
justiça, amor, fidelidade, misericórdia e verdade. Assim, obedecer aos
preceitos da Lei é refletir a imagem de Deus, e desobedecer é distorcer
essa imagem.
À primeira
vista, pode parecer que graça (favor imerecido) e lei
(mandamentos e exigências) estão em conflito. Mas biblicamente, elas são complementares.
A Lei revela o padrão de justiça de Deus. A Graça oferece o meio
pelo qual o ser humano pode alcançar esse padrão, não por méritos próprios,
mas pela ação divina no coração (ver Ezequiel 36:26-27; Hebreus 8:10). Ou
seja, os preceitos da Lei mostram o ideal, e a graça capacita o homem
a viver esse ideal.
A salvação não
é conquistada por guardar os preceitos da Lei (Efésios 2:8-9), mas a
salvação leva o ser humano à obediência como fruto da transformação
operada por Deus (Tiago 2:17, Romanos 3:31). Jesus afirmou: “Se
me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). Aqui, os preceitos
da Lei são evidência de um relacionamento de amor, não o caminho para
obter esse relacionamento.
Paulo
afirma que a Lei é como um “aio” ou pedagogo (Gálatas 3:24), que conduz
o ser humano a Cristo, revelando a pecaminosidade do coração (Romanos
7:7) e a necessidade de um Redentor.
Os preceitos
da Lei, no contexto bíblico, são mais do que mandamentos frios. Eles são
uma expressão do caráter de Deus, um espelho que revela nossa
condição, um mapa moral para uma vida plena e um resultado natural
da obra da graça no coração humano. Portanto, quando alguém, pela fé, aceita a
salvação e se rende ao Espírito, a obediência aos preceitos da Lei deixa de ser
um fardo e se torna um prazer espiritual, uma resposta de amor e
gratidão a Deus.
Preceitos da Lei no centro do conflito final
A Bíblia
apresenta, especialmente no Apocalipse, a ideia de que os preceitos da Lei
de Deus (particularmente os Dez Mandamentos) serão um ponto de divisão
entre os verdadeiros adoradores e os enganados por Babilônia.
- Apocalipse 12:17: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de
Jesus."
- Apocalipse 14:12: "Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus."
Esses
textos indicam que, no fim dos tempos, o remanescente fiel será reconhecido por
duas marcas: Obediência aos preceitos da Lei; fé viva e confiante em Cristo.
Nos
escritos de Ellen G. White, os preceitos da Lei — em especial o quarto
mandamento (o sábado) — serão o centro da prova de lealdade a Deus
nos últimos dias. “A Lei de Deus é tão sagrada como o próprio Deus. É uma
revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter...” (O Grande
Conflito, p. 434). Assim, atacar os preceitos da Lei é, em última
instância, atacar o próprio caráter e governo de Deus.
“A questão
decisiva será a obediência aos mandamentos de Deus ou aos mandamentos dos
homens.” (O Grande Conflito, p. 604). A fidelidade aos preceitos da
Lei será o teste que separará os fiéis dos rebeldes, não como meio de
salvação, mas como sinal de quem está do lado do governo de Deus.
O sábado,
como preceito do quarto mandamento, é descrito por Ellen White como o selo
de Deus — o sinal externo de uma lealdade interna: “O selo da Lei de Deus
se encontra no quarto mandamento. Somente esse, dos dez, contém o nome e título
do Legislador...” (O Grande Conflito, p. 452)
Mesmo em
meio ao conflito, a salvação continua sendo pela graça e mediante a
fé em Jesus. A obediência aos preceitos da Lei não é legalismo, mas
é a evidência do reinado de Cristo no coração.
Assim como Abraão
obedeceu porque creu (Hebreus 11:8), o povo de Deus no fim dos tempos será
obediente porque confia, porque ama, porque foi transformado.
Síntese escatológica-teológica é:
- Os preceitos da Lei são eternos
princípios morais, não abolidos nem relativizados pela graça.
- No fim dos tempos, Deus terá um povo que reflete
Seu caráter por meio da obediência voluntária.
- A crise final será entre a adoração
verdadeira (fundada na Lei de Deus) e a adoração falsa (fundada em
tradições humanas).
- Os mandamentos se tornam marcas
visíveis de identidade espiritual, mas apenas aqueles que têm a fé
em Jesus e estão selados pelo Espírito permanecerão fiéis.
Referências Bibliográficas
A Bíblia
Sagrada. Diversas passagens utilizadas ao longo do texto, especialmente dos
livros de Salmos, Levítico, Êxodo, Romanos, Gálatas, Efésios, João e
Apocalipse. Tradução recomendada: Almeida Revista e Atualizada ou Almeida
Corrigida Fiel.
WHITE, Ellen G.
O Grande Conflito. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012.
WHITE, Ellen G.
Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1986.
FERREIRA,
Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
HOUAISS,
Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2001.
STOTT, John. A
Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU Editora, 1996.
VINE, W. E.
Dicionário Vine: Expositivo de Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2002.