Não sabemos nada sobre a origem
de Deus. É impossível à mente humana alcançar o nexo de um Deus sem início e
sem fim. Para os homens, o nexo está em poder perceber as causas dos fenômenos.
Esta é, em verdade, a preocupação científica em relação aos fatos; saber sobre
algo significa entender suas causas, logo, seu início. Esta base racional
impede a ciência de explicar Deus.
O que sabemos sobre Deus está na
Bíblia. Entende-se que a divindade é formada por três pessoas com funções
específicas e que o conjunto das suas virtudes mantém o universo e sua
integridade. Ao Deus PAI corresponde o AMOR; Deus Pai é amor (João 4:8). A Deus
FILHO corresponde a GRAÇA; todo o conhecimento sobre o PAI é dado às criaturas
através do FILHO. Ao Deus ESPÍRITO corresponde a comunhão (II Corintios 13:13);
o processo de crescimento das criaturas e a sua formação para ter a semelhança
com o PAI é tarefa do ESPÍRITO, pois sua obra é a aplicação ou ministração dos
princípios do amor em toda criação. Então, a GRAÇA externada pelo FILHO tem sua
efetiva aplicação pela ministração do ESPÍRITO.
O governo celeste exercido pela
trindade é operado pela cooperação dos três membros que, se recomendam mutuamente
em concílios (Romanos 16:25-26), uma demonstração de que a sabedoria é ainda
mais poderosa e pode ser lapidada quando operada coletivamente (Provérbios
11:14).
Ao criar a humanidade à sua
semelhança, a trindade não prescindiu da possiblidade do aperfeiçoamento moral
que somente ocorre em ambiente social plural. Logo após criar Adão, o criador
conversa com o primeiro homem e diz que não é bom que esteja só, “far-lhe-ei
uma ajudadora idônea para ele” (Gênesis 2:18). A palavra idônea é a chave para
entender o porquê não é boa a solidão.
Na instituição do casamento há
mais sabedoria do que geralmente se percebe. Mesmo em condições morais perfeitas,
as criaturas experimentarão sempre crescimento na pluralidade. A felicidade
está no crescimento intelectual, o domínio dos princípios que fundamentaram a
criação da Terra, ou seja, a cooperação múltipla entre os vários seres vivos, animados
e, entre estes e o mundo físico inanimado. Todas as coisas criadas cooperam
entre si, significando que a cooperação diminui possibilidades de desconforto
ou abatimento do ânimo, a causa mais importante à diminuição da felicidade. Importante
entender que felicidade não é um estado mental de euforia, mas, o perfeito
funcionamento de todos os elementos do sistema biológico e suas interações com
o sistema físico inanimado. É a interação completa da biosfera com a geosfera e
atmosfera. Tal interação é chamada felicidade. Geosfera e atmosfera produzem
todos os elementos estruturais para manutenção da biosfera.
No caso humano, a solidão impede
alcançar a complexa interação entre os seres vivos e até mesmo com a terra.
Então, era necessário o surgimento da mulher no papel de ajudadora idônea.
Ajudadora vem de adjutorar, ou seja, aconselhar, advertir, alvitrar, assessorar,
avisar, convencer, guiar, inculcar, indicar, induzir, insinuar, inspirar,
instigar, persuadir, preconizar, predicar, pregar, receitar. Para cada sinônimo
da lista acima há um significado que torna a mulher idônea. Na verdade, mesmo
que Adão tivesse surgido moralmente inocente, incapaz de produzir ações más, o
seu crescimento intelectual e moral deveria ser encaminhado por uma adjutora idônea.
À mulher, caberia a tarefa de ir ajudando no aperfeiçoamento da prática do
amor, e por essa via aperfeiçoando a cooperação, nas suas múltiplas formas, que
sempre produzem a felicidade. É claro que para Adão a recíproca era verdadeira
em relação à Eva. No modelo de crescimento em casal, a docilidade ou cooperação
mútua traria o equilíbrio moral para o crescimento de ambos, e o alcance de
novas formas de felicidade.
Quando os humanos pecaram, a
ajuda mútua para o crescimento moral e intelectual tornou-se dramática,
crítica. Agora, a docilidade para receber ajuda tronou-se quase nula, ambos
Adão e Eva passaram a competir. Em tal circunstância a ajuda não é bem-vinda,
porque, no sistema da competição, sempre que se aconselha são expostos erros,
causando desconforto, sendo que o desânimo desanda a convivência em uma fonte
de tensão. A tensão invariavelmente produz a ansiedade e a infelicidade.
No ambiente moralmente impuro, ou
seja, onde impera a competição, a felicidade depende do balanço entre os erros
e os acertos. Se o prato da balança moral tem mais peso para os erros, então, são
produzidas tensão e ansiedade em grau elevado. Nesse ambiente, nossa tendência
é não querer modificar nosso comportamento, mas, acirrar formas de competição.
Porém, a ajuda nesta atmosfera se torna fundamental. Se temos alguém para nos
assessorar e nos esclarecer sobre erros que cometemos, e se os aceitamos e os
corrigimos, então nossa tensão diminui e nosso incômodo tende a decrescer. A
felicidade, nas condições de impureza moral é uma relação direta entre a diminuição dos erros e a ascensão dos acertos. Quanto mais acertamos, mais
felizes somos por consequência da diminuição das pressões. Tensão baixa,
felicidade alta.
Agora vamos olhar o papel de um
adjutor que pode observar nossos erros. Se já alcançamos maturidade para ser
dóceis quando confrontados com nossos erros, e se ao invés de sempre apresentar
justificativas para os erros, procurarmos entender as suas causas e
corrigi-los, então, a sensação de menosprezo e inadequabilidade social tenderá à
nulidade e, como consequência de sermos mais aceitos, vem a felicidade.
Considerando que todos temos dificuldades para enxergar os próprios defeitos,
um adjutor será sempre uma benção. Logo, um casal que compreende bem o papel
adjutor de cada parelha, tenderá a ser feliz. É no conselho, na assessoria, no
indicar, no inspirar que encontramos o nível maior do acerto e logo a sensação
de estar aceito no coletivo, por força dos acertos, trará a felicidade. É bom
notar que não se está falando em repreender invariavelmente, o que é bem
diferente de assessorar.
Quando ampliamos o ambiente
social, vemos que na vida coletiva, se atinge a dimensão maior da assessoria -
uma assessoria coletiva é ainda mais significante por disponibilizar exemplos
virtuosos para imitarmos - seremos sempre mais felizes. Crianças nascem em
famílias, sendo que aos pais cabe a tarefa de ser os mais importantes
assessores. O primeiro e mais importante aprendizado de uma criança é educar-se
em ser dócil e obediente. A criança, mais ainda que os adultos, é incapaz de
perceber seus erros. Adultos tendem a ficar envergonhados se alguém aponta seus
erros e, nestas circunstâncias, criam resistência e não se modificam. Geralmente,
pais indóceis, desorganizados e sem disciplina, produzem filhos que terão
problemas porque na balança dos erros e acertos, o prato penderá para os erros.
Logo, as chances para infelicidade são enormes. O equilíbrio social e
consequente aceitação em grupos sociais, depende grandemente dos acertos,
porque socialmente a rejeição dos indivíduos se dá por causa dos erros. Se os
filhos aprendem a serem dóceis e obedientes, o prato do acerto tenderá a ser
mais pesado e a felicidade estará mais ao alcance.
Há pessoas que sofrem rejeições
sociais e desenvolvem sentimentos de serem perseguidos simplesmente porque sua
capacidade para gerenciar a relação erros e acertos é nula. Quanto mais
resistem modificar seus erros, menos chances possuem para aceitação. Ao
persistirem transgredindo regras sociais e parâmetros éticos essenciais, vão
sofrendo rejeição e se tornam insuportáveis socialmente. Esse estado provoca o
banimento, a pior situação social para um ser humano. A Bíblia aconselha que as
famílias sejam bem ajustadas e os que os filhos sejam equilibrados, sendo que
esta condição é externada mediante a obediencia aos pais, aos mais velhos,
porque a docilidade é, positivamente, a forma de evitar a tensão e a ansiedade
oriundas dos erros, ambas responsáveis por instabilidade emocional e
infelicidade.
A igreja cristã é uma instituição
divina que deve atuar para reequilibrar a sociedade. Ali são ensinados os
princípios que podem diminuir efetivamente as tensões. Voltemos ao casamento
inicial de Adão e Eva. Ambos, adjutores mútuos. Depois do pecado, foi ainda
mais importante seu papel adjudicador. A razão por que Jesus começou seu
ministério em uma boda identifica a adjudicação como conceito fulcral para
implantação do equilíbrio e crescimento humano que, nas condições de moralidade
impura, tem no casamento a melhor ferramenta para que a felicidade seja
alcançada por causa da adjudicação. Sempre que alguém encontra ajuda idônea
haverá crescimento humano, logo, aceitação social em sentido amplo, em virtude de
que os acertos são maiores que os erros. Ao Jesus comparar sua relação com a
igreja cristã como um casamento, informa que Ele será aquele que pode ajudar a
igreja a enxergar seus erros como adjutor e, se a igreja o aceita, se tornará
perfeita.