A clara noção do juízo final foi, desde sempre, dominada pelos povos antigos, mesmo entre os antediluvianos, a qual fora ensinada a Adão, primeiro patriarca, pelo próprio Deus. No pós- dilúvio, o juízo final era demonstrado e ensinado, especialmente, nos rituais judaicos do Yom kippur. Após a ascensão de Jesus, os pais da igreja apostólica enfatizaram a proximidade deste evento universal, conforme mostra o texto de Atos (24:24,25): “E alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo. E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei”.
O juízo é entendido pelo cristianismo como sendo o evento que colocará o
epílogo no conflito que, desde eras antes da criação da Terra acontece, tendo
como protagonistas Jesus e o inimigo satanás, mas, envolve todo o universo dos
seres inteligentes composto pelos terráqueos e os extras terráqueos.
O principal argumento da acusação do inimigo
é a não justiça de Deus; alega que Deus obrigou as suas criaturas a uma
estrutura legal que exige abnegação, mas, o próprio Deus não está submetido ao
sistema legal, pois exige abnegação enquanto espera adoração. Segundo a
escritora Hellen White, “Começou a insinuar dúvidas com respeito às leis que
governavam os seres celestiais, dando a entender que, conquanto pudessem as
leis ser necessárias para os habitantes dos mundos, não necessitavam de tais
restrições os anjos, mais elevados por natureza, pois que sua sabedoria era um
guia suficiente. Não eram eles seres que pudessem acarretar desonra a Deus;
todos os seus pensamentos eram santos; não havia para eles maior possibilidade
de errar do que para o próprio Deus” (Patriarcas e Profetas, p.10).
No parágrafo acima, há um sofisma difícil de
ser observado. Ainda que o inimigo estivesse contra o sistema legal de Deus,
ele admite que a lei era importante para os seres inteligentes, mas, não para
os seres celestiais. Porém, no decorrer da história, depois da criação da
Terra, e depois que o pecado atingiu a humanidade, mil anos depois da criação e
da queda de Adão, a destruição pelo dilúvio foi necessária, uma vez que estava
demonstrado que a ausência da lei causava escravidão. “Nem a relação do
casamento nem os direitos de propriedade eram respeitados. Quem quer que
cobiçasse as mulheres ou as posses de seu próximo, tomava-as pela força, e os
homens exultavam com suas ações de violência” (Patriarcas e Profetas, p.55). Dito
de outra forma, sem lei não há liberdade. Sem sistemas legais, dada a tendência
ao egoísmo, alguém sempre subjugará alguém.
Na Bíblia, precisamente no livro de
Apocalipse (14:6-7) sobressai um aviso sobre o juízo
que culminará o término da história da odisseia humana, cheia de rebeldia e
iniquidades, repleta de arrogância desonesta contra Deus e contra a própria
vida humana.
Quando
ouvimos sobre o juízo, é quase imediata a ideia de um tribunal acusatório, onde
estaremos humilhados diante de um Deus juiz implacável e insensível. Essa noção
vem do paganismo; os deuses eram sempre vingativos. O cristianismo que está
atualmente misturado ao paganismo absorveu o conceito de um deus rancoroso,
sendo que os sistemas religiosos sempre buscam serenar a ira de Deus; seres humanos
oferecem reações sacrificiais para atrair a atenção e provocar sossego à
divindade. Mesmo no cristianismo, tal noção é a mais acalentada. Porém, a
mensagem da parte de Deus é muito diferente. O apóstolo João informa dizendo:
“VEDE quão grande amor nos tem concedido o Pai, que
fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não
o conhece a ele” (I João 3:1). Ora, um Deus que ama o rebelado não pode ser
rancoroso. Então, para que propósito será necessário um juízo?
No juízo ficará revelado o quanto a
humanidade foi capaz de responder ao efeito do amor constante de Deus, pois
está espalhado por toda natureza. Também será revelado se nossa percepção do
amor de Deus através da natureza construiu em nós a dimensão humana mais
substancial, a nossa utilidade para nossos semelhantes. Se recebemos tudo o que
necessitamos de Deus, então, por natural reconhecimento de que o que possuímos é
por dom divino, somos compelidos a oferecer aos nossos pares o que necessitam a
partir daquilo que está em nossa posse.
O juízo revelará a misericórdia de Deus, mas,
justificará também a aplicação das sentenças pertinentes a cada qual. Dada a
situação humana pós-pecado, os filhos de Adão não mais tiveram contato com
ambientes justos e, por essa razão, não têm noção nenhuma sobre a justiça.
Portanto, a misericórdia e a justiça estão demonstradas nas obras de Deus em
todo universo e no esforço do céu enviando Jesus para nos mostrar empiricamente
a justiça. Consequentemente, as obras de Deus não permitirão que nenhuma criatura,
quer terrestre ou não, possa deixar de reconhecer os dois atributos mais
significativos de Deus: a misericórdia e a justiça. É importante verificar que
a Bíblia aponta a misericórdia como o primeiro atributo divino; é assim que o
salmista descreve Deus: “Mas a misericórdia do SENHOR é desde a eternidade e
até a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua justiça sobre os filhos dos
filhos” (Salmos 103:17). Sobretudo, o juízo revelará que o céu realizou tudo o
que era possível para nos salvar e se fomos capazes de perceber e lidar
favoravelmente colaborando com Deus ou nos contrapondo.